Thursday, March 28, 2013

Feliciano

Então foi decidido nas últimas semanas que o grande assunto é uma comissão de direitos humanos e minorias que nem deveria existir e o evangélico aliado do PT eleito pra presidi-la. De um lado, os religiosos que seguem a bíblia e consideram pecado o homossexualismo. De outro, as almas sensíveis que não conseguem viver com a idéia de que nem todo mundo aprova o estilo de vida de todo mundo. Impasse - e como normalmente acontece nessas situações, o monopólio armado da sociedade é convocado ou se convoca pra beneficiar um lado às custas de todos os outros. Não basta a agressão contra quem quer que seja ser ilegal, são necessárias leis especiais e específicas especialmente e especificamente feitas pra certos grupos especiais e específicos. Essa noção não veio do nada, o debate no Brasil segue com anos de atraso o que vem sendo discutido nos centros de insensatez ilustrada e institucionalizada - conhecidos como universidades - lá de fora (principalmente do grande satã, os EUA). Veio daí o politicamente correto, que busca fazer as demandas dos grupos considerados historicamente "oprimidos" prevalentes sobre os grupos considerados "opressores" - basicamente todos contra o homem branco heterossexual capitalista e, em geral, cristão. É uma tática de conquista e concentração de poder tão antiga quanto andar pra frente - dividir pra conquistar - e vem funcionando que é uma beleza (pelo menos pra quem instiga e se beneficia dessas divisões). O tal pastor é claramente um crente tosco feito sob medida pra indignação coletiva e seletiva da esquerda PC-PSOL, mas repare também nas opiniões dessas mesmas pessoas que fazem esse escarcéu todo. Se o pastor acredita em "povo amaldiçoado", seus perseguidores acreditam em "socialismo e liberdade", como proceder? Me parecem duas faces da mesma moeda de um irracionalismo militante, triunfos da sensibilidade subjetiva sobre a realidade objetiva, da vontade sobre a verdade.  

Tuesday, March 26, 2013

Marighella e a "nova" utopia

Parei de ler jornal. Quer dizer, estou parando, não se pára simplesmente de ler jornal, todo dia é um desafio ("não dê a primeira olhada"), ainda mais quando o jornal fica aparecendo na sua porta mesmo quando você não o assina mais. Num desses momentos de fraqueza, me deparei com uma coluna do Caetano Veloso em que o grande ídolo da MPB escrevia que o Marighella representava a "sede de justiça", entre outras coisas laudatórias e maravilhosas. Senti quase uma ressaca pela equiparação *comunismo = justiça* e por muito pouco não cometi um texto, mas me segurei, cansei de ler jornal e de dar murro em ponta de faca. Dias depois, fiquei sabendo que o Caetano tinha feito também uma música-homenagem ao comunista baiano, o Che Guevara brasileiro, que ótimo. Eis que hoje não resisto mais uma vez à tentação e abro o Segundo Caderno pra ver como anda a guerra cultural gramsciana brasiliana e encontro o DJ Saddam com uma tatuagem de quem? Do Marighella - "o guerrilheiro que teve a sua utopia cantada por Caetano e aplaudida por jovens no Circo Voador" - dizendo que a "juventude vê Marighella como um símbolo dos ideais L I B E R T Á R I O S que a moveu no passado". Socialismo não tem nada a ver com liberdade, socialismo é e sempre foi I M P O S I Ç Ã O estatal, C O N T R O L E governamental - o contrário de um ideal libertário. A coluna Gente Boa então perguntou pro Saddam (filiado ao PC do B, que surpresa) "qual é a nova utopia?" e ele respondeu: "o velho respeito ao próximo", uma coisa muito linda e humana mesmo, que monstro insensível seria capaz de se opor ao "respeito ao próximo"? Não sei exatamente qual era o "respeito" que os heróis políticos do Marighella e do Saddam tinham pelos seus próximos quando chegaram ao poder, o problema maior era como eles tratavam os não tão próximos assim, aqueles que não concordavam com eles; havia algum "respeito ao próximo" nos gulags e no paredón? "Ah, que apelação, falar em paredão!" Dizer que o que o ser humano aprende com a história é que ele não aprende com a história não é o suficiente, a insensatez atingiu um nível que só mesmo um mergulho completo e absoluto nessa "nova" utopia (pra sentir na pele o que ela faz) é capaz de reverter. Com o PT há 10 anos no poder, uma classe artística dependente e submissa ao estado e uma imprensa companheira, esse momento parece estar chegando ou até mesmo já ter chegado - e poucos, poucos demais pra fazerem alguma diferença, parecem ter se dado conta. 

Thursday, March 21, 2013

Igreja e a fruição do desejo

O pessoal da esquerda consciente ou inconsciente fica revoltado com a igreja porque ela reprime, é retrógrada e não deixa correr solta a fruição do desejo da galera. "Por que existe a culpa?" Porque as pessoas - querendo ou não - têm uma consciência ou inconsciência que está a todo momento pesando os prós e os contras das suas atitudes e decisões. Sente culpa porque pode ter prejudicado alguém e isso pode se voltar contra você. Se você age mal com alguém e sabe que agiu mal, aquilo fica martelando a sua cabeça porque a lógica e o seu instinto de sobrevivência sabem que não é bom sair por aí prejudicando as pessoas, que esse comportamento pode ter volta, que amanhã o prejudicado pode ser você. Então a religião existe há milhares de anos e parece não arredar pé, geral continua dizendo que acredita em Deus e tal. Por que uma instituição que fica tolhendo os prazeres - me dizendo que eu não posso fornicar ou usar drogas e que se eu fizer essas coisas e não me arrepender eu vou direto pro I N F E R N O - tem tanta força? Sem entrar na questão das leis - todo mundo devia ter o direito de fazer o que quiser desde que não inicie agressão contra os demais - o cuidado com o sexo e as drogas faz sentido do ponto de vista evolutivo. A esquerda consciente ou inconsciente comemora a legalização do aborto porque isso estimula a fruição do desejo da galera sem a conseqüência de um filho indesejado, tão indesejado que a pessoa está disposta a eliminá-lo. A igreja vai lá e diz: "não, aborto é errado, aquela vida ali já começou e é sagrada." A pessoa que transou sem pensar nas possíveis conseqüências vai gostar disso? Não, não vai. Os melancias doidos pra controlar a população da "praga humana" que explora a mais-valia ambiental vão gostar disso? Não, não vão. Toda a contracultura cultural boêmia artística movida a drogas também fica contrariada - eu incluído - mas quem pode negar o potencial problema do uso de drogas? Não é à toa que tantos ex-drogados viram religiosos, o troço é perigoso e não precisa ir na cracolândia da sua cidade pra perceber isso. Então o que um ateu como eu está tentando dizer é que a religião tem alguns mandamentos morais cruciais que não funcionam se o objetivo é a fruição sem conseqüência do desejo da galera, mas que funcionam se o objetivo é a sobrevivência da espécie. "Não saia por aí transando de qualquer maneira porque você pode ter um filho indesejado E tenha cuidado com as substâncias entorpecentes porque você pode se tornar um zumbi" são recomendações que fazem sentido pra preservação da vida tenham vindo do divino ou da examinação racional da realidade.