Wednesday, September 09, 2009
A natureza do capitalismo 10
Chegamos enfim à derradeira conclusão dessa série: o que as pessoas não gostam e classificam como "capitalismo" não é, de fato, capitalismo, mas um arranjo corporativista entre grandes empresas e o estado. Os industriais da FIESP não fazem, de maneira alguma, apologia do livre-mercado. Querem, ao contrário, ser beneficiados pelas "políticas industriais" do governo, recebendo subsídios e sendo protegidos da concorrência por tarifas e regulações. É essa caricatura do capitalismo que as pessoas têm em mente quando elas se mostram indignadas com "tudo isso que está aí". Odeiam os políticos e os empresários, mas não compreendem o arranjo feito entre eles pra manutenção do poder (políticos) e do mercado (empresários). Esse modelo não é resolvido com mais regulações, ou seja, mais poder aos políticos. Ele é resolvido com a separação entre a economia e o estado, da mesma maneira que o estado se separou da religião. Hoje mesmo eu li um artigo do Roberto da Matta que ia muito bem, identificando a paixonite aguda do brasileiro pelo estado e as suas conseqüências. A conclusão, porém, ia no sentido de que "não importa o tamanho do estado, importa a honestidade dos seus integrantes". Aí eu discordo do professor, porque se há margem pra locupletação, os agentes (não todos, mas certamente alguns) vão se locupletar. A corrupção é endêmica, não por causa de uma desonestidade inerente aos brasileiros, mas por causa dos incentivos dados pelo modelo. O livre-mercado não é perfeito, mas vou tentar explicar nos próximos textos por que ele é a melhor opção.
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9 comments:
Mesmo que os políticos fossem honestos, sabemos que as leis econômicas são inexoráveis. Um exemplo é claro: salário mínimo.
Se, por motivos puramente altruístas, se determinasse um salário mínimo em um patamar alto, a lei econômica explica que haveria desemprego em nível alto também.
Os que acham que a saída está somente na honestidade dos políticos, e em políticas públicas "bem planejadas" precisam levar esse ponto em consideração.
Cada intervenção do estado leva a outra intervenção pra curar os problemas não previstos causados pela primeira intervenção ad infinitum.
É o que acontece quando tentam revogar leis econômicas com leis e decretos.
Muito interessante os artigos sobre "a natureza do capitalismo", mas, a conclusão que podemos chegar é que, se for assim mesmo, o capitalismo não existe, ou... está havendo uma confusão entre os termos livre-mercado/liberalismo e capitalismo.
O liberalismo, pleno, nunca existiu... se o capitalismo for sinônimo, então, também nunca existiu... Mas... todos dizem que vivemos em um sistema capitalista... logo... ou estão todos loucos ou o capitalismo é outra coisa...
Como não me importam os nomes, mas os fatos, temos que analisar o sistema que se desenvolveu a partir do absolutismo. E o que temos é exatamente a simbiose nefasta do Estado com grandes empreendedores, como você mesmo descreveu...
Então, por que defender o capitalismo? Ou, pelo menos, a "marca" 'capitalismo'? No mínimo parece uma péssima jogada de "marketing", pois a idéia que se passa é que se está defendendo a ordem vigente -- esta, na qual o Estado é apenas um aparato não mão dos grandes produtores que, de vez em quando, joga uma esmola para os pobres, para aplacar os ânimos.
Este é o capitalismo real e negá-lo, só abre margem para quando os comunistas forem criticados terem a clássica resposta -- "não! mas aquilo -- a URSS -- não foi o verdadeiro comunismo!".
Ora... um princípio liberal é que as leis devem ser iguais para todos. Não dá para criticar o comunismo pela realidade e fazer apologia do capitalismo pela utopia.
Talvez o melhor seja o termo "livre mercado" ou "liberalismo" mesmo.
O "capitalismo" foi uma palavra inventada por Marx e já está desgastada pelo uso e pelas caricaturas.
Agora, mesmo esse capitalismo parcial, essa economia mista, é mais eficiente que qualquer país comunista já foi.
Isso tem que ser contextualizado também.
Isto não resta dúvida. O capitalismo real de liberalismo meia-bomba, não só é mais eficiente, como permite muito mais liberdade que qualquer socialismo real baseado em utopias comunistas. O capitalismo real mente que somos livres, mas, para fazer a mentira valer, algumas liberdades acabam passando. No socialismo real, é escancarado -- você é um escravo que deve servir a ideologia e, se se recusar, vai morrer.
Mas ambos os sistemas padecem do mesmo problema -- o Estado -- e o primeiro só é melhor que o segundo porque nele, o Estado é mais reduzido -- não é total. O grande dilema de uma filosofia política liberal será como eliminar o Estado sem que isto torne-se uma guerra de todos contra todos. Se isto é possível... não sei...
Rothbard tem bons insights a respeito disso.
Tive a mesma impressão lendo esse artigo do Roberto da Matta, mais o fato de que a estadofilia citada por ele era perfeitamente traduzida (sincronicidade é pouco) pelo texto acima, do Zuenir Ventura, uma apologia à covardia, à subserviência ao estado e à pintura das pessoas como vítimas do mercado que "só visa ao lucro" (será que ele escreve de graça prO Globo???), totalmente incapazes de decidir por elas mesmas o que consomem ou deixam de consumir e que deveriam ser protegidas da da propaganda pelo estado - esse messias que sabe o melhor para e não visa ao lucro porque não precisa, pois vive do dinheiro dos outros e não corre risco de prejuízo.
Quando li Zuenir criticar "essa permissividade toda", elogiando seu controle pelo estado, no parágrafo final, me dei por conta de que, se dependesse dele, 1968 não terminaria nunca mesmo. Seu texto é um chamado a um AI-5 politicamente corrreto.
Perfeito, João. Tinha lido o texto do Zuenir, me irritado e pensado em citá-lo aqui como exemplo dessa subserviência.
E ele é tratado quase como um santo por aí.
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