Friday, February 29, 2008

Sobre deus 2

Andei pensando sobre o meu post anterior e nas suas generalizações, e acho bom fazer algumas ressalvas.

Uma, que diversos religiosos certamente não subestimam o papel da ciência. A religiosidade, como a percebo, pode se manifestar das mais diferentes maneiras - desde o crente que se comporta como uma ovelha de um rebanho, abaixando a cabeça pro que quer que o seu líder diga ou determine, até o crente, digamos, mais individualista, que vive a experiência metafísica de um modo mais pessoal, mesmo que se diga seguidor de uma determinada religião.

Mas quando um crente diz que a Terra foi criada há 6 mil anos e que o homem é feito de "barro", é porque essa pessoa quer colocar de lado todo o conhecimento acumulado ao longo dos tempos em prol de sua visão religiosa. Esse religioso está dando murro em ponta de faca, porque a sua tese vai contra todas as evidências.

A teoria do Big Bang explica de forma definitiva a origem do universo? Certamente que não.

A teoria da evolução sepulta a discussão sobre a origem do ser humano? Também não, mas ela é certamente a possibilidade mais plausível, com os dados e conhecimentos que dispomos até o presente momento. A teoria da evolução não se baseia simplesmente em afirmações e declarações de cientistas, mas em provas e contraprovas, ao contrário das alegações religiosas baseadas no wishful thinking de seus seguidores.

Também queria deixar claro que não duvido, a priori, da boa fé da fé dos religiosos. Fui criado num ambiente católico e algumas das pessoas mais virtuosas que conheci são profundamente religiosas. Mas sei que essa virtude não vem somente de sua fé, porque também travei contato com pessoas de moral duvidosa que se declaravam religiosas. No frigir dos ovos (hehe), o livre-arbítrio é quem dá as cartas.

Nem vou me aventurar aqui a tentar "refutar" as provas da existência de deus de teólogos como São Tomás de Aquino. Quem quiser acreditar que deus existe vai aceitar perfeitamente os argumentos da Suma Teológica. Quem não quiser acreditar, pode simplesmente perguntar:

"Ah, então deus é 'a causa primeira' que criou tudo isso aqui? E quem foi que criou deus?"

Lendo uma biografia de Freud escrita por Max Schur, que foi seu médico em seus últimos anos de vida, vi numa carta de Freud endereçada a Jung algo com o qual me identifiquei imediatamente:

"Ao nível dessas análises, a única resposta que posso dar às questões levantadas aqui é de natureza subjetiva - ou seja, uma resposta que esteja de acordo com a minha experiência pessoal. Para meu pesar, devo confessar que pertenço àquela categoria desvalorizada de pessoas em cuja presença os espíritos suspendem as suas atividades e o sobrenatural desaparece, de modo que nunca me vi em situações de experimentar qualquer coisa a respeito, eu mesmo, que pudesse suscitar a crença no miraculoso."

Some a essa intuição pessoal as provas levantadas pela ciência e você será, no mínimo, um agnóstico.

Wednesday, February 27, 2008

Sobre deus


O site Digestivo Cultural - http://www.digestivocultural.com/ - me manda perguntas sobre deus:

1. Deus tem futuro? Por quê?

Quanto mais a ciência avança, menos espaço sobra pra deus como explicação das coisas. E em países como a Inglaterra, por exemplo, há cada vez menos fiéis e as igrejas estão em crise por falta de freqüentadores. Mas não dá pra dizer que deus não tenha futuro, vão sempre existir líderes espirituais e pessoas crentes em entidades sobrenaturais. Faz parte da natureza humana, da fascinação com o desconhecido, com o medo da morte.

2. E as religiões têm futuro?

Na mesma linha, imagino que sim. E não vejo problema com a religião per se, vejo problema quando a religião tenta impor comportamentos que só dizem respeito aos indivíduos através da legislação e da força do estado. No mais, liberdade total de culto.

