O sábio e o tolo

"Diz-se que 'os olhos do sábio estão em sua cabeça, enquanto o insensato caminha nas trevas', mas aprendi que o fim de ambos é o mesmo". Sim, ambos morrem. Mas, atenção, há pessoas que se preocupam com o seu legado e sabem que tentar ser bom com os outros é bom pra elas mesmas. Se o fim de ambos é o mesmo, o Eclesiastes conclui, mais uma vez, que "é tudo vaidade". Então do que adianta eu "labutar no sol" (os trabalhos naquela época era mais ao ar livre) e ser sensato se o que acumulei com "competência, sabedoria e diligência vai ser entregue a quem nada colaborou"? É pra isso que serve o testamento, ora. Esta, aliás, é uma discussão comum entre socialistas e liberais. Os socialistas consideram um absurdo os herdeiros "que nada colaboraram com a criação da riqueza" e reivindicam que esta vá para o estado, administrado por eles, naturalmente. Sabe como é, bem-comum, vontade geral, contrato social, essas coisas. Os liberais discordam e acham que se a pessoa quiser doar a sua herança pro seu cachorro, beleza. Se quiser, antes de morrer, torrar toda a grana com o que quer que seja, beleza também. O indivíduo é um fim em si mesmo, é o que sempre digo. O Eclesiastes encerra com o otimismo que lhe é peculiar: "Todos os seus dias são dores, e sua ocupação, sofrimentos. Nem de noite repousa o seu coração, e também isso é vaidade".