Monday, March 14, 2011

O senso comum e o bom senso

Volta e meia se lê que a era das ideologias já era, que o lance agora é ser "pragmático". Tenho a impressão de que esse raciocínio parte normalmente de pessoas que professavam uma ideologia (socialismo) que se mostrou inviável e que, pra não reconhecerem o triunfo intelectual do que sempre combateram (liberalismo), se refugiaram numa ideologia sem princípios, o que é muito conveniente quando se tem a arma na mão (governo). O PT chegou lá e viu (ou já sabia) que não seria possível aplicar o socialismo que sempre defendeu, mais "pragmático" seria aparelhar o máximo possível o estado brasileiro e comandar um capitalismo de compadres, com o governo "fomentando" o desenvolvimento. Claro que as únicas coisas que esse tipo de governo consegue "fomentar" são a inflação, a corrupção, a dependência, a violência, a ineficiência e o enriquecimento dos seus grupos de interesse favoritos às custas dos demais, mas aparentemente essa é a vontade da maioria - "justiça social" - vamo que vamo. Porque, de fato, a economia e a política não operam no vácuo, elas estão subordinadas aos valores predominantes na sociedade, você não pode esperar uma cultura tolerante com as diferenças num lugar como o Oriente Médio, por exemplo, que ainda não separou o estado da religião. Imagine a combinação da força do poder com a irracionalidade da religião e tenha uma idéia da confusão. A chegada da democracia num país desses não vai operar milagres, um povo majoritariamente tosco vai ter sempre um governo tosco. Passar de uma cultura tribal pra uma civilizada não acontece de uma hora pra outra, mas pra que essa evolução tenha o mínimo de chance de acontecer são necessárias algumas condições: Que as pessoas não estejam engessadas num determinismo paralisante, o ser humano tem livre-arbítrio. E que as pessoas tenham a noção de que pra determinados fins existem idéias melhores que outras e que é possível distingui-las através da experiência e do julgamento racional. Claro que mudanças são sempre difíceis, ainda mais com a quantidade de interesses em jogo. É complicado iniciar um debate desses por aqui, porque quando os centros irradiadores de idéias não estão tentando glorificar ou justificar o status quo (afinal de contas, o status quo paga as suas contas), apresentam como alternativa uma concentração ainda maior de poder. Então quando os poucos que se incomodam com o modo como o poder é exercido tentam encontrar respostas, a intelligentsia oficial lhes garante uma prescrição teórica que agrava ainda mais o que se pretendia curar. A saída é organizar-se em lugares ainda não totalmente cooptados pelo poder, como a internet, pra desmontar os mitos que formam o senso comum que legitima o avanço do governo sobre as liberdades individuais. Porque há o senso comum e o bom senso, o primeiro doutrinado pelas escolas e meios de comunicação em simbiose com o governo e o segundo resistindo o quanto pode ao ataque dessas forças. O senso comum é criado pelo ambiente de idéias convenientes ao poder e o bom senso é criado pela própria necessidade de sobrevivência do ser humano. Um é subordinado às circunstâncias do momento, o outro à própria natureza do homem.