Tuesday, October 09, 2012

Globo e a "cidadania"

Quem, como eu, gosta de eventualmente acompanhar o cotidiano diário do dia-a-dia através do RJ TV, já percebeu que a palavra "cidadania" é uma das preferidas da Globo, não só nos noticiários como nos intervalos ("cidadania, a gente vê por aqui"). Mas o que seria a "cidadania"? Cidadania (do latim, civitas, "cidade") é o conjunto de direitos e deveres ao qual um indivíduo está sujeito em relação à sociedade em que vive. Como vivemos numa democracia, cidadão é aquele que se submete (ou melhor, é submetido) ao que é decidido pela maioria. Claro que isso dá margem a muita injustiça, até porque a maioria não é critério de justiça, mas o meu ponto principal nem é esse. O meu ponto é que grandes empresas como a Rede Globo fazem propaganda da obediência aos ditames governamentais porque elas mesmas não têm como escapar dessa imposição. Quanto mais visível a empresa, mais facilmente ela é fiscalizada pelo governo, mais ela é forçada a cumprir com os seus *deveres* (obrigação de passar tantos por cento de conteúdo nacional, por exemplo) e mais ela é incentivada a correr atrás dos seus *direitos* (crédito subsidiado do BNDES, por exemplo). Qual o resultado disso? Governo e grandes empresas em simbiose, unidos na promoção do "contrato social", da "cidadania", da submissão à democracia.

Thursday, September 13, 2012

Szasz e as drogas

Desde cedo, tive a impressão de que a guerra contra as drogas era uma insensatez, uma afronta à noção de que a pessoa é livre - desde que respeite as demais - pra fazer o que quiser com a própria vida. Acompanhava as guerras nos morros pelo controle do tráfico, a corrupção escancarada da polícia e as prisões lotadas, mas não via muita gente questionando a lei que dava margem a toda essa maluquice trágica ao criminalizar o consumo e a comercialização de certas substâncias. Tem algo de muito errado aí, e foi assim que comecei a me aprofundar na filosofia da liberdade, pra entender as bases que fazem uma sociedade realmente livre. Nesta semana, morreu um dos grandes defensores da autonomia individual frente à tutela governamental, o psiquiatra húngaro Thomas Szasz, este texto é inspirado numa palestra dele. (http://youtu.be/1LoSgdpHnUkNinguém é culpado até que se prove o contrário. Não se pode punir alguém sem que essa pessoa tenha - de fato - agredido alguém. Pessoas pacíficas que se envolvem apenas em relações voluntárias têm de ser deixadas em paz. A questão não é sobre o abuso de drogas, é sobre a responsabilidade individual. Quanto maior o controle de fora sobre uma pessoa, menor o controle que ela vai ter sobre si mesma. A aliança entre a classe médica e o governo. Nem todas as drogas são criminalizadas, algumas são *permitidas* desde que prescritas por médicos aprovados pelo governo. Então, de alguma maneira, não são apenas a maconha, a heroína e a cocaína que são ilegais, todas as drogas são ilegais. Se você precisa de permissão governamental pra tomar uma substância, essa substância não é livre. Essas exigências dão aos médicos que passam pelas triagens do governo o monopólio de decidir se a pessoa *precisa* ou não de uma droga, imposição que infantiliza o indivíduo, tratando-o como incapaz. Eu não posso decidir usar drogas por motivos religiosos, espirituais, estéticos, recreativos, psicológicos, experimentais, paranormais ou o que seja, outros decidem por mim. Se o governo tem alguma função (tenho dúvidas), é a de proteger as pessoas de perigos externos, ele não tem o direito de me proteger de mim mesmo. Existe um exército se outros países quiserem invadir e uma polícia se outras pessoas quiserem roubar ou matar. Se eu quiser me invadir ou evadir, isso não é da conta do governo. 

Tuesday, September 11, 2012

"Mania de ser diferente"

Anos atrás, conversando no telefone com uma tia muito querida, falei algo que agora não lembro e ela respondeu: "Ah, Sol, mas que mania você tem de ser diferente!" Dei risada, é claro que eu sou diferente, todo mundo é diferente, não é óbvio? Mesmo entre os homens-massa de Ortega Y Gasset, os boobus americanus de Mencken e os freqüentadores de micareta do Brasil, há uma diversidade que generalização nenhuma - por mais genial que seja - é capaz de abarcar. Alguém pode ser uma nulidade intelectual e uma sumidade esportiva, um dínamo social e um fracasso profissional, um fenômeno artístico e um desastre automobilístico, as possibilidades e circunstâncias são infinitas. Por que eu digo isso? Porque por mais que os governos do mundo (e do Brasil em particular) façam campanha e propaganda da "diversidade", o que eles promovem - na realidade - é a uniformização, a padronização e o conformismo. Se todas as pessoas são diferentes, por que existe um currículo único imposto a todos pelo MEC? Por que todas as crianças são obrigadas a freqüentar esses centros de doutrinação estatal com seus hinos e diplomas necessários pra se exercer qualquer atividade profissional? Se o objetivo fosse realmente estimular a "diversidade", não faria mais sentido se livrar de todos esses controles e promover - de fato - a liberdade?  