3. Você acha que é possível constituir uma sociedade sem nenhuma base moral religiosa?

Certamente. Não fazer com os outros o que não gostaríamos que fizessem conosco não é uma moral religiosa. Ter a liberdade de fazer o que bem entender, desde que não prejudique os outros, idem. Ao mesmo tempo, um livro como a Bíblia, por exemplo, tem ensinamentos contraditórios que são capazes de justificar qualquer comportamento moral. No final das contas, fica cabendo mesmo à razão humana separar o joio do trigo, pra usar uma expressão bíblica. hehe

4. O ateísmo, em nosso País, exige coragem? Por que é tão difícil, por exemplo, não casar "no religioso" no Brasil? Ou por que é tão difícil deixar que os filhos escolham a própria religião (mesmo que esta seja, no fim das contas, a mesma dos avós)?


Vejo muita gente da minha geração se "juntando" e não casando no religioso. Sobre a dificuldade dos filhos em se desvencilharem da religião dos pais, concordo com o Dawkins quando ele diz que isso fere o julgamento do indivíduo numa idade tão suscetível à influência das pessoas mais importantes da sua vida, que são os seus pais. Mas também não dá pra ignorar que, a partir do momento em que essa pessoa cresce e desenvolve o seu próprio raciocínio, ela pode então decidir no que acredita. O importante é que a informação circule e que as pessoas sejam livres pra escolher uma religião ou não.


5. Se a ciência --- ao menos como é ensinada hoje --- fosse menos árida, poderíamos prescindir de qualquer "outra" mitologia?


A ciência é o instrumento mais honesto de compreensão da realidade, porque ela é falseável e não dogmática. Se alguém chegar com uma teoria que desminta a anterior, a nova teoria será adotada e a antiga abandonada. Mitologia e a ciência podem coexistir perfeitamente, porque uma trata de alegorias subjetivas, enquanto a outra trata do mundo como ele é, não como gostaríamos que fosse.


6. Com o fim das religiões, caem, também, por terra as noções de predestinação, de sentido histórico e até mesmo de "progresso"?


As religiões não estão acabando, vai falar em fim da "predestinação" pros fanáticos islâmicos... hehe. E o único sentido histórico, como a finalidade da história, me parece ser o aumento das liberdades individuais, o que claramente entra em conflito com esse tipo de fanatismo. Esse assunto está na ordem do dia na Europa, com os imigrantes islâmicos se chocando de frente com os valores de uma sociedade laica e democrática como a européia. O tempo vai dizer no que isso vai dar, mas a coisa é séria.


7. O ateísmo, se for muito eloqüente, pode se converter numa nova forma de religião? (Como o satanismo --- hoje fora de moda --- praticamente foi uma forma de religião?)


Qualquer um que se diga ateu hoje em dia é logo chamado por alguns religiosos de "ateu militante". Os ateus só têm uma coisa em comum: não acreditam em deus, em qualquer deus, já que existem milhares de deuses em diversas culturas diferentes. Quando um ateu aponta as contradições nos livros sagrados das religiões, ele está prestando um tributo à lógica e à razão, não está querendo "acabar com as religiões", como numa caça às bruxas, isso sim obra das religiões. hehe


8. Trocar o judaísmo, o cristianismo ou seus derivados (pós-Reforma) por algum "ismo" oriental (hinduísmo, budismo ou islamismo) é trocar seis por meia-dúzia? Ou não?


Isso, ó novidade!, depende de cada um, mas o princípio é o mesmo, crer numa entidade sobrenatural. E me parece que o budismo não é bem uma religião, e mais uma filosofia de vida, mas posso estar enganado.


9. O racionalismo da filosofia ocidental, a partir de Sócrates e Platão, pode ser considerado também uma forma de religião?


A razão não é uma religião. A razão é a faculdade humana de perceber a realidade, em dar significado lógico aos estímulos que apreendemos através dos sentidos. É o nosso instrumento
básico de sobrevivência.

