Wednesday, June 30, 2010

Sobre os libertários 3

Por que essa troca entre liberdade e segurança é insustentável no longo prazo? Essa constatação pode ser intuitiva, mas os grandes autores liberais ajudam a esclarecer. O francês Bastiat dizia que o "estado é a ficção em que todos tentam viver às custas de todos os outros." Essa frase explica bem a verdadeira "luta de classes" que acontece entre pagadores e consumidores de impostos. Se o governo, em nome da segurança econômica de uns, tem o poder de confiscar a renda de outros, o processo político vai se limitar a uma batalha entre grupos de pressão pelos recursos confiscados. O lance é que chega uma hora em que essa asfixia sobre os produtores tira deles justamente o incentivo pra produzir, secando então a fonte que alimenta os consumidores de impostos. Essa realidade está sendo demonstrada na prática com a crise do welfare state europeu e foi demonstrada na teoria no Atlas Shrugged de Ayn Rand. Só que os impostos diretos não são o único modo de opressão estatal. A intervenção na economia com o excesso de regras e burocracias cria outros problemas. O austríaco Mises demonstrou que a intervenção estatal nas trocas voluntárias entre os indivíduos tem o efeito contrário do pretendido. Controle de preços, por exemplo. Se o governo decide - em nome da segurança alimentar - que o litro de leite não pode custar mais do que 1 real, mas o custo de produzi-lo ultrapassa esse valor, o resultado vai ser a escassez do produto. A Venezuela atual exemplifica isso bem, mas a teoria e a lógica bastariam. Como a teoria e a lógica não podem fazer muito contra quem tem o monopólio da força, resta a luta política pra tentar estabelecer um pouco de racionalidade nas relações de poder. Continua.

Tuesday, June 29, 2010

Sobre os libertários 2

Como os "centros de saber" estatais estavam e estão aparelhados de socialistas das mais variadas orientações, os autores liberais foram então deliberadamente omitidos, restringindo o debate entre a esquerda radical e a esquerda moderada que, nesse arranjo, foi convenientemente caracterizada como a "direita neoliberal". Essa configuração não é exclusividade das faculdades brasileiras de humanas, algo parecido também acontece nos EUA e em outros centros. O motivo disso? Não sei ao certo, mas alguns especulam que a tendência dos intelectuais ao socialismo se deve ao medo que eles têm de ficar sem função numa sociedade capitalista, onde não existe um planejamento de cima pra baixo e a engenharia social não tem vez. De qualquer maneira, a internet mudou tudo, porque a fonte de conhecimento não se resumia mais àqueles feudos tradicionais da esquerda, você podia ter acesso aos teóricos liberais no alcance de um toque. Foi o que bastou pro aparecimento de um movimento de reação ao status quo mental que, desde a ditadura militar, domina a discussão política nacional. Como era de se esperar, esse movimento libertário surgiu com força primeiro nos EUA - um país fundado justamente no princípio de que o estado deve servir o cidadão e não o contrário - depois que os partidos que se revezam no poder se "esqueceram" das lições dos founding fathers e aumentaram bastante o tamanho e o alcance do governo. Políticos libertários como Ron Paul atingiram então considerável popularidade, inspirando principalmente os jovens cansados do big government que restringe cada vez mais a liberdade em nome da segurança, um trade-off insustentável no longo prazo. Explico o motivo no próximo post.

Monday, June 28, 2010

Sobre os libertários

Lula tem 85% de aprovação e os aliados que tem, a nata bolorenta do poder mundial. Não vou elencar aqui os nomes, vocês sabem quais são. A oposição que existe no Brasil ao projeto do PT é o PSDB, também um partido de esquerda, um pouco mais civilizado, é verdade, mas liberticida mesmo assim. Ao PSDB se junta o DEM, cujo programa é inspirado nos Democratas americanos, a esquerda de lá. Ou seja, toda a política nacional está circunscrita a variações do socialismo, seja o democrático (PSDB) ou aquele que espera apenas uma brecha pra estatizar o que puder (PT). O liberalismo - nas circunstâncias atuais - não tem mesmo vez. Isso não é culpa dos partidos, meras consequências, porque não são os políticos que determinam a ideologia, ela é determinada pelos formadores de opinião formados pelos "centros de saber". Então os jovens idealistas que frequentam as faculdades - a maioria bancada pelo governo - cheios de vontade de mudar o mundo, se deparam com todo um arsenal de teorias com essencialmente uma coisa em comum: a condenação do capitalismo. O jovem fica meio atordoado com aquele blá-blá-blá confuso, mas sai dali com pelo menos uma certeza: o livre mercado é mau, muito mau. Se o capitalismo não funciona, os governos têm que fazer alguma coisa e a consequência inevitável desse diagnóstico é a concentração de poder nos políticos. Viu como o ciclo se fecha? Mas por que eu tô falando nisso de novo...? Ah sim, porque por mais que o espectro ideológico esteja restrito, a mensagem das liberdades e responsabilidades individuais não foi completamente sufocada, ela sobrevive em pequenos grupos que encontraram na internet um meio de expressão. Volto ao assunto.