Tuesday, September 04, 2012

O mensalão

"Mensalão significa o ato de corrupção em que uma grande soma em dinheiro é transferida periodicamente e de forma ilícita para favorecer determinados interesses.Usando essa definição e o princípio de não-agressão, me parece claro que a atual configuração do estado democrático não passa de um grande mensalão. Os eleitores trocam votos e doações de campanha por algum benefício futuro, os deputados trocam votos no Congresso por alguma vantagem, os partidos barganham apoio ao governo em troca do controle de algum ministério ou estatal e por aí vai, a política acaba se tornando um imenso toma-lá-dá-cá. Isso não seria um problema se os agentes públicos usassem as próprias propriedades nessas trocas, mas esse não é - obviamente - o caso. O dinheiro público - por ser arrecadado de maneira não voluntária - já constitui, por si só, desvio de verba. O benefício que um eleitor (um indivíduo sem posses ou um grande empreiteiro) espera receber em troca do seu voto ou doação de campanha pro candidato X não vai sair do bolso de X, vai sair do bolso de quem não está recebendo esse benefício. A aprovação no Congresso de uma lei do interesse do Executivo não vai ser bancada pela bancada governista, vai ser paga pelo resto da população. A própria existência de dezenas de ministérios e centenas de estatais - que servem de barganha pra esse *presidencialismo de coalizão* - é um custo que aqueles que não participam diretamente do esquema são obrigados a arcar. Qual é a grande diferença então dessas relações *democráticas* pra definição de mensalão que iniciou o texto? Claro que isso não absolve o PT, um partido já há 10 anos no poder que não moveu uma palha pra mudar esse sistema. Pelo contrário, foi eleito justamente pra manter e - se possível - ampliar esses interesses estabelecidos e exercidos às custas de todos os que não se locupletam nessa corrupção oficializada e generalizada. (http://www.significados.com.br/mensalao/

Thursday, August 23, 2012

Freixo e as ideologias

As eleições se aproximam e chega o momento em que se ouve a pergunta: "Em quem você vai votar?" Em ninguém, não quero mais dar sanção a esse sistema político. "Mas e o Freixo?" Sou contra qualquer candidato socialista. "Mas ninguém liga mais pra ideologia, já ouviu as propostas dele?" Nem precisa, o cara ainda considera o socialismo uma boa idéia, já é o suficiente. "Mas o capitalismo também é uma porcaria..." Me diga então uma coisa, onde você preferiria viver, na antiga Alemanha Ocidental ou na Oriental? Na Coréia do Sul ou do Norte? "Não se trata disso..." Se trata sim, a Coréia do Norte e a Alemanha Oriental são a conseqüência do socialismo que você - em maior ou menor grau - defende. "Ninguém liga mais pra ideologia..." Dizer que "ninguém liga mais pra ideologia" é o mesmo que dizer que ninguém liga mais pra idéias, e as "propostas do Freixo" são justamente as suas idéias. Quem se imagina *pragmático* e acima das ideologias talvez nem perceba, mas o Pragmatismo também é uma ideologia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Pragmatismo). A coisa vai além disso, claro. Quando você testemunha o horário eleitoral nada gratuito e vê praticamente todos os candidatos prometendo as mesmas coisas, você percebe que existe uma certa homogeneidade ideológica, uma doutrina implícita que alguns podem confundir com o bom senso. A social-democracia dominante (essa mistura de socialismo fabiano, marxismo e nacionalismo) não é uma inevitabilidade da natureza como o movimento das marés, é uma construção ideológica com propagandistas (bem pagos ou não) que cuidam pra que certos interesses estabelecidos não sejam ameaçados por uma ideologia contrária. Por isso que qualquer idéia fora do espectro social-democrata (o liberalismo, por exemplo) é imediatamente desqualificada por esses ideólogos do status quo como coisa de gente ingênua, maluca, paranóica, babaca ou FDP mesmo. Não, o governo não tem a obrigação cósmico-divina de existir e muito menos de controlar a saúde, educação, segurança, transporte, lazer, alimentação, cultura, comércio, emprego, crédito, telecomunicação, meio ambiente, petróleo, minério de ferro, carnaval, entrega de cartas e o escambau, isso é o que as pessoas no poder (e as que querem chegar no poder como o Freixo) querem que você defenda, e não é tão difícil assim de entender o motivo. 

Wednesday, August 15, 2012

O "mundo real"

Sempre que se tenta discutir princípios que questionem o status quo, aparece alguém dizendo que "isso não funciona no mundo real". Algumas mudanças realmente não têm chance de acontecer, coisas imutáveis que fazem parte da estrutura da realidade, leis naturais que não se curvam à vontade humana. Por mais que eu tente, balançar os braços não vai me fazer voar. Por mais avançada que a medicina se torne, continuaremos morrendo. O modo como as pessoas se relacionam, no entanto, pode ser mudado, assim como o modo como o poder é exercido. Construções humanas são possíveis de mudar justamente por serem construções humanas, mas se um deputado chegar e propor - por emenda constitucional - a abolição do pôr do sol, esse parlamentar vai estar realmente ignorando o mundo real. Agora, se ele propor a descriminalização das drogas, por exemplo, ele não vai estar ignorando o mundo real, mas simplesmente indo contra a opinião de algumas pessoas, não há nada impossível nessa proposta. Pra usar um caso clássico, um abolicionista em 1700 também seria acusado de "ignorar o mundo real" ao defender algo tão distante dos costumes da época, mas o tempo passou, as percepções se alteraram e finalmente se tornou uma abominação alguém pertencer a alguém. Quer dizer, nem tanto, porque hoje em dia essa escravidão tomou outra forma e as pessoas continuam - de uma maneira certamente mais suave - sendo propriedades umas das outras, a diferença é que agora elas são obrigadas a servir ao que quer que seja determinado pela maioria através do estado e seus representantes, os políticos. Tem que ser assim? Não necessariamente, não existe nenhum contrato social assinado em pedra, esse é apenas o modo como a sociedade é atualmente organizada (ou desorganizada) e isso pode mudar, basta as pessoas - ou uma boa parte delas - chegarem a essa conclusão. 

