"Apoiar qualquer princípio definido de ordem social é, hoje em dia, um modo quase certo de incorrer no estigma de ser um teórico pouco prático. Chegamos ao ponto de ser considerado manifestação de critério e ponderação o fato de alguém não aderir a princípios sólidos em matérias sociais, mas ir resolvendo cada problema conforme se apresentam as várias circunstâncias. Os princípios acabam se impondo ainda quando não reconhecidos explicitamente. O único resultado de nossa falta de preocupação pelos princípios é, ao que parece, sermos governados por meio de uma lógica de acontecimentos que em vão procuramos ignorar" (da conferência O individualismo: verdadeiro e falso).
Saturday, May 30, 2009
Friday, May 29, 2009
Os novos leprosos
Fomos ontem novamente na Drinkeria Maldita em Copacabana. Como se sabe, existe uma lei que aqueles seres maravilhosos de terno e gravata criaram determinando que os donos dos lugares não têm mais o direito de dizer se pode ou não fumar em seus estabelecimentos. Não, o estado-pai quer nos proteger de nós mesmos e a saúde, afinal de contas, é um direito do cidadão, não é verdade? Além disso, a propriedade tem que cumprir a sua "função social", um conceito subjetivo que quer dizer mais ou menos o seguinte: "Você pagou por isto aqui mas não se assanhe, porque se você não obedecer todas as nossas regrinhas ou não molhar a mão dos nossos enviados especiais (os fiscais), nós temos o poder de fechar esta bodega!" Mas como ficar com um pé atrás com isso com o governo bom e justo que nós temos? Deixa o homem trabalhar, Sol. Então as pessoas que saem à noite pra beber, fumar e olhar a fauna ainda podem beber e olhar a fauna, mas se quiserem fumar vão ter que se recolher numa pequena área reservada. Calma, já tem uma lei sendo votada que proíbe até mesmo esse lugar reservado aos leprosos, a fúria higienista vem com tudo. Nem vou usar aqui o argumentum ad hitlerum e fazer uma analogia com o que está acontecendo no Brasil, tenho que ser mais criativo que isso. Em todo caso, a Drinkeria tinha ontem uma área de ar límpido da montanha de uns, sei lá, 400 metros quadrados completamente vazia, enquanto o quartinho dos leprosos, que não media mais do que 40 metros quadrados, concentrava todas as pessoas da festa. Um situação realmente ilustrativa da racionalidade e absoluto respeito que os nossos legisladores têm pela nossa liberdade de escolha. Uma salva de palmas para o estado, por favor.
Por que Hollywood ama Fidel Castro?
"Após muitas noites de escrutínio e meditação, o melhor que a minha equipe de analistas pôde determinar é que Charlize Theron igualou as políticas de um regime que encarcerou prisioneiros políticos numa proporção maior do que Stalin, que metralhou famílias inteiras por tentarem viajar para fora do país, que determina (sob pena de prisão ou fuzilamento) o que seus governados podem ler, dizer, ganhar, comer (tanto em substância quanto em quantidade), onde devem morar, trabalhar ou para onde viajar – ela iguala este regime a um governo sob o qual empresas privadas, controladas por seus acionistas, demitiram alguns funcionários porque estes violaram regras das empresas. OK, então Cuba é um lugar repressivo – mas não mais repressivo do que os Estados Unidos. Charlize Theron deixou isso claro. Então, daremos mais tempo a ela. Como filósofa política, ela obviamente ainda não pode se ombrear com os melhores e mais brilhantes de Hollywood. Mas ela começou de forma promissora. Pelos padrões de Hollywood, a sua lógica parece sem falhas." - Humberto Fontova (http://www.midiaamais.com.br/cultura/370-por-que-hollywood-ama-fidel-castro).
Thursday, May 28, 2009
Sobre o twitter
"Preocupou-me outro dia quando, no Twitter dos escritores Daniel Pellizzari e JP Cuenca, ambos da nova geração, ou geração 2000, ou geração 00, decidiram não discutir um assunto polêmico por causa da limitação dos 140 toques da ferramenta. Se os dois, que representam a garotada que se adapta literalmente num clique, não acharam excitante descobrir o potencial dos novos suportes - que tanto fez bem à geração 00, quem o fará? Ontem, os veteranos Lois Lancaster e Sol Moras (que nomes!), radicais autores cariocas, criados nos anos 80 e 90 do século passado, resolveram encarar as dificuldades dos 140 toques e fizeram a história andar." (http://dodomundi.blogspot.com/2009/05/140-toques.html).
Os impostos e as regulações
O brasileiro trabalha desde o primeiro dia do ano até 27 de maio apenas para pagar impostos. A carga tributária está em cerca de 40%, mas estaria - segundo alguns estudos - em 60% caso não houvesse sonegação. Sabe como é, para o governo, pagar imposto é "exercer a cidadania" e quem não gosta de ser roubado pela máfia dominante é um "traidor da pátria" que merece a jaula. Tente reter aquilo que você ganha sem prestar contas à Receita Federal pra ver o que te acontece. Então as pessoas dão quase a metade do que produzem pro estado e recebem em troca os maravilhosos serviços públicos. É a justiça social, minha gente! Falam muito em "ricos X pobres" e "brancos X negros", mas a verdadeira luta de classes se dá entre pagadores e consumidores de impostos. A iniciativa privada paga e os políticos, funcionários públicos e empresários que recebem crédito subsidiado do BNDES consomem. Só que não é apenas aí que se configura o "Custo Brasil". Temos, além do Executivo que executa o que vem executando, o Legislativo que, pra mostrar serviço e favorecer os seus grupos de interesse favoritos, cria mil regrinhas pra regular tudo o que se move em território nacional; pro nosso próprio bem, obviamente. Se o desperdício da produção na tributação é mensurável, o que deixa de ser produzido por causa do hospício legislativo brasileiro é incalculável. É o que os economistas chamam de "custo de oportunidade". O problema é que entre pagadores e consumidores de impostos e entre os que se beneficiam e os que são prejudicados pelo sanatório jurídico brasileiro, há um emaranhado de perdas e ganhos em que a maioria parece ter a noção de que está no lucro. Só isso pode explicar a legitimidade que ainda é conferida pelas pessoas a esse estado de coisas.