Wednesday, June 23, 2010

O homem e a natureza

Muito do ruído que rola em discussões acontece por causa da falta de uma definição clara dos conceitos usados, o cara usa uma palavra querendo dizer uma coisa e quem lê entende outra, tornando improvável a compreensão e o diálogo objetivo. Uma amiga me mandou um texto que pode servir como exemplo disso. O autor estabelece que "a vida pode ser examinada segundo 4 categorias: o jogo, os interesses, o grau de organização e o valor da vida." A coisa é arbitrária mesmo, mas ele avisa que "elas estão relacionadas". Seguem alguns parágrafos que me deixaram um tanto confuso, talvez pela arbitrariedade das definições e talvez pelo background filosófico do autor. O que deu pra entender, eu acho, é o estabelecimento de uma certa dicotomia entre o mundo da infância ("interesse pessoal motivado pelo entusiasmo") e o da vida adulta ("interesse pessoal e social motivado pela coerção"), passando por esse fenômeno moderno, a adolescência ("interesse social motivado pelo entusiasmo"). Pra resumir, a criança é inocente, o adolescente quer ser aceito e o adulto tem que trabalhar. O que vem a seguir é uma certa idealização da infância em contraposição a "não menos que monstruosa" dimensão da vida adulta. "O interesse, portanto, passa a ser meramente coercivo na idade adulta." Aqui rola um conflito de conceitos, porque a necessidade estabelecida pela própria estrutura da realidade não é coercitiva como um ladrão com uma arma apontada pra sua cabeça. A natureza "exige" algumas ações pra que você sobreviva, mas ela não é boa ou ruim, não há juízo de valor possível em relação à natureza, ela é o que é e só podemos julgar moralmente aquilo que nós, humanos, fazemos com ela. Não que o ser humano seja algo à parte da natureza ("parte da ininteligibilidade advém do paradoxo da inumanidade do jogo vis-à-vis humanidade dos jogadores"), mas ele possui uma consciência que o torna capaz de especular sobre essa condição. (http://disfuntorerectil.blogspot.com/2010/05/evidenciando-um-mecanismo-fechado.html)

Friday, June 18, 2010

Fazenda modelo bolivariano

Imagine que você sempre sonhou em morar no campo, numa fazenda, e trabalhou muito pra isso, abrindo mão de várias coisas pra poupar e comprar um pedaço de terra. Você usou uma parte da terra pra plantar, sei lá, laranja e arrendou a parte restante pra uma família sem casa e emprego da região. O acordo com a família estabeleceu que você, como dono da terra, ficaria com uma parte da produção - o valor de mercado - dos arrendatários que agora têm onde morar e trabalhar. Essa é uma situação em que todos passaram de uma situação menos satisfatória pra uma mais satisfatória, não? O que haveria de errado nesse arranjo voluntário? Nada, mas segundo os bolivarianos e demais marxistas, você está "explorando" a família e isso não pode, só o estado pode explorar todo mundo. Então o presidente da Venezuela - aquele lugar que o Lula considera ter "democracia até demais" - vai sancionar uma nova lei que proíbe essa "terceirização" por considerá-la "contrária à paz social". Pela lei, se a família tiver trabalhado por 3 anos nesse regime, ela se tornaria então proprietária do terreno. Qual é a justiça nisso? A pessoa que olha pra essa arbitrariedade como algo "em favor dos pobres e contra os proprietários exploradores" se esquece que a partir do momento que a família tomar posse do terreno, ela também não vai poder dispô-lo da maneira que quiser, isto é, ela não seria realmente proprietária, mas mera arrendatária do governo, o verdadeiro proprietário. Além da injustiça, não há a menor possibilidade desse esquema aumentar a produção de alimentos, o objetivo declarado do personagem da "Praça é Nossa" que governa a Venezuela. Não aumentou em lugar nenhum (Cuba produz hoje menos açúcar do que produzia em 1905), por que seria diferente agora?

