Tuesday, October 26, 2010

Primavera dos Livros 2

Então passei o cartão com 40% de desconto - lindo projeto gráfico o do livro, realmente - não tem problema, essa máquina é intuitiva e anti-idiota. Se bem que na hora de selecionar entre débito e crédito a coisa não fica clara, não tinha botão pra cima ou pra baixo, tinha que apertar um outro com uma parada escrita que não tinha nada a ver. Fica aqui como dica pra melhoria do serviço pro pessoal da empresa responsável. Sacanagem o RJTV não divulgar o evento, alguém tem que tomar uma Providência, a garrafa no varejo custa uns 40 reais, sem 40% de desconto, 50% pra professor. Não, não vou me cansar dessas piadinhas, chegam a ser "piadinhas"? Não, servem pra desanuviar o ambiente da feira na sexta-feira tinha música ambiente, com muito rock, samba e MPB da melhor qualidade, comando do Garotinho. Conservador como o Caetano? Você quer dizer liberal? Podia ser mais, bem mais. Disse que pior que um comunista, só um anti-comunista. Como assim? Então o cara que critica o Fidel é "pior" que o Fidel? Até o Fidel critica o Fidel, fez um mea culpa incrível que não teve a repercussão que deveria ter tido. Viu, 3 variações de um mesmo verbo numa mesma frase. Aliás, por que a Caros Amigos tinha o estande mais destacado da feira? (risos) Não consigo deixar de falar de política porque a política é uma arena (e não estande) comum a todos nós, QUEIRAMOS OU NÃO WE ARE ALL GOING TO DIE. Então enquanto a gente não morre é importante estabelecer parâmetros legislatórios de acordo com análises lógicas e qualificadas sobre a estrutura da realidade, faliu bonito, quer dizer, falou bonito. Não, não compro livro. Quer dizer, até compro, mas poucos, pra ler antes de dormir, minha biblioteca é a internet. Não subestimo os clássicos não, não coloque palavras na minha boca, eles também estão na internet. Propriedade intelectual? Assunto delicado, nem tanto quanto o a... deixa disso, vamos falar das flores desta estação maravilhosa, a primavera. Aliás, estamos mesmo na primavera, seu Google? Tinha uma flor no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma flor. Uma versão mais otimista da pedra no meio do caminho faz o cara se perguntar: que pedra? Pedra que rola não cria limo, sacou bicho? Vai rolando e criando um atrito que remove o limo, uma metáfora sobre a sociedade contemporânea careta e conservadora diferente daqueles loucos anos 60, antes da AIDS e do aquecimento global. Ok, agora eu estou sendo deliberadamente chato. Mas o Dr. Feelgood é outro cara, aquele de laquê, maquiagem e cheio de dentes. Ainda bem, depois de beber um açaí é bom mesmo escovar a dentadura 0800 com o crachá da firma, se lembra do Bozó? Bozo e Bozó, duas figuras diferentes, se liga na missão, os caras não reconhecem um fato como verdadeiro se ele não for útil à causa, não te disseram a vida inteira que a verdade não existia? Então, vai vendo.