10. E a ciência, pode ser deturpada religiosamente? (Alguém aí falou em cientologia, a religião do Tom Cruise?)


Um simulacro de "ciência" pode ser deturpada por religiões como aquela do Tom Cruise... A ciência verdadeira, com prova, contraprova, está aí pra quem quiser explicações possíveis, mesmo que imperfeitas e não definitivas, sobre a realidade. Quem quiser certezas definitivas e perfeitas não vai atrás da ciência, vai atrás de uma religião, seja ela qual for.

Aproveito pra colocar os links do comediante americano George Carlin (foto) falando sobre o assunto (legendado):

Religion is bullshit:

http://www.youtube.com/watch?v=JGwAEhkmsSU

The Ten Commandments:

http://www.youtube.com/watch?v=CF1-IS0yDCs&feature=related

Friday, February 22, 2008

PORQUE OS LIBERAIS VENCERAM

por Guy Sorman

No mundo real, hoje, não há alternativa à combinação entre o livre mercado com democracia. Para deixar isso mais claro, chamarei essa associação de liberalismo.

O que é liberalismo?

Isso precisa ficar claro desde logo, já que a palavra liberal assume conotações diversas em diferentes idiomas. Na França, é um conceito econômico. Nos Estados Unidos, significa esquerdista. Na América Latina é atribuída à direita. No México, algumas vezes, anti-clerical.

Minha definição pessoal enraíza-se na filosofia iluminista do século 18: liberalismo como liberdade individual+democracia+livre mercado. Como Fukuyama, considero que o liberalismo - ou liberalismo clássico, se preferirem - é o fim da história. Por isso, pretendemos dizer que não há alternativa válida ao liberalismo clássico.

O fim da história

Todos estão conscientes disso, inclusive os inimigos do liberalismo. Hoje, eles não propõem mais nada em seu lugar; apenas fazem oposição ao liberalismo sem oferecer outras opções.

Alguns vêem com agrado esse fim da história, outros não. Alguns sentem nostalgia do socialismo, mas não sabem como reformulá-lo: há o caminho da ecologia, mas talvez isso fosse uma volta à interferência do Estado em nome da natureza. Mas não chega a ser uma ideologia, como o socialismo realmente foi.

É verdade que alguns empreendedores preferem um livre mercado sem democracia; na outra ponta, os chamados empreendedores políticos tendem em favor de uma democracia com menos mercado, sendo a política mais compensadora para eles que o mercado. E cada corrente segue sua própria lógica.

Para além desses interesses pessoais dentro do liberalismo, é menos fundamental hoje discutir a legitimidade e os méritos do sistema, do que administrar simultaneamente o mercado e democracia. Por que os norte-americanos fazem isso mais facilmente que os franceses e os brasileiros?

Democracia nos Estados Unidos, França e Brasil

A administração do liberalismo, por razões históricas e culturais, é relativamente mais fácil nos Estados Unidos. Nos EUA, democracia e mercado existiam antes mesmo da criação do Estado: a legitimidade do liberalismo ali, então, está acima de qualquer suspeita. Entre alguns círculos marginais, a imensa maioria sabe que liberalismo funciona. No Brasil, como na França, o Estado chegou antes. Quando a democracia emergiu, não foi tanto para dar poder ao povo, mas para substituir uma elite por outra, supostamente mais eficaz. Democracia, em ambos os casos, foi uma forma de se livrar de uma antiga monarquia e construir em seu lugar um despotismo esclarecido; o povo foi mantido à parte e, em sua maioria, não teve direito ao voto até a metade do século 20.

A tentação do despotismo esclarecido

Por razões que você não encontra nos Estados Unidos, a Igreja Católica e a tradição aristocrática foram reticentes à democracia. Na França e no Brasil, os representantes da Igreja, assim como a aristocracia, não eram simpáticos à democracia - o que ocorreu até os anos 1960. Aliando-se ou competindo, as elites religiosas e seculares (na tradição de Auguste Comte) sabiam ou imaginavam saber o que era bom para o povo.