Tuesday, July 31, 2012

A "classe artística"

A "classe artística" não existe, assim como não existe a "comunidade científica" ou a generalização coletivista que for. Quando se diz que a "classe artística" se mobilizou pra isso ou aquilo, está na verdade se dizendo que uma quantidade X de pessoas identificadas com atividades artísticas se mobilizou pra isso ou aquilo. Quando se diz que o projeto de lei Y "beneficiou a classe artística", se assume que todos os artistas imaginam estar se beneficiando disso, quando nem todos concordam - por exemplo e por princípio - com a Lei Rouanet ou com os subsídios estatais que tiram à força do alfabeto inteiro pra dar pro artista A ou B. Se não há uma única opinião uniforme entre os que professam uma mesma ideologia, como haveria uma entre os chamados "artistas"? Isso é, claro, reflexo do corporativismo que divide as pessoas em classes, gêneros e raças com a chancela do governo pra que esse mesmo governo depois privilegie - dependendo do contexto político de disputa de poder - uma determinada categoria às custas das demais. O resultado disso? Uma epidemia de chororô institucionalizado, um mimimi interminável de gente ajoelhada diante do poder, a estatização da cultura da "farinha é pouca, meu pirão primeiro" de pessoas que deveriam estar contestando o status quo ao invés de bajulá-lo. 

Thursday, April 12, 2012

Discriminação e preconceito

"Não ao preconceito", dizem as campanhas politicamente corretas, mas ser contra o preconceito em si me parece uma impossibilidade, a mente está sempre fazendo suposições e não é uma eterna página em branco esperando ser preenchida por uma experiência que vai ser logo depois apagada pra que a pessoa não caia na tentação de formar um conceito prévio. O que se pode e se deve discutir é o conteúdo do preconceito, se ele corresponde ou não à verdade, se ele é ou não justo. "o à discriminação" é um outro mantra PC, mas ser contra a discriminação em si também me parece uma impossibilidade, porque discriminar é diferenciar, é escolher, e - a não ser que você esteja numa cruzada, voluntária ou involuntária, contra a liberdade de escolha - todo mundo discrimina de acordo com a própria escala de valores. O que se pode e se deve discutir é o conteúdo desses valores, se a discriminação é ou não justa. Essas campanhas acabam associando esses processos mentais inerentes a todos automaticamente a racismos, homofobias e outras mazelas do pensamento que se quer combater, tentando desqualificar a priori o julgamento. Se a pessoa tem que dizer "não" ao preconceito e à discriminação, quem é que vai formar conceitos e fazer escolhas por ela?

Tuesday, March 13, 2012

O renascer do Estado-Nação

Atendendo a pedidos (1), vou comentar esse texto do Dani Rodrik que saiu no site do Emir Sader: "Um dos mitos basilares da nossa era é o de que a globalização condenou o Estado-nação à irrelevância." Isso está longe, infelizmente, de ser verdade. "Ouvimos dizer que a revolução nos transportes e comunicações fez desaparecer fronteiras e encolheu o mundo." A internet, pra dar um exemplo, é um meio sem vontade própria e pode ser usada tanto pro controle governamental quanto pra liberdade individual - os fins são determinados pelas pessoas, pelas idéias que as motivam. "Os novos modos de governação que vão das redes transnacionais de reguladores até às organizações internacionais da sociedade civil e às instituições multilaterais estão a transcender e a suplantar os legisladores nacionais." Artigo longo com uma tradução estranha, vou logo avisando. "Diz-se que os responsáveis políticos internos se sentem bastante impotentes perante os mercados globais." Ótimo, quanto menos manipulação política, melhor. 

"A crise financeira mundial abalou este mito." Vem aí o caô-mór dos estatistas: "Quem socorreu os bancos, injetou liquidez, promoveu incentivos fiscais e estabeleceu as redes de segurança para os desempregados, para impedir uma catástrofe crescente?" Quem manipulou as taxas de juros, inflacionou a moeda, promoveu o risco moral com o *crédito fácil* e estabeleceu as redes de segurança para os bancos amigos não falirem? "Quem está reescrevendo as regras de fiscalização e a regulamentação do mercado financeiro para evitar outro incidente?" Quem escreveu as regras de fiscalização e regulamentação que causaram esse incidente? "Quem recebe a maior parte da culpa por tudo o que corre mal?" Quem tem as leis e as armas na mão tem mais é que receber a culpa mesmo. "A resposta é sempre a mesma: os governos nacionais." É só ligar lé com cré, amigo. "O G-20, o Fundo Monetário Internacional e o Comitê de Basileia de Supervisão Bancária têm sido, em grande parte, elementos marginais." É bom lembrar que essas organizações também são braços governamentais. 

"Mesmo na Europa, onde as instituições regionais são relativamente fortes, o interesse nacional e os políticos nacionais, em grande parte, na pessoa da chanceler alemã, Angela Merkel, têm dominado a definição de políticas." A Alemanha domina o debate no euro porque é o país mais forte economicamente naquela zona. "Se a chanceler Merkel se tivesse mostrado menos apaixonada pela austeridade para os países endividados da Europa e se tivesse conseguido convencer os seus eleitores da necessidade de uma abordagem diferente, a crise da zona do euro teria tido contornos bastante diferentes." Ninguém é *apaixonado* pela austeridade, gastar menos do que se arrecada é uma regra básica pra quem não quer ir à falência e - nesse caso específico - levar junto todo um continente. 