Wednesday, May 27, 2009
O Fla X Flu ideológico
Sempre que o debate vai na raiz das questões, chega alguém contemporizando dizendo que esse tipo de discussão é "maniqueísta" e que devemos ser "pragmáticos". Falam como se a diferença entre ser um liberal e um socialista fosse a mesma que a preferência pelo azul ao invés do verde. Não, a distância entre alguém que enxerga o homem como um ser livre responsável pelos próprios atos e alguém que considera o indivíduo um meio sacrificável ao coletivo é oceânica. Claro, o cara que foge desse debate é aquele que começa falando asim: "Não sou socialista, mas..." e dá-lhe defesa disfarçada de Cuba, Chávez e o PT. Não interessa a essas pessoas o debate franco, porque elas já conseguiram - depois de décadas polarizando e fazendo chantagem emocional com os pobres - a hegemonia cultural. Quando um jovem radical da década de 60 panfletava os seus esquemas mentais do tipo "burguesia X proletariado" ou "explorados X exploradores", o camarada que não queria discutir política dava de ombros e imaginava que aquele agitador era apenas um iludido sem futuro. Se passaram algumas décadas e esse jovem está hoje no poder, influenciando a vida de todos aqueles que desprezaram o debate ideológico. Idéias têm conseqüências e quem se abstém de discuti-las corre o risco de ser futuramente prejudicado por quem sabe manipular a opinião pública a seu favor.
O brasileiro do século
"Não acredito mais nas soluções legais. Todos os nossos governantes representaram e defenderam esse regime de classes que anda por aí, sem nos darem uma única brecha para o regime mais justo que desejamos. Mas me tranqüiliza lembrar que a miséria é grande demais para ser contida." Quanto pior, melhor, não é verdade? Vamos tocar o zaralho, instaurar o caos e aumentar a miséria pra que finalmente um horizonte de eterna abundância se instale na Terra. A lógica do homem é mesmo irrefutável. O arquiteto favorito dos "governantes que representaram e defenderam esse regime de classes que anda por aí" no Brasil prossegue: "Como eu disse, é muito importante que as esquerdas se organizem para juntas lutarem melhor. E a todas procuro atender e ser útil. Entre elas estão vocês do Partido Comunista, Marxista-Leninista, radicais como mais me agrada. Por isso mesmo, eu os felicito por esse longo período de luta que vêm mantendo em defesa de nosso povo." (http://www.inverta.org/jornal/edicao-impressa/292/especial) O que me deixa mais bolado é como o nazismo foi entronizado como o mal absoluto enquanto o comunismo ainda é cantado em prosa e verso como uma ideologia bacana e humanista. Os judeus dos socialistas são os "burgueses". Na versão petista, as "elites". Realmente, a inveja e o ressentimento são poderosos instrumentos de luta. Então se o Brasil continuar votando no PT e nas esquerdas, vai conseguir isso: o empobrecimento mútuo das elites (burguesia) e dos trabalhadores (proletariado), com o governo (nomenklatura) nadando em dinheiro e privilégios. A história é farta em exemplos. Pra encerrar, mais uma pérola humanista do marxismo-leninismo: “Camaradas! O levante kulak nos cinco distritos de sua região deve ser esmagado sem piedade. Os interesses de toda a revolução o exigem, pois a ‘luta final’ com os kulaks está doravante engajada por toda parte. É necessário dar o exemplo: 1) Enforcar (e digo enforcar de modo que todos possam ver) não menos de 100 kulaks, ricos e notórios bebedores de sangue. 2) Publicar seus nomes. 3) Apoderar-se de todos os seus grãos. 4) Identificar os reféns do modo como indicamos no telegrama de ontem. Façam isso de maneira que a cem léguas em torno as pessoas vejam, tremam, compreendam e digam: eles matam e continuarão a matar os kulaks sedentos de sangue. Telegrafem em resposta dizendo que vocês receberam e executaram exatamente estas instruções. Seu, Lenin." (http://www.ordemlivre.org/blog/?p=361).
Tuesday, May 26, 2009
O confusionismo 2
"É bom ler algo que descreve meu estado atual. SOU UMA CONFUSIONISTA. Vivo no dilema de "o que acreditar". Entre o marxismo universitário, o comunismo de referências pífias, a escola austríaca, os intelectuais que mudam de opinião conforme o pagamento, entre tantos e outros..." Reconhecer o problema é o primeiro passo para a recuperação. haha! Mas você não me parece tão confusa, familiarizada com o "marxismo universitário" (a norma nos cursos de "humanas"), o "comunismo de referências pífias" (nem tão "pífias" assim, mais de 100 milhões de mortes), a "escola austríaca" (quantas pessoas já ouviram falar de Mises?) e os "intelectuais que mudam de opinião conforme o pagamento" (eu não definiria melhor a submissão da intelligentsia). "Às vezes acho que meu cérebro vai derreter como essas geleiras do hemisfério norte. E no meio disso tudo ainda tenho que arrumar um emprego que me sustente. Aqui onde moro não há "ócio produtivo". No final do mês tenho que pagar as contas, tenho que pagar as que surgem no meio do mês, no início, fora de tempo..." I hear you, girl. "É difícil. Quando ingressei na faculdade (cheia de sonhos, cheia de ilusões) pensei em seguir carreira acadêmica. Atualmente, acho isso quase que impossível. Como entrar para uma casta pensando diferente dela? Como driblar banca de mestrado, de doutorado, como conseguir bolsas de iniciação ou qq outra se opondo ao pensamento dominante, quase que exclusivo??? Alguém sabe? Fico aqui pensando: ou vc se vende ou vc estagna. Ou terá muitas, muitas dificuldades para nadar contra o mar, talvez sendo até estigmatizada pelo meio." É isso aí. Infelizmente, a maioria das pessoas não tem esse tipo de preocupação e vai feliz com a maré. Curioso notar como esses cursos que dizem querer estimular o "senso crítico" são justamente os mais fechados em si mesmos, onde o alinhamento ideológico e o apadrinhamento dos "mestres" são decisivos pra que você avance e obtenha o papel que te permita fazer parte de alguma guilda. Sabe como é, o "senso crítico" só vale pra desancar a ideologia dos adversários. Eu mesmo, que perambulei por anos numa Faculdade de Comunicação privada lotada de frankfurtianos, marxistas e até stalinistas, cansei de levar rosca nas provas porque fazia questão de desafinar com o politicamente correto que tentavam me enfiar goela abaixo. Não completei, mas foda-se. A luta agora é pra acabar com a obrigatoriedade do diploma e com o currículo imposto pelo MEC, verdadeiras camisas de força contra a inovação e a associação voluntária. "Em síntese: mais uma confusionista!!! rs rs Se vc (autor do blog) diz que "era" assim, ensina aí como deixou de ser, por favor. Forte abraço, Sofia." Sofia, a busca pela verdade não acaba nunca. Agora eu compreendo melhor algumas relações de causa e efeito, mas isso não resolve a vida de ninguém. Deixa a sua mente mais clara, te previne de cair em contradição a cada opinião e te poupa de alguns dilemas que engarrafam a cabeça de um confusionista convicto e orgulhoso (não é o seu caso). Princípios objetivos não garantem o emprego dos sonhos ou sorte no amor, mas a coerência entre palavras e ações talvez assegure uma consciência mais tranqüila.
