Monday, April 29, 2013

Portugal "contra o empobrecimento"

Um dos prazeres que tenho ao viajar é assistir aos programas locais de televisão - e quanto mais RJTV ele for, melhor. Em Portugal, não pude deixar de notar que dois assuntos dominavam completamente o noticiário: futebol e as peripécias do governo. Falavam tanto do governo que as reportagens das RTPs e SICs me fizeram acreditar que o cidadão português é ainda mais estatizado que o brasileiro, se é que isso é possível (claro que é). O tema principal era o plano de *austeridade* do atual governo social-democrata que previa alguns cortes de gastos pro país continuar com algum crédito na praça européia. O impressionante é que, entre as várias pessoas ouvidas pelos telejornais, nenhuma ponderava que "realmente, tem alguma coisa errada quando o governo sistematicamente gasta mais do que arrecada e um corte em certas áreas pode ser uma política razoável." Não, todos eram contra, não pode, de jeito nenhum, onde já se viu, e as autoridades mais entrevistadas (e aparentemente respeitadas) eram os políticos do Partido Socialista e do Partido Comunista Português (!!!). Nem um neoliberalzinho malvado, insensível e de meia tigela pra dar o ar da graça, ô pá! Na praça principal de Lisboa, um cartaz anunciava a "marcha contra o empobrecimento" convocada pelas CUTs locais e com ampla divulgação da imprensa - como ser a favor do empobrecimento? Por que nunca convocam uma "marcha pela compreensão das causas do empobrecimento"? É longa a marcha até um entendimento mais universal das coisas, apelos emocionais em prol de grupos de interesse específicos parecem surtir mais efeito. O "empobrecimento" de que os sindicatos estatais portugueses falavam tinha relação com um eventual corte nos gastos públicos, eles estavam - na realidade - falando do "empobrecimento" deles mesmos, mas isso não era explicado no cartaz. Pra reforçar a confusão, uma manchete de jornal no caminho pra Sintra me chamou a atenção: "Funcionários públicos vão pagar mais impostos". Qual a manipulação em questão? Funcionários públicos - e aí se incluem os políticos - não são pagadores de impostos, são recebedores de impostos (questão de fato, não de opinião) e o mais correto e honesto seria estampar: "Funcionários públicos vão receber menos impostos".