Tuesday, September 01, 2009

We Own You, Suckers!

Foi a manchete de hoje no "O Globo". Brincadeira, foi "A onda estatizante". Os petistas não gostam, obviamente, que isso seja retratado de forma crítica. "Sim, o estado deve ser o motor do desenvolvimento!" Claro, sou um porta-voz da justiça social e como vou justificar a concentração de recursos e poder se não for pelo bem-comum? Show me the money and I will show you the way. The way to a great, great and glorious day! Hohoho! Então nos juntaremos às grandes potências petroleiras da OPEP - Organização dos Países Exportadores de... Porra, é um setor estratégico, lógico que o estado tem o dever de cuidar disso com muito carinho. Onde eu assino mais esse contrato social? Aproveite e traga os formulários dos contratos anteriores que ainda não assinei. E preparem-se, camaradas neoliberais: a Vale tá na mira dessa gente boa do PT. E daí que ela rende mais pagando imposto? Dinheiro não é tudo na vida. Outra notícia que me cativou sobremaneira foi a do aumento da exigência de produtividade no setor agrícola. Alvíssaras! Já tava na hora dessa revolução no campo. Sim, se você não produzir 30 toneladas de maçã, vou desapropriar a sua terra e entregá-la ao movimento social da minha preferência. Caiu granizo? Vamos criar um ministério para analisar todos os casos. Não, eles não vão precisar cumprir essas mesmas metas. Ué, eu tenho esse poder investido que estou pelo voto do povo brasileiro. Colé, povo do pré-sal?! Propriedade privada é o escambau. Uma civilização se constrói com um líder com pulso forte que inspire o melhor de nós para o... bem-comum! Sim, o bem-comum é decidido nos corredores de Brasília, mas e daí? É a democracia, fio, we own you - deal with it.

8 comments:

José K said...

É claro que o Estado nós possui. Afinal... Quais são as características do direito de propriedade? Usar, fruir, dispor. Só o Estado pode usar, fruir e dispor das pessoas. Além disso... Tanto uma lei como um trato são obrigações, mas há uma diferença básica... Tratos só podem ser estipulados através da livre manifestação da vontade de ambas as partes. Leis só precisam de uma vontade -- a do Estado. O Estado é o grande feitor! E ainda acham que evoluimos desde a Idade Média... Freud explica...

Mas acho que não adianta ficar reclamando do Estado... Ele tem uma certa estrutura e esta estrutura determina o conteúdo. O Estado tem que ser abolido. Não se pode esperar nada do que já é corrupto per se. Como falou a personagem Max California, no filme 8mm -- If you dance with the devil, the devil don't change. The devil changes you.

sol_moras_segabinaze said...

Entre o estado ser absolutamente abolido e ser relativamente racionalizado...

O que lhe parece mais realista?

José K said...

Olha... depende do que queres dizr com racionalizado. Afinal, o Estado me parece perfeitamente racionalizado... Perfeitamente racionalizado para os que lucram com ele ganharem cada vez mais. Na realidade, nunca houve na história da humanidade uma quadrilha tão bem organizada, estruturada e racionalizada como o Estado. Deste ponto de vista, é claro que é mais fácil o Estado ser racionalizado -- pois já é -- do que abolido.
Agora, considerando -- diferentemente de delírios comuno-socialistas -- que Estado é uma coisa e sociedade civil é outra, e se queres dizer que é possível o Estado ser racionalizado em favor da sociedade civil, acho um tanto quanto impossível, pois seria o mesmo que crer que um feitor pode, de uma hora para outra, começar a trabalhar para o seu escravo. É algo como o delírio socialista que acreditava que o proleatariado -- por definição, escravo e subserviente -- poderia liderar. Seria o mesmo que achar que um triângulo pode ter quatro lados.
Agora... o Estado ser abolido, não só é possível, como certo -- considerando que estamos tratando do Estado absolutista que começou a se desenvolver no século XII, afirmou-se no século XVI e, na grande transformação do fim do século XVII ao século XX transformou-se na grande mentira do Estado popular no qual a soberania está revestida no povo --, visto que a história mostra que nenhum modelo de organização política foi eterno. Eterno, só Deus, porque só o que não existe pode ser eterno. Tudo que existe, nasce e morre.

sol_moras_segabinaze said...

