Friday, February 26, 2010

Discutindo, na boa, com um amigo 2

Régis, o homem espera o lucro desde que era uma ameba perdida no fundo do mar. A evolução é a luta pela sobrevivência e se uma espécie não "lucra", ela perece. A busca pelo lucro não surgiu com o capitalismo - quando um homem trocava o peixe que tinha pescado pelos grãos que o outro tinha plantado, ele imaginava estar tendo alguma espécie de lucro, caso contrário não faria aquela troca. Isso não lhe parece razoável e de acordo com a sua própria experiência? Sim, o homem espera lucrar desde sempre. Não só o homem, qualquer outro animal. O lance é que a gente tem a consciência e a capacidade de racionalizar a realidade pra evadir esse fato.

Por que o ódio ao lucro é irracional?

Porque em todas as suas ações - isso vale pra qualquer um - a pessoa espera ter algum tipo de lucro. O lucro não é uma exclusividade de magnatas gordos de cartola e charuto - pra usar uma caricatura comum. Quando você vai na academia malhar, você está tentando ter algum tipo de lucro. Quando você vai na Matriz beber e dançar, você está tentando ter algum tipo de lucro. Qual é o contrário do lucro? O prejuízo. A lógica da vida é a busca incessante por alguma forma de lucro, porque toda ação é voltada pra passar de um estado menos satisfatório pra um mais satisfatório. Ou não é? Se não fosse, por que você agiria?

Discutindo, na boa, com um amigo

Sidney, o kapitalismus, em si, não tem demanda alguma. Quem tem demandas são as pessoas: eu, você, o Régis, o Erik Estrada e o Robert Frippertronics. Vejo que você também comprou a tese do aquecimento global causado pelo homem e tenho muitos argumentos contrários a isso também, se você tiver interesse em ouvi-los. Sobre o fato dos conglomerados dominarem, vamos fazer as ligações causais corretas. Pra que os conglomerados dominem, eles contam com a ajuda do estado que escolhe - entre as corporações - aquelas mais amiga$, se é que você me entende. Quando o BNDES dá crédito subsidiado pra Sicrano, esta é uma decisão política. Quando o governo impõe tarifas de importação do produto X, protegendo Sicrano da concorrência externa, esta é uma decisão política. Esse conluio público-privado não tem nada a ver com o liberalismus.

Thursday, February 25, 2010

Dourado, BBB e o conservadorismo

Então vou juntar essas coisas e fazer uma tese. Ou não. Adoro quando fazem isso. Ou não. Soube que o Dourado é o favorito ao prêmio do BBB. Não acompanho diariamente o programa, sou indie roots, mas gosto e sei mais ou menos o que tá acontecendo. Por que não? Não é divertido acompanhar a dinâmica de pessoas enclausuradas voluntariamente? Seria deprimente acompanhar a dinâmica de pessoas enclausuradas involuntariamente, como numa prisão. Se bem que essa é uma boa idéia de programa de televisão que alguém nos EUA já deve ter realizado. Ou não. Fica a dica aos produtores nacionais. Ou não. Mas do que eu tava falando mesmo...? Ah sim, do Dourado. Ele entrou meio agressivo no programa, meio não, bastante. Passava uma energia de quem sairia na porrada a qualquer momento e ninguém quer ficar perto de gente assim. Aí deu uma amansada antes deu falar que ele foi plantado ali pelo Boninho pra movimentar o jogo. Escalaram os gays prevendo um conflito que desse audiência e como o clima na casa tava muito amigável e meio morno, chamaram o Dourado pra colocar mais... ah não, lenha na fogueira. O homem então deixou claro - me corrijam se eu estiver enganado - que não gostava de se meter com gays (rá!). Se bem que eu não sei exatamente o que ele disse que causou tanta comoção e não vou no google pesquisar a respeito, o meu ponto não depende disso. Quer dizer, depende sim, vou lá olhar. Pai do Dourado: "Meu filho resgata valores que estavam perdidos. Tem muito mais gente que quer que ele fique do que saia do programa. Dourado cresceu no meio de homossexuais, nunca o vi discriminar ninguém. Mas, na minha terra, homem nasce homem e mulher nasce mulher. Os gays também precisam de exemplos. Eles só falam sobre sexo" Os religiosos e os conservadores se identificam com esse discurso e é por isso que o Dourado tem a simpatia da maioria da sociedade brasileira que é religiosa e conservadora. Alguma dúvida disso? Lógico, homem nasce homem e mulher nasce mulher, mas me parece também que homem homossexual nasce homem homossexual e mulher homossexual nasce mulher homossexual. Ou não?

Same here, my friend

Daily Bell: Can you provide us with a brief history of how you became interested in free markets and decided to make them your life's work? Rockwell: As with most people, it began with the observation that something was profoundly wrong with the conventional wisdom, which even from grade school seemed to presume that wise masters at the top knew more than anyone else and so should be in charge of everyone and everything. That supposition seemed to lack empirical evidence, so far as I could tell. I discovered the literature of freedom hiding in the library and realized that truth was something I would forever have to dig for. It wouldn't be given to me by network news anchors, politicians, nor the leading lights in establishment academia. When I discovered what was true, I could not resist acting on it and telling others. It really isn't any more complicated than that. (http://mises.org/daily/4142)

O tipo de pensamento que me agrada 6

Greve geral contra o governo para a Grécia. Até 50 mil pessoas marcham contra medidas anticrise. Voos e serviços de ônibus são suspensos; escolas fecham. Manchete no O Globo de hoje. Curto muito essa interrupção do fluxo mental que acontece quando você pára para pensar se o "para" é mesmo no sentido de parar, obrigado reforma ortográfica. Sobre a Grécia, fica evidente que dar benefícios é mole, difícil é suspendê-los, mesmo que o preço dessas bondades com o dinheiro alheio seja a falência de um país. Veja as fotos das tais greves com suas bandeiras vermelhas de sindicatos de funcionários públicos e partidos de esquerda e testemunhe a vanguarda do atraso em ação. Nenhum problema em defender o próprio interesse, algum problema quando esse interesse é exercido às custas dos demais. O déficit grego está insustentável, mas os grevistas não querem largar o osso. O que eles propõem como alternativa ao corte de gastos? Não propõem nada, vão culpar o capitalismo e continuar com a sua revolta contra a realidade, essência mesma do welfare state, do socialismo, do estatismo, da justiça social ou do sinônimo da sua preferência.

Wednesday, February 24, 2010

O tipo de pensamento que me agrada 5

O governo Lula não teve uma palavra de solidariedade com os direitos humanos em Cuba, tem sido um verdadeiro cúmplice. Oswaldo Payá, dissidente cubano no O Globo de hoje. Sem ironia, não falou nada mais do que a verdade. Não há, podem procurar, um só pronunciamento de Lula e cia contra a masmorra cubana, onde as pessoas são presas por simplesmente criticarem o regime. A ilha-presídio povoa os sonhos dos socialistas brasileiros com as imposturas de sempre sobre a sua excelência na educação e saúde. É um negócio revoltante e esclarecedor saber quais são os aliados do governo pragmático do Brasil. Note que quando o ungido fala no assunto é pra condenar o embargo americano, não diz um ai a respeito do que acontece na ilha. Além do mais, por que criticam o embargo? O comércio com os estadunidenses não seria uma exploração imperialista? O que esses caras querem afinal? Querem jogar uma cortina de fumaça no assunto culpando o bode expiatório de sempre enquanto aprofundam - aos poucos - o controle da sociedade, avançando e recuando de acordo com as circunstâncias do momento (pragmatismo).