Thursday, June 17, 2010

Cachaça no café da manhã 3

Claro, o homem tem o "dever" de usar a natureza em seu benefício se ele quiser que a sua espécie sobreviva e prospere. Se ele for um ambientalista radical como o Peter Singer, vai considerar que o homem é o problema e que a Terra ficaria melhor sem alguém com a capacidade de transformar de maneira consciente o seu habitat. Eu também não gosto de poluição, de maus tratos aos animais e de pássaros cobertos de óleo, mas se o bem-estar do homem não for a prioridade do homem, qual vai ser então? Falam sobre o desmatamento, mas as cidades onde as pessoas vivem já foram matas virgens. Evacuem as cidades que o mato deflorado vai tomar conta de novo. Romantiza-se a natureza e a Constituição já prevê que, sei lá, 70% do território brasileiro é "protegido". Protegido de quem? Do homem, de suas plantações, sua pecuária, suas construções, suas cidades, suas hidrelétricas e suas iniciativas de tornar a sua vida mais confortável. O ambientalismo, em sua essência melancia (verde por fora e vermelha por dentro), é uma ideologia anti-homem, porque ao mesmo tempo em que reclama indignada da pobreza, faz de tudo pra barrar a criação de riqueza. Os exemplos do livro do Jeffrey Tucker vão ilustrar isso bem. (http://mises.org/books/bourbon_for_breakfast.pdf)

Cachaça no café da manhã 2

Então qual é o hype cultural que is gonna get ya, concorde-se ou não com ele? O ambientalismo. Ele está na campanha presidencial e até aquele festival de rock de Itu vai nessa toada da "sustentabilidade". Esse conceito está entre aspas porque se trata de uma mistificação como o "aquecimento global antropogênico", que não quer mais correr riscos e agora se chama "mudança climática". Esfriou? Culpa do homem (capitalismo). Esquentou? Culpa do homem (capitalismo), não tem como errar. Aliás, o Al Gore, o papa desse papo, está sendo processado por 30 mil cientistas por manipular dados a favor da sua tese escatológica (http://www.youtube.com/watch?v=z6l1Cp3MYCQ). O legal do Al Gore é que ele foge de todos os convites pra debater o tema, o homem só aceita falar sozinho, o que, por si só, demonstra a consistência da sua causa. Esse alarmismo todo, aí vai a minha impressão, tem motivações políticas, de controle da sociedade, usando o meio ambiente como justificativa. Só que a água não vai acabar, os recursos naturais não vão acabar, eles não saem da natureza diretamente pra um buraco negro, eles continuam aqui. O homem, ao contrário do que dizem, tem mais do que o direito, tem o dever de usar esses recursos em seu benefício. Tentei falar do livro do Jeffrey Tucker e mais uma vez não consegui, pelo menos não diretamente. Este post fica então como mais uma introdução.

Cachaça no café da manhã

Fazer parte do espírito do tempo pode ser tão reconfortante quanto não fazer parte desse zeitgeist. Escrever zeitgeist também pode ser reconfortante na medida em que você se sente inteligente, parte de uma elite que usa conceitos em alemão, não é pra qualquer um não, meu irmão. Então da mesma maneira que alguém se integra à paisagem intelectual com receio de desafiar a opinião dominante e ser tratado como um dissidente, um outro busca exatamente isso, destoar de algo que ele considera comum demais - ser radical tem charme em certos círculos, vamos combinar. Nada disso, porém, diz algo sobre a verdade das coisas, sobre o que é justo. A pessoa pode estar com a manada e estar certa e estar sozinha dando murro em ponta de faca e estar errada, tudo depende do contexto, porque julgar é contextualizar. Claro que se você não considerar a lógica e a razão como instrumentos minimamente confiáveis pra compreensão da realidade, não há mesmo julgamento possível, ao menos em tese, porque você está usando justamente o processo mental pra desqualificá-lo. É uma autorefutação instantânea, como dizer que "só sabe que nada sabe". Por que estou dizendo essas coisas? Não sei bem, eu queria fazer uma introdução sobre o novo livro do Jeffrey Tucker, Bourbon for Breakfast - Living Outside the Statist Quo, e saiu isso. Fica pro próximo post então.

