Tuesday, March 26, 2013

Marighella e a "nova" utopia

Parei de ler jornal. Quer dizer, estou parando, não se pára simplesmente de ler jornal, todo dia é um desafio ("não dê a primeira olhada"), ainda mais quando o jornal fica aparecendo na sua porta mesmo quando você não o assina mais. Num desses momentos de fraqueza, me deparei com uma coluna do Caetano Veloso em que o grande ídolo da MPB escrevia que o Marighella representava a "sede de justiça", entre outras coisas laudatórias e maravilhosas. Senti quase uma ressaca pela equiparação *comunismo = justiça* e por muito pouco não cometi um texto, mas me segurei, cansei de ler jornal e de dar murro em ponta de faca. Dias depois, fiquei sabendo que o Caetano tinha feito também uma música-homenagem ao comunista baiano, o Che Guevara brasileiro, que ótimo. Eis que hoje não resisto mais uma vez à tentação e abro o Segundo Caderno pra ver como anda a guerra cultural gramsciana brasiliana e encontro o DJ Saddam com uma tatuagem de quem? Do Marighella - "o guerrilheiro que teve a sua utopia cantada por Caetano e aplaudida por jovens no Circo Voador" - dizendo que a "juventude vê Marighella como um símbolo dos ideais L I B E R T Á R I O S que a moveu no passado". Socialismo não tem nada a ver com liberdade, socialismo é e sempre foi I M P O S I Ç Ã O estatal, C O N T R O L E governamental - o contrário de um ideal libertário. A coluna Gente Boa então perguntou pro Saddam (filiado ao PC do B, que surpresa) "qual é a nova utopia?" e ele respondeu: "o velho respeito ao próximo", uma coisa muito linda e humana mesmo, que monstro insensível seria capaz de se opor ao "respeito ao próximo"? Não sei exatamente qual era o "respeito" que os heróis políticos do Marighella e do Saddam tinham pelos seus próximos quando chegaram ao poder, o problema maior era como eles tratavam os não tão próximos assim, aqueles que não concordavam com eles; havia algum "respeito ao próximo" nos gulags e no paredón? "Ah, que apelação, falar em paredão!" Dizer que o que o ser humano aprende com a história é que ele não aprende com a história não é o suficiente, a insensatez atingiu um nível que só mesmo um mergulho completo e absoluto nessa "nova" utopia (pra sentir na pele o que ela faz) é capaz de reverter. Com o PT há 10 anos no poder, uma classe artística dependente e submissa ao estado e uma imprensa companheira, esse momento parece estar chegando ou até mesmo já ter chegado - e poucos, poucos demais pra fazerem alguma diferença, parecem ter se dado conta. 

1 comment:

César said...

Obrigado, muito obrigado!