Tuesday, February 23, 2010

Naomi Klein e Thom Yorke


Tava lendo sobre o Radiohead e fiquei sabendo que o Thom Yorke gostou muito do livro "No Logo" da Naomi Klein, chegando inclusive a pensar em chamar o "Kid A" de "No Logo". Já conhecia por alto o que essa canadense bonitinha pensava, mas resolvi investigar um pouco mais. Não, não vou ler as suas 490 páginas, vou confiar no resumo da wikipedia porque o tempo é escasso. (http://en.wikipedia.org/wiki/No_Logo) O negócio se divide em 4 partes: No Space The book discusses how brand names such as Nike or Pepsi expanded beyond the mere products which bore their names, and how these names and logos began to appear everywhere. As this happened, the brands' obsession with the youth market drove them to further associate themselves with whatever the youth considered "cool". Veja só que pecado inominável: as marcas querem parecer cool e vender os seus produtos! É realmente um acinte, ainda bem que a Naomi Klein não tem nenhum interesse em parecer cool com essa retórica antiglobalizante. Klein argues that large multinational corporations consider the marketing of a brand name to be more important than the actual manufacture of products; this theme recurs in the book and Klein suggests that it helps explain the shift to production in Third World countries in such industries as clothing, footwear, and computer hardware. As empresas levam as suas fábricas pros países do Terceiro Mundo pra baixar os seus custos, claro, mas veja só que efeito colateral interessante (isso se você tem a real intenção de ajudar os mais pobres): os salários que a Nike paga aos seus operários na Malásia são maiores do que os que eles recebiam antes dos terríveis exploradores aparecerem. A Naomi Klein quer salvá-los disso, ela quer que eles ganhem o mesmo que um operário americano. É muito boazinha, mas não entende como funciona a economia, suas boas intenções parecem bastar. No Choice This section also discusses the way that corporations merge with one another in order to add to their ubiquity. On a more sinister note, it allows greater control over their image. ABC News, for instance, is allegedly under pressure not to air any stories that are overly critical of Disney, its parent company. Other chains, such as Wal-Mart often threaten to pull various products off of their shelves, forcing manufacturers and publishers to comply with their demands. This might mean driving down manufacturing costs, or changing the artwork/content of things like magazines or albums, so they might better fit with Wal-Mart's image of family friendliness. Qual é o problema da Wall Mart baixar os seus custos pra atender a um certo perfil de consumidor? Ela não quer que as pessoas mais pobres tenham acesso às coisas? E se a ABC não publica histórias críticas à Disney, a CBS, NBC, CBS, a FOX e outras continuam tendo a liberdade de publicar essas histórias. Essa votaria feliz no Chávez e na Dilma, certeza. No Jobs In this section, the book takes a darker tone, and looks at the way in which manufacturing jobs are being moved from local factories to foreign countries, and particularly to places known as export processing zones. Within these zones there are no labor laws, leading to dire working conditions. Sim, exatamente por causa das amadas labor laws da Naomi Klein que esses empregos foram pra onde foram, porque os custos não estavam mais compensando os investimentos. Novamente: os países que recebem essas fábricas ficam menos pobres com elas, isso a Naomi Klein não fala. Pra ela, a Nike tá explorando o povo malaio. Vocês progressistas não são bonzinhos? Fiquem então desempregados pro povo malaio prosperar. All of this is set against a backdrop of massive profits and wealth being produced within the corporate sector. Tem uma crítica que a Naomi podia fazer às corporações, mas não faz: a associação, ou melhor, o conluio entre elas e o estado. Só que aí a Naomi ia ter que ir na raiz dos problemas e ela prefere ficar surfando na superfície, falando mal do liberalismo e posando de defensora dos frascos e comprimidos. No Logo Klein concludes by contrasting consumerism and citizenship, appropriately opting for the latter. É meiga demais pra ignorar. Veja aqui a criação da dicotomia entre "consumismo" e "cidadania". Tipo, ou o cara compra um tênis da Nike ou é um cidadão consciente que, sei lá, anda descalço. Sandálias de couro 100% nacionais devem estar liberadas, eu imagino. Só que essas sandálias também custam dinheiro e fazem o lucro dos seus fabricantes. Que confusão... Por via das dúvidas, é melhor andar descalço se você quer ser um bom cidadão. O Thom Yorke não nota essas contradições, tá ocupado demais fazendo músicas maravilhosas. Então eu retribuo todos os grandes momentos que ele e o Radiohead me proporcionaram tentando abrir os seus olhos.

O tipo de pensamento que me agrada 4

Entre 2002 e 2008 foi o período de vacas gordas. Um panorama de juros baixos e facilidades bancárias estimulou o endividamento dos espanhóis (famílias e empresas) (...). Priscila Guilayn no O Globo de hoje. Na verdade, não há nada de errado nesse pensamento, mera descrição do que acontece atualmente na Espanha. O que me agrada sobremaneira é a falta de contextualização da ligação causal entre o tal panorama de juros artificialmente baixos criado pelo Banco Central Europeu e o endividamento estimulado por ele. Se os juros estão abaixo do nível de mercado, as pessoas se endividam imaginando que terão como pagar pelos empréstimos quando, na realidade, todo aquele crédito fácil não passa de uma miragem sem lastro. Isso não é culpa do mercado, é culpa de uma política deliberada da União Européia - uma idéia, por si só, maluca: como é que os europeus esperam ter uma moeda única se cada país tem a autonomia de gastar e se endividar por conta de seus projetos políticos (populistas)? Se tem uma coisa que vem garantindo ao dólar a sobrevida como moeda de reserva internacional é que os seus concorrentes estão em situação ainda pior.

Monday, February 22, 2010

Aos colegas liberais

A prioridade de um liberal que se preocupa com o exercício do poder é expor os seus argumentos da maneira mais clara e convincente possível. Não há como unir conservadores, liberais, libertários e anarcocapitalistas em torno de um programa mínimo contra a esquerda. Tipo uma versão liberal da "Carta ao Povo Brasileiro"... Quer dizer, essa até que seria uma boa idéia. A esquerda mesmo nunca funcionou de maneira uniforme, as gradações são enormes e foi assim, aos trancos e barrancos, com teses e contrateses, que o esquerdismo alcançou a hegemonia cultural. Lógico que o exercício do poder exige certas composições que o purista pode deplorar e o pragmático relevar, mas ambos permanecem importantes: um por ir na raiz dos problemas e o outro por não perder de vista as circunstâncias. Também não se pode esquecer que essa luta é uma maratona e não uma corrida de 100 metros. Um minarquista e um anarcocapitalista são aliados até o dia em que o estado se separe da economia e passe a cuidar apenas da justiça e segurança. A partir daí um vai atuar como força conservadora e o outro como força progressista, de verdade, respeitando o significado dessas palavras. Até lá, todos estão juntos contra o aumento da tutela estatal, seja na questão das drogas, dos impostos, da propriedade e do que for.