Na França, perdemos as elites clericais e aristocráticas há muito tempo, mas elas foram substituídas pela tecnocracia. Na França, os tecnocratas sabem ou pensam que sabem mais que o povo: no tempo de De Gaulle, éramos governados por uma tecnocracia com apoio popular - o que parecia o melhor dos mundos -, até que este sistema ruiu em 1968, quando as pessoas se cansaram desse regime autoritário. No entanto, ainda hoje muitos anseiam por um líder iluminado. E é claro que ele não existe.

No caso do Brasil e da América Latina, não preciso explicar muito: caudilhismo é o outro nome para despotismo esclarecido.Tudo isso é impossível de se imaginar nos Estados Unidos: os americanos, de fato, não esperam muito de seus líderes. Eles percebem a democracia como uma forma de limitar o despotismo, não como uma forma de resolver seus problemas: a prioridade é o equilíbrio de poder nos EUA, não a eficiência. O povo americano sabe que seu governo não é tão eficiente.

Além dessa história diferente, resta ainda alguma razão para despotismo esclarecido, um governo forte em vez de um governo democrático? Não: despotismo esclarecido foi tentado muitas vezes no Brasil (Vargas, regime militar), mas não funcionou, por quatro razões:

- Déspotas raramente são esclarecidos.
- Se o são, não permanecem assim por muito tempo.
- Onde encontramos um déspota esclarecido?
- Como nos livramos deles?

A democracia, ao contrário, é uma solução para esses dilemas: não escolhe os melhores líderes (o que quer que isso seja), mas limita o despotismo e o alcance da violência política.

Karl Popper diz que a virtude seminal da democracia é a possibilidade de se livrar dos dirigentes sem derramamento de sangue.

A regra do jogo: democracia de massa

Hoje vivemos em um irreversível regime de democracia de massa: é baseada em comunicação de massa e votos. Temos que defender ambos.Também irreversíveis são os anseios de crescimento e redistribuição. As pessoas querem ambas as coisas e já.

Empreendedores políticos não têm escolha; eles têm de prometer ambas as coisas e tentar realizá-las. Se você cumpre a parte de crescimento sem redistribuição, como Menem (Carlos Menem, expresidente da Argentina) ou Toledo (presidente do Peru), você perde. Esta é a regra do jogo e perseguir um debate ideológico com essas premissas não leva a nada. Em vez de debate ideológico, devemos focar na administração e na comunicação.

Como se convence as pessoas, os meios de comunicação e os empreendedores políticos de que o livre mercado cria riqueza e permite sua redistribuição? Como superar o ceticismo a respeito? Para além da crise do liberalismo, três propostas para o Brasil:

1 - Em uma sociedade não-igualitária como o Brasil, crescimento não é o suficiente. É necessário acelerar o processo de redistribuição. Isso pode ser implementado pela desregulamentação e o micro-crédito que aumentem o número de empreendedores e até gere um “capitalismo descalço”. Esta é a forma de reduzir a dependência e a desigualdade em torno das oligarquias e em direção ao estado de bem-estar social. Capitalismo descalço é a resposta à maré ascendente do populismo;

2 - Liberalismo não deve ser confundido com direitismo. Por causa da vitória das idéias liberais, governos esquerdistas não recorrem mais às soluções socialistas: é o caso do Chile. No Brasil, Lula não aplicou seu programa de governo: os conceitos de nacionalização e manipulação da moeda foram abandonados. O inimigo não é a esquerda, é o populismo, uma variante do fascismo como a de Chávez e Castro (Fidel, presidente de Cuba) ou o presidente boliviano.

3 - É melhor defender sua causa. Liberais não são membros da classe parlamentar, mas devem unir-se a ela. É um dever ético defender o liberalismo, é ético tornar-se um militante da causa. Fundações podem ter um papel seminal em reunir acadêmicos e empreendedores. Este é o foro para se trazer uma nova visão de liberalismo e vendê-la.



