Monday, January 25, 2010

A dinâmica de uma economia mista

Pra alegria dos cultuadores do meio-termo, o Brasil tem hoje uma economia 50% capitalista, 50% socialista e 100% irracional. Ok, foi apenas uma frase de efeito, deixe-me recomeçar. Não há um capitalismo laissez-faire e nem aquele socialismo que estatiza todos os meios de produção, claro, porque os governantes já perceberam ser muito mais jogo deixar esse naco de capitalismo na mão dos seus eleitos, aqueles amigos que bancam as campanhas desses seres abnegados que são os políticos. Uma vez no poder, os governantes iniciam as suas parcerias público-privadas com aqueles que sempre acreditaram neles: dar e receber, eis um mecanismo que funciona às mil maravilhas na administração pública. Há diversas maneiras de se favorecer os eleitos dos eleitos. Pode ser através do fornecimento de crédito subsidiado pelo BNDES ou pelo Banco do Brasil, o que me lembra, aliás, que o governo controla mais de 40% da atividade bancária brasileira (não vou escrever "tupiniquim", sorry), fazendo do estado o maior banqueiro do país. We are living indeed on a savage laissez-faire capitalism, you know? Se não for através do crédito subsidiado que, não custa lembrar, é custeado pelo feijão do povão, o governo pode implementar uma "política industrial" que cria tarifas protecionistas, protegendo os eleitos dos eleitos da competição. As leis antitruste foram criadas pra - nominalmente - impedir a formação de cartéis e monopólios, mas depois de algumas leituras e o auxílio da lógica você percebe que o maior indutor aos cartéis e monopólios é justamente o governo. O governo, também não custa lembrar, é ele próprio o maior monopolista que existe, mas é um monopólio pro nosso próprio bem, sabe? Se não há barreiras impostas de cima pra baixo e a taxa de retorno do negócio é alta, o que impediria a entrada de novos concorrentes? Nada, só o governo tem esse poder, o de escolher os vencedores e os perdedores. Mas tudo bem, alguém tem que controlar esse mercado malvado, não é verdade? Então a gente sanciona feliz o controle das nossas escolhas pelo estado, ele é naturalmente benevolente e pensa apenas no bem comum, como todas as pessoas de boa vontade estão cansadas de saber. Mas não é apenas nos bancos e indústrias que a economia mista faz a alegria da garotada. Se o meu filme com orçamento de 1 milhão de reais não é viável comercialmente, eu posso contar com o carimbo de algum burocrata de alguma estatal. Não, eles não vão patrocinar ("eles" uma ova, porque aquele dinheiro é, pelo menos em tese, de todos) o meu filme que questiona essa estatal de coisas. Nada é perfeito, realmente. Mas se eu quiser fazer um filme cantando as maravilhas do estatismo ou os horrores do capitalismo, não vai faltar dinheiro, after all, the money follows the power who follows the money. É um ciclo virtuoso pra uns, vicioso pra outros. O importante é que todos os negócios estejam sendo controlados com rédea curta pelo estado e os seus valorosos fiscais. Aliás, quem fiscaliza os fiscais? "A democracia." Sei, a vontade da maioria. Se a maioria, por ventura, quiser escravizar a minoria, vai estar tudo certo pra você? Ah tá, tem certos limites que a maioria deve observar. Sei, quais limites? A função social (socialista) da propriedade? Tudo bem que você não concorde com o que estou dizendo, o estado deve mesmo regular a vida em sociedade, mas que tal embasar essa tese com argumentos longe do "é assim porque é assim"? "Somos funcionários públicos", disse o Caio Blat, um ator muito celebrado pelos cadernos de cultura. O que esperar de uma arte feita por funcionários públicos? Eis mais uma das maravilhas da economia mista, meus amigos. A castração, na fonte, de qualquer questionamento mais profundo e calcado em princípios. Que princípios? Vivemos na era do "pragmatismo", o que significa mais ou menos a celebração de qualquer coisa que funcione pra quem está no poder, deu pra entender? "Pragmatismo" pode ser X ou Y, mas é reconhecido como o posicionamento filosófico mais maduro nos dias de hoje e é o que possibilita o triunfo avassalador da economia mista. Como os princípios foram varridos pra debaixo do tapete, as pessoas ficam então se manifestando politicamente da mesma maneira que se movem as baratas tontas pelo DDT. Vão prum lado ou pro outro na base das emoções do momento, guiadas por slogans, pela propaganda oficial ou pelos seus interesses mais imediatos, pra quê ter uma visão de mundo coerente e consistente, não é verdade? Isso é coisa de fanáticos radicais.

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