O tipo de pensamento que me agrada 3

Quando o ex-deputado republicano Tom Tancredo abriu o primeiro congresso do movimento Tea Party - um conjunto de grupos ULTRACONSERVADORES americanos que prega a redução do tamanho do Estado (...). Gilberto Scofield Jr. no O Globo de hoje. Não é uma graça? Note a clamorosa inversão: se o camarada está querendo rever a atual ordem do big government americano, ele é um "ULTRACONSERVADOR", deu pra entender? Claro que o movimento Tea Party também abriga alguns religiosos conservadores nos costumes, mas é basicamente um movimento libertário que prega a emancipação do indivíduo frente ao estado e não há nada de "reacionário" ou "conservador" nisso. Conservador é quem quer manter ou aprofundar o controle da sociedade pelo estado, progressistas do partido Democrata nos EUA e do PT no Brasil que provavelmente contam com a ULTRASIMPATIA do repórter.

O tipo de pensamento que me agrada 2

(...) governments, having learned the lessons of the Great Depression, were determined not to repeat the same mistakes once this crisis hit. By massively expanding state support for the economy - through central banks and national treasuries - they buffered the worst of the damage. (Wheter they made new mistakes in the process remains to been seen). Fareed Zakaria na Newsweek. Um belo resumo do que o mainstream progressista pensa sobre a economia. Ou seja, não ligam lé com cré. A Grande Depressão começou em 1929 e só foi terminar depois da Segunda Guerra Mundial, mas - mesmo assim - ele considera que o New Deal tem muitas lições a nos dar. Teria, se aquele receituário de controle estatal fosse prontamente rejeitado ao invés de ser celebrado. Pros Krugmans e Fareeds da vida, a solução pra uma crise causada por uma expansão artificial de crédito é uma expansão artificial de crédito ainda maior. Substituem o estouro de uma bolha grande com a criação de uma bolha gigantesca. Agora a questão não é se há uma bolha em gestação, a questão é só de quando ela vai estourar.

O tipo de pensamento que me agrada

Folia americanizada. O ovo da serpente está lançado. Não basta americanizar em muito o nosso vocabulário, agora também querem acabar com as nossas músicas carnavalescas. O samba e a marchinha são cariocas, e espero que a PREFEITURA NÃO DEIXE reggae, rock e outros invadirem o nosso carnaval. Carta de uma leitora na Revista de Domingo do "O Globo". Não é porque esse antiamericanismo nazionalista é disseminado entre nós desde a mais tenra infância que ele vai deixar de me incomodar. Junte a ele essa noção de que o governo deve ter o poder de "deixar" um tipo de música tocar ou não e temos aquele autoritarismo bem brasileiro que não se reconhece como tal. Ela está apenas querendo defender a "nossa cultura", como se a cultura fosse algo estanque e congelado no passado: "Pronto, aí está a verdadeira cultura brasileira, o samba e a marchinha. Se vire com isso até o final dos seus dias".

Friday, February 19, 2010

Vicecuse, Chomskuse, Marcuse e Foulcuse

Eu ia falar de uma frase que ouvi do fundador da Vice Magazine: "Não nos posicionamos politicamente porque não é a política que manda, é o dinheiro." Uma daquelas meias-verdades ditas com convicção que pega um ou outro hipster desavisado. O dinheiro aparece aí como uma grande instituição que causa - por si só - grande mal ao mundo. Não perca o seu tempo tentando entender como o dinheiro é criado, a sua função ou as ligações entre o dinheiro e o poder (governo), o dinheiro é o culpado e o poder (governo) é só uma das suas manifestações. Negativo, entro em default mental e vou cuidar então de fazer um jornalismo que se diz "não político" ao mesmo tempo em que coloca o Noam Chomsky no pedestal. Quer dizer, se o cara se declara um "anarquista-comunista", ele fica tão bem na foto que dá até pra falar que ele não é "político", o que parece constituir o crime dos crimes. Enquanto iconoclastas aleatórios se colocam "contra tudo isso que está aí" sem especificar o que querem, leio que Marcuse diz que a razão é "um instrumento repressor da civilização, e que está na base para regulamentar toda e qualquer tentativa humana de felicidade prazerosa." Sem a razão e o seu primo mal-ajambrado - a racionalização - o Marcuse não seria capaz de elaborar esse, digamos, raciocínio. Me lembro de alguma coisa sobre os loucos anos 60 e aquele desregramento sexual tão celebrado pelos Cuses da vida. Realmente, era novidade sair um pouco das masmorras castradoras da religião por um instante e curtir a carne sem dar satisfação a ninguém. Só que a louça empilhou tanto na pia que os canos entupiram e a torneira ficou inoperante. Não dá pra todo mundo comer todo mundo, imagine o inferno que seria? O sexo é uma coisa séria, uma força vital que deve estar mesmo submetida minimamente à razão, isso se você tiver algum apreço pela sua vida e pela vida de outras pessoas que você pode gerar ou machucar caso baseie as suas ações apenas nos instintos, como um macaco. É esse o ideal marcuseano, o bonobismo indiscriminado? A razão não é "um instrumento repressor da civilização", muito pelo contrário, se existe uma civilização é por causa justamente do desenvolvimento da razão, não tem nenhum dilema Tostines aí não.

