Tuesday, July 31, 2012

A "classe artística"

A "classe artística" não existe, assim como não existe a "comunidade científica" ou a generalização coletivista que for. Quando se diz que a "classe artística" se mobilizou pra isso ou aquilo, está na verdade se dizendo que uma quantidade X de pessoas identificadas com atividades artísticas se mobilizou pra isso ou aquilo. Quando se diz que o projeto de lei Y "beneficiou a classe artística", se assume que todos os artistas imaginam estar se beneficiando disso, quando nem todos concordam - por exemplo e por princípio - com a Lei Rouanet ou com os subsídios estatais que tiram à força do alfabeto inteiro pra dar pro artista A ou B. Se não há uma única opinião uniforme entre os que professam uma mesma ideologia, como haveria uma entre os chamados "artistas"? Isso é, claro, reflexo do corporativismo que divide as pessoas em classes, gêneros e raças com a chancela do governo pra que esse mesmo governo depois privilegie - dependendo do contexto político de disputa de poder - uma determinada categoria às custas das demais. O resultado disso? Uma epidemia de chororô institucionalizado, um mimimi interminável de gente ajoelhada diante do poder, a estatização da cultura da "farinha é pouca, meu pirão primeiro" de pessoas que deveriam estar contestando o status quo ao invés de bajulá-lo.