Monday, May 25, 2009
Os EUA são tãããão reacionários
Os movimentos civis e Martin Luther King. O feminismo. A contracultura, os beats, o psicodelismo, Timothy Leary, Abbie Hoffman, Woodstock e os hippies. Hollywood e os filmes marginais exploitation. Stan Brakhage, John Cassavetes e Woody Allen. South Park e Os Simpsons. Literatura gonzo e o New Journalism. A Revolução Americana e todos aqueles libertários maravilhosos, os "pais fundadores". Os abolicionistas, os transcendentalistas e as sufragistas. Frederick Douglas, Thoreau, Emerson e tantos outros que não vou me lembrar agora. O jazz, o soul, o funk, a disco, o hip hop e o rock. Claro que é uma generalização, uma generalização tão grande quanto a do ressentido que enxerga a grandeza alheia como imperialista e exploradora. Ora, não consumimos essas coisas nos achando a última jujuba do pacote? Que país reacionário é esse que nos deu a internet? Reagem porque a circulação de idéias (ainda) é livre, o debate (ainda) faz diferença e o indivíduo (ainda) não é um meio sacrificável ao coletivo. Estão tentando mudar isso. Quando a "Caros Amigos" dá uma capa simpática ao presidente "estadunidense", é porque a coisa tá feia. Ao ver um "progressista" brasileiro dizendo uma coisa, faça e pense o oposto. É potato.
Saturday, May 23, 2009
Viva Zé Rodrix! (textinho de 2007)
2 dias após publicar o texto abaixo, vejo no "Gente Boa" do "O Globo" o depoimento do Zé Rodrix, que se demitiu da direção da peça "Rei Lagarto" ao saber que a produção contaria com os incentivos fiscais da Lei Rouanet. Fiquei sinceramente emocionado com a tal carta, uma poderosa declaração de princípios de alguém que sabe o perigo de se misturar arte e governo. Um trecho: "Não acredito que o dinheiro de TODOS deva servir para patrocinar a aventura pessoal de ALGUNS, e, quando isto se configura, saio fora. Investimento deve ser feito com dinheiro real que não prejudique o essencial do país. Impostos devem ter fim específico, e o sustento da arte não é, a meu ver, uma dessas essencialidades. Sempre fui um artista que não se privilegiou de nenhum tipo de ligação com estados e governos, em nome de minha própria liberdade." (http://sol-moras-segabinaze.blogspot.com/2007/08/viva-z-rodrix.html).
Friday, May 22, 2009
O confusionismo
Muitos não percebem, mas mesmo numa reportagem aparentemente isenta, há um componente ideológico. Claro, a imparcialidade é um mito construído na ilusão de que alguém pode pairar etereamente sobre as discussões sem ter os seus próprios preconceitos e prioridades. De qualquer forma, ou o camarada está questionando ou está legitimando uma visão de mundo, porque a omissão também é um tipo de ação. Quando alguém tenta desqualificar o debate ideológico e diz, por exemplo, que "bater no comunismo é chutar cachorro morto", sem perceber que a concentração de poder - tenha o nome que tiver - está viva como nunca, essa pessoa também está agindo politicamente, mesmo que não tenha essa intenção. Se o debate sobre o uso da força (estado) é coisa de "mala", eu quero mais é ser um mala. Converso feliz sobre qualquer assunto, mas a maneira como a força é exercida não pode ser, ou não deveria ser, proscrita dos debates. O estado tem o direito de determinar o currículo? O estado tem o direito de dizer o que eu posso ou não consumir? O estado deveria entregar cartas? Essas e outras coisas dizem respeito a todos e a ideologia nada mais é do que um conjunto de idéias que tenta organizar princípios de uma maneira lógica e internamente coerente. Digo isso por experiência própria. Antes de organizar minimamente a minha visão de mundo, minha mente levitava de um lado pro outro sem concatenar os fatos e os acontecimentos, refém da propaganda e dos meus preconceitos emocionais. Eu era um confusionista.
Thursday, May 21, 2009
Simonal e o socialismo inimputável
Tadinha da esquerda festiva, ela só queria a democracia e a liberdade que a gente vê em Cuba, não é mesmo? O problema é que, desde a ditadura militar, que o monopólio da virtude está nas mãos da esquerda e é ela e os seus representantes nos governos e na mídia que determinam o que é de bom tom e o que é legal ou não. Os liberais e os direitistas (não são a mesma coisa) viraram o cocô do cavalo do bandido. Então dá-lhe um milhão e pensão vitalícia pro Jaguar e pro Ziraldo (a resistência etílica no Zeppelin era um investimento, né?), "homem do século" pro Niemeyer e fru-frus intermináveis pra Chico Buarque e associados. A esquerda ganhou a guerra cultural e o Simonal foi só mais um que pagou o pato (mesmo que tenha feito uma cagada colossal também). Me diga então: se a Globo é da direita malvadona e “manda mais que as patrulhas ideológicas”, como é que a sua redação elege o stalinista Niemeyer como “o homem do século”? E falar que a Folha não engloba essa visão de mundo nos seus cadernos de cultura “frankfurtianos” e é malvadona só porque chamou a ditadura militar de “ditabranda” - e foi branda mesmo se comparada com outras ditaduras - é ignorar todos os seus articulistas vassalos do PT. Talvez você não enxergue isso, Arnaldo, porque simpatiza com essa visão de mundo e acha que a babação em cima do Niemeyer tem a ver apenas com a sua arquitetura. A VEJA não é de esquerda, realmente, e por isso recebe a saraivada de críticas que recebe. Clóvis Rossi, Eliane Cantanhêde, Kennedy Alencar são de esquerda. O Caderno Mais é um festival de marxismo cultural, por exemplo. O Veríssimo não escreve lá, mas não é mais de esquerda por falta de espaço. Nem vou elencar os do O Globo aqui. Você se considera de esquerda, Arnaldo? Pergunto isso na boa, sem malícia, até porque te considero um cara legal independente de divergências ideológicas. O policiamento bacana, Gabriel, só vale quando vem do “centro” ou da esquerda, não é verdade? Quando um liberal vem questionar alguma coisa da metafísica socialista é um deus nos acuda, não pode, é "censura", é “extrema-direita” pô! Ser de esquerda não é “crime”. Fiz a ressalva, Arnaldo, porque consigo separar bem as coisas, mas nem todo mundo é civilizado assim como eu e você. Não sabia das suas opiniões e cheguei aqui via twitter. Não concordei com o que você escreveu. Podia ter ficado calado, mas acho que o debate é bom e dei a minha posição. Concordamos em discordar e vida que segue. PS - A pelada continua segunda-feira. Seu irmão tem ido direto. (http://www.oesquema.com.br/mauhumor/2009/05/20/a-culpa-e-do-jaguar.htm#comment-6639). Faça o seguinte, Tiago da Lua - sim, ainda estou aqui acompanhando - deixe a preguiça de lado e me demonstre que 500 mortes são a mesma coisa que 100 mil mortes. Tarefa inglória que, se não chega a justificar a morte de uma só pessoa que seja, pode te ensinar um pouco sobre senso de proporção, a essência mesma da justiça. Tirei esses dados daqui, do livro do petista Nilmário Miranda “Dos filhos deste solo”. Uma publicação insuspeita de “direitismo”, eu suspeito. Está lá: 424 pessoas que morreram ou desapareceram por causa do regime militar brasileiro. Os 100 mil mortos que mencionei eram do regime cubano, o favorito da esquerda festiva. Está lá no “Livro negro do comunismo” - escrito por ex-comunistas, aliás - 100 mil mortes causadas pelo regime daquela linda e poética figura, ídolo máximo dos esquerdossauros, que é o Fidel Castro. Faça a proporção, olha ela aí de novo, entre o número de habitantes de Cuba e Brasil e veja quem matou “melhor”.