Wednesday, June 16, 2010

Drama da vida

"O Leonel manteve os juros baixos e não exerceu nenhum papel regulador porque, como você, acreditava na infinita sabedoria do mercado. Acreditava não só que os banqueiros e empresários sabiam o que estavam fazendo com o dinheiro dos seus acionistas como também eram capazes de se vigiar mutuamente, evitando que qualquer um fizesse alguma besteira grave." Ninguém tem que "vigiar" ninguém, o melhor vigia é o mecanismo de lucro e prejuízo, o medo da falência. Esse papo de nego se "vigiar mutuamente" é coisa de estado policial, totalitário, comunista. E bizarro o Leoncio insistir nessa história de que o Leonel "acreditava na infinita sabedoria do mercado", acho que o Leoncio tem um parafuso meio solto, não é possível.

Tuesday, June 15, 2010

Daonde vem o ódio a Israel?

Especulando sobre a cisma com os judeus, vem à mente aquela história de "povo escolhido", mas qual religioso não se sente "escolhido" pelo Deus da sua preferência? O lance da usura também é importante, mas o que é a usura? Na Idade Média, era a simples cobrança de juros, hoje em dia a usura permanece como "pecado", mas pra arder no fogo do inferno você precisa cobrar juros "exorbitantes". Isso é bem arbitrário, como se define um juro "exorbitante"? O tempo tem valor e se Fulano concorda em pagar X de juros pra ter aquele valor naquele momento, a troca é voluntária e perfeitamente moral. Então na Idade Média os judeus que poupavam pra emprestar não eram muito apreciados pelos cristãos e hoje em dia essa fama certamente não os torna populares entre os socialistas, sempre prontos a ignorar as leis econômicas pra exaltar o "bem comum" com a poupança alheia (literal e figurativamente). Sobre o sionismo, não me entendam mal, um estado judaico na "terra prometida" é uma maluquice em conflito com outra maluquice, a islâmica. Nesse aspecto, digamos que há um empate de irracionalidade. Na virada pro século XX, uma maioria árabe habitava aquela região que fazia parte do antigo Império Turco Otomano, mas não havia um país chamado Palestina e os judeus, a partir da popularização da idéia sionista, começaram a se mudar praquela área. Com o fim da Segunda Guerra, "a ONU propôs e foi aceito o Plano de Partilha da Palestina, que consistia na formação de dois estados - um judeu e outro árabe, concedendo 55% da terra para o estado judeu e o restante ao estado árabe. A representação judaica aceitou o plano, que foi no entanto rejeitado pelos países árabes." (http://pt.wikipedia.org/wiki/Sionismo). Várias guerras e pactos mal sucedidos se seguiram com um roteiro comum: Israel vence a guerra e autoridades palestinas como Arafat recusam qualquer acordo de coexistência. Eis a diferença crucial entre eles: os israelenses aceitam a existência da Palestina, os palestinos não aceitam a existência de Israel.

Monday, June 14, 2010

Daonde vem o ódio aos judeus?

Reportagem do O Globo exalta o primeiro-ministro turco por ele "assumir a defesa dos palestinos" e "se amancipar progressivamente de potências ocidentais como os EUA." Recep Erdogan se junta então a outros grandes luminares que "desafiam o Império" como Fidel Castro, Hugo Chávez e Ahmadinejad, certamente o tirano com o nome mais complicado do mundo. A cobertura da imprensa me dá a impressão de que Israel não tem o direito de existir, que resta aos israelenses receber bombas na cabeça ou sair dali pra sempre, abrindo o caminho pra islamização absoluta daquela região. É a ilustração perfeita do conceito de guerra assimétrica: toda tolerância à agressão iniciada pelo Hamas e toda intolerância à reação de Israel. A coisa toda me parece uma insanidade, mas a interpretação que se dá na imprensa é ainda mais incompreensível. Israel monitora as fronteiras de Gaza porque não quer permitir a entrada de bombas que vão ser lançadas em seu território, não dá pra comparar isso a um campo de concentração. Pelo contrário, é o Hamas que tem na sua plataforma a destruição de Israel. Também não compreendo bem esse ódio histórico e persistente aos judeus, algum colega teria um palpite? Tem a ver com aquela história de usura? Coincidentemente ou não, na página seguinte do jornal aparece o Chávez dizendo que o dono da TV Globovisión - desaparecido desde que a sua captura foi decretada pelo governo bolivariano - "precisa ser investigado porque foi acusado de usura". Volto ao assunto.

