Tuesday, May 07, 2013

Napalm e a Virada Cultural

Não sei se notaram, mas existe, por trás de toda a discussão cultural brasileira, um embate ideológico - ou sendo menos pejorativo, filosófico - que acaba se sobrepondo às declaradas diferenças subjetivas (ou nem tão subjetivas assim) sobre beleza, estética, técnica, prazer ou diversão. Outro dia mesmo, eu tava assistindo a um documentário sobre o Napalm, casa de shows underground de São Paulo do início dos anos 80, em que isso ficou muito claro. Os punks dominavam o lugar por causa da sua revolta agressiva e sem muito foco - contra o "sistema" - no que eram insuflados pelos estudantes mais politizados da USP que, dava pra perceber pelos depoimentos, tinham claramente uma visão marxista da história. Um desses, Alex Antunes, disse que as bandas cariocas da época não eram bem-vindas por lá porque eram "comerciais" e "faziam o jogo das gravadoras". Essa rejeição ou cooptação baseada em afinidades ideológicas - ou sendo menos pejorativo, filosóficas - vem (pra pegar um gancho do livro novo do Lobão) desde antes da Semana de 22 e é determinante pro sucesso ou fracasso de um artista (pelo menos entre essa intelligentsia). Se o artista foge do cânone aprovado pela academia (no caso brasileiro = estatista, nacionalista, coletivista, anti-americanista e anti-cristianista), ele é rejeitado; se o abraça, é cooptado. Enquanto o esquerdismo cultural ficava somente na academia e longe do poder, essa agenda se restringia às críticas e teses abraçadas pelos jornalistas companheiros, mas essa hegemonia nas universidades (o lugar onde teoricamente se concentrariam as pessoas inteligentes) e o conseqüente domínio do discurso público acabariam por ter força o suficiente no imaginário coletivo pra que os seus representantes políticos (PT) finalmente chegassem completa e inapelavelmente ao poder. Então agora o Alex (Guarani-Kaiowá) Antunes não precisa mais pedir pra entrar de graça em boates alternativas e trabalha pra prefeitura petista de São Paulo decidindo quais artistas merecem receber o dinheiro dos "contribuintes" paulistanos na tal Virada Cultural. Alguma dúvida de que ele vai privilegiar aqueles de acordo com a sua agenda "contra o pensamento branco"? (http://viradacultural.org/alex-antunes-nao-ouvi-e-nao-gostei-nao-e-uma-atitude-rock/)

1 comment:

João said...

Diga-se de passagem, pedir para entrar de graça em boates com os 25 anos que ele já tinha, é muita, mas muita coisa de vagabundo...

Depois, falo mais desse assunto, que é um dos meus preferidos

Abs