Wednesday, May 20, 2009
A dinâmica do welfare state
Os países escandinavos e a sua rede de proteção social são o sonho dos social-democratas brasileiros. Eu mesmo, antes de me entorpecer com os autores liberais (haha!), era um legítimo cultuador da civilização que os nórdicos construíram. Ainda sou, mas há que se entender melhor como as coisas chegaram naquele nível e se isso é sustentável no longo prazo. Pra começar, os escandinavos têm uma carga tributária realmente alta, mas compensam isso com um ambiente relativamente livre de burocracia, o que faz esses países estarem nas primeiras colocações nos índices de liberdade econômica. Além disso, não há como se distribuir riqueza se ela não é previamente produzida, e os nórdicos - antes de instalarem o seu welfare - viveram muito tempo com um mercado livre, isto é, onde a associação voluntária entre os indivíduos não sofria restrições governamentais. Em países em desenvolvimento como o Brasil, coloca-se a carroça na frente dos bois: antes mesmo de criar um ambiente propício à livre iniciativa, a nossa social-demagogia concede benefícios que as gerações futuras não terão como arcar. Mesmo a Suécia já entendeu o tamanho do pepino e na última eleição elegeu um governo mais liberal. A dinâmica é a seguinte: um mercado livre cria as bases da prosperidade, mas as pessoas se ressentem de segurança. Então chega um populista e diz que vai distribuir essa riqueza. Ele é eleito, aumenta-se os impostos e distribui-se os benefícios. A maioria parece satisfeita. Acontece que os controles e taxas aumentam cada vez mais, asfixiando a própria criação da riqueza. Quando o camarada se dá conta, as receitas não batem mais com as despesas e ele se depara com um dilema: ou se endivida e imprime dinheiro (gerando inflação) pra arcar com o passivo, ou diminui os impostos (diminuindo também os benefícios e os custos da burocracia) pra encorajar novamente um ciclo de prosperidade. É fato, não existe almoço grátis.
Tuesday, May 19, 2009
O tombo do Caetano
Mesmo considerando o Caetano um cara confuso ideologicamente - ir de Mangabeira Unger a Zizek é samba do crioulo doido na certa - eu gosto dele, de verdade. Agora, é impossível não rir com a babação "Viva Caetano!" e o magnífico tombo que veio a seguir. Reversão de expectativas rules. Eu mesmo, outro dia tava andando todo altivo na rua quando, de repente, tropeço lindamente catando cavaco numa pedra portuguesa solta. Não sei se alguém testemunhou, mas foi bem engraçado. É universal, não é nada pessoal. (http://www.youtube.com/watch?v=dFv6AR-0c4k)
Vale a pena ser bom com os outros
Claro que a gente deve tentar ser bom primeiramente conosco mesmo, mas ser bom com os outros faz parte dessa equação. Começa com a família. Se uma família é baseada na cooperação e respeito mútuos, a vida fica melhor. Se isso não é possível por causa de diferenças inconciliáveis, bola pra frente. Se você tenta ser correto no seu círculo social (ninguém é santo), você vai ser admirado e requisitado. Se você é um reconhecido desonesto, ninguém vai querer mais papo com você. A mesma coisa com o trabalho. Faça o seu serviço bem feito e você será valorizado, faça cagadas homéricas e você terá que arrumar outra freguesia. Se sacrificar por quem se gosta também vale a pena, porque nunca se sabe o dia de amanhã e você pode precisar de ajuda. Falo isso porque volta e meia escuto as pessoas dizendo que no liberalismo "é cada um por si". De fato, nascemos e morremos sozinhos, mas ser responsável pelos seus atos fornece os incentivos necessários pra se cooperar da melhor maneira possível, diferentemente do socialismo, onde o estado considera os indivíduos como seres incapazes de serem autônomos e que precisam da tutela estatal "pro seu próprio bem". MULESHIT!
Monday, May 18, 2009
162
Olha mais uma virtuosa com o dinheiro alheio aí. O mais legal é que basta se declarar a favor dos pobres pra ela se sentir muito bem com ela mesma. Não importa se o sistema que ela defende não funciona, é ineficiente e trava a geração da riqueza, ela é a favor dos pobres, pô! Os que discutem outro meio de ajudar os pobres são FDP insensíveis, mesmo que o seu sistema já tenha se provado mais justo e melhor na hora de prover bens e serviços pelo menor preço. Não importa, o monopólio da virtude é dos socialistas e estamos conversados.
