Thursday, August 24, 2006

Papo Liberal ou Viva Bussunda - 19 de junho de 2006

Uma corrente de pensamento é hegemônica quando ela não só é dominante, como se transforma no próprio senso comum. Eu mesmo, durante anos, repeti como um loop as arengas "politicamente corretas" do esquerdismo infanto-juvenil, crente que as minhas palavras "bem intencionadas" encontrariam algum eco com a realidade. Um estado involuntário de cegueira mental, influenciada pela incessante doutrinação anti-capitalista e potencializada pela minha ignorância das mais básicas relações de causa e efeito.

Nunca entendi, por exemplo, o que era a inflação. A cartilha socialista manda dizer que ela é fruto "da ganância dos empresários". Na época eu nem me dei conta, mas o governo Sarney foi lapidar nessa ilusão. De uma hora pra outra, os "iluminados" do Ministério da Fazenda resolveram "congelar" todos os preços, com a intenção de debelar uma inflação que alcançava os 3 dígitos por mês. "Isso aí, mostra pr´esses capitalistas nojentos o que é bom pra tosse..." Essa maluquice não só foi temporariamente bem sucedida, como recebeu total adesão da sociedade, enfeitiçada por um ilusório aumento no poder de compra. Como já havia demonstrado o austríaco Von Mises na década de 20, o planejamento estatal de preços é economicamente inviável, e o mercado negro e o ágio tomaram conta. Logo a inflação voltou ainda com mais força e o "milagroso" Plano Cruzado, encampado com entusiasmo pelas "fiscais do Sarney", virou pó. Só depois é que fui descobrir que o principal causador da inflação é o próprio governo, ao emitir moeda sem lastro na produção pra cobrir os seus gastos e pagar as suas dívidas.

Muito se falava também na malévola influência do FMI. Era "Fora FMI" pra lá e "Yankees Go Home" pra cá. Hoje essa ladainha diminuiu, até porque a dívida externa está sob controle e o PT finalmente conseguiu chegar ao poder. O FMI nunca foi "inimigo dos brasileiros". O que o fundo sempre pregou foi a responsabilidade fiscal, isto é, que o governo simplesmente não gastasse mais do que arrecadasse. Pois bem, nossos "excelentíssimos" fizeram ouvidos de mouco aos conselhos "imperialistas" e ao bom senso e hoje a dívida interna brasileira já ultrapassa 1 trilhão de reais. Esse número assombroso não é uma abstração, mas um abacaxi atômico contraído pelo populismo eleitoreiro reinante que só enxerga a curto prazo e condena essa e as gerações futuras a lidar com esse pepino. Afinal, como diria Lord Keynes, o guru dos planos heterodoxos, "no longo prazo estaremos todos mortos".

Outra coisa mal compreendida é a taxa de juros. E olha que surpresa: ela também é altíssima por causa do governo. As esquerdas se ouriçam contra a taxa decidida pelo Banco Central e propõem uma redução via canetada. "Só assim retomaremos o crescimento." Falso. Os juros refletem a oferta de crédito, que é escassa justamente pelo endividamento do governo, que precisa de uma taxa generosa pra atrair investimentos e saciar a sua fome de recursos. O lucro dos bancos e dos especuladores é apenas um efeito dessa política e não a causa, ao contrário do que a intelectualidade (?) marxista imagina.

Além da inflação e do endividamento, a única forma do governo se financiar, já que ele não cria riqueza alguma, é através dos impostos. Pois aqui nessa terra linda e abençoada, crédulo eleitor do PT, eles já chegam aos 40% do PIB. Ou seja, quase a metade da renda produzida vai direto pro cofre governamental. Isso, por si só, já mereceria passeatas com caras-pintadas protestando contra esse abuso de poder, mas não é o que se vê, uma vez que essa tributação surreal é enxergada pelo senso comum como um legítimo instrumento de "distribuição de renda". Pega-se de quem produz, o "contribuinte", e transfere-se pra quem não produz, o governo.

O resultado prático dessa sangria desvairada é um crescimento medíocre, superior apenas ao do Haiti na América Latina, enquanto o resto do mundo prospera em níveis jamais vistos. A poupança é insuficiente e a informalidade campeia, sem falar na corrupção e no desperdício. Tudo conseqüência da fé cega depositada no Leviatã, que em troca oferece os serviços "eficientes" que todos conhecem. A solução? Mais mercado e menos Estado, numa ampla reforma liberal que emagreça e agilize o mastodonte estatal, diminuindo a dívida interna, os juros, os impostos e a burocracia, estimulando a produção e a livre iniciativa geradora de renda e emprego. O governo, os liberais radicais que me perdoem, se concentraria em saúde, educação básica e segurança, além dos investimentos em infra-estrutura.

Já era hora do brasileiro mirar nos vários exemplos bem sucedidos que a liberdade econômica oferece ao redor do mundo, mas tudo indica que o primeiro mandato do PT não foi o suficiente pra nossa gente se vacinar contra o messianismo terceiro-mundista. Muitos interesses e privilégios estão em jogo, e as tetas da leiteria estatal têm defensores poderosos e organizados. Uns poucos liberais se esgoelam, tentando incluir a razão em um debate intoxicado de "luta de classes", mas o feedback ainda é pequeno. Cinismo e 10 milhões de Bolsas-Família parecem bastar pra reeleição. Enquanto a demagogia populista encontrar terreno fértil na ignorância das massas, adubada pela militância sinistra dos "formadores de opinião", o Brasil permanecerá atolado em corrupção e baixo crescimento
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