"No entanto, mesmo com a sobrevivência do Estado-nação, a sua reputação está a ruir." Com bons motivos. "O assalto intelectual ao Estado-nação assume duas formas." Diga lá. "Na primeira, há a crítica de economistas que consideram que os governos são um impedimento à livre circulação de mercadorias, capitais e pessoas por todo o mundo." Isso é um fato. "Impeça-se a intervenção dos responsáveis políticos nacionais com os seus regulamentos e barreiras, dizem eles, e os mercados globais cuidarão de si próprios no processo de criação de uma economia mundial mais integrada e eficiente." O processo político baseia-se na imposição, no uso da força, o processo de mercado baseia-se em trocas voluntárias - um divide e o outro agrega. 

"Mas quem vai ditar as regras e a regulamentação do mercado, se não os Estados-nação?" A regulamentação podia se dar através de contratos assinados de livre acordo. "O laissez-faire é receita para mais crises financeiras e para um maior retrocesso político." Mera afirmação de um justificador profissional do estado sem nenhuma evidência pra sustentá-la. "Além disso, seria necessário confiar a política económica a tecnocratas internacionais, isolados como estão dos incentivos e desincentivos da política – uma posição que circunscreve seriamente a democracia e responsabilidade política." Os tais *tecnocratas internacionais* são também tentáculos dos governos, tente outra. E os incentivos na democracia as we know it são os de comer o bolo agora e deixar a indigestão (dívida) pras gerações futuras. 

"Em suma, o laissez-faire e a tecnocracia internacional não fornecem uma alternativa plausível ao Estado-nação." Em suma, o bonecão de palha do Dani está armado pra tentar desqualificar a liberdade econômica (sem a qual as outras não são possíveis). "Na verdade, a erosão do Estado-nação, em última análise, é pouco benéfica para os mercados globais enquanto não existirem mecanismos viáveis de governança global." Na verdade, os malabarismos retóricos do autor servem pra erodir as liberdades individuais, mas quem lê o site do Emir Sader não liga muito pra isso, quer mais é ver um estado forte com o PT no poder. 

"Na segunda forma existem especialistas em ética cosmopolita que condenam a artificialidade das fronteiras nacionais." Aquelas linhas nos mapas são mesmo artificiais e impostas sob a mira de uma arma, alguma dúvida? "Como afirmou o filósofo Peter Singer, a revolução das comunicações gerou uma "audiência global" que cria a base para uma "ética global". Se nos identificamos com a nação, a nossa moral permanecerá nacional." *Moral nacional*? Que tosco, o que é errado aqui continua errado no Butão. "Mas, se cada vez mais nos associarmos ao mundo em geral, as nossas lealdades irão igualmente expandir-se." De quais *lealdades* você está falando? "Da mesma forma, o Nobel da Economia, Amartya Sen, fala das nossas "múltiplas identidades" – étnicas, religiosas, nacionais, locais, profissionais e políticas, muitas das quais atravessam fronteiras nacionais." Isso tudo vai desembocar no indivíduo, com suas particularidades e circunstâncias. 

"Não está claro que uma parte disto tenha por base um optimismo exacerbado e que outra parte seja baseada em mudanças reais de identidades e ligações." Prossiga. "As pesquisas mostram evidências de que a ligação ao Estado-nação continua a ser bastante forte." O que é uma pena, o nacionalismo é o último refúgio dos... deixa quieto. 

"Há alguns anos, a associação World Values Survey inquiriu os entrevistados em dezenas de países sobre a sua ligação às comunidades locais, às nações e ao mundo em geral." Continue. "Não é de admirar que aqueles que se viam a si mesmos como cidadãos nacionais ultrapassavam em muito aqueles que se consideravam cidadãos do mundo." Pra você ver como a gente ainda tá atrasado. "Mas, surpreendentemente, a identidade nacional ensombrava até a identidade local nos Estados Unidos, Europa, Índia, China e na maioria das outras regiões." Então um nova iorquino, em geral, se identifica mais com os EUA do que com a sua própria cidade? Estranho. 

"As mesmas pesquisas indicam que as pessoas mais jovens, as que têm qualificações mais elevadas, as que se identificam a si mesmas como classe superior, têm mais tendência a associar-se com o mundo." Pessoas mais informadas não se deixam controlar com tanta facilidade. "No entanto, é difícil identificar qualquer segmento demográfico cuja ligação à comunidade global supere a ligação ao país." Pessoas mais informadas são raras. "Por muito grande que tenha sido o decréscimo nos custos das comunicações e transportes, não apagou a geografia." Uma coisa é a geografia física, outra - bem diferente - são as linhas imaginárias traçadas (muitas vezes através de guerras) pelos governos do mundo. "A actividade económica, social e política continua a agrupar-se com base em preferências, necessidades e trajectórias históricas que variam em redor do globo." Ok. 

"A distância geográfica é um determinante de intercâmbio econômico tão forte como era há 50 anos." Negativo, os custos de se viajar e transportar mercadorias baixaram muito desde então. "Afinal, nem mesmo a Internet é tão desprovida de fronteiras quanto parece: um estudo descobriu que os americanos têm muito mais tendência a visitar sites de países que estão fisicamente próximos do que de países que estão longe, mesmo após as medidas de controlo de linguagem, rendimentos e muitos outros factores." Quer dizer então que os brasileiros, por exemplo, têm uma tendência maior a visitar sites paraguaios que sites americanos? O Paraguai tá aqui do lado, pô. 