Mais Fábio e o Polystyrene
Tinha fases em que o Fábio ficava insatisfeito com isso ou aquilo no Stellar - imagine só juntar 5 cidadãos num empreendimento sem fins lucrativos - e uma vez decidiu fazer tipo um projeto solo. Ligou me chamando e anunciando que se chamaria Polystyrene. A coisa já devia estar toda pronta na cabeça dele, porque antes de gravar já existia até a capa do peixinho branco no fundo preto. Enquanto tento abstrair os ruídos intermináveis dos meus vizinhos, lembro que o Johann Heyss tinha feito uns loops de bateria muito bons e o Fábio queria gravar uma guitarra e uma voz em cima. Beleza. Ele veio, consagrou um verde e gravou as suas coisas. Sempre de primeira, porque não gostava de repetir. Quando eu dava a entender que podia ter ficado melhor - audácia! - ele repetia, mas contrariado. Chamei então o professor Régis Argüelles pra botar o baixo, o que ele fez sem problemas porque o Régis é foda. Aí eu fiz a minha presepada, mixei, mostrei pro homem e ele gostou. Eu não achava que existia a necessidade de ter um outro nome que não fosse Stellar. Por mim, Stellar seria qualquer coisa que a gente gravasse, mas ele queria Polystyrene e assim foi. Um dia, uma menina meio argentina e meio paulista veio aqui em casa fazer comigo e Beatriz uma "entrevista com o Stellar" e - papo vai, papo vem - lá se foi o meu CD do Polystyrene. Ela não roubou, eu dei pra ela. Fiquei uns 6 anos sem escutar e tô achando muito maneiro. (http://mmrecords.com.br/200905/polystyrene/) A percepção realmente muda ao longo do tempo. O Fábio mesmo, quando acabou de gravar o Ultramar, me disse que não tinha gostado do disco. Isso partiu o coração. Mas, uns 5 anos depois, me liga e diz que tinha acabado de escutá-lo e achado maravilhoso. Esses disquinhos, by the way, agradecem a sua existência ao Dodô e ao Gustavo Seabra da PELVs, donos do estúdio Freezer e que são, de alguma maneira, seus co-produtores [mesmo que o Gustavo considere os discos, o que é muito provável, "mal-gravados" (haha!)]. Na foto, da esquerda de quem vê pra direita, estão Fábio na guitarra, Beatriz no teclado, Leandro na flauta, Genu no baixo e Gustavo na bateria, na última apresentação ao vivo do homem, quando dividimos o palco com a PELVs.
Sunday, May 17, 2009
Friday, May 15, 2009
"Aquele povo de Niterói" e eu
Este blog é cult (haha!) e não coloca fotos pessoais, mas hoje vou abrir uma exceção porque ontem rolou reunião com "aquele povo de Niterói" e acho que vale o registro. Sentado embaixo no canto esquerdo de quem vê, está Leandro Ferreira. Eu não estava lá, mas as músicas do Thrumming Soothingly foram feitas na sua casa em Icaraí. Ídolo total, consegue tirar um som bonito de qualquer instrumento e é também um Químico renomado no underground. Do tipo inesquecível que atravessa a ponte Rio-Niterói num ônibus lotado tocando flauta. Cortou o cabelo, depois de anos de rabos de cavalo variados. A menina no canto inferior direito é a Beatriz Lamego. Flor delicada entre rústicos barbados, Bia Rock (ouvi Simone do Vale dizer) já encarou platéias hostis e machistas, sempre se saindo com elegância. Hoje desfila a sua graça no Fórum de Ipanema sem esquecer das suas raízes são-franciscanas. O homem sentado na poltrona vermelha é o Patrão, Rodrigo Lariú. Com raízes em Itaperuna (terra do Marcelo Colares), mas niteroiense legítimo, El Patrón começou a construção do seu selo quando ainda morava em Boa Viagem, perto do MAC e com vista para a Cidade Maravilhosa. Se inspirou com o visual e lançou alguns disquinhos que já nasceram históricos. Andou dando declarações polêmicas sobre o Tratado de Tordesilhas, aquele documento que marcou a fusão entre o antigo estado do Rio e a Guanabara. O galã latino de camisa amarela de braços cruzados é o Cadu Pilotto. Saiu de Santa Rosa direto pro jet set internacional, freqüentando ilhas paradisíacas e magníficos castelos mundo afora. O Barão de Santa Rosa parece ter se rendido ao hype do bigode, mas ele diz que isso é intriga da oposição. Também dominando a alquimia, Cadu espalha flashes e alegria por onde passa. Ficou faltando a eminência nem tão parda, Marcello Braga, o membro honorário do Stellar. De largo sorriso, Marcelleza teve que sair antes porque entre "aquele povo de Niterói" é o único que ainda passa as suas noites ali, alternando-se entre Icaraí e Pendotiba. Fábio Leopoldino também estava presente, nas memórias e nas caixas de som que demorei uns 2 anos pra instalar. Patrones, tem como me mandar as músicas do Polystyrene? Obrigado, pessoal.
Thursday, May 14, 2009
A demanda reprimida pelo socialismo
Parece que não adianta apontar os exemplos históricos e refutar o marxismo e toda a teoria estapafúrdia que sustenta o socialismo. Não adianta o "homem de bem" Chávez, o amigo do Lula, fazer o que vem fazendo aqui do lado, o brasileiro vai ter que sentir na pele até aprender. As evidências que a trágica política externa do Itamaraty oferece ao apoiar as piores ditaduras no Oriente Médio e abrir as pernas pros seus companheiros bolivarianos também não são capazes de frear a crença de que o PT e a esquerda são a solução ao invés do problema. Após 20 anos da ditadura militar estatista - identificada malandramente como sendo "capitalista" - e toda a propaganda, só temos candidatos de esquerda nas eleições. O Ungido, ao menos, reconheceu isso. Não basta percebermos que os heróis brasileiros - Chico Buarque, Veríssimo e Niemeyer são apenas alguns exemplos - sejam todos esquerdistas. Não! Os caras conseguem a proeza de serem o status quo e ainda carregarem a aura de serem "contra o sistema". Ainda hoje, qualquer pessoa minimamente contestadora é confundida ou com um comunista ou com um desses "anarquistas" que querem dar todo o poder ao estado. Lógica nunca foi mesmo o forte desses "libertários". Nada vai parar a concentração de arbítrio no governo até que a servidão seja total. Juntou-se a demanda reprimida pela "justiça social" com a demanda reprimida pela democracia, pela adulação das massas, pra que o plano imaginado pelo Gramsci fosse finalmente bem sucedido. Quer dizer, bem sucedido para os seus porta-vozes, porque o povo vai continuar sendo extorquido em suas liberdades ao mesmo tempo em que é usado como chantagem emocional pra elite política se manter no poder. Infelizmente, o brasileiro vai ter que sentir na pele até aprender.
