Monday, October 26, 2009

O medo do pau alheio

Ou "Quem tem cu tem medo". Quem quer que tenha crescido na rua ou mesmo num playground sabe que a sua heterossexualidade - entre os amiguinhos - está permanentemente sub júdice. Todo garoto é viado até que se prove o contrário. Então o camarada que deseja fazer parte daquele grupo passa a ter que dar mostras diárias de que ele gosta mesmo é de mulher, que ele é um predador sexual que não perdoa, mata. Se "amarelou" com Sicrana, é viado. Se - depois disso - deixou que o chamassem de viado sem sair na porrada, é viado ao quadrado. Não tem muito como escapar e mesmo amigos já adultos - e, pelo menos nominalmente, heterossexuais - se tratam como "viadinho" com a maior naturalidade. "Porra, não vai ver o jogo com a galera? Tu é o maior viadinho, hein?" Claro que isso é rescaldo daquela época, ninguém vai sair na mão porque o amigo te chamou de "viadinho", faz parte da etiqueta. Quando se é adolescente, o único xingamento pior que viado é FDP. Se meteu a mãe no meio, é porque a coisa é séria e você não pode deixar barato, sob pena de ser um viado ao cubo. Por que me lembrei disso? Porque ontem a gente tava falando no affair do Ronaldo com os travestis. É óbvio que o Ronaldo sabia que aquela mulher era homem, né? E por que um "heterossexual" procura um travesti? Por que não uma prostituta mulher? Porque o travesti tem algo ali que a mulher não tem: um pau. Não estou fazendo juízo de valor, a sexualidade não é exatamente uma escolha e, quando o camarada se dá conta, tá tendo tesão com coisas que quando ele crescia com os seus amiguinhos homofóbicos nem imaginava ter. Volto ao assunto.

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