"O problema é que ainda estamos sob o domínio do mito do declínio do Estado-nação." Antes estivesse realmente em declínio. "Os líderes políticos alegam impotência, os intelectuais sonham com esquemas implausíveis de governança global e os perdedores culpam cada vez mais os imigrantes ou as importações." Imigrantes e importações, by the way, que só existem por causa do tal *estado-nação*. Sem fronteiras, a imigração seria apenas o livre deslocamento de pessoas e a importação apenas o livre comércio de bens e serviços. "Quando se fala sobre a reabilitação do Estado-nação, as pessoas respeitáveis correm a esconder-se, como se estivéssemos a propor reavivar a peste." Quem gosta de falar em *reabilitação do estado-nação* são os nacionalistas e socialistas que freqüentam o site do Emir Sader, têm mais é que se envergonhar mesmo. 

"Para ser mais preciso, a geografia de ligações e identidades não é fixa, na verdade, tem mudado ao longo da história." E vai mudar ainda mais. "Isso significa que não devemos descartar totalmente a possibilidade de que uma verdadeira consciência global se venha a desenvolver no futuro, em conjunto com comunidades políticas transnacionais." Menos mal que o autor reconhece que o *estado-nação* é um resquício primitivo do tribalismo. Quer dizer, ele não reconhece, são apenas os meus 2 centavos sobre o tema. 

"Mas os desafios atuais não podem encontrar respostas em instituições que (ainda) não existem." A livre associação entre os indivíduos já existe, ela só é dificultada de diversas maneiras pelos *estados-nações*. "Por enquanto as pessoas ainda têm de procurar soluções nos seus governos nacionais, que permanecem a melhor esperança para a acção colectiva." O governo não é a solução, o governo é o problema. "O Estado-nação pode ser uma relíquia que nos foi legada pela Revolução Francesa, mas é tudo o que temos." Eis uma relíquia macabra que um dia não vai fazer falta nenhuma. (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19741&fb_source=message)

Tuesday, February 14, 2012

+ pós-modernismo

O pós-modernismo não é bem uma doutrina clara e objetiva, é mais um *sentimento* que toma partido (e pede sempre a intervenção do governo) entre o que entende por oprimidos e opressores, fracos e fortes, dominados e dominadores. Se o marxismo identificava a história como um desenvolvimento da "luta de classes", o projeto pós-moderno dá um passo além e enxerga conflito não só entre classes sociais, mas entre religiões, raças, sexos, países, gases carbônicos e tudo o mais que puder render um antagonismo. Quer dizer, nem tudo, nunca se viu um pós-moderno denunciando, por exemplo, o conflito entre pagadores e consumidores de impostos, a indignação é - como não poderia deixar de ser - seletiva. Algumas descrições do livro do Stephen Hicks: "On the one hand, all truth is relative; on the other hand, postmodernism tells it like it really is." É aquela vibe que domina o debate político brasileiro: não existe certo ou errado - "não seja maniqueísta!" - mas o capitalismo é certamente errado, sem dúvida alguma. "On the one hand, all cultures are equally deserving of respect; on the other, Western culture is uniquely destructive and bad." Uma cultura que não aceita a ablação do clitóris de uma criança é certamente superior a uma que a promove - ou não é? "Values are subjective—but sexism and racism are really evil." Pois é, como sustentar denúncias contra o racismo e o sexismo se os valores morais são subjetivos? "Technology is bad and destructive—and it is unfair that some people have more technology than others." Certo igualitarismo preferiria que ninguém tivesse acesso a uma determinada tecnologia a ver alguns desfrutando dela e *oprimindo* os outros. A TV, por exemplo, não surgiu magicamente e simultaneamente nos lares do mundo, ela foi consumida antes por uns poucos e só depois se popularizou. "Tolerance is good and dominance is bad—but when postmodernists come to power, political correctness follows." Como eu disse, o pós-modernismo (ou o marxismo cultural ou o "politicamente correto") não é uma filosofia ou uma ciência, é um projeto de poder e os seus conceitos contraditórios servem a esse propósito. "Postmodernists say that the West is deeply racist, but they know very well that the West ended slavery for the first time ever, and that it is only in places where Western ideas have made inroads that racist ideas are on the defensive." A esquerda pós-moderna vê conflitos potenciais em qualquer relação, por isso é contra o livre mercado e deseja impor um igualitarismo de cima pra baixo. Só que pra se impor algo, quem impõe deve ter mais poder do que quem recebe a imposição, acabando então com o sonho igualitário. "They say that the West is deeply sexist, but they know very well that Western women were the first to get the vote, contractual rights, and the opportunities that most women in the world are still without." Não gostam do Ocidente (ou dizem não gostar), mas ignoram (ou fingem ignorar) que todos os movimentos de contracultura, inclusive o feminismo, tiveram origem nessa cultura ocidental. Os países islâmicos ainda nem separaram o estado da religião, mas não se ouve os brados retumbantes pós-modernos contra os muçulmanos que até hoje apedrejam mulheres por adultério."They say that Western capitalist countries are cruel to their poorer members, subjugating them and getting rich off them, but they know very well that the poor in the West are far richer than the poor anywhere else, both in terms of material assets and the opportunities to improve their condition." Uma lésbica, pobre e negra americana é rica em comparação a um líder tribal africano e isso tem uma explicação distante da narrativa pós-moderna do capitalismo-ocidental-opressor-e-malvadão. 

