Wednesday, January 05, 2011

50 anos em 5

Ler a gigantesca autobiografia do Roberto Campos, "A lanterna de popa", dá uma boa idéia dos bastidores do poder na perspectiva de quem serviu diversos governos desde Getúlio Vargas. Porque uma coisa é ver as decisões governamentais sendo implementadas; outra, bem diferente, é entender como elas foram tomadas. Por exemplo, Juscelino Kubitschek, antes de tomar posse, fez uma viagem pela Europa, visitando alguns governantes da época. Chegando em Portugal, perguntou ao primeiro-ministro Salazar - segundo Campos, "talvez o único ditador incorruptível da história" - qual era o segredo da estabilidade de preços e firmeza da moeda portuguesa: "O segredo é um governo forte com austeridade fiscal e corte drástico dos gastos públicos". Juscelino então perguntou quanto tempo seria necessário pra atingir essa meta e Salazar respondeu: "Talvez 5 anos pra colher os frutos." Sabendo o que aconteceu no governo JK, ganha uma mariola quem adivinhar a sua reação: "O velho (Salazar) quer me proibir de gastar, a única coisa que sei fazer bem. E depois, aguentar 5 anos... Será que esse velho espera que eu arreie o cavalo pro meu sucessor montar?" Moral da história: esqueça esse papo de que os governos pensam no longo prazo enquanto os empresários focam no curto prazo, é justamente o contrário. O "longo prazo" de um governante é a próxima eleição, algo que não se aplicava, obviamente, à ditadura Salazar. JK tomou posse, disse que ia fazer 50 anos em 5 e tudo o que conseguiu foi transferir a capital federal pro meio do nada ao custo de um aumento extraordinário das dívidas interna e externa, um passivo não resolvido até hoje.

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