Wednesday, May 13, 2009
Fábio Leopoldino Maia 2
Do Gilberto Custódio: "Admito que fui um dos que torceu o nariz quando ouvi pela primeira vez o "Transmigrations" do Stellar. Na época eu não entendia e nem assimilava muito bem a guinada que uma guitar band dava para sons mais experimentais (tanto que saí da Comespace). Isso só prova o talento e a visão do Fábio, pois hoje em dia essa fase "pós-rock" do Stellar é a minha predileta." (http://lazerguidedmelodies.blogspot.com/2009/05/fabio-leopoldino-descanse-em-paz.html) Ele gostava mesmo da criação espontânea, fruto da confiança que tinha na sua capacidade de encontrar soluções sem grandes dramas. Por isso que era meio aborrecido pra ele ensaiar coisas que já tinham sido feitas. Mais Gilberto sobre Thrumming Soothingly: "É essencial e infelizmente um pouco subestimada. É só ouvir para perceber isso claramente" (http://lazerguidedmelodies.blogspot.com/2009/05/stellar.html) As coisas não deixam de existir porque a maioria não conhece. Do Dodô: "Adorava idéias engraçadas e imaginava as imagens, as que já existiam e as propostas, em forma de desenho ou pintura. Adorava crianças e tinha uma devoção religiosa com o modo que uma criança percebe o mundo." (http://dodomundi.blogspot.com/2009/05/dodomundi-12-fabio-leopoldino-maia.html) Ele se identificava mesmo com o mundo infantil e com pessoas com esse espírito que viam isso aqui como uma grande brincadeira. Do Tom Leão no seu blog no Globo: "Em geral, ele era bastante arredio e de poucas palavras, tanto que acabou ficando recluso e longe dos amigos." Isso não deixa de ser verdade, mas ele, como se vê na foto, também tinha um lado brincalhão muito forte quando se sentia à vontade. Há coisas nas profundezas de cada um que só mesmo a própria pessoa tem acesso. Alguém me pergunta o que ele gostava de ouvir, ler e assistir. Conversamos muito sobre o Hitchcock e a elegância dos seus filmes. O nosso gosto musical era praticamente idêntico, mas volta e meia ele implicava com algumas preferências minhas como o Sigur Rós. Dizia não aguentar aquela voz em falsete e falava que o Efterklang era muito melhor. Haha! Chegou a criar uma comunidade no orkut sobre a banda. Os textos que ele escrevia em excelente português tinham um Q de realismo fantástico e chegou a criar um blog sobre os próprios sonhos. Era apolítico e gostava de assistir seriados e desenhos na TV. Outras pessoas podem acrescentar mais informações, este é um depoimento altamente parcial e pessoal.
Tuesday, May 12, 2009
Fábio Leopoldino Maia
Conheci o Second Come bem no seu início e era uma banda tão boa quanto as melhores lá de fora. Era emocionante perceber que conterrâneos podiam fazer aquilo. Eu não me identificava com nada do rock brasileiro e eis que surge o You e todos aqueles hits enfileirados. Os shows também eram sensacionais, "distorcido e melodioso", como ele gostava de lembrar. Depois o Second Come acabou e lá pelas tantas de 1995 me cai nas mãos a primeira demo (era como a gente dizia na época) do Stellar. Se chamava Thrumming Soothingly e amei aquilo de cara. Escutei aquela fitinha sem parar e cheguei a criar um fanzine com o Bruno Montalvão, hoje empresário do Vanguart, somente pra publicar a resenha que escrevi sobre aquela maravilha com 3 guitarras, 3 vozes e percussão. As pessoas precisavam conhecer aquilo! É uma jóia que pode ser ouvida aqui: (http://mmrecords.com.br/200705/stellar/). Eu já era familiarizado com o pessoal porque trabalhava na Spider, que vendia CDs importados e era um ponto de encontro do mundinho indie. Lá teve inclusive um pocket show do Second Come que encheu bastante. Eu via "aquele povo de Niterói" (como eu os chamava) e pensava que, óbvio, eles deviam ser meus amigos. Não só me tornei amigo como em 1997 me chamaram pra tocar com eles. Mesmo não tendo nenhuma segurança como músico, era o tipo de coisa impossível de recusar. Me sentia intimidado pelo grande Fábio e aqueles camaradas que realizaram aquela - não tenho receio de dizer - obra-prima. Mas lá estava eu, convivendo com aquelas figuras. A técnica não era mesmo tão importante, ele se juntou com "aquele povo de Niterói" por causa das suas afinidades: ouviam o mesmo tipo de música, gostavam dos mesmos filmes e todos tinham alguma tendência, ahn, como direi, artística. Como eu trabalhava no estúdio Freezer dos caras da PELVs (um dia falo mais deles), gravar um disco não era tão complicado. Nos trancamos ali e em total improviso fizemos o Transmigrations. Hoje eu adoro esse CD, mas na época fiquei angustiado: "Nego não vai entender essa parada e vão falar que o Stellar ficou caído por minha causa". Haha! Ele, ao contrário, estava empolgadíssimo com aquilo, chegando a dizer que "era a melhor coisa" que já tinha gravado. Era meio misterioso com algumas coisas e de vez em quando surpreendia com declarações desse tipo. Então a gente tinha aquele grupo de pessoas - designers, escritores, músicos e fotógrafos - e o Fábio ficava colocando diversas pilhas: queria fazer uma revista, um site, um portal, um jogo de tabuleiro e o que quer que desse na sua telha criativa. Era mesmo uma usina. Pintava pra caramba, escrevia contos, fazia animações e calculou a numerologia de todos nós. Tudo com uma energia verdadeiramente generosa, que instigava a gente a criar constantemente. Era como um irmão mais velho e mais sábio. Quando o Lariú chamou o Stellar pra abrir pro Stereolab, rolou uma certa tensão, porque ele não queria tocar as músicas, queria subir no palco e simplesmente improvisar. Era uma idéia corajosa, mas nós - inseguros e imaginando que as pessoas fossem gostar de ouvir aquelas músicas que, afinal de contas, eram tão boas - o convencemos a ensaiar (a quanto custo!) e tocar aquelas coisas mais "tradicionais". Ele cedeu, mas nem tanto. Quando o Tom Leão quis fazer uma foto e uma matéria no O Globo com a gente sobre o show, ele simplesmente não apareceu na sessão. "Tô muito velho pra isso", ele sempre dizia quando algo não o agradava. Então nas pouquíssimas vezes em que o Stellar se apresentou ao vivo, ele tocava e meio que saía correndo quando a coisa acabava. Isso me deixava bolado, "o cara podia ficar um pouco mais, as pessoas o admiram tanto...", mas logo cedo no dia seguinte ele me ligava perguntando o que o povo tinha achado. A falta de grana o angustiava, mas nunca choramingou, tinha orgulho e dignidade demais pra isso. Gravamos então o Ultramar, onde ele mais uma vez comandou ao mesmo tempo em que estimulava os outros a participarem e darem o seu toque. Foi uma época difícil porque o estúdio tinha poucos horários, mas de boa memória, muitas madrugadas fazendo maluquices sonoras. Algumas coisas volta e meia o deixavam insatisfeito e ele meio que "saía" da banda. Numa dessas em que quis fazer um disco solo, ele me chamou pra ajudar e fizemos 2 CDs como Polystyrene. Era uma doideira, mas tinha pelo menos um hit potencial com aquele toque clássico dele chamado Gravity. Eu mesmo pego o violão às vezes e me vejo, sem perceber, tentando emular aquela simplicidade melodiosa que ele criava com tanta facilidade. Foi mesmo um privilégio tremendo conviver com ele. Nos últimos 2 anos ele deu a impressão de ter se exilado voluntariamente, eu bem que tentei fazer ele vir pro Rio gravar alguma coisa comigo, mas o homem estava longe. Meu primeiro grande amigo a morrer. E eu tinha acabado de comentar com a Beatriz que alguma coisa me dizia que o Fábio estava prestes a aparecer novamente. Apareceu, ou desapareceu. O que ele produziu permanece como prova da sua passagem por aqui. Why, explain to me. Why, explain to me. Hope you are ok, hope you are ok. (http://mmrecords.com.br/200905/second-come/).