Monday, October 25, 2010

Primavera dos Livros

O homem parou, olhou, pegou o panfleto e se encaminhou pro outro estande onde estava uma bela mulher. Num relance, seus olhares se cruzaram e se estabeleceu que "se estabeleceu" não segue a norma culta estabeleceu-se que é. Li umas poesias lá. Por não falar nisso, viu-se ainda algum orgulho com o Lula e o PT, pessoas com adesivos da Dilma e um casal fantasiado com bandeira e tudo se encaminhando pro estande da Caros Amigos conferenciar com cineastas e outros militantes da causa. A causa? O controle da sua vida, caro leitor. Quer dizer então que o gigante gentil jogou longe aquele jornalista famoso cujo nome não vou revelar porque não quero fazer frases longas, eu mesmo esqueci do que tava falando. Claro que não, ele não teve nenhuma intenção, foi pura energia rock'n'roll numa roda de pogo combinada com o corpo robusto de um e a formação mirrada do outro, adjetivação plenamente justificada, pode confiar. "Falei com todos os médicos do Botafogo e posso te garantir que o Garrincha e outros jogadores faziam infiltração no joelho. Só que não foi isso que mais o prejudicou." A gente sabe beber no almoço antes da feira e curtir um anoitecer junto com os gansos no lago de frente pra gruta. O ambiente é legal onde o Getúlio deu um tiro na cabeça. Mas na Rua do Catete, uma meia dúzia vinha me abordar pedindo dinheiro e quase levei um estabaco na pedra derrapante da calçada. "nA PEDRA derrapante DA CALÇada", hoje eu tô muito literato. Porque eu não tenho costume de ler livros de ficção, quem perguntou, né? Ninguém precisa perguntar, por isso escrevo aqui. O suporte físico não vai morrer, mas vai virar um negócio de colecionador essa coisa do governo ser o maior comprador, tô falando dos livros de um modo um tanto torto pra retomar o fio da meada. Tá vendo, já esqueci do que eu tava falando... Esqueci nada, é só charme. Ir pra São Paulo ver o Pavement? Tocar violino no show da PELVs, agora não sei se é violino ou rabeca, mas, em todo caso, vou encher isso aqui de vírgulas e botar a maior pilha indie, a pírgulindie. Não sei se chega a rolar pogo num show do Pavement, mas só em falar POGO I feel young again. You're still young, dummie. Well... É, entabula um papo sobre a morte, a gente taí pra isso mesmo, levantar o astral da rapaziada, o desconto é de 40%, 50% pros professores. Sim, vou confiar na sua palavra, nem a chefia pede documentação, sou apenas uma mola nessa grande engrenagem que é o SISTEMA, obrigado pela oportunidade. O cara do Vasco foi expulso? Beleza, vai rolar uma pressão e o Flamengo logo empata, futebol também é cultura, pô. Leia o Vermelho e o Negro do Ruy Castro pra ver como o Flamengo tem uma linda história, não eram só playboyzinhos dissidentes do Fluminense, falar de futebol é muito mais confortável que de política. E o tempo, hein? Não, não vou me calar. Quer dizer, vou falar quando sentir necessidade, as pessoas com crachá não pagam pra usar o banheiro, 1 real. TOO REAL. 5 aplausos, declamando minhas entranhas estranhas na tenda em frente à carrocinha do Geneal. Sim, é genial. Sem catchup, por favor. I'll catch you up later. See, it never ends... No, it ends.

Sunday, October 17, 2010

A lógica dos 7 pecados

Não tenho religião, não acredito em Deus, em "força superior" que não seja a natureza, em mundo numenal, espiritismo ou em misticismo de qualquer ordem. Não sei como o universo foi acontecer, ninguém sabe, sei que a Terra é um planeta privilegiado por ter tido condições de criar vida e, sobretudo, vida com consciência - o que torna tudo divertido e angustiante ao mesmo tempo. Como não temos todas as respostas, especulamos, pesquisamos e alguns criam seres sobrenaturais pra lidar com o desconhecido, a crença é livre e é bom que continue assim. A força da religião pode se assentar em bases duvidosas (fé), mas alguns dos seus princípios funcionam porque fazem sentido, porque são importantes pra preservação da vida humana. IRA - Se o camarada tá sempre nervoso, é porque tá rolando um desequilíbrio sério, que se revela na forma de, por exemplo, hipertensão e stress, dificultando o bombeamento de sangue pelo coração. Isso também o afasta das outras pessoas, porque ninguém quer ficar perto de quem pode explodir a qualquer momento. Sem falar que a agressividade de um pode potencializar a agressividade do outro, com resultados imprevisíveis. GULA - A forma física não é uma coisa meramente estética (apesar da estética também ser importante), ela interfere na sua qualidade e quantidade de vida. Sei que soa clichê, mas clichês são clichês por um motivo. A comida é uma necessidade, mas depois de um certo ponto ela se acumula como gordura, um mecanismo que fazia sentido em épocas de escassez, o que não é o caso agora com toda oferta de alimentos. INVEJA - Sentimento negativo porque corrói o camarada por dentro, afetando a sua auto-estima. Quer dizer, a sua auto-estima já não devia estar lá essas coisas pra ele sentir inveja de alguém, retroalimentando um ciclo vicioso. A inveja pode gerar atitudes destrutivas, porque o camarada se sente no direito de rebaixar, nem que seja à força, o invejado. ORGULHO - Melhor seria "soberba", porque orgulho próprio, quando justificado, é algo bom e virtuoso. Lembro quando eu tava tranquilo no mar de Lopes Mendes e, de repente, rolou uma correnteza forte me tirando o pé e o controle do que tava acontecendo. Tentava voltar pro raso e não conseguia, o mar era mais forte que eu. A minha soberba podia ter me prejudicado ali, porque me recusei a pedir ajuda. Consegui sobreviver, mas foi por pouco. AVAREZA - "É o apego excessivo e descontrolado pelos bens materiais e pelo dinheiro, priorizando-os e deixando Deus em segundo plano." Nada que é "descontrolado" quando se tem a possibilidade de controle pode ser bom. Sobre deixar "Deus em segundo plano", me parece uma forma oblíqua de se justificar o dízimo, mas beleza, um neurótico como o Tio Patinhas não deve mesmo ser exemplo pra ninguém. PREGUIÇA - Se você quer manter a sua vida, você precisa agir. A vida não se mantém apenas com a força do pensamento, mesmo os monges tibetanos plantam e colhem. A preguiça também pode ser mental, o que prejudica a ação, uma vez que os atos são guiados pelos valores e pensamentos determinados pelo processo de reflexão. LUXÚRIA - O sexo é uma coisa séria, muito boa, mas séria. Se você se entregar às delícias sexuais sem nenhum critério, pode contrair uma doença ou um filho indesejado. Isso vai atentar contra a sua própria vida e a vida de quem ainda não viu a luz do dia. Você também pode trair a confiança de alguém, perdendo laços importantes. A religião não é a verdade, mas pode conter muitas verdades, o lance é saber separar o joio do trigo.