Thursday, February 18, 2010

Analisando o programa do PT

Por trás de discursos políticos, há invariavelmente uma agenda secreta que é disfarçada com clichês e chavões que atuam como um véu escondendo o real significado das palavras. O 4o Congresso do PT, que começa hoje, lança as propostas do Campo Majoritário e segue na mesma toada do 3o Congresso, realizado anos atrás, que falava do tal "Socialismo Petista" (http://www.youtube.com/watch?v=nHTXtPwTT9U). Este vídeo oficial do partido, aliás, é a todo momento retirado do ar, porque o povo do PT é honesto e gosta de deixar as coisas claras. Ao programa: Intensificação dos assentamentos e apoio técnico aos trabalhadores sem terra. Aqui se vê a aliança com o MST que é temperada com a demonização do agronegócio. Os tais assentamentos contam com subsídios generosos do governo em todo o processo e mesmo assim não conseguem produzir nem pra própria subsistência. Já o agronegócio deixa os alimentos mais baratos e comanda o superávit na balança comercial brasileira, mas é aquela coisa, ele reproduz a "lógica do lucro" e isso é muito feio. Bonito é depredar propriedade alheia em nome da "causa". Construção de consenso para aprovar a jornada de trabalho de 40 horas. Ou seja, o povo sindicalizado vai trabalhar menos e o desemprego e a informalidade vão aumentar mais. Como diria o Roberto Campos, o PT não gosta de trabalhadores, gosta de funcionários públicos e, eu acrescentaria, sindicalizados. O resto pode ficar fugindo do rapa no camelódromo. Implementação da Consolidação das Leis Sociais. Não sei o motivo de tantas iniciais maiúsculas, deve ser pra dar um ar de respeito a algum tipo de populismo demagógico. É O Coronelismo Oficial Do Papai Lula Na Letra Da Lei Maiúscula. Continuidade à crescente nacionalização da exploração e da produção do pré-sal. "O petróleo é nosso!", eles gritam, segurando um retrato de Getúlio Vargas numa mão e uma bandeira vermelha na outra. Realmente, o petróleo é deles, o resto paga a conta. Medidas que promovam a democratização da comunicação social no país. "Democratização", na língua desses caras, significa "controle pelo governo". Odeiam a Globo, a VEJA e, na verdade, qualquer um que não se curve ao partido. Usam da propaganda oficial pra fortalecer os puxa-sacos e enfraquecer a pouca oposição que resta, mas isso não é o suficiente. O modelo de expropriações de Chávez faz muito sucesso, mirando sempre na Granma do vizinho. Abertura dos arquivos e implementação da Comissão da Verdade, para esclarecimento público dos casos de tortura, assassinatos e desaparecimentos políticos no Brasil. A Comissão da Verdade (olha as maiúsculas orwellianas de novo aí) vai mirar num dos lados do confronto (os militares) e esquecer o outro lado que dizia lutar pela democracia e liberdade mas que, na realidade (minúscula), lutava mesmo era pelo comunismo. O respeito pelo significado das palavras não é o forte dessa turma. Fortalecimento do Estado e sua democratização, mediante a constituição de um serviço público de alta qualidade. Isso, vamos aprofundar esse estatismo burocrático contratando mais centenas de milhares de aspones do partido. Fortalecimento da participação popular, com ênfase nas conferências nacionais para subsidiar políticas públicas. Funciona assim: o PT convoca os seus sindicatos, ONGs e demais movimentos socialistas pra discutirem como concentrar ainda mais poder no governo e justifica o arbítrio da hora dizendo que "o povo foi consultado". Fortalecimento das empresas estatais e do planejamento estratégico da economia, ampliando as atuais funções do Ministério da Planejamento. Ou seja, a arrogância fatal dos planejadores vem com tudo, em ritmo de Gosplan. Isso não vai dar certo, como nunca deu, mas não importa, quando as pessoas perceberem a merda em que o país se enfiou com o PT, o estrago já vai estar feito. Criação de uma indústria da Defesa, junto com países vizinhos. Aqui o Olavo de Carvalho pode dizer que tinha razão, não é mesmo, Foro de São Paulo? Essa aliança entre bolivarianos explícitos e implícitos deve contar com o auxílio de outros aliados "democráticos" do naipe de um Irã ou de uma Rússia. Diga-me com quem tu andas e eu nunca mais usarei a segunda pessoa do singular. Assembleia Constituinte, por meio de plebiscito, para promover reforma política democrática. Isto é, a Constituição conto de fadas de 1988 não está boa o suficiente pros delírios totalitários do PT, há ainda muitas restrições ao socialismo do século 21, precisamos seguir o exemplo do companheiro Chávez e aprofundar a nossa "democracia". Isso aí, gente, é Dilma presidente, chora cavaco.

Friday, February 12, 2010

O controlismo

Acusar o PT de querer o fascismo, socialismo ou comunismo desvia do importante. O cara pode dizer que o comunismo acabou, que o socialismo é o inverso do que é de verdade e que o fascismo da Itália da década de 1930 era diferente do Brasil de 2010. Não interessa o ismo, o que pega é a concentração de poder, a possibilidade que você dá ao governo de arbitrar sobre todos os aspectos da sua existência. O presidente podia ser o São Francisco de Assis, mas você sabe que o São Francisco de Assis é uma idealização, não é real. Veja que eu trato do Real aqui. Obra do FHC e daqueles economistas da PUC, o PT era contra. O PT está a todo momento tentando aprofundar um controle que já é imenso e, se não houver uma oposição, eles vão conseguir. Parece bombástico demais? Mas é que a coisa vai aos poucos mesmo, o controlismo é sorrateiro. O cara que tá paz com o que tá acontecendo agora não vai gostar depois, a não ser que faça parte da máfia. Sério, o governo em si já é uma máfia, comandado pelo PT vira uma máfia russa, que se assemelha à máfia italiana mas não tem aquele senso de humor sabor pizza.

Thursday, February 11, 2010

Ziraldo e Cony

O cara quer promover a banda dos seus amigos, mas tem que trabalhar com a banda que a empregada dos seus amigos gosta. Ou melhor: o cara quer promover a bunda dos seus amigos, mas tem que trabalhar com a bunda que a empregada dos seus amigos gosta. Não tem demérito nisso, viva o consumo das massas, é aquela coisa: gostam do pobre, mas não gostam do que o pobre gosta. Então ficam querendo "educar" o pobre, mostrar pro pobre o que é "bom". Vou continuar usando aspas, elas simplesmente aparecem. O Domingos de Oliveira diz que os pobres não sabem o que querem, então tem que ser criado um Ministério da Arte pra financiar os filmes de arte do Domingos de Oliveira e dos seus amigos artistas. O Ziraldo agora quer que a sua aposentadoria como "perseguido pela ditadura" seja a mesma do Cony, uns 20 mil até a morte pro Ziraldo fazer propaganda comunista no Pasquim e o Cony fazer propaganda juscelinista na Manchete. Quero ver quem recusaria pecúnia de tal monta, gostou? São heróis da causa e agora que a causa chegou ao poder, querem a recompensa. "Mas eles lutaram por você!" Eu não dei procuração nenhuma pra esses caras, o Ziraldo pode ser um baita desenhista e o Cony um excelente escritor, uma coisa não tem nada a ver com a outra. Picasso era stalinista e um pintor brilhante, e daí? Tá feito o desabafo, beijo no coração de todos os envolvidos.

Jesus Pinto da Luz

Uma vez que a fome não é mais problema (isso, fala dos países africanos e do Haiti, o terremoto foi resultado da "acumulação de capital", sei), as necessidades se tornam outras. Comer e respirar não é mais suficiente, o que os vizinhos vão pensar? Que eu sou um loser flácido? Um loser sarado é muito melhor, fala sério. Pergunta se o vassalo tava preocupado com a sua barriga de tanquinho... Hora da reflexão e da flexão, eu seria um louco de dispensar o açaí por medo que ele se alojasse na minha pochete, ela vai ficar sequinha sem dar margem a maiores comentários peçonhentos. Então eu fico no shape, no shape de alguém que quer impressionar o outro, ou a outra, se você gostar da fruta amiga da flora intestinal. Fuck you, man, não faço isso pros outros. Veja que o corpo é o seu maior ativo, claro, que dicotomia fajuta essa do corpo X alma, não? Querem nos incutir culpa, o corpo peca, seu sapeca. A musa da beleza interior não consegue competir com a exterior, somos uns colonizados pela matéria, você nunca leu a teoria da dependência corporal? É tipo assim uma declaração revolucionária que diz mais ou menos o seguinte: malho duas horas por dia por causa da minha saúde, não me importo com a estética. Saca Madonna e Jesus Pinto da Luz? Então, a carestia tá tão grande que a indústria dos moderadores de apetite não dá conta da demanda e, como se sabe, as anfetaminas e o bom funcionamento da sociedade (sexo) estão intimamente ligados. Sem falar na dose extra de testosterona que faz duas coisas curiosas: aumenta o tesão do cidadão ao mesmo tempo em que aumenta as suas mamas. A culpa de toda essa confusão é do capitalismo estadunidense, o feudalismo é que era bacana, cada um já sabia que papel representar no teatro da vida, não havia essa busca da felicidade BBB a todo custo, esse individualismo feroz dos escravos dos próprios desejos, legal era ser escravo da... Ah, deixa pra lá, tenho um encontro com o trono matinal, ele entende o que eu quero dizer.

