Monday, July 05, 2010

O welfare state e o egoísmo

Poucos conceitos são alvo de tanta confusão e incompreensão quanto o "egoísmo". Ninguém quer ser enxergado como um "egoísta" e a ironia é que isso acontece por motivos egoístas. A pessoa quer ser bem vista pelos outros porque isso pode beneficiá-la de diversas maneiras. Então você pensa primeiro em si e naqueles que você valoriza (ou não?) ao mesmo tempo em que o meio social condena o egoísmo e enaltece a altruísmo, nem que seja o compulsório. Essa esquizofrenia entre teoria e prática se materializou politicamente na terceira via, no welfare state, nem capitalismo e nem socialismo, na economia mista que vive pendendo de um lado pro outro, dependendo das circunstâncias eleitorais do momento. É bom esclarecer que esse estado-do-bem-estar-social não é a causa da prosperidade dos países que o adotaram, esses países se deram esse luxo por causa de uma riqueza previamente acumulada. O que a recente crise européia mostrou foi a insustentabilidade - pra usar uma palavra da moda - desse modelo, porque ele paga aos beneficiários de hoje contando com os recursos de amanhã. Como a tendência do homem egoísta (isto é, todos nós) é valorizar o hoje mais do que o amanhã, a conta acaba não fechando. Então as pessoas que condenam o "egoísmo" da boca pra fora acabam apoiando a hipoteca do futuro pra que elas e os seus grupos de interesse favoritos aproveitem o presente. "No longo prazo, estaremos mortos", não por acaso, é o lema de Keynes, o economista símbolo dessa postura. Reparem como os manifestantes que tomam as ruas da Europa cheios de indignação são justamente aqueles que não aceitam perder qualquer privilégio pra que o sistema seja sustentável - pra usar uma palavra da moda - no longo prazo. Sindicatos de funcionários públicos e partidos socialistas são os primeiros a condenar o "egoísmo" e também os primeiros a se recusar a fazer qualquer sacrifício em nome dos seus descendentes.

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