Wednesday, February 27, 2008

Sobre deus


O site Digestivo Cultural - http://www.digestivocultural.com/ - me manda perguntas sobre deus:

1. Deus tem futuro? Por quê?

Quanto mais a ciência avança, menos espaço sobra pra deus como explicação das coisas. E em países como a Inglaterra, por exemplo, há cada vez menos fiéis e as igrejas estão em crise por falta de freqüentadores. Mas não dá pra dizer que deus não tenha futuro, vão sempre existir líderes espirituais e pessoas crentes em entidades sobrenaturais. Faz parte da natureza humana, da fascinação com o desconhecido, com o medo da morte.

2. E as religiões têm futuro?

Na mesma linha, imagino que sim. E não vejo problema com a religião per se, vejo problema quando a religião tenta impor comportamentos que só dizem respeito aos indivíduos através da legislação e da força do estado. No mais, liberdade total de culto.

3. Você acha que é possível constituir uma sociedade sem nenhuma base moral religiosa?

Certamente. Não fazer com os outros o que não gostaríamos que fizessem conosco não é uma moral religiosa. Ter a liberdade de fazer o que bem entender, desde que não prejudique os outros, idem. Ao mesmo tempo, um livro como a Bíblia, por exemplo, tem ensinamentos contraditórios que são capazes de justificar qualquer comportamento moral. No final das contas, fica cabendo mesmo à razão humana separar o joio do trigo, pra usar uma expressão bíblica. hehe

4. O ateísmo, em nosso País, exige coragem? Por que é tão difícil, por exemplo, não casar "no religioso" no Brasil? Ou por que é tão difícil deixar que os filhos escolham a própria religião (mesmo que esta seja, no fim das contas, a mesma dos avós)?


Vejo muita gente da minha geração se "juntando" e não casando no religioso. Sobre a dificuldade dos filhos em se desvencilharem da religião dos pais, concordo com o Dawkins quando ele diz que isso fere o julgamento do indivíduo numa idade tão suscetível à influência das pessoas mais importantes da sua vida, que são os seus pais. Mas também não dá pra ignorar que, a partir do momento em que essa pessoa cresce e desenvolve o seu próprio raciocínio, ela pode então decidir no que acredita. O importante é que a informação circule e que as pessoas sejam livres pra escolher uma religião ou não.


5. Se a ciência --- ao menos como é ensinada hoje --- fosse menos árida, poderíamos prescindir de qualquer "outra" mitologia?


A ciência é o instrumento mais honesto de compreensão da realidade, porque ela é falseável e não dogmática. Se alguém chegar com uma teoria que desminta a anterior, a nova teoria será adotada e a antiga abandonada. Mitologia e a ciência podem coexistir perfeitamente, porque uma trata de alegorias subjetivas, enquanto a outra trata do mundo como ele é, não como gostaríamos que fosse.


6. Com o fim das religiões, caem, também, por terra as noções de predestinação, de sentido histórico e até mesmo de "progresso"?


As religiões não estão acabando, vai falar em fim da "predestinação" pros fanáticos islâmicos... hehe. E o único sentido histórico, como a finalidade da história, me parece ser o aumento das liberdades individuais, o que claramente entra em conflito com esse tipo de fanatismo. Esse assunto está na ordem do dia na Europa, com os imigrantes islâmicos se chocando de frente com os valores de uma sociedade laica e democrática como a européia. O tempo vai dizer no que isso vai dar, mas a coisa é séria.


7. O ateísmo, se for muito eloqüente, pode se converter numa nova forma de religião? (Como o satanismo --- hoje fora de moda --- praticamente foi uma forma de religião?)


Qualquer um que se diga ateu hoje em dia é logo chamado por alguns religiosos de "ateu militante". Os ateus só têm uma coisa em comum: não acreditam em deus, em qualquer deus, já que existem milhares de deuses em diversas culturas diferentes. Quando um ateu aponta as contradições nos livros sagrados das religiões, ele está prestando um tributo à lógica e à razão, não está querendo "acabar com as religiões", como numa caça às bruxas, isso sim obra das religiões. hehe


8. Trocar o judaísmo, o cristianismo ou seus derivados (pós-Reforma) por algum "ismo" oriental (hinduísmo, budismo ou islamismo) é trocar seis por meia-dúzia? Ou não?


Isso, ó novidade!, depende de cada um, mas o princípio é o mesmo, crer numa entidade sobrenatural. E me parece que o budismo não é bem uma religião, e mais uma filosofia de vida, mas posso estar enganado.


9. O racionalismo da filosofia ocidental, a partir de Sócrates e Platão, pode ser considerado também uma forma de religião?


A razão não é uma religião. A razão é a faculdade humana de perceber a realidade, em dar significado lógico aos estímulos que apreendemos através dos sentidos. É o nosso instrumento
básico de sobrevivência.

10. E a ciência, pode ser deturpada religiosamente? (Alguém aí falou em cientologia, a religião do Tom Cruise?)


Um simulacro de "ciência" pode ser deturpada por religiões como aquela do Tom Cruise... A ciência verdadeira, com prova, contraprova, está aí pra quem quiser explicações possíveis, mesmo que imperfeitas e não definitivas, sobre a realidade. Quem quiser certezas definitivas e perfeitas não vai atrás da ciência, vai atrás de uma religião, seja ela qual for.

Aproveito pra colocar os links do comediante americano George Carlin (foto) falando sobre o assunto (legendado):

Religion is bullshit:

http://www.youtube.com/watch?v=JGwAEhkmsSU

The Ten Commandments:

http://www.youtube.com/watch?v=CF1-IS0yDCs&feature=related

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