Acho que só vai existir a chance de se diminuir o poder de feitor do estado quando as pessoas perceberem isso, que ele se serve de nós e não o contrário. Se não se questionar o status quo, como é que ele vai dimunir ou, mais improvável ainda, como é que ele vai acabar?

Se as pessoas, ao menor sinal de dificuldade, correm atrás dele como uma espécie de deus laico, se as pessoas nem ao menos o questionam, ao contrário, se ele é visto como uma espécie de salvação, a sua abolição me parece algo beeeeem distante.

Não que eu não deseje isso, mas...

sol_moras_segabinaze said...

Ou então, aí sim, ele vai crescer tanto que um dia desmorona, como nas repúblicas soviéticas.

Mas e daí? Desmoronou, colocou um tantinho de capitalismo pra gerar um mínimo de riqueza e o estado seguiu numa ditadura despótica disfarçada de democracia (Putin e asseclas).

José K said...

Concordo... Mas será que isto é possível? Não acho que com a estrutura atual isto seja possível. Talvez, com as pessoas conscientizando-se, possamos chegar a um novo estado. Mas, aí, não será o Estado moderno (iluiminista, absolutista, &c.) como existe agora. Será estado como sinônimo de organização política, mas tera que se organizar de forma completamente diferente.
Do jeito que está: o Estado como uma abstração -- pessoa artificial -- que representa o povo -- o que é povo? -- conduzindo-o para o bem comum guiado pela vontade geral, me parece mais uma fábula infantil que só mostra que a humanidade está em um estado de maturidade muito raso e a minoria que consegue enxergar isso é obrigada a submeter-se sob pretexto de um outro princípio mitológico -- a ditadura da maioria. Uma abstração não faz nada. É como um carro: sem motorista, este não anda, não serve ao seu propósito e, por outro lado, também não pode atropelar ninguém. O Estado precisa ser pilotado pelos representantes do povo, mas, como diz o ditado -- nobody rides for free. Os pilotos sempre dominarão os pilotados e esta estrutura só pode dar certo, como dizia Platão, se aqueles forem bons filósofos. Como Sócrates era dado a ironias, temos que entender isto como inmpossível -- o próprio dizia que isto só existe no mundo das idéias. A realidade é dog eat dog.
Este estado só acabará quando as pessoas conscientizarem-se do que você falou em sua primeira frase -- "Acho que só vai existir a chance de se diminuir o poder de feitor do estado quando as pessoas perceberem isso, que ele se serve de nós e não o contrário." --, mas ele deve ser entendido como um grupo de pessoas e não como o Deus laico. O Deus laico só existe na cabeça das pessoas. A grande questão é... É possível que as pessoas conscientizem-se? Ou isto está na essência do homem, de modo que mudar isso seria tão viável quanto ensinar um cachorro a jogar poker?

Unknown said...

é bem possível, só é pouco provável pq a atual conjuntura na permite. estava vendo che e na entrevista que deu em nyc por ocasião na visita aos eua, ele diz que não se exporta revoluções - que elas são fruto de um contexto opressor ou algo similar. sem entrar no mérito de quem fala, me parece que o mesmo ocorre aqui: quando o estado, da forma como existe hoje, não mais for adequado para uma parcela considerável (ou barulhenta, ou violenta)o suficiente da população, as coisas podem mudar.

José K said...

O problema é que as revoluções violentas terminam em regimes piores ainda. A esperança é uma revolução como a Sametová Revoluce (Revolução de Veludo) checa e da maioria dos ex-satélites soviéticos -- o império desabou por distanciar-se da sociedade civil de forma muito gritante. Este é o problema da pseudodemocracia representativa. Dá uma ilusão de que o povo chegou lá e que não há mais caminho para o alto. É uma retórica diabólica usada pelo Estado para fazer com que os ditos cidadão curvem-se ao sistema e o acatem como algo dado e perfeito que não pode ser mudado, ou pior, a alternativa seria uma ditadura, já que a "democracia" falhou.