Monday, February 13, 2012

Jean-Jacques Rousseau

"Being richer, more honored and powerful are privileges enjoyed by some at the expense of others." Rousseau era um pré-marxista que também imaginava a riqueza como um jogo de soma zero - se alguém tem, é porque outro não tem. Se alguém tem, é porque roubou - "explorou". "The sciences, letters, and arts, far from freeing and elevating mankind, spread garlands of flowers over the iron chains with which men are burdened, stifle in them the sense of that original liberty for which they seem to have been born." O "bom selvagem" corrompido pela civilização é a versão rousseauniana da maçã cristã do pecado. Tudo ia bem quando nada se sabia, foi o conhecimento que corrompeu os "bons selvagens". "One may very well argue with me about this, but I sense it, and this sentiment that speaks to me is stronger than the reason combating it." Não se faz ciência ou filosofia colocando-se os sentimentos como as premissas auto-evidentes do julgamento. O homem *sentia* que a Terra era o centro do universo, o homem *sentia* que a Terra era plana. "I believe therefore that the world is governed by a powerful and wise will. I see it or, rather, I sense it." O irracionalismo militante pode ser ateu ou não, mas certamente é carregado de misticismo. "The more I think about it, the more I am confused." Se está tão confuso, não seria melhor colocar a viola no saco e organizar os pensamentos antes de sair por aí distribuindo juízos de valor? "While the state can compel no one to believe, it can banish not for impiety, but as an antisocial being, incapable of truly loving the laws and justice, and of sacrificing, if needed, his life to his duty." Se as leis são realmente justas, não há "sacrifício" em obedecê-las. Se são injustas, desobedecê-las se torna um dever. "The requirements of the 'general will' absolutely override all other considerations, so a citizen should render to the state all the services he can as soon as the sovereign demands them." A "vontade geral" anunciando a ditadura da maioria - o indivíduo é nada, o coletivo é tudo. "The private will act constantly against the 'general will', so to counteract these socially destructive individualistic tendencies, the state is justified in using compulsion." Quando você avistar um bom samaritano com o dinheiro alheio gritando cheio de indignação seletiva contra o individualismo, saiba estar diante de um herdeiro de Rousseau. "Whoever refuses to obey the general will will be forced to do so by the entire body; this means merely that he will be forced to be free." Se há coerção, não há liberdade. A natureza não exerce coerção, humanos exercem coerção sobre outros humanos. "The state ought to have a universal compulsory force to move and arrange each part in the manner best suited to the whole." Ou seja, indivíduos são apenas meios pra satisfação dos fins coletivos. Agora, como definir o que quer o coletivo? Votação? 50% + 1? "And if the leaders of the state say to the citizen - 'it is expedient for the state that you should die' -  he should die." É, o "contrato social" tem dessas coisas, se a galera no poder decidir, por exemplo, que você tem que se sacrificar numa guerra pelas glórias da pátria, da revolução ou do que quer que seja, não há o que fazer, your ass - Rousseau preaches - belongs to the "general will".

Thursday, February 09, 2012

Modernidade > Pós-modernidade

Ouvia muito falar que a pós-modernidade isso ou aquilo e não entendia bem o que queriam dizer, sentia que era algo que soava meio rebelde, artístico e intelectual - que legal, também quero ser meio rebelde, artístico e intelectual, do que se trata afinal? "Pós-modernidade pode significar uma resposta pessoal para uma sociedade pós-moderna, as condições na sociedade que fazem-na pós-moderna ou o estado de ser que é associado a uma sociedade pós-moderna." Explicação bem pós-moderna - e a modernidade? "A modernidade é definida como um período ou condição largamente identificada como Era Progressiva, a Revolução Industrial, ou o Iluminismo." GRANDE Iluminismo, o indivíduo como um fim em si mesmo e a razão como meio válido pra apreensão da situação, idéias que acabaram com a escravidão e resultaram na separação do estado da religião. A ciência decolou, o que faz sentido: se se quiser ter ciência, ou seja, tomar conhecimento, há que se usar o raciocínio lógico apoiado nas evidências pra se compreender e descrever a realidade. Não se constrói ignorando-se as leis naturais e não se investiga o mundo apoiando-se em superstições, a realidade existe - eu estou escrevendo e você está lendo. Claro que a pilha pós-moderna não pretende substituir a ciência, a lógica, a razão e o individualismo - essas coisas não são realmente substituíveis - mas faz o possível pra desacreditá-las. O ponto do livro "Explaining Postmodernism: Skepticism and Socialism from Rousseau to Foucault: A Discussion" de Stephen Hicks é que os pós-modernos não usam a razão pra relativizar a razão por motivos meramente estéticos ou especulativos, existe um projeto de poder, uma certa unidade de ação que tenta salvar a luta anticapitalista do fracasso do socialismo real. Mais detalhes nos próximos textos. (http://www.stephenhicks.org/publications/explaining-postmodernism/)

Tuesday, February 07, 2012

Dois pesos e duas medidas

Um dos símbolos da justiça é uma mulher de olhos vendados que não quer saber quem praticou o ato porque - pelo menos na teoria - todos são iguais perante a lei. Acontece que, nos julgamentos cotidianos diários do dia-a-dia, dificilmente se vê a pessoa usando esse princípio isonômico e o mais comum mesmo é o juízo obedecer o seguinte critério: isso vai me beneficiar ou prejudicar? Um exemplo: na hora de comprar, as pessoas gostam da competição - quem não quer ter mais opções a preços baixos? Agora, na hora de vender, a competição já não é tão atraente assim - quem quer ser pressionado pela concorrência a trabalhar mais por menos? Esse conflito acaba gerando uma pressão pela liberalização do que se compra e cartelização do que se vende, na forma de regulações, exigências de diplomas e outros protecionismos pra restringir a competição. A tendência vai ser então a formação de grupos de interesse pra reivindicar privilégios de quem tem o privilégio de outorgar privilégios. Essa "guerra de todos contra todos" é ótima pro governo - quanto mais normas, taxas, exceções, burocratizações e dependência, mais poder ele vai ter, mais "legitimidade" ele vai adquirir aos olhos desses grupos que se imaginam particularmente beneficiados. Essa impressão - consciente ou inconsciente - é crucial pra que as pessoas não se toquem da hipocrisia fundamental do sistema: o governo que tem o monopólio da justiça supostamente isonômica é ele mesmo o principal violador da isonomia, o maior propagador do dois pesos e duas medidas. As pessoas não podem roubar, o governo pode e chama isso de "taxação". Os agentes estatais têm foro especial e são julgados por outros agentes estatais. Quem trabalha pro governo tem estabilidade no emprego, quem paga essa conta, não. Ou seja, uns são - por lei - mais "iguais" que outros. Se quem tem o dever de aplicar a justiça é ele mesmo incapaz de ser justo, não devia ser surpresa o predomínio entre as pessoas dessa moral de conveniência.

