Monday, January 11, 2010

O socialismo no século 21 e as suas conseqüências

Tava zapeando ontem (sou realmente bom nisso) e caí num daqueles canais públicos que, mui discretamente, passam aqueles documentários "retratando a história do Brasil" sob uma ótica gramsciana ou, no mínimo, estatista. Quem falava era o Jacob Gorender, militante histórico do PCB que, ainda na década de 50, defendia que a tal "ditadura do proletariado" poderia ser alcançada pela via democrática. Ele não era bem um "proletário", mas um intelectual burguês, você sabe como funciona esse papo de dialética, não é mesmo? Se safam de qualquer prurido lógico e moral com essa picaretagem. Essa mudança de foco da ruptura revolucionária leninista pra dominação cultural dos postulados marxistas até a tomada do poder através do voto caracteriza o socialismo atual. Então não é surpreendente perceber que, entre os cacoetes verbais que caracterizam a esquerda atual, a palavra "democracia" foi alçada à instância máxima da embromação semântica como justificação do controle da sociedade pelo Partido. No caso brasileiro, o PT. Se a presidência Lula foi marcada por uma certa ortodoxia econômica, longe das antigas ameaças de moratórias e heterodoxias afins, isso não significou de maneira alguma uma capitulação dos velhos comunas à economia de mercado e à propriedade privada. Se tratou de uma inflexão tática, porque sabiam que não havia clima pra baixar de uma vez o decreto socialistóide que agora - aproveitando a popularidade do atual presidente - tentam enfiar goela abaixo dos brasileiros sob o manto dos "direitos humanos". A tortura que é infligida aos conceitos e palavras por essa gente é realmente digna de nota, verdadeiros mestres da inversão. A cartilha segue exatamente a trilha iniciada pelo personagem bolivariano da "Praça é Nossa", Hugo Chávez. Alguns jornalistas amiguinhos do poder já trataram de tirar o dedo do Lula dessa história, dizendo se tratar apenas de "uma satisfação que o presidente dá à ala mais à esquerda do PT". Ou seja, ele aprova, mas não aprova, entendeu? É a dialética, senhoras e senhores. Tomara que o tal decreto seja derrubado, mas ali está uma verdadeira carta de intenções que deixa claro o que quer o governo. Como nada do que vai ali é novidade no mundo, já dá pra prever o que vai acontecer caso aquilo seja realmente implementado. Temos, neste exato momento, um exemplo logo aqui do lado, a Venezuela. É realmente fascinante perceber que - não importa aonde - o controle da economia pelo estado nunca funciona. Isso não é o suficiente pros comunas desistirem da utopia, são teimosos e inteligentes como uns jegues, com todo o respeito aos jegues. Enfim, como é sabido pela teoria e pela prática (temos experiência nisso), controle de preços resulta em escassez do produto e estímulo ao mercado negro. Como a escassez na Venezuela já atingiu a geração de eletricidade, o personagem da "Praça é Nossa" venezuelano determinou que todos os estabelecimentos comerciais fechem mais cedo pra poupar energia. Jaula pra quem descumprir o decreto de Vossa Excelência, tudo no interesse do povo, obviamente. Em mais uma tentativa de evitar o inevitável, o retardado agora tenta fazer uma mágica com o câmbio pra "reduzir as importações e estimular a produção nacional", arenga bem conhecida dos brasileiros "desenvolvimentistas". Como os preços não se curvam a decretos, lá vem uma inflação tremenda, que vai ser debitada pelo governo, naturalmente, na "ganância da burguesia". É um filminho tão manjado que dá até preguiça de comentar. Resumindo, funciona assim: o governo faz uma cagada fenomenal e coloca a culpa nos efeitos (aumento de preços), ignorando as causas (descontrole fiscal). O Chávez também diz que (prepare-se) "os preços continuam regidos pelo capitalismo selvagem, e o governo e o povo têm de acabar com isso". O "povo" é mais uma vez acionado na nova tentativa do amigo do Lula de revogar a lei da oferta e procura. Como todo louco, diz que vai transformar o país "em uma potência" com essas medidas. É caso de internação imediata, mas infelizmente esse camarada comanda um país vizinho. Pra finalizar, tratou de apontar o bode expiatório quando ficar claro que as suas políticas vão levar a Venezuela definitivamente pro buraco: "Os filmes do capitalismo nos metem na cabeça o consumismo. Fazem telenovelas para envenenar nossos filhos, para incitá-los ao consumo de drogas. Estive há pouco tempo em Cuba e lá não passam telenovelas capitalistas, mas sim de conteúdo social". Duas coisinhas: ninguém mete na cabeça de ninguém o "consumismo", consumir é uma necessidade humana de sobrevivência. Quando um indivíduo atinge um certo nível de prosperidade - que só é possível ao se respeitar certas regras - ele pode então se engajar no consumo de produtos de luxo. Não há nada de errado nisso, aliás, se a sua riqueza é resultado de trocas voluntárias. Outra, os cubanos são obrigados a assistir às tais novelas com "conteúdo social" (socialismo). Não há opção, a doutrinação é compulsória. São esses os amigos e modelos do PT, é isso o que acontece quando o que essa gente defende é colocado em prática. Depois comento com mais calma o programa de "direitos humanos" do "cara" e sua escolhida.

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