http://www.dcomercio.com.br/especiais/digesto/04.htm

Wednesday, February 20, 2008

Tropa de Elite esculachado pela bíblia do cinema

hehehe!
Muito engraçado ver um partidário do "90% Socialismo e 10% Liberdade" dizendo que as pessoas não aprendem com os erros passados...
Pois então pergunto:
Será que alguém que apóia o "socialismo bolivariano" de Chávez, a mesma ladainha liberticida de Cuba e da URSS de Stálin, aprendeu alguma coisa da história?
Não vi o Tropa de Elite, mas me espantam as confusões lógicas que colocam nas costas do usuário todas as mazelas do tráfico. Ora, a causa do tráfico é a proibição e o efeito é a violência. E também me espanta algumas pessoas querendo tornar inimputáveis todos aqueles que eles consideram "vítimas da sociedade". Esse vitimismo infantiliza as pessoas, eximindo-as de qualquer responsabilidade pelos seus atos.
Mesmo que a proibição cause todos esses problemas, quando alguém mata alguém, isso é errado e não deve ser tolerado.
Qual é a "culpa" do liberalismo nos últimos 200 anos, colega?
Aumentar a expectativa de vida da população? Aumentar a população do planeta com a produção de alimentos em larga escala, dando uma banana pros malthusianos catastrofistas (a versão antiga dos ambientalistas)? Dar conforto a um pobre americano que um nobre de séculos atrás nem sonharia em desfrutar? Dar liberdade de expressão e de associação? A democracia? A internet também é obra desse "demo"?
O problema dos socialistas hardcore é que eles parecem ignoram como a vida era antes do advento da revolução industrial... Idealizam um passado romântico e um futuro mágico, cheio de solidariedade e abundância... E pra atingir esse maravilhoso fim utópico, todos os meios são válidos. Que o digam as centenas de milhões de vidas destruídas nos países onde esse estranho "humanismo" foi aplicado.
Aí o colega replica: "Mas eu não defendo o socialismo autoritário..."
E eu treplico: E existe outro? E se existe, tem como vc explicar como isso funcionaria?

Tuesday, February 19, 2008

Contradições e boas intenções


"As pessoas não são perfeitas, é lógico que temos muitas contradições, isso é normal. O que temos que ver é no geral, e se as intenções de tais pessoas são boas."

Qualquer indivíduo que queira se aproximar da verdade, deve fazer um esforço honesto e sincero de aparar as arestas de suas próprias contradições. De fato, o ser humano não é perfeito, mas isso não corresponde a dizer que não há espaço pro aprimoramento. Isso é no plano pessoal, na consciência de cada um.


No mundo da política, das idéias que movem o mundo, a coisa é mais complicada, porque essas contradições afetam a todos. Se o marxismo e o socialismo em geral são cheios de contradições internas, isso deve ser divulgado e essa ideologia combatida, porque não podemos configurar as instituições de uma sociedade baseados em uma visão de mundo contraditória.


Sobre as "boas intenções", isso é algo muito comum realmente. Por isso que o debate de idéias é tão importante, pra esclarecer que somente boa intenção não basta, que as políticas devem estar escoradas na realidade da natureza humana, reconhecendo a liberdade individual como um fim e usando a lógica e a razão pra atingir esse fim.


Marxismo é uma revolta contra a razão, e por isso mesmo deve ser desmoralizado.


A respeito da colocação de que a "direita" é "reacionária", chega a ser engraçada essa inversão se entendermos a "direita" como o liberalismo...


Quem trava as reformas, todas liberais, que fariam o país sair desse intervencionismo infernal é justamente a esquerda. Não querem fazer a reforma tributária, trabalhista, política... Nada. Estão há décadas no poder (FHC também era de esquerda) e o país ainda preso ao desfilar de "boas intenções" que é a Constituição de 88.


Só falta a Carta Magna garantir o direito à felicidade eterna... Quer "boa intenção" descolada da realidade? Leia a nossa Constituição "cidadã".


Então, os socialistas é que são os neoconservadores.