Tuesday, January 31, 2012

Political views: PT

Eu nem queria escrever sobre esse assunto lotado de emocionalismo, mas esse texto do Paulo Halm que circulou pelo Facebook foi demais pra se ignorar. "Se cubano fosse, Pedro Rios Leão estaria hoje na capa de O Globo e seria chamado de mártir da liberdade pelos Mervais e Leitões da vida." Se estivesse em Cuba e protestasse contra o governo, o Pedro Rios Leão não teria se prendido voluntariamente na rua, estaria preso involuntariamente na prisão. "Seria matéria de destaque no Jornal Nacional, provocando lágrimas de solidariedade da Patrícia Poeta." Por que petistas como o Paulo Halm têm tanta raiva da Globo? De onde eu vejo, a Globo tragicamente apóia boa parte das políticas do governo do PT - inclusive o dinheiro público que cineastas como o Paulo Halm recebem a fundo perdido - mas petistas como ele não vão sossegar enquanto não conseguirem a unanimidade sob a mira de uma arma que os Castro ainda hoje usufruem em Cuba. "No Jornal da Globo, Wiilian Waack e Arnaldo Jabor, uníssonos, o chamariam de herói e até mesmo Pedro Bial arrumaria um espaço no BBB pra fazer um poeminha em homenagem ao guerreiro." O que uma população inteira proibida de sair de seu país pelo governo tem a ver com o protesto de um indivíduo que se prende voluntariamente em frente a uma emissora de televisão? "Mas desafortunadamente o garoto não é cubano." Não, sorte dele. "Pedro Rios Leão é brasileiro e está fazendo greve de fome em frente a TV Globo em protesto contra a cobertura do massacre da população pobre de Pinheirinho pela polícia militar de São Paulo." Um inocente útil numa disputa com 1 - os adversários dos petistas em São Paulo e 2 - a liberdade de expressão que os petistas tentam há anos revogar mirando na maior emissora do país. O "massacre" de Pinheirinho, que eu saiba, não matou ninguém. 100 mil pessoas já morreram nas mãos da ditadura cubana, mas que ninguém espere lágrimas do Halm ou da Dilma por esses mortos, eles não têm o pedigree "certo". "Seu protesto é e será solenemente ignorado." Não está sendo não, é só o que eu vejo aqui na minha timeline, os petistas usam muito as redes sociais imperialistas. "Como diria aquela velha canção, "a dor da gente não sai no jornal", muito menos na TV." O sentimentalismo desse pessoal é seletivo e depende de quem está disputando o poder. Se for um adversário, pau nele. Se for um aliado, toda a solidariedade. 