Thursday, June 10, 2010

Pulga atrás da orelha

Então você tem um ideal que vai nortear as suas ações, pelo menos essa é a intenção de se ter um ideal. Nem sempre você vai conseguir viver completamente de acordo com o ideal - claro, você estabeleceu altos parâmetros - mas ele continua ali te lembrando de qual é a situação ideal, e quando você não consegue agir de acordo com o ideal, ele fica ali como uma pulga atrás da sua orelha. Eu sei que uma pulga atrás da orelha não é uma imagem muito inspiradora pra um conceito tão elevado como o ideal, mas vamos em frente. Se você não age de acordo e é honesto com a realidade, você admite pra si mesmo que algo está faltando, e o sentimento de culpa que isso gera pode ficar te azucrinando o resto da vida ou pode te incentivar a agir de acordo com o ideal, porque a consciência nunca te abandona. Quer dizer, ela te abandona quando você morre, mas você entendeu. Então das duas uma: ou você aceita o fato ou racionaliza a situação, porque a razão também é capaz de racionalizar quando lhe é conveniente. Você sabe, no fundo, que está trapaceando naquele aspecto do seu ideal e sabe que isso pode ter consequências desagradáveis, mas pensa, numa última e desesperada racionalização: "Ninguém é perfeito." Perfeição, o ideal é a perfeição.

Diálogo interno entre a razão e a religião

"Viu só como a ciência é falha? Agora já estão tendo que redimir as gorduras na dieta, não são elas as principais causadoras das doenças coronárias, são os carboidratos." Marravilha, me amarro mesmo numa linguicinha (opa!). "Ficam cultuando a ciência como um tótem acima de qualquer suspeita..." Sorry man, isso não é verdade, quem cultua tótens sem questioná-los são os religiosos. "Quem você pensa que é pra falar assim de Deus, você não é nada, Deus é tudo." Como queira, mas a ciência não é um livro fechado, se uma teoria fizer mais sentido que outra, ela vai prevalecer, pelo menos até surgir uma explicação melhor. "Fica aí retratando os religiosos como fanáticos irracionais, assim você vai pro inferno, conselho de amigo." Mas não é irracional acreditar em algo sem evidência? "São os mistérios da fé." Cara, você tem a liberdade de crer no que quiser, mas não pode esperar que os outros não questionem isso, porque certos comportamentos motivados pela crença sem evidência afetam a todos. "Você está falando da confusão no Oriente Médio?" Também, thanks for asking. Se não houvesse a fé de que aquele lugar é "sagrado", aquela maluquice estaria acontecendo? "São motivos econômicos..." Quais são os recursos naturais valiosos em Jerusalém? "Ah, mas os islâmicos são muito atrasados." Então o problema não é da religião em si, é de qual religião você escolhe? "Não deturpe as minhas palavras..." Será que ainda não está claro o perigo de se guiar cegamente por uma "verdade revelada"? Os terroristas não são terroristas por motivos econômicos, "jihad" quer dizer "guerra santa" e "islã" quer dizer "submissão". É esse o tipo de posicionamento filosófico diante da vida que você quer estimular? "Sai pra lá com essa pose de pensador independente, você não tem tanto controle assim sobre o que faz ou sobre quem é." Ah tá, então quem tá escrevendo essas coisas? O Espírito Santo? "Don't flatter yourself." Melhor eu flatter um ser que não existe, não é verdade? Assim eu posso me eximir de qualquer responsabilidade sobre as minhas escolhas. "Agora sim você tá compreendendo." Tá bom, dear conscience, mais uma palavra em inglês e você vai arder nas profundezas do inferno. "Legal, porque a gente já tá chegando lá."