Monday, May 11, 2009
Eu nunca morei em Niterói
"Vale lembrar que em meados dos anos 90 eu tinha esse disco e vendi para alguém da Indie-Brasil mailing-list. Acho que foi pro Sol, de Niterói-RJ. Nunca me arrependi tanto por ter vendido um disco. Na época poucos entendiam realmente qual era a proposta do Main. É um disco que demora bastante para fazer sentido, eu mesmo demorei anos. Ainda bem que fui insistente. Por falar em Sol, ouçam a banda dele, Enseada Espacial. Carrega boas influências do Main." (http://lazerguidedmelodies.blogspot.com/2009/05/main.html).
Pela privatização do Túnel Rebouças
Sem pedágio, obviamente. O Túnel Rebouças liga a zona norte do meu glorioso Rio Comprido com a zona sul deslumbrante da Lagoa Rodrigo de Freitas. É um cartão de visitas importante. No entanto, mais parece uma caverna mal assombrada. Estalactites de poeira e fuligem se formam no alto, entre pingos d'água e outros objetos estranhos que a escuridão suja nos impede de identificar. Se os túneis fossem humanos, o Rebouças seria um mendigo. Pela sua localização, deveria ser não só funcional como também ter uma estética condizente com a geografia circundante; estamos entrando na área nobre da cidade, minha gente! Proponho o seguinte: que uma empresa, ou grupo de empresas, tenha a concessão do túnel, faça nele as melhorias que ele necessita e explore aquele espaço movimentadíssimo anunciando os seus produtos. Um anti-liberal gritaria indignado: "É a ditadura do capital!" Mas, convenhamos, como é que um anúncio de refrigerante ou celular te oprime? O que é de todo mundo acaba não sendo de ninguém, os exemplos são vastos. Reconhecer a vocação civilizatória da propriedade privada é o primeiro passo pra se sair do estado de gruta mental em que a cidade maravilhosa se encontra.
Friday, May 08, 2009
O "direito" à moradia
Ninguém tem "direito" à moradia. A pessoa tem o direito e é livre pra correr atrás dos seus objetivos e através de trocas voluntárias adquirir o que quer que seja do seu desejo e necessidade. Os seus pais, amigos, admiradores e filantropos podem comprar uma casa pra você se eles quiserem e puderem, nenhum problema. Agora, a sociedade não tem nenhum dever de te dar uma moradia. O seu "direito" à moradia corresponde ao dever dos outros produzirem essa moradia. Daonde você tirou essa maluquice?
O racismo seletivo
Se fôssemos cães, seríamos todos vira-latas sem atestados de pedigree. Como somos humanos, somos capazes de nos dividir em categorias quando nos é conveniente. Se os humanos no comando forem autoritários, essa divisão se transforma em política de estado, tirando dos descendentes de uns pra dar pros descendentes de outros. Isso não é tão simples, obviamente. Os maiores traficantes de escravos na África, por exemplo, eram os próprios negros. E aí? Aqui, esses mesmos negros se misturaram com os europeus e índios, criando a nossa mestiçagem. Não é preciso recorrer aos dados do IBGE pra saber que a maioria absoluta da população brasileira é mestiça. E aí? A política de cotas racistas acabou de ter um exemplo ilustrativo no sul do país. Uma mestiça se inscreveu num vestibular e se declarou "negra" pra ter a sua aprovação facilitada. Como não era pobre e nem "vítima de preconceito", teve a sua aprovação revogada pela comissão da faculdade. Ou seja, não basta ser "negro", tem que ser um "oprimido" segundo os critérios dos justiceiros sociais. O que essa política racista vai conseguir é afundar o mérito e aprofundar o ressentimento baseado na melanina da pele. Claro que a maioria assume que o governo é bem intencionado e faz isso pro nosso próprio bem, mas a história mostra que criar divisões pra conquistar mais poder é prática comum entre as tiranias. Taí, além de Partido Totalitário o PT arranjou mais um sinônimo: Partido Tirano. E quem disse que a maioria não anseia por uma tirania "do bem"? As pessoas, em geral, não querem liberdade, querem uma tirania que concorde com elas.
Thursday, May 07, 2009
160
Cai a máscara. Deputado declara que está pouco se lixando para a opinião pública. Sua esposa, prefeita de um rincão gaúcho, concorda.
Zé Povo, cego pela propaganda, elege a Petrobras como uma das empresas mais confiáveis do mundo. "Não me importo de pagar caro, contanto que ela continue sendo BRASILEIRA." Zé Povo locuta, causa finita.
Mas Dona Razão Enevoada não desiste. "O futuro dos nossos filhos depende do que fizermos hoje!"