Wednesday, February 10, 2010

O normal agora é light

Ou zero, ou diet ou slim ou sei lá o quê. Não lhe parece uma observação pertinente? Você vai num restaurante e as mesas tão cheias de refrigerantes light. Não são só as mulheres não, os homens também, todo mundo pede Coca Zero. Não gosto desses adoçantes, curto açúcar, sou viciado em açúcar. O dia em que eu não puder mais comer açúcar vai ser um dia muito triste, vou perder uma parte de mim, sabe? Fui pesquisar a história do açúcar e olha o que eu encontrei: "Somente com a descoberta da América foi que açúcar tornou-se acessível a todas as camadas da sociedade, pois houve um aumento na produtividade do produto." (http://www.brasilescola.com/curiosidades/historias-acucar.htm). Malditos estadunidenses! Então é o que você vê por aí, pessoas se esbaldando no pó branco, droga que veio destruir a resistência dos oprimidos pelo império. A coisa ficou tão acessível que hoje em dia é difícil entrar num coletivo, sentar e não encostar em algum consumidor heavy de açúcar. Se você tá no corredor até dá pra escapar, mas o que fazer imprensado na janela? Engordam e ninguém quer engordar, as pessoas sabem como funciona a sociedade (sexo). Se bem que bem antigamente, antes do capitalismo odioso dos americanos, a obesidade podia ser até um sinal de status, a comida era escassa, né? Essa predominância dos produtos diet é um efeito colateral da prosperidade. De uma relativa prosperidade, lógico, tem que colocar tudo em perspectiva. O Brasil parece próspero perto do Haiti e parece pobre perto do... sei lá o país da sua preferência. Brasil, né? Eu gosto do Brasil.

"Viva a liberdade, o governo tá certis!" 2

Por que o vídeo do Mussum fez tanto sucesso quando o espalhei por aí? Porque fala a verdade e o humor "é engraçado porque é verdade", disse o Larry David. Nem que seja uma caricatura, há um fundo de verdade ali. Ou seja, o Mussa aprova quando o governo ferra os outros e desaprova quando ele é que é ferrado. O Bastiat tava mesmo certo quando falou que o estado era a grande ficção em que todos procuravam viver às custas de todos os outros. Não importa a reivindicação, importa o seu poder de pressão. Se a Associação de Cachaceiros e Produtores tivesse credibilidade e fundo$ pra colaborar com campanhas políticas, não seria cobrado 83% de imposto no mé, o governo cobraria, sei lá, 45% e diria estar "estimulando" a indústria nacional méezeira. São muito benevolentes, cobram só 45%. Então se você dá ao governo o poder de decidir quem vai ser beneficiado ou achacado, ele vai escolher os vencedores e perdedores de acordo com os seus interesses políticos. A verdade não tem nada a ver com isso, Dedézis. Agora o Lula tenta desqualificar o discurso liberal dizendo que o debate sobre o papel do estado é "coisa da década de 50 e 60" ao mesmo tempo em que defende o modelo fascista da década de 30. Realmente, o PT não precisa seguir o modelo bolchevique e sair estatizando os meios de produção, eles não são burros, sabem que isso nunca funcionou. Então passam a usar os instrumentos fiscais e as verbas federais pra que o estado "induza" (controle) a atividade econômica. Não há muita oposição a essa visão porque a maioria tem a impressão de estar ganhando, quem disse que o fascismo da década de 30 não teve também os seus dias de glória e aprovação popular? Mas uma hora a casa cai e se não houver pessoas conscientes das relações de causa e efeito que fizeram a casa cair, esses equívocos vão se repetir over and over againzis.

Tuesday, February 09, 2010

"Viva a liberdade, o governo tá certis!"

Engraçado que o governo seja retratado pelos Trapalhões como o responsável pelo aumento dos preços. É verdade, as coisas seriam mais baratas não fosse a intromissão do governo. Só o mé do Mussum - bebida não imperialista tipicamente brasileira - paga 83% de imposto, fora o baile do custo Brasil. Outra parada curiosa é o Dedé dizendo que o Mussum, ao repetir que "o governo tá certis", está sendo "do contra". Outros tempos. O modo como a moça de azul faz a sua aparição também merece menção, it's a kind of magic.

Margem pra corrupção

Não é isso o que o intervencionismo dá? É, margem pra corrupção. Coloca um fiscal lá pra ver se tá tudo de acordo com as milhares de regrinhas pra rédea ficar bem curta com o poder de aplicar uma multa bem alta... REFLITÃO. Será que agências privadas não fariam com vantagem o papel de uma ANVISA, por exemplo? Tipo, "este restaurante tem o selo de qualidade X", por que não? Qual o interesse do dono do restaurante em servir comida estragada? Think, Costanza, think! Então é isso: dão margem e a corrupção acontece. Dão muita margem e muita corrupção acontece. O ser humano não é anjo ou demônio, não se trata dessas coisas que não existem. Tava conversando com um primo sobre o lance da carteirinha de estudante: a mera existência da lei de meia-entrada já estimula a corrupção. Não estou falando nem do privilégios de uns às custas de outros e nem da cooptação dos movimentos estudantis pelo governo, isso já tava no roteiro. Como recusar verbas e o monopólio da emissão da carteirinha que garante ao jovem a certeza de que as leis não valem nada? Não só não valem como são arbitrárias e sem sentido? Chega a ser antinatural respeitar regras que você não respeita. Como assim eu não posso abrir um bar pra fumantes? Que maluquice é essa? O cara tem um orçamento na mão de 100 milhões de dinheiro dos outros e o poder de escolher a empreiteira que vai fazer... Peraí, você acha mesmo que essas licitações acontecem observando todos os princípios que regem a administração pública? Sim, você leu as apostilas de Direito Administrativo. Já reparou que os casos de corrupção sempre envolvem algum agente do governo? Claro, eles controlam o processo e você acha bonito isso?