Wednesday, June 09, 2010

"Os jovens não se interessam por política e economia"

Foi o que disse o Kevin Roberts, presidente global da agência de publicidade Saatchi&Saatchi no O Globo de hoje. "Estão mais interessados em música, entretenimento, esportes, etc..." É verdade, não se interessam e os poucos que se interessam acabam enveredando por alguma vertente do socialismo, ou seja, querendo estatizar ainda mais o estado de coisas. Quer dizer, esses poucos se interessam pela política, pelo jogo de poder, mas ignoram solenemente a economia, porque ela é um obstáculo à utopia, a estrutura da realidade não se curva sem consequências à "vontade política". Tentar resolver o problema da escassez através do uso da força (leis) é como uma declaração de intenções sem lastro e sem moral, porque a moral desaparece quando a força aparece. Esse desinteresse pelas leis econômicas é conveniente ao poder constituído, que pode então manipular os instrumentos de que dispõe ao sabor das eleições e dos seus interesses imediatos. Falam agora do aumento do PIB, mas quantas pessoas sabem do que realmente se trata o PIB? Quantas pessoas sabem das variáveis e maquiagens artificiais que compõem esse índice? Não têm a mais vaga idéia, mas ficam com a impressão de que o governo está fazendo o certo - a coisa aumentou, pô. Quando uma crise estourar lá na frente, essa maioria não vai conseguir estabelecer de maneira correta uma ligação entre causa e efeito, incapaz de compreender a raiz do problema, refém indefesa das politicagens de quem tem o controle da máquina governamental.

Tuesday, June 08, 2010

So you think socialism is better for the poor people?

Think again, my friend. Esse é um artigo de fé entre os esquerdistas e entre aqueles que vão nas ondas da opinião dominante. Ou ter 3 candidatos que se apressam em se identificar como "de esquerda" não configura uma opinião dominante? Sim, as pessoas ainda consideram o socialismo uma doutrina favorável aos pobres, não adianta citar os inúmeros exemplos contrários. É uma tragédia, porque quando as políticas supostamente benevolentes dos socialistas dão chabu e uma dose de liberalismo é a única saída pra reverter a crise, é o remédio quem leva a culpa, reality really sucks, man. Há uma revolta contra a realidade que prejudica a visão e faz as pessoas acreditarem que têm poder onde não têm e não têm poder onde têm. Não, elas não são capazes de abolir a escassez com o poder da mente. Sim, elas são capazes de produzir a abundância com o poder da mente. Declarar o seu amor pelos mais pobres não é o suficiente pra melhorar a situação dos mais pobres. Cada "pai dos pobres" diz que faz o que faz pelo bem dos mais pobres, mas o máximo que ele vai conseguir é deixar todo mundo mais pobre, inclusive os mais pobres. Não dá pra menosprezar também o papel que o ressentimento e a inveja têm nessa confusão toda, o amor declarado pelo pobre pode bem ser o ódio dissimulado pelo rico. O igualitarismo sob a mira de uma arma não é igualitarismo coisa nenhuma, porque tem uma galera com a arma, entende? Quando falta a razão, sobra a coerção, eis o resumo do comício.

Monday, June 07, 2010

Assim deve ser

As coisas estão assim, não são assim. Algumas coisas são assim, outras não são assim. O modo de se exercer o poder está assim, não é assim. O camarada no meio do feudalismo podia pensar assim: "Ah, é assim mesmo." Estava assim, não tinha que ser assim. Então os cinemas estão lotados com os filmes de super-heróis. O camarada não vai gastar o seu suado dinheirinho pra assistir a um desfile do pior do ser humano, ele já tem que sair na rua e testemunhar a degradação, melhor dar um tempo numa sala escura e NÃO NIVELAR POR BAIXO. Claro que também existe a grandeza e o heroísmo, melhor dar um tempo numa sala escura e NIVELAR POR CIMA. Em caixa alta, pra mensagem ficar clara assim.