Thursday, October 07, 2010

Contradições e inconsistências lógicas

Época de eleição é uma maravilha em matéria de enrolação, contradição e inconsistências lógicas em geral, sem falar nas mentiras puras e simples. Os candidatos falam o que as pessoas querem ouvir, o lance é prometer isso e aquilo pra agradar o máximo de eleitores. Democracia, um arranjo delicado que pode descambar com muita facilidade pra uma ditadura da maioria ou pra uma ditadura de uma minoria que soube manipular a maioria. Como a ideologia que norteou os sonhos de mudança no século passado (socialismo) foi um fracasso óbvio e a alternativa (capitalismo) é quase que unanimamente rejeitada pela galera intelectual - que não vai fazer um mea culpa nessa altura do campeonato e dizer que "realmente, lutei minha vida inteira por uma causa furada" - o pragmatismo passou a ser a filosofia não declarada da vez, o que faz bastante sentido, porque ela não propõe nada específico, pragmatismo é tudo aquilo "que dá resultado". Resultado pra quem? Pra quem tem o poder, claro. Então, como diria um blogueiro progressista, a política estabelece a moral, ou seja, quem tem o poder determina o que é certo e o que é errado. Como não dispõem de instrumentos teóricos consistentes e coerentes (descartados de antemão como dogmatismo) - por causa da desconfiança criada pela diferença entre os objetivos alardeados pelo socialismo e os seus resultados práticos - as pessoas então misturam as estações, defendendo uma coisa numa hora e contradizendo-a logo em seguida. Os políticos fazem isso de caso pensado, a maioria dos eleitores, não.

Tuesday, October 05, 2010

Questão de crença ou conhecimento

"Capitalismo ou socialismo? Ah, questão de crença." Não é questão de crença, é questão de conhecimento. Você acreditar, por exemplo, em cientologia é questão de crença, não tem como verificar se "vários planetas se reuniram há 75 milhões de anos numa confederação das galáxias, governada por um líder maléfico chamado Xenu. Como os planetas estavam com problemas de superpopulação, Xenu mandou bilhões de seus habitantes para Terra, em espaçonaves parecidas com os Douglas DC-8, onde foram jogados dentro de vulcões e mortos com bombas de hidrogênio. Seus espíritos foram recapturados e reunidos em cachos (como uvas, ou talvez bananas) - chamados de "thetans" (em português, "tetões") - os seres humanos." Você pode achar isso ridículo, mas o Tom Cruise acredita. Adianta eu ficar falando em teste de falseabilidade pra quem dá crédito a uma história dessas? Não, isso é crença. Dizer que a estatização dos meios de produção não funciona pros fins desejados (abundância material) não é questão de crença, é questão de conhecimento, tanto da teoria quanto da prática. É "crença" no sentido de acreditar que o socialismo não funciona, mas se essa "crença" é confirmada pelos fatos, vira então conhecimento. Controle de preços pelo governo resulta em escassez e em mercado paralelo, isso não é mera "crença", é conhecimento da ciência econômica. "Crença" é achar que, mesmo com todos os exemplos contrários, o próximo controle governamental de preços vai dar certo.