Monday, February 08, 2010

A patrilha do vuado

O Olavo de Carvalho escreveu agora que o liberalismo não oferece uma defesa contra o gayzismo, ao contrário do que ele chamou de conservadorismo. Ser gay, em si, não é mesmo um problema pro liberalismo. Essa reação dos conservadores contra os gays me parece similar à revolta dos socialistas contra a escassez, ambas revoltas contra a realidade. Se os conservadores não querem o estado patrocinando causas gays, os liberais vão concordar, porque os liberais não querem o estado patrocinando causa nenhuma que não seja a defesa isonômica dos direitos individuais. Por que a igreja e os conservadores ficam repetindo que o homossexualismo é contra os desígnios de Deus se foi o próprio Deus quem criou a porra toda? O Deus dos conservadores reprime o sexo e o Deus dos socialistas reprime o capital. Quer dizer, junte esses dois deuses e você terá a lot of fun isolado num monastério caindo aos pedaços sem luz ou comida. Gostou da imagem? É o Monastério da Tentação na Grécia, imagina só. Não tem nem que patrocinar e nem perseguir os gays, todos têm que ser iguais perante a lei. É disso que trata o liberalismo. ((http://www.olavodecarvalho.org/semana/100208dc.html)

Growroom bombando

Conheço e apóio a iniciativa, desobediência civil com leis autoritárias que não façam sentido rules. É um início, já é alguma coisa - uma capa da Revista de Domingo do O Globo é o jornal que eu assino aonde? Vamos plantar em casa também, mas não vamos tirar o corpo fora da luta pela comercialização, por que não? Qual o problema de vender algo que o outro quer comprar? O lucro é feio mesmo, né? Por que o consumo pode e a venda não? Não faz sentido, meu camarada. Eu sei que os conservadores querem ser os pais e os progressistas as mães, mas eu me comporto ou recebo as consequências dos meus atos com agravante ao invés de atenuante. "Foi pego roubando as jóias da mãe e os dólares do pai pra manter o vício." Jaula pra quem atenta contra a propriedade alheia, liberdade pra quem se engaja em trocas voluntárias. Colé, querem deixar uma reserva de mercado com "a comunidade" pra que eles não se rebelem e saiam sequestrando por aí? "Já sequestram as mentes dos nossos filhos". Ou os seus filhos se deixam sequestrar, assunto privado de vocês, boa sorte, no irony. Ou a "guerra contra as drogas" foi bem sucedida e o livre-arbítrio não existe? Really? A lei proibir certas substâncias da natureza impediu que a natureza humana seguisse o seu curse? A maldição ou a bênção, a morte realmente equaliza a vida. Então colocam a coisa como um caso de saúde pública. Não, isso sim é uma maldição, transformar a saúde americana no SUS brasileiro, quando um político diz que quer o estado "induzindo" o desenvolvimento, ele quer dizer "controlando" o desenvolvimento. Qual é a diferença disso pro discurso fascista da década de 1930? A Lei Seca, bem lembrado. Tão querendo que as pessoas sigam a moral X sob a mira de uma lei, mas a moral desaparece quando uma arma aparece. Control freaks de uma figa, o figo tá baratinho ali na Cobal e ainda não foi proibido como o palmito. "Não, mesmo que o palmito esteja na sua propriedade, você não pode colhê-lo, ordens do IBAMA". Viu, é necessária uma luz artificial que faça o Sol pro bicho brotar, com um papel alumínio em volta pra dar o tchan. Segura o tchan, porque esta é uma crônica libertária, cronicamente out of date e cheia de crença no homem, se eu não acreditar no homem, como vou acreditar em mim mesmo? Eu não estou teclando sobre a legalização, tudo isto é uma ilusão. Melhor apostar as minhas fichas no post mortem, o vazio que satisfaz.

Friday, February 05, 2010

Não vi e não gostei: Avatar

Grandes efeitos especiais, cores mesmerizantes que fazem valer o enredo politicamente correto que coloca o homem capitalista como o vilão da porra toda. Não, os seres azuis vivem em harmonia em suas tribos subordinadas à mãe Gaia, essa natureza benevolente que só existe na cabeça dos ambientalistas de miolo mole. Umas horas numa mata selvagem e esse culto à floresta e os seus seres elementais vai pra cucuia, um ecossistema cheio de intrincadas cadeias alimentares. Os azulões estão lá em paz sem maltratar a mãe natureza enquanto seguem as ordens do pajé, o Papai Smurf que manda e desmanda porque tem a sabedoria dada pelo direito divino dos verdes. Já o homem que usa a natureza em seu benefício é o malvado que tenta acabar com esse equilíbrio onírico, como ousam cortar uma árvore, meu deus do céu!? Pra quê criar calçadas e ruas se poderíamos, com vantagem, nos locomover entre os cipós e as jacas? Ficaríamos muito mais fitness, pense nisso. O homem que corre atrás do lucro é mau, bom é o que corre atrás do prejuízo. Afinal de contas, não fazemos parte da natureza, essa é que é a realidade. Somos intrusos nesta linda bola azul que serpenteia em loop no sistema solar. Umas pestes que tiveram o infortúnio de desenvolver a razão quando era muito mais romântico se basear em instintos, como um jacaré, uma mula sem cabeça ou uma Smurfette ninfomaníaca. Enquanto isso, os smurfs do James Cameron nos ensinam o caminho pra reverter essa maldição: retornem à floresta, corram atrás do prejuízo e abram mão do conforto, uma necessidade criada pela propaganda burguesa que só nos afasta da nossa essência perdida há milênios, quando saímos da copa das árvores direto pruma mansão em Beverly Hills.

Thursday, February 04, 2010

Café Capital

Não sou de beber café, mas a minha irmã me presenteou com um Café Capital de meio quilo numa daquelas embalagens antigas de papelão, com o grão moído na hora que perfuma o ambiente com aquele cheiro de trabalho, com o odor da responsabilidade que difere em muito de um aroma Sideritos. Não é sacanagem não, a minha urina fica com um cheiro diferente depois que eu bebo café e vem acompanhada de uma leve dor de barriga, que deve ser a tradução estomacal do sucesso. Por tudo isso, tento evitar. De qualquer maneira, o cheiro é bom, lembra também do café da vovó e o dedo de prosa como se eu fosse um mineiro do interior ao invés de ir logo ao ponto. O que me chamou a atenção sobremaneira foi o slogan do Café Capital: HÁ MAIS DE MEIO SÉCULO FAMOSO. Veja só quem anunciava com cheiro e circunstância o fenômeno das celebridades... As reticências são uma pausa para a reflexão. Eu sei que você sabe que ser famoso não é necessariamente uma coisa boa. "Não existem coisas boas ou ruins, apenas interpretações." Yeah, right. Hitler é famoso há mais de meio século, e aí? Marx é famoso há mais de de meio século, quem já ouviu falar de Mises no Brasil? Sacou, Café Capital - O Capital, ensacou? A malária também é famosa há mais de meio século. E o que dizer da tifo? Tifo é demodé, fala sério. Bons tempos da antiga Guanabara...

