Thursday, August 24, 2006

Chuchu Maduro - 27 de abril de 2006

( 1 ) Votei no PT a vida inteira. ( 2 ) Sempre fui, como a maior parte dos jovens politizados, de esquerda. ( 3 ) Olhava pra uma maioria de pobres de um lado e uma minoria de ricos de outro e concluía: "o rico explora o pobre." O bê-a-bá do esquerdismo juvenil. ( 4 ) Embriagado de idealismo pós-ditadura militar, cheguei a comprar a estrelinha vermelha do PT, orgulhoso de participar do esforço pelo fim da "desigualdade social" provocada pelos "exploradores do capital". ( 5 ) Na eleição de 89, ainda trabalhava como "menor" no Banco do Brasil e a "contribuição sindical obrigatória" pra CUT, que vinha no meu contracheque, me enchia de satisfação por ajudar a "causa dos trabalhadores". ( 6 ) Diante dessas sensações, como então alcançar a igualdade entre ricos e pobres? "Ora, basta vontade política", eu pensava, todo pimpão.

1 - Me vacinei contra o PT. Era de se esperar que, com todos os escândalos escancarados pelas CPIs, o povo também desmitificasse a santa aura petista e lulista. Não é, infelizmente, o que se vê pelas últimas pesquisas. O assistencialismo populista corrupto é então premiado, e o terceiro-mundismo latino-americano segue adiante triunfante.

2 - O jovem politizado, em geral, tem boa intenção, mas é influenciável e prepotente, o que normalmente descamba numa postura autoritária. Um liberal considera que o indivíduo pode fazer o que bem quiser, desde que arque com as conseqüências dos seus atos e não prejudique ninguém além de si mesmo. Um socialista, por outro lado, determina um "bem comum" a ser perseguido por toda a sociedade, via coerção estatal, é claro. Um autoritarismo incompatível com a liberdade. Por isso que o tal do P-SOL é uma contradição em termos.

3 - A condição natural da humanidade é a pobreza. A riqueza precisa ser criada, ela não cai do céu e nem se materializa com uma canetada presidencial. Os incríveis avanços dos últimos séculos foram resultado da livre associação entre os agentes econômicos. Hoje se vive mais e melhor que em qualquer outra época. O empregado troca voluntariamente a sua força de trabalho por um salário. O empregador, por sua vez, organiza a produção de modo a atender os desejos dos consumidores e assim ter um lucro, que é a sua remuneração. Alguns abusos são realmente cometidos, mas em geral não existe "exploração", existe cooperação.

4 - O problema não é a desigualdade, que vem diminuindo, e sim a miséria. Um programa de renda mínima pros verdadeiramente necessitados me parece razoável num primeiro momento, mas o ser humano reage a estímulos, e o estímulo é perto de zero numa sociedade coletivizada, onde a meritocracia não é valorizada e a livre iniciativa é cerceada.

5 - "Contribuição sindical obrigatória" é uma esquisitice do tipo "direito ao voto obrigatório". Aliás, outra esquisitice é o atual Ministro do Trabalho ser um ex-presidente da CUT. Os sindicalistas são realmente prestigiados por aqui. A Consolidação das Leis do Trabalho, criada por Vargas e inspirada na legislação fascista de Mussolini, precisa ser flexibilizada. Essa rigidez trabalhista só favorece a alguns grupos privilegiados, a corrupção e a informalidade, que no Brasil já chega aos 60%. Ademais, a correlação entre a liberdade econômica e a geração de empregos é provada e comprovada.

6 - A "igualdade" é uma ilusão. Desempenhos diferentes produzem resultados diferentes. E esse primado da "vontade política" é uma bela desculpa pra se dar ainda mais poder a uma classe amplamente desacreditada pelos fatos. A política é um jogo de interesses, onde a justiça importa menos que o favorecimento pessoal que o acesso ao aparato estatal proporciona.

Lógico que a mudança desse estado de coisas não é simples, ainda mais num país onde o esquerdismo "politicamente correto" virou a norma de conduta. A reforma liberal necessária pra desatar o nó em que se encontra o Brasil contraria muitos "direitos adquiridos", e ninguém vai "largar o osso" sem espernear. A luta vai ser dura.

A vitória do PT nas próximas eleições, num cenário otimista, garantiria a manutenção da atual farra eleitoreira com o dinheiro público. Num cenário pessimista, a reeleição de Lula conferiria ao partido do mensalão um poder de controle ainda maior sobre as liberdades individuais. Com um Legislativo desmoralizado, os projetos rejeitados no primeiro mandato, como a Ancinav e o Conselho de Jornalismo, podem reaparecer e materializar de vez o dissimulado autoritarismo petista, além de aprofundar o radicalismo criminoso do MST maoísta.

Nesse quadro, o PSDB se apresenta como o menor dos males, com um candidato que, dentro das possibilidades, diminuiu impostos e racionalizou a administração paulista. O partido é social-democrata, mas o discurso de Alckmin tangencia em alguns momentos o ideário liberal, pregando inclusive um "choque de capitalismo". Não sou mais tão jovem pra me seduzir pelo canto demagógico da sereia vermelha, e por isso é dele o meu voto.

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