Friday, August 21, 2009

Um bar não é um lugar público 5

"A questão é que fabricar cigarro é o verdadeiro crime. Fabricar não. Permitir a fabricação de uma substância sabidamente cancerígena, que as pessoas desfrutam porque se viciam como se fosse um crack qualquer, é um acinte." Não quero dar uma de advogado do cigarro, até porque nunca fumei o bicho e a sua fumaça realmente me incomoda, mas sou contra a proibição. Muitas coisas podem fazer mal e têm potencial cancerígeno: o açúcar, o álcool, a gordura e até a poeira, e nem por isso devem ser proibidas. "O proibido é a maconha! Que não mata ninguém. Alguém postou uma frase do Rubem Braga: quem quiser que se fume. Mas não é bem assim. Tem gente que não consegue parar e é suficientemente imbecil pra começar." Ter liberdade pra fazer só o que é "certo" pra própria saúde não é liberdade. Hoje é o cigarro, amanhã é o biscoito recheado (já tem uma lei circulando no Congresso proibindo a publicidade de biscoito). "Fumei uns 30 anos. Peguei uma outra doença grave. O médico falou pra mim: para de fumar ou morre. Parei. Um tio meu teve um pulmão retirado por câncer, amigos meus morreram de câncer tabagístico, há uma grande bancada no Senado a soldo da indústria - ou representante da indústria, que é um eufemismo calhordíssimo - que toca a trombeta toda vez que alguém proíbe ou dificulta o ato de fumar." Eu também acompanho a dificuldade de pessoas próximas em parar de fumar e os problemas que o vício traz. Não sou contra campanhas que alertem contra os perigos, dando informações que esclareçam os riscos desse comportamento. Campanhas privadas, bem entendido, nada de governo. Sim, fumar é perigoso pra saúde, sem dúvida alguma. "Qual a porcentagém da população que fuma? 17%. Então em 17% de bares, restaurantes e afins permitir-se-ia fumar. O não fumante iria se quisesse, claro, não seria obrigatório fumar. Cada um respeita o espaço do outro guardadas as devidas proporções populacionais. Não é honesto?" Isso me parece arbitrário e autoritário. Segue aquela premissa de que a lei serve pra proteger as pessoas delas mesmas. Acho que, nessa altura do campeonato, todos já estão cientes dos malefícios do cigarro, não? Então, proibir simplesmente o fumo é análogo a proibir o suicídio. Se você não é dono do seu próprio corpo, quem é? A maioria?

2 comments:

Anonymous said...

Sim, todas as pessoas sabem dos malefícios do cigarro.

Há que se observar porém: uma pessoa se mata devido a um monte de motivos, e em todos estes motivos distintos há um grande fator que os une: as pessoas querem morrer.

Querer morrer, tirar a própria vida, eis a definição do suícidio.

NInguém pensa em morrer quando fuma.

Ao contrário: estimulados por campanhas de propaganda, filmes, fotos, red carpets de prêmios, as pessoas fumam buscando glamour.

Fumar é bacana, elas pensam, enquanto se matam aos poucos.

A pessoa fuma porque fumar ativa uma substância que toca um ponto X do cérebro que libera uma substância que sacia, dá prazer, acalma, relaxa.

E vicia.

No meio da substância "boazinha" que há no cigarro, há milhares de outras maléficas que vão de contrabando.

Açucar, alcool, gordura, poeira, nenhum exemplo citado por você tem potencial cancerígeno tão devastador quanto a nicotina.

O próprio organismo transforma farinha em açucar, açucar em gordura.

Organismo não transforma pão em nicotina.

Se as pessoas são idiotas a ponto de começar a fumar - e eu fui - isto não significa que as outras pessoas devam compartilhar dessa idiotice.

Hoje, está mais do que provado que existe câncer de fumante passivo, a literatura é grande a respeito.

Esta conversa pode derivar para poluição de carros, de usinas termelétricas, para os malefícios do querosene queimado pelos aviões, mas vamos nos restringir a cigarros.

Eles matam, Sol. Matam inclusive quem não fuma. Quem está ali do lado, aproveitando a noite.

Mesmo depois das pessoas perceberem a idiotice de fumar, e pararem com a estupidez, o cigarro continua matando.

É o efeito residual.

Você está defendendo a liberdade de fazer o que quiser com a saúde, inclusive detonar a saúde e concordo inteiramente.

Mais: se tivesse que dizer alguma coisa às pessoas que fumam e que defendem que não deveria haver proibição quanto a isto, eu diria, continuem fumando, queridos.

Mas não me fumem.

Se por um lado é absurdo propor que não se fume em lugares públicos, por outro lado é absurdo propor que se possa fumar sem restrições em qualquer lugar público.

Qual é a solução? Não há solução?

Minha "solução" seria lugares proporcionais ao número de fumantes.

Não estou querendo pegar os piores muquifos e destiná-los aos fumantes, como o aquário de vidro que há em L.A. onde os pobres coitados fumam sujeitos a expiação pública.

Não, lugares bacanas também.

Qual sua restrição à minha restrição? É autoritário e
arbitrário. Tanto quanto pagar imposto de renda? Usar cinto de segurança? Pagar 80% de IPI? Não mijar no meio da rua? Pagar ingresso no cinema? Não passar a mão na moça bonitona no ônibus?

Juro que eu não sei.

José K said...

"[B]y alleviating the responsability of the individual to look after himself and by levelling the chances of every man, [the State] also tend to rule out the competition of talents and thus to put an efficient brake on biological evolution." -- Erwin Schrödinger in "The Future of Understanding"