O radicalismo

Caramba, questionar o governo agora é "radicalismo"? Claro, as coisas não mudam de uma hora pra outra, como é que você acha que os guerrilheiros dos anos 60 e 70 (ser guerrilheiro é "radical"?) chegaram hoje ao poder? Questionando o status quo e acenando com uma metralhadora na mãe e o Manuel do Marighella na outra: "Ó, entre pra minha galera que a gente carrega a verdade da justiça social representando os pobres e oprimidos". Eram radicais e, com o tempo, foram se adequando à realidade da disputa pelo poder. Melhor, foram adequando a realidade à sua utopia através da guerra cultural, no que foram muito bem sucedidos. Quais artistas ou intelectuais não se declaram hoje "de esquerda"? A cúpula se tornou pragmática, mas os radicais continuam ali escondidos atrás da porta, esperando só o aceno da cúpula pra tomarem conta. Sou ingênuo? Ok, man. Se você quer mudar alguma coisa, como mudar com apelos por moderação que não o distinguem de maneira clara do discurso dominante? Não vou adotar a lógica dominguiniana (a lógica, aparentemente, não se aplica aos artistas) e ser realista pedindo o impossível, mas o espectro ideológico tem que dar uma espairecida, uma liberalizada, uma endireitada, sei que vocês concordam com isso. Não, eu não acho que se apresentar como um "anarcocapitalista" ajude nesse processo, esse termo assusta o cidadão comum mais do que a mula-sem-cabeça. Quer dizer, o cidadão comum não acredita mais em mula-sem-cabeça, mas continua acreditando que as intervenções do estado o favorecem. A ele, cidadão, não ao próprio governo. De qualquer maneira, companheiros, é bom que o debate aconteça, é bom que se fale em libertarianismo, é bom até que o Ancelmo Gois mencione um Sardenberg de maneira elogiosa. Neoliberal não, liberal. Qual o medo em se declarar liberal? Pegue um libertário hard (Dom Quixote) e junte-o a um liberal soft (Sancho Pança) e terás (nunca escreverás novamente neste modo bíblico) o melhor dos mundos, a síntese entre a utopia e a realidade. O PT quer empurrar a gente pra um lado, a oposição tem que empurrar pro outro, mas o PSDB quer fazer isso sem arrastar o móvel no chão, porque é moderadamente socialista. Uma marquinha no chão não faz mal, dá um toque de organicidade ao ambiente. Se o caminho do meio fosse a virtude máxima, o campeão de um torneio com 20 times seria o décimo colocado. Sem um norte, sem um ideal, sem um princípio, a oposição vai ficar saracoteando como uma barata tonta, subjugada pelo DDT de um adversário que sabe esterilizar um discurso que faz de tudo pra soar igual ao da situação, só que menos "radical".

Wednesday, February 03, 2010

Pós-brancos

Rolam por aí alguns movimentos radicais contra o açúcar, dizendo que ele tem o mesmo poder de acabar com o fígado que o etanol, que ele é o responsável pelo atual surto de obesidade e, resumindo a paróquia, é um veneno. Não tenho ressalvas a fazer, concordo inteiramente na condição de consumidor de caipirinhas bem doces. Veneno duplo. Morte lenta. Frase curta. Mas é bom que dói. No fígado. Nas mucosas. Você entendeu. Como colocam açúcar até no sal - fica mais gostoso - é difícil escapar. Ou você vai nos adoçantes que sempre me pareceram muito artificiais ou parecer pra mim não faz do adoçante uma parada artificial. Uma energia rápida, um carvão sequinho e docinho alimentando a caldeira da metabolização. Pois é, saiu assim de primeira - caldeira da metabolização. O uso desse travessão teve um trabalho "intelectual" maior do que o da "caldeira da metabolização". O uso das aspas também, revela alguém com senso autocrítico apurado. Tipo, e os hífens? Há escassez de hífens e abundância de açúcar. Mas é tão bom... "O hífen?" Claro, dá pra comer e beber o hífen... Nem o hífen e nem as reticências. Ninguém reparou que não existem palavras na língua portuguesa que terminam em "n"? Não estou falando de nomes próprios, né, Suéllen? Por que com o hífen é diferente? Não sei, os Sideritos devem ter alguma coisa a ver com isso e com a conspiração do açúcar também. Mas é tão bom, sabe? Eu sei que os moderados acham esses alertas ridículos, mas será que não é possível que um dia proíbam o consumo de açúcar como proibiram o consumo de maconha e Sideritos? "O consumo de açúcar está sobrecarregando o sistema público de saúde." Ah, seu fiscal, eu só quero botar um pouquinho na caipirinha, vai... Um sachêzinho daqueles que vocês obrigaram os bares e restaurantes a usar com mensagens de otimismo, sabe? Como um biscoito da sorte ocidental, uma diabetes ou a sua edificação de volta. Seria 10, bicho peralta. Por que só o açúcar? Cadê a farinha? Aquela do pão mesmo, não se assuste, a outra continua dando jaula. Eu gosto é do gasto e se eu gosto do gasto eu tenho que citar de quem é a frase. Outro branquinho que satisfaz também é deletério pra saúde: o sal. Óbvio que eu não estou questionando o uso da palavra "deletério" ou esses fatos, eu mesmo quando consumo essas coisas percebo os efeitos no meu corpo. Depois de algumas décadas de vida você começa a entender as relações de causa e efeito entre o que você consome e o funcionamento do seu organismo. Aliás, curto a palavra "sachêzinho". Massa. Tem farinha. Show. Tem farinha também. Você tá compreendendo? Então se não vamos proibir, vamos ao menos controlar a ingestão de açúcar, farinha e sal, você sabe que incha e não está sugerindo que seja criada uma agência do governo pra cuidar dessa situação, está? Ó, longe de mim demandar tal burocracia, caro leitor, quem escreve "caro leitor" merece levar porrada? Não, digo figurativamente e fulgurativamente que não e que "fulgurativamente" nem é uma palavra, fala sério.

Sideritos

Quer dizer, você não precisa pagar a multa por não ter votado logo no dia seguinte da eleição. Deixa passar um tempo, tranquilo. A não ser que você tenha que tirar um documento... Quer dizer, tem gente pra caramba que vive sem cumprir com denodo os seus deveres de cidadão. E os direitos? Dideritos e deveref foram a minha tentativa de escrever direitos e deveres sem olhar pro teclado. Gostei especialmente de Dideritos. Fui no google images e só tinha Sideritos, que gostei também. Nome de banda space.

As visões sobre a sucessão do governo Lula

O povo mais radical à esquerda considera a administração Lula "neoliberal", porque não é possível que o presidente dos trabalhadores suba ao poder e não saia expropriando propriedades a 3 por 4 como se o Brasil fosse a Rússia de 1917. Votam no PCO, no PSTU ou no PSOL, o partido do socialismo ou liberdade. O povo da esquerda moderada gosta do Lula e da sua preferência pelo social (socialismo), compreendendo que a utopia igualitária não se materializa de uma hora pra outra. É necessário todo um trabalho de desarmamento das resistências pra que o Partido (era o PCB, agora é o PT) domine de vez todas as instâncias de poder da sociedade. Eles invariavelmente já estão inseridos na administração pública, de onde atuam pra manutenção e aprofundamento do status quo petista. Consideram o programa de direitos humanos do PT bem razoável e votam na Dilma numa boa. O povo de centro não tem nada contra o estado determinando isso ou aquilo, mas de alguma maneira suspeita dessa ânsia louca de poder do PT, preferindo o estatismo mais brando representado pelo PSDB. Os moderados estão certos de que qualquer radicalismo é deletério, a não ser que esse radicalismo seja eleito pela maioria. O tipo de pessoa que só agora, depois de 10 anos, começa a chegar à conclusão de que o Chávez é nefasto pra Venezuela. O povo da direita moderada não tem um candidato à presidência e normalmente tem vergonha de dizer que defende o capitalismo liberal num país que, segundo o ungido, "graças a Deus só tem candidatos de esquerda". Vota no Serra tapando o nariz por ser a opção "menos pior". E o povo mais radical à direita não enxerga diferença entre o totalitarismo petista e o autoritarismo tucano e anuncia aos 4 ventos que vai votar nulo ou não vai votar at all. "É só pagar 3 reais nos Correios". E enfrentar uma fila gigantesca, bem maior do que a da zona eleitoral. Tuff choice, man.