Monday, October 04, 2010

Discutindo Ayn Rand

Rand começa dizendo que a Idade Média foi regida pelo misticismo, numa época em que a filosofia era considerada uma extensão da teologia, relacionando a forte influência de Platão com Santo Agostinho, "um platônico". O renascimento da filosofia de Aristóteles se deu, segundo Rand, via São Tomás de Aquino, "que trouxe de volta a parte principal da filosofia de Aristóteles, a epistemologia (lógica e razão)". [esse descolamento da parte mais platônica da religião coincidiu, não por acaso, com o surgimento do renascimento e o fim da idade média, evidenciando a importância da base filosófica na "vida prática"] O entrevistador então pergunta a opinião de Rand sobre a influência de Kant na filosofia. Ela explica que Kant desenvolveu um esquema falso, que desqualifica a mente humana ao descrever a realidade como uma ilusão criada pela percepção. Para Kant, o homem não seria capaz de "ver as coisas como elas são", um ataque, segundo Rand, ao poder da consciência, "negando a realidade e a validade das nossas percepções". [sem falar naquela divisão entre o mundo numenal e fenomenal, o fenomenal sendo aquele em que vivemos, onde não conseguimos "ver as coisas como elas são", ao contrário do numenal, onde conseguiríamos ver the real deal se essa dimensão fora do nosso alcance realmente existisse. Kant queria assim justificar o misticismo e os seus mundos incognoscíveis através de uma "razão pura"] O entrevistador menciona as duas personificações mais presentes no exercício do poder ao longo da história segundo a própria Rand, os chamados Átilas e os Feiticeiros (witch doctors). Ela diz que a razão é a única forma de se perceber a realidade ao integrar o material fornecido pelos sentidos. A razão, porém, não funciona automaticamente, ela tem um caráter volitivo. A maioria das culturas, ela continua, foi governada pelos chamados witch doctors, que "são guiados não pela razão, mas pelas suas emoções, funcionando com base na fé", uma crença sem evidência que encaram como guia no mundo real. [me desculpem os amigos religiosos, mas a fé é um salto no escuro que, parafraseando Kant, não tem a ver "com as coisas como elas são". claro que existem religiões mais civilizadas e menos irracionais que outras - e a liberdade religiosa é um valor inegociável - mas todas são irracionais. não estou dizendo que todo religioso é irracional, estou dizendo que buscar a verdade a partir da fé é irracional] Como tem que lidar com os outros homens, o witch doctor acaba se juntando ao Átila, "seu aliado natural, o chefe primitivo de uma tribo que age sempre no calor do momento, se recusando a considerar idéias, princípios ou abstrações". Os Átilas, "os gangsters, os ditadores e os chefes militares", lidam com os outros na base da força. "Em qualquer época da história e na maioria dos lugares, o poder foi exercido por uma aliança entre os witch doctors e os Átilas". [veja a nossa eleição, por exemplo, e o esforço feito pelos candidatos pra agradar, ou ao menos não desagradar muito, os líderes religiosos. veja a aliança entre Lula e Edir Macedo, o presidente que usa a força do poder pra impor a sua agenda e o bispo que usa a força da fé pra angariar mais poder] O homem da fé dando a sanção moral pra que o homem da força a imponha. Na sociedade atual se vê o mesmo fenômeno, e ela cita os "leftists, liberals and socialist intellectuals" como sendo os novos-místicos que tentam justificar o uso da força, porque - como Kant - não reconhecem a validade da razão. [os esquerdistas se acham muito sensíveis e humanistas, mas a sua agenda só se realiza com o uso da força. se você quer equalizar a sociedade de cima pra baixo, enfraquecendo uns e fortalecendo outros, você vai ter necessariamente que ter mais força que todos os outros, numa coerção-compassiva (a hipótese otimista)] O entrevistador então pergunta por que os místicos precisariam dos homens da força. Como colocam as emoções em primeiro lugar e negam os fatos, explica Rand, os místicos não conseguem lidar com a realidade e, por isso mesmo, formam uma aliança com os Átilas, que os protegem e impõem os seus dogmas. [uma das conquistas do iluminismo - e uma das consequências do renascimento - foi a separação entre o estado e a igreja. claro que nem todos os lugares chegaram lá, veja o mundo muçulmano] (http://www.youtube.com/watch?v=lrr2wfm4fNY)