Mas se entendermos a "direita" como um certo conservadorismo cristão, que tenta regular comportamentos que só dizem respeito ao próprio indivíduo através da legislação, aí sim podemos conversar... hehe

Friday, February 01, 2008

O ZEITGEIST MORAL


Este capítulo começou mostrando que nós — mesmo os religiosos — não baseamos nossa moralidade em livros sagrados, não importa no que acreditemos. Como, então, decidimos o que é certo e o que é errado? Independentemente de como respondamos a essa pergunta, existe um consenso sobre o que consideramos ser certo e errado: um consenso que prevalece de uma forma surpreendentemente disseminada. O consenso não tem nenhuma conexão evidente com a religião. Ele se estende, no entanto, a pessoas religiosas, pensem elas ou não que seus princípios morais vêm das Escrituras. Com as notáveis exceções do Talibã afegão e do cristianismo americano equivalente, a maioria das pessoas repete o mesmo consenso liberal e amplo de princípios éticos.
A maioria de nós não provoca sofrimento desnecessário; acreditamos na liberdade de expressão e a protegemos mesmo quando discordamos do que está sendo dito; pagamos nossos impostos; não traímos, não matamos, não cometemos incesto, não fazemos aos outros o que não queremos que façam conosco. Alguns desses bons princípios podem ser encontrados em livros sagrados, mas enterrados junto com um monte de coisa que nenhuma pessoa decente gostaria de seguir: e os livros sagrados não fornecem regras para distinguir os bons princípios dos ruins. Uma forma de expressar nossa ética consensual é na forma de "Novos Dez Mandamentos". Várias pessoas e instituições já tentaram fazer isso. O significativo é que eles tendem a produzir resultados bastante semelhantes entre si, e o que eles produzem é típico dos tempos em que vivem. Veja um conjunto de "Novos Dez Mandamentos" de hoje em dia, que encontrei por acaso numa página pró-ateísmo na internet:
• Não faça aos outros o que não quer que façam com você.
• Em todas as coisas, faça de tudo para não provocar o mal.
• Trate os outros seres humanos, as outras criaturas e o mundo em geral com amor, honestidade, fidelidade e respeito.
• Não ignore o mal nem evite administrar a justiça, mas sempre esteja disposto a perdoar erros que tenham sido reconhecidos por livre e espontânea vontade e lamentados com honestidade.
• Viva a vida com um sentimento de alegria e deslumbramento.
• Sempre tente aprender algo de novo.
• Ponha todas as coisas à prova; sempre compare suas idéias com os fatos, e esteja disposto a descartar mesmo a crença mais cara se ela não se adequar a eles.
• Jamais se autocensure ou fuja da dissidência; sempre respeite o direito dos outros de discordar de você.
Crie opiniões independentes com base em seu próprio raciocínio e em sua experiência; não se permita ser dirigido pelos outros.
• Questione tudo.
Essa pequena coleção não é obra de um grande sábio, ou profeta, ou de um profissional da ética. É só a tentativa simpática de um blogger de resumir os princípios de uma vida de bem hoje em dia, em comparação com os Dez Mandamentos bíblicos. Foi a primeira lista que encontrei quando escrevi "Novos Dez Mandamentos" num programa de busca, e deliberadamente não procurei mais que isso. O que interessa é que esse é o tipo de lista que qualquer pessoa decente comum elaboraria. Nem todo mundo faria exatamente a mesma lista. O filósofo John Rawls pode incluir alguma coisa do tipo: "Sempre crie suas normas como se não soubesse se está no topo ou no ponto mais baixo da hierarquia". Um suposto sistema inuíte para dividir a comida é um exemplo prático do princípio de Rawls: quem corta a comida é o último a escolher o pedaço.
Nos meus Dez Mandamentos emendados, escolheria alguns dos listados acima, mas também tentaria achar espaço para, entre outros:
• Aproveite sua própria vida sexual (desde que ela não prejudique outras pessoas) e deixe que os outros aproveitem a deles em particular, sejam quais forem as inclinações deles, que não lhe interessam.
Não discrimine nem oprima com base no sexo, na raça ou (sempre que possível) na espécie.
• Não doutrine seus filhos. Ensine-os a pensar por si mesmos, a avaliar as provas e a discordar de você.
• Leve em consideração um futuro numa escala de tempo maior que a sua.

Capítulo do "Deus, um delírio", do Richard Dawkins.