Thursday, December 10, 2009

Oportunismo: o algoz da liberdade

"Durante o século XX, o pragmatismo e o cientificismo teriam sido verdadeiros epítomes do oportunismo. Em comum, essas perspectivas rejeitaram o valor de um sistema social baseado em princípios. Em nome do pragmatismo político ou do tecnicismo, rejeitaram-se as ideologias, ou seja, os conjuntos de princípios que sinalizam os valores essenciais para a manutenção e desenvolvimento de uma ordem livre. O cientificismo, declara Hayek, esconde os limites do pensamento instrumental. A grande tentação dos cientistas sociais foi pretender estender os métodos das ciências naturais e exatas às ciências sociais. O problema dessa tentativa é que, enquanto as ciências naturais e exatas lidam com dados concretos e fixos, as ciências sociais lidam com dados abstratos e mutantes, pois seu foco são os seres humanos no contexto de um arranjo social, incluindo aspectos mutantes como suas crenças, valores, disposições, medos e incertezas. Embora mutantes, essas considerações não são moldáveis: é impossível manipular experimentalmente o objeto das ciências sociais acreditando que algum resultado concreto possa ser previsto pelo observador. O pragmatismo, a seu turno, sabota a liberdade em nome de facilidades imediatas que, no mais das vezes, beneficiam determinados grupos específicos. Em nome do pragmatismo, agentes políticos e privados renegaram observância aos princípios e normas da moralidade que salvaguardavam a liberdade individual. Em vez disso, abraçaram uma doutrina construtivista que aplica “técnicas sociais” para resolver caso a caso os problemas da ordem social. Libertos de apego “dogmático” aos princípios e valores fundantes da sociedade, os pragmatistas encaram a ciência e a técnica como os meios adequados para o homem construir seu destino e de toda sociedade. Hayek denomina as tentativas de ferir os princípios universais em nome de outras considerações como sendo “oportunistas”. Tais investidas, mesmo que apoiadas pela maioria do povo, geralmente conduzem a resultados não pretendidos pelos próprios defensores do plano. Os resultados indesejados, por sua vez, tenderão a legitimar novas intervenções inerentemente cerceadoras da liberdade, porém nem sempre claras aos olhos dos planejadores. É desse modo que o cientificismo e o pragmatismo, quando traduzidos em ações práticas, tendem a desencadear consequências indesejáveis. Eles conduzem as comunidades a cada vez mais restrições da liberdade até, possivelmente, a total opressão." Bruno Salama e Lucas Mendes (http://www.ordemlivre.org/textos/798).

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