Wednesday, June 02, 2010

Uma guerra santa

Alguma surpresa no fato do berço das 3 grandes religiões ser também o epicentro dessa confusão estúpida que não acaba nunca? Claro que o componente religioso não pode ser menosprezado, o que é todo aquele martírio dos homens-bomba que acreditam que matar uma pessoa de outra religião vai levá-los ao paraíso e às virgens? O conflito no Oriente Médio é uma terrível ilustração do efeito deletério que a fé religiosa pode ter, me desculpem os amigos religiosos, os caras não tão ali se matando porque consideram aquela terra "sagrada"? Me corrijam se eu estiver enganado, por favor. É razoável dizer que existem religiões mais irracionais do que outras, que fazem civilizações inteiras eternamente atrasadas, oprimindo mulheres e o pensamento independente. Então entre muçulmanos e judeus, tendo a dar mais razão aos judeus, até porque desconfio de qualquer coisa apoiada pelos comunistas e demais inimigos do capitalismo que seguram a bandeira da Palestina (uma criação mais recente que Israel, aliás). Tem muita história pra se pesquisar pra não se cometer injustiças, mas o pano de fundo é mesmo um conflito entre religiões, ou não é? Some-se a essas religiões uma outra fé, a de que o mais fraco tem automaticamente razão e temos aquele melting pot irracional cheio de areia, sangue e petróleo que é o Oriente Médio.

Tuesday, June 01, 2010

A divisão do trabalho

Você acorda e vai fazer as suas necessidades. Pense em toda aquela estrutura da privada, do banheiro, do apartamento e do prédio. Da rua, do bairro e da cidade, sem falar no saneamento, a natureza vai ter que lidar com a quilo depois (comi muito no dia anterior). Aquilo não surgiu do nada e quem construiu aquilo não construiu de graça, você não construiria. Aí você faz as suas necessidades e vai comer novamente - um pão com requeijão e um Toddy, bebida de macho. Imagine a quantidade de etapas pra se produzir o pão, o requeijão e as suas embalagens, todas muito coloridas clamando por você: "Compre-me, sou um produto melhor que o concorrente." Os publicitários não obrigam você a comprar nada, você compra o Toddy porque curte um achocolatado pela manhã, é um luxo que a civilização atingiu e que você desfruta sem culpa, é um direito que te assiste, não é verdade? Falam mal da divisão do trabalho, que ela te "aliena" do mundo, mas será que alguém seria capaz de produzir tudo aquilo que consome? Se fosse um coletor e se alimentasse basicamente de gramíneas e pequenos insetos (de vez em quando conseguiria uma preá, mas a batalha seria sempre dura), talvez você nem lembrasse do que eu tava falando. Nem cheguei no almoço e já deu pra sentir que o jantar vai ser a sobra, cheia de orgulho e dignidade, do almoço. Você faz uma quantidade grande no almoço pra não ter que fazer mais logo mais. E o pessoal que transporta essas coisas de um lado pro outro? O homem então tem que usar a sua inteligência e a tecnologia que desenvolveu ao longo do tempo pra reverter a seu favor uma natureza que lhe é hostil. É, deixe um bebê no meio da natureza pra ver como ela é benevolente. Desculpe, mas imaginar uma cena não dói, é um exercício de abstração bacana pra encerrar um texto.

Lacaio Neoliberal contemporiza

Caetano Veloso escreve em sua coluna que "os princípios liberais resistem mais em mim do que a hipótese comunista. O que sobrepõe a ambas as visões é o sebastianismo de Agostinho da Silva. Este era claramente antiliberal em economia, mas tinha horror a regimes de força". Não há como ser "antiliberal em economia" sem fazer uso da força, eis a contradição permanente do "progressismo": paz, amor e uma arma na cabeça na área econômica que, não se engane, engloba todas as outras áreas. Não existe liberdade sem liberdade econômica, existe apenas uma liberdade parcial tutelada pela autoridade central. "Fatia da União em empresas brasileiras cresce 50%". O pessoal do PT sabe que a socialização dos meios de produção não funciona, nunca funcionou, então falam em "estado indutor". Indutor do dirigismo, ou seja, o lance agora não é mais o socialismo, é o fascismo mesmo, gente. "Sindicatos têm mais de 270 reivindicações". O pessoal sindicalizado que conta com uma legislação especial (uso da força, Caetano) pode se dar ao luxo de exigir coisas, ainda mais sob um governo de aliados sindicalistas. "Mas, Lacaio Neoliberal, por que isso não seria bom?" Porque essa minoria de trabalhadores insiders desfruta de "direitos" às custas dos trabalhadores outsiders. Você já passeou pelo Centro do Rio e viu a quantidade de camelôs e indigentes que vagam por ali? Onde estão os "direitos" dessa gente? Esse sistema sem liberdade econômica em que vivemos é, na realidade, uma guerra entre gangues pelo controle do uso da força, Caetano.