Thursday, September 02, 2010

Fluxo livre de especulações

A tentativa de explicar o motivo das coisas serem como elas são é uma tarefa complicada que não pode se esgotar na primeira argumentação que se encontra pela frente. Por exemplo, a tese de que o Brasil é do jeito que é porque aqui faz calor o ano inteiro e isso torna os nativos preguiçosos, avessos ao trabalho. Realmente, se o trabalho fosse diversão, ele se chamaria diversão e não trabalho. As pessoas trabalham como um meio de se atingir um fim, o trabalho não é um fim em si mesmo, a não ser talvez o trabalho com arte, mas aí não é mais trabalho, a não ser que as pessoas paguem por ele, o que é raro, a não ser que você tenha bons contatos no Ministério da Cultura ou na Petrobras, o que dá mais ou menos no mesmo. Mas voltando, li uma crônica hoje que falava de como tudo era organizado na Noruega, não havia favelas ou pichações, buracos ou meninos de rua nas calçadas, a grande e celebrada qualidade de vida dos escandinavos. Por que a diplomacia sul-sul nunca funcionou, refém dos primitivismos tribais, religiosos e ideológicos de árabes, africanos, asiáticos e cucarachas, enquanto os irmãos do norte foram capazes de se desenvolver? Primeiro que os amigos do norte (puxa-saco!) têm uma civilização mais antiga que a nossa. Será? Os EUA foram descobertos na mesma época que o Brasil, o que os diferenciou? Lá faz calor e neva também, cobrem todo o espectro do clima e se tornaram a grande potência mundial, o que aconteceu meu Deus do céu? Não, Deus não é a explicação, a ética protestante chega mais perto disso. A Declaração de Independência dos Founding Fathers me parece o documento crucial nesse desenvolvimento, porque garantiu a soberania do indivíduo frente ao poder central. Inverteu-se a lógica: não eram mais os indivíduos que se submetiam a um soberano, era o soberano que se submetia aos indivíduos. Isso só aconteceu porque havia uma sede por liberdade, um leave me the hell alone cuja independência não era da boca pra fora, os americanos não queriam mais se submeter e não se submeteram. O Brasil, por outro lado, teve uma Declaração de Independência proclamada por um membro da própria família real, não sei se isso foi inédito, mas certamente é uma informação curiosa. A Proclamação da República também foi estranha, um relutante Deodoro foi com seu cavalinho no Campo de Santana impedir que o poder fosse parar nas mãos do Conde D'Eu, figura detestada na época. Jesus, onde eu fui parar?! Ali perto da Praça Tirandentes, com seus fliperamas e prostitutas... Não, isso foi nos anos 1990, os fliperamas não existem mais.

2 comments:

Anonymous said...

Os fliperamas não existem mais, Deodoro não existe mais, Pedro II não existe mais e nossas esperanças de que o Brasil possa crescer num rumo certo também não existem mais. Conde D'eu sempre foi bom pra piadinhas de duplo sentido e pra injetar um pouco de sangue bom na família medonha que foi a família real.
Ops, mas estou quase na Praça Tiradentes também...

Anonymous said...

O príncipe de Joinville veio ao Brasil, conheceu a familia real e a horas tantas escreveu no seu livro de
memórias - excelente, por sinal:
"Jantei com toda a família real e comi um abacaxi que valia mais que todos eles."
Observações assim é que deveríamos aprender nas aulas de história do Brasil.