Wednesday, January 04, 2012

Ron Paul e o texto da Época

"Vale a pena fazer uma pausa nos assuntos brasileiros e prestar atenção em Ron Paul, o queridinho dos fanáticos do mercado nas primárias americanas." Chamar alguém que não concorda com você de "fanático" é uma boa maneira de começar um texto difamatório, Paulo Moreira Leite, parabéns. "Considerando a facilidade dos brasileiros para importar idéias ruins, em breve teremos seus descendentes em circulação por aqui." Sem dúvida, desde o positivismo de Comte até o marxismo "científico", o brasileiro - quando sai do seu universo mais imediato e chega a se interessar por abstrações filosóficas - tem grande facilidade pra importar idéias ruins. "Se você ainda não entendeu que as idéias anti-Estado em circulação, em nossa época histórica, representam um movimento que leva à anti-democracia, só precisa acompanhar os movimentos de Ron Paul." Se "democracia" significar a ditadura de uma maioria sobre uma minoria, é bom mesmo ela ser questionada. Palavras totens como "democracia" - quando soltas sem uma conceituação clara - dão margem a todo tipo de demagogia e mistificação, repararam como os donos atuais do poder no Brasil a usam pra tudo? Querem controlar ainda mais alguma coisa, dizem que querem "democratizá-la". "Ele quer abolir o Banco Central americano, com o argumento de que representa uma interferência indevida do Estado na vida do cidadão comum. (Eu acho que ele só quer liberar de vez o mercado financeiro mas você pode dizer que isso é uma questão de interpretação. Risos)." Sim, ter o monopólio da impressão do dinheiro é uma interferência indevida do estado na vida do cidadão comum, como qualquer pessoa que vive a inflação e os ciclos de boom e bust pode comprovar. (Eu acho que ele só quer liberar de vez o estado pra fazer o que ele bem entender com a vida dos outros, mas você pode dizer que isso é uma questão de interpretação. Risos). "Até aí, só parece uma versão mais radicalizada da idéia de que os mercados são capazes de se auto-regulamentar e que o progresso humano é resultado da liberação dos egoísmos individuais, como dizia Adam Smith, ainda no século XVIII." Mercados são formados por pessoas perseguindo os seus próprios objetivos, se essa busca acontecer sem a iniciação de agressão sobre o outro, qual o problema? Ou o ser humano não é um fim em si mesmo e deve se submeter à vontade da maioria? O indivíduo dono de si mesmo, eis a mensagem libertária que o Paulo Moreira Leite considera algo terrível, coisa de gente desequilibrada mesmo. "A coisa já fica um pouco mais complicada quando se descobre que Ron Paul também defende a abolição da legislação dos direitos civis, de 1964, a primeira que protege o país contra os crimes de racismo." O racismo é um coletivismo tosco que faz juízo de valor sobre algo fora do controle da pessoa - ninguém escolhe a sua origem - ignorando o livre-arbítrio. Agora, a liberdade não existe apenas pra que as pessoas concordem umas com as outras, se elas respeitarem o espaço (propriedade) das demais, elas têm o direito de ser toscas (racistas). "Vamos esclarecer. Ele não questiona a legislação sobre cotas, que rende polêmica até hoje e é combatida pela maioria dos políticos republicanos." Ele é contra o racismo, por isso é contra as cotas racistas. "Seu ponto é anterior. Ele questiona a idéia de que se possa punir crimes considerados racistas e que o Estado deva tomar medidas contra discriminação." Um crime é um crime, se alguém mata ou agride um branco, um preto, um índio, um gay, um judeu ou quem quer que seja, é crime do mesmo jeito. Igualdade perante a lei, é o que o Ron Paul defende. "Até aqui, temos o seguinte: o Estado não pode ter um banco para definir os juros, proteger o emprego e a moeda, como está inscrito no estatuto do Federal Reserve." "Proteger o emprego"? Faz-me rir, só se for o dos banqueiros e o dos burocratas do Fed. "Proteger a moeda"? Continue mais um pouco com essas políticas keynesianas inflacionárias e deficitárias pra ver o que acontece com o dólar. "Fazer isso é interferir na liberdade do mercado." E não é? "A legislação dos direitos civis interfere na liberdade dos cidadãos." Sim, é uma legislação contraproducente, mais uma entre tantas que têm o efeito contrário ao pretendido. "Liberdade para quê mesmo?" Pra cada um perseguir os seus próprios objetivos cooperando com os outros sem a coerção estatal. "Descobriu-se, recentemente, que Ron Paul matinha uma longa correspondencia junto a eleitores, e que ali se alimentava o racismo contra negros e também contra judeus." Calúnia e alguns lapsos no português. "Entre seus aliados de campanha — que tem mais liberdade para dizer com clareza aquilo que o candidato não afirma de maneira explícita — há quem se queixe que o Federal Reserve seja dirigido “por judeus” ou que considere Martin Luther King uma presença lamentável na história americana." O problema do Fed não é ele ser supostamente comandado por judeus, isso é irrelevante e não diz nada sobre as suas políticas destrutivas. Sobre o Martin Luther King, nunca ouvi nada a respeito, mas e daí se alguém que apóia o Ron Paul não gosta dele? "Diante de revelações tão constrangedoras, Ron Paul tem dito que não era o autor desses textos racistas, que atribui a assessores que escreviam aquilo que não pensava." A oposição às idéias libertárias se agarra a essa história mal contada na esperança de que as pessoas nem considerem o que o Ron Paul tem na realidade a dizer. É como diz o Janer Cristaldo, luta de classes morta, luta de raças posta. "A credibilidade das explicações é baixa, já que os textos foram divulgados em seu nome, por mais de dez anos." (http://www.youtube.com/watch?v=axN53qCJChY&feature=channel_video_title) "Outro aspecto é que estes argumentos são coerentes com a visão principal dos fanáticos do mercado, para quem os direitos do indivíduo estão acima dos direitos da coletividade." Quais seriam os direitos da coletividade? Quais seriam os direitos específicos da coletividade dos negros, brancos, índios, orientais, advogados, jogadores de futebol, bocha, surfistas, sambistas, cambistas, indies, hipsters, bigodudos, vegans, cabeludos, carecas e flanelinhas? Não existem direitos coletivos, apenas os indivíduos (todos eles) têm direitos. Ou deveriam ter. "Para impedir a ação do Estado em nome da liberdade de cada um, sua proposta chega à fronteira do crime." Cuma? "Nessa visão de mundo, nenhuma lei tem o direito de impedir um ser humano de impor seus interesses e vontades sobre outro ser humano." Muito, mas muito pelo contrário. Nessa visão de mundo, ninguém tem o direito de impor seus interesses e vontades sobre um outro ser humano, o problema pro Paulo Moreira Leite é que essa regra inclui o governo. "Isso inclui, naturalmente, formas selvagens e inaceitáveis de coerção, desde que sejam feitas de forma privada e não pelos poderes públicos, considerados malignos por natureza." Não, se a relação acontecer de forma voluntária, não há coerção. Se há coerção, há crime, mas o colunista inverte as coisas e finge que o seu querido governo não se baseia justamente no monopólio da coerção. "Embora se apresente como advogado da liberdade individual, Ron Paul defende o governo do mais forte." Então o PML acha que o governo protege o mais fraco? Sério mesmo? Quer dizer então que aqueles políticos em Brasília são seres abnegados e altruístas que não pensam um segundo sequer em seus próprios interesses? E os libertários é que são ingênuos? "É o candidato do capitalismo selvagem." É o candidato que defende com mais consistência a liberdade individual, se isso desagrada os que querem mais controle governamental, paciência. (http://colunas.revistaepoca.globo.com/paulomoreiraleite/2012/01/03/ron-paul-quer-o-governo-do-mais-forte/)