Keynes e seus amigos nos governos discordam: "No longo prazo, senhora Razão, estaremos todos mortos."
Wednesday, May 06, 2009
O "direito" ao dinheiro dos outros
Continuando com a canonização de mais um herói da causa socialista brasileira, o Artur Xexéo enalteceu hoje o Augusto Boal. O ex-vereador do PT explicava como se dava a "censura" (bota aspas nisso) dominante no Brasil: "É a coerção do poder econômico. São as empresas que determinam o que pode ser feito, e o artista não está livre para fazer suas experiências. Ele perdeu este direito". O homem já morreu, mas vou tentar explicar a falha desse raciocínio pra quem está vivo. O artista tem todo o direito de fazer as experiências que quiser, desde que não invada o direito dos outros, assim como o empresário tem o direito de patrocinar quem ele bem entender. Não existe um "direito" ao patrocínio, ele se dá de forma voluntária se ambos concordarem com o projeto. Boal prossegue: "Uma parceria de fato existe quando os parceiros possuem o mesmo objetivo e força semelhante. Quando um dos lados é o 'todo poderoso' ao outro não resta opção". Claro que resta, basta não se submeter ao outro lado. Ninguém é obrigado a aceitar patrocínio, assim como ninguém é obrigado a dar patrocínio. Óbvio que o teatrólogo coloca a iniciativa privada como a grande vilã dessa história e "esquece" (olha as aspas) de mencionar a dependência dos "artistas" (mais aspas) em relação ao governo que, por sua vez, é dependente da pilhagem que faz dessa mesma iniciativa privada malvadona. O "direito" de alguém a algum bem corresponde ao dever de outro alguém produzir este bem. Pintar os "artistas" como pobres "oprimidos" (aspas mil) porque as empresas não querem bancar as suas viagens líricas é mais uma dessas deturpações típicas da novilíngua socialista.
Tuesday, May 05, 2009
A lenda do empresário malvadão
As pessoas demonizam os empresários sem olhar pra si mesmas. Todos são empresários, marqueteiros e agentes de si mesmos, mas quando o cara começa a ganhar dinheiro com um negócio é um deus (estado) nos acuda. São criticados tanto por "explorarem" os empregados quanto por tentarem "enganar" os consumidores. Pra resolver isso, claro, clama-se pelos impolutos fiscais e suas leis maravilhosas. Mas, pensando bem, quem se aventura na livre-iniciativa no Brasil deveria ser considerado um herói ao invés de vilão, não fosse o marxismo invejoso a régua invisível com que se mede o valor de cada um neste país. Pro camarada se tornar empresário, ele deve antes poupar, ou seja, acumular capital, ou seja, produzir mais do que consumir. Claro que, no caminho, ele vai ter que dar algum pra máfia dominante, onde já se viu juntar dinheiro? E a justiça social, como é que fica? Ou poupa ou vai ter que pedir um empréstimo com os juros que temos. Nenhuma culpa do estado nisso, logicamente, se ele seca o crédito é porque há muita desigualdade no Brasil e alguém tem que fazer alguma coisa a respeito, nem que sejam dívidas que serão pagas pelas próximas gerações. A justiça social tem um preço, não é mesmo? Com o capital necessário, o cara vai ter que regularizar o negócio junto com a máfia dominante. Alvarás, licenças e certificados e seus respectivos carimbos já estão na conta, é o custo Brasil, minha gente! Depois de adquirir os equipamentos e toda a logística, chega a hora de contratar o pessoal. Ou a produtividade do empregado chega a mais de 900 reais por mês (salário mínimo é sinal de ignorância máxima + encargos) ou o empresário vai contratar por fora, correndo o risco de ser denunciado ao Ministério do Trabalho, mais uma curiosidade tipicamente brasileira. Esses obstáculos, cortesias da nossa tradicional burrocracia, ocorrem antes mesmo do negócio abrir, e o demonizado "explorador da mais-valia" já está com um passivo imenso que ele espera pagar com o projeto em funcionamento. Se ele der sorte, os funcionários vão dar conta do recado, os consumidores vão comprar os seus produtos, as suas previsões otimistas vão se concretizar e ele vai conseguir sobreviver e gerar empregos. Se o negócio não funcionar, ele vai estar cheio de dívidas e arrependido de ter se arriscado ao invés de ter feito aquele concurso público que a sua mãe vivia insistindo pra ele fazer.
Monday, May 04, 2009
A maioria como critério de justiça
Num daqueles documentários laudatórios sobre os heróis da causa socialista no Brasil, o Jorge Amado disse que é e sempre será pelo socialismo, "não por uma vontade minha, mas pela sua inevitabilidade histórica como superação do capitalismo". Como se vê até aí, um marxista. Mas como a entrevista era na década de 80 e muito da prática comunista já era de conhecimento geral, fez a ressalva de que acreditava "num socialismo democrático, onde as liberdades do indivíduo eram preservadas". Como as liberdades individuais seriam "preservadas" com um comitê central planejando tudo, é um mistério que nem um ficcionista consagrado como ele conseguiria explicar. Claro, "socialismo e liberdade" é uma impossibilidade lógica, mas soa bem pra caramba. Talvez ele tivesse em mente o que vem acontecendo agora na América Latina, o que já se desenhava desde a ditadura militar. Como os comunistas a combatiam repetindo "democracia e liberdade" sem parar, as pessoas começaram a associar essas figuras que apoiavam as ditaduras mais brutais ao processo de democratização. Como não houve democracia antes em nenhum país socialista, arrumaram um jeito de implantar o dito cujo com eleições, com o consentimento da maioria. Por que não? Dão uma Bolsa-Família pra terça parte da população "excluída", uma Bolsa-Funcionário-Público pra classe média cutista e uma Bolsa-Subsídio pros empresários camaradas e artistas cooptados realizarem a propaganda que é a alma do negócio. Enquanto o dinheiro está fácil, a coisa anda bem e a maioria parece satisfeita. Como essa estatização vai gradualmente minando a própria capacidade de geração de riqueza através da tributação e regulação progressivas, vai chegar uma hora em que a fonte vai secar e a pilhagem não vai satisfazer mais as exigências dos grupos de interesse. Quando isso acontecer, o poder já vai estar concentrado demais e as pessoas talvez se arrependam de terem trocado tanta liberdade por uma suposta segurança fornecida por um grupo que não passa de uma máfia. Uma máfia "legalizada", mas ainda assim uma máfia.
Subscribe to:
Posts (Atom)