Tuesday, February 02, 2010

O sucesso, o amor e os outros

Se você quer ganhar dinheiro, você precisa agradar os outros. A Cláudia Leitte não é admirada à força, as pessoas querem mesmo ouvir uma música agitada com coreografia cantada por uma loirinha gostosa, por que não? "Gostosa, pffui..." Tudo bem, ela não é o seu modelo estético, você aprecia mais uma beleza indie, tipo uma Zooey Deschanel, por exemplo. Há espaço pras duas, mas a Cláudia Leitte vai ganhar mais dinheiro, porque é a favorita do povão e a Zooey é, digamos, cult. Reside aí, aliás, uma das implicâncias da intelligentsia com o capitalismo: a massificação que leva bens de consumo às camadas mais pobres da população. Dizem que eu sou elitista, há um fundo de verdade nisso, mas o que pode ser mais elitista que uma comissão escolhendo - em nome do povo - qual filme o povo deve assistir? Que tal o próprio povo escolher em nome do povo? E daí se o povo prefere ver o filme da Xuxa ao milionésimo filme nacional denunciando a pobreza? Denunciar a pobreza é mole, quero ver proporem soluções pra solucionar a pobreza. Há realmente um ruído entre aquele artista que diz fazer as coisas apenas pra si mesmo e o desejo dos outros. As minhas experimentações musicais podem me dar grande prazer, mas poucas pessoas estão dispostas a gastar tempo e dinheiro com aquilo. Se não há gente o suficiente consumindo, a coisa fica inviável comercialmente. Sei disso, não me excluo do que digo aqui. Deve ser um dos motivos que fazem algumas pessoas falarem tanto em "educação", querem educar os outros a gostarem daquilo que elas acham correto e de bom gosto. Não ficam falando o tempo todo nos pobres? Dêem então poder de escolha aos pobres, deixem os pobres curtirem o funk, a Xuxa e a Cláudia Leitte em paz. Óbvio, sucesso não é só dinheiro, mas - mesmo o deixando de lado - agradar o outro também é importante pra se alcançar uma vida minimamente satisfatória. Quer dizer, se você quiser viver como uma eremita na floresta, talvez agradar os outros não seja uma condição tão importante assim, mas se você quer que mesmo a sua família goste de você, alguma coisa você tem que dar em troca. Amar é valorizar e até uma mãe zelosa pode deixar de valorizar um filho depois da centésima pisada de bola seguida dele. E vice-versa. Amor destituído de valor não é amor, é neurose. O valor é subjetivo, eu sei, mas se você quer que os outros te respeitem, você também precisa saber respeitar. É uma mão dupla, o dar e receber materializado nas trocas voluntárias que não se resumem ao dinheiro. Se as trocas entre um casal estão desiguais, se uma pessoa sente que está dando muito mais do que está recebendo, vai haver cobrança e stress. Um chantagista emocional vai dizer que isso é "egoísmo" da parte de quem cobra, que o "amor" basta por si só. Mas o amor acaba, porque se a pessoa já valorizou alguém, ela - por uma questão de sobrevivência - valoriza ainda mais a si própria. Já me afastei do ponto inicial do texto, mas tudo bem. Os românticos dizem que o "amor" resolve todos os problemas, por isso são românticos. Amar independentemente do valor e das virtudes do outro é passar um cheque em branco, é colocar no mesmo saco o justo e o injusto, o racional e o irracional, o pacífico e o violento, o honesto e o mentiroso. Quem ganha com essa banalização do amor?

Monday, February 01, 2010

Qual é a sua proposta?

Nas minhas andanças e conversas por aí, noto que as pessoas identificam a mesma fonte dos problemas brasileiros, a aliança entre o governo e os empresários eleitos pelos eleitos, as famigeradas parcerias público-privadas. "Ah, é uma gangue que controla tudo..." Se identificam corretamente o arranjo de poder, falham miseravelmente na hora de propor soluções e alternativas a esse esquema. "Ah, não tem jeito..." O argumento da impotência normalmente predomina, porque - se as pessoas não gostam desse conluio - parecem gostar menos ainda da alternativa: o livre-mercado. A lavagem cerebral nacional-socialista-estatista foi extremamente bem sucedida no Brasil, temos que admitir. O camarada nem precisa saber quem foi Gramsci, Marx ou Marcuse, essa influência se dá de uma maneira subliminar tão eficiente que faz uma ideologia totalitária se passar por "bom senso" na maior cara de pau. Ora, se o estado tem o controle sobre a atividade econômica, se o estado tem o poder de decidir quem vai receber subsídios, se o estado é o maior anunciante, se o estado é o maior banqueiro, é óbvio que os empresários vão ter muitos incentivos pra participar desse esquema. Então investem milhões nas campanhas eleitorais pra cargos que pagam apenas alguns milhares de reais por mês. A conta não fecha? Não tem importância, eles terão retorno com os subsídios, obras superfaturadas e demais corrupções feitas em parceria com aquele representante do povo que aceitou de bom grado as suas contribuições. Isso perpassa toda a administração pública e, de tão comum, parece ter virado parte da paisagem. Mas a coisa não tem necessariamente que ser assim, ela é assim porque se incutiu na cabeça das pessoas que a economia precisa da mão pesada do estado pra que ele evite monopólios e a "exploração do homem pelo homem". Mas veja que o estado é o maior monopolista de serviços e também aquele que mais explora as pessoas. O camarada tem que trabalhar 5 meses por ano só pra pagar impostos e a inversão diz que é o empregador quem explora o empregado. Sim, há uma luta de classes no Brasil: entre os pagadores e os consumidores de impostos. Se o estado tem o poder de decidir quais vão ser os vencedores e os perdedores, isso vai continuar acontecendo. Qual a solução que eu vejo alguns amigos dando a essa situação? Uma vaga sugestão de "educação". Qual educação? Não se diz. Dada por quem? Não se diz. Sem perceber ou querer, as pessoas sancionam as atuais políticas, votando em eleições onde a esquerda moderada fica disputando com a esquerda radical pra ver quem faz mais demagogia e populismo com o dinheiro alheio. Isso não é enfiado goela abaixo das pessoas, é apenas um reflexo do que passa pela cabeça do eleitorado. Se as mentes mais esclarecidas não percebem esse beco sem saída, imagina o povão...? O estado deve se separar da economia assim como se separou da religião, eis a minha proposta.