Thursday, November 05, 2009
Tropicalismo intelectual: Caetano Veloso
Também sou fã do Caetano, mesmo. Não do tipo que ouve os discos ou vai nos shows, mas que simpatiza com a energia do cara, sabe? Não paro pra ouvir a música porque sou um indie metido a besta, mas leio as entrevistas com interesse porque o Caetano gosta de falar de tudo quanto é assunto e me identifico com isso. O lance é que fiquei com essa mania de interpretar o que os outros dizem pra ver se aquilo faz sentido. Porque muita coisa que é dita pode não ficar de pé com o teste da teoria e da realidade. Por que eu tô falando disso mesmo...? Porque ele diz que vai votar na Marina Silva "por ser demais forte simbolicamente para eu não me abalar" ao mesmo tempo em que endossa as teorias nacional-desenvolvimentistas malucas do Mangabeira Unger. Se há uma contradição entre essas duas posições, o Caetano recorre à "complexidade" da realidade. Realmente, a realidade é complexa, mas complexidade não é sinônimo de caos, confusão ou contradição. Há uma explicação - uma ligação causal mesmo que imperfeita - pras coisas que acontecem. Imagino que essa explicação seja o que ele chamou de "desejo do lucro". Eu traduziria o malvado "desejo do lucro" pela luta pela sobrevivência. Este é o fato que inevitavelmente nos transforma em seres egoístas, no sentido de que pensamos primeiro em nós mesmos. Alguns não se conformam com esse dado da realidade enquanto agem pensando no que é melhor pra eles mesmos. Podem fazer escolhas erradas, mas naquele momento era o que eles queriam ou podiam fazer. Pensando primeiro em si mesmo, você ajuda os que estão em volta de você porque se você quer ter valor, você tem que dar valor. A busca pelo lucro estimula a virtude, porque só lucra quem oferece algo de valor ao outro em todos os sentidos subjetivos da coisa. E dentro desse esquema, quais são as regras a serem respeitadas? O Caetano diz que "simpatiza muito com a tradição liberal inglesa e anglófona", mas não se identifica "com a idéia do estado mínimo". Por que? Não se explica. Deve ser porque ele diz acreditar "no estado regulador". Depois fala que o Freud explica melhor o ser social do que "os marxistas e do que muitos liberais". Freud pode explicar muita coisa, mas não explica os efeitos na economia do estado regulador e empresário que temos hoje. Não, a culpa das crises é do "desejo do lucro" e o estado é inocente. Ele é comandado por pessoas muito diferentes daquelas outras que só "desejam o lucro". Caetano simpatiza com Hume, Locke e Mill, mas vota em Zizek, Gore e Mangabeira Unger. (http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,as-ultimas-de-caetano-veloso-em-entrevista-exclusiva,461281,0.htm)
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5 comments:
Ui, que complexo... Era mais fácil quando você estava falando sobre o cu. :) Beijos, Gisele
DORA KRAMER
Origem e destinos
Do que fala Caetano Veloso – que, aliás, será apontado como preconceituoso por isso – quando diz que Marina Silva não é “analfabeta” como o Lula? Fala sobre o esforço da senadora em se aprimorar e aproveitar as oportunidades dadas pela vida. Fala da recusa da senadora em fazer da adversidade de origem um proveitoso destino.
Fala de uma mulher nascida nos seringais da Amazônia, alfabetizada aos 14 anos de idade e que tem hoje na expressão do idioma de seu país um de seus melhores atributos. Marina não precisa da grosseria para se identificar com seu povo. Ao contrário: oferece-se a ele como prova de que o aperfeiçoamento – de palavras, pensamentos e comportamentos – vale a pena.
Marina não nivela o Brasil por baixo, mostra o valor do esforço e não celebra a indulgência.
Já volto ao tema do cu, Gisele. Beijo
Toda vez que a categoria celeuma está com pouca mídia, vem alguém e entrevista Caetano. (Porém amigos meus publicitários dizem que toda vez que Caetano está meio sem mídia
ele dá uma declaração polêmica. Ou se "reinventa" como os jornalistas gostam de falar da Madona. Esta, não aquela) Então Caetano roda sua metralhadorazinha e escolhe um alvo importante. Naturalmente não vale falar mal do Adriano, o imperador, who cares? Então a mídia deita e rola e ficamos nós a falar de Caetano. Ora, o que Caetano fala ou deixa de falar sobre sua visão do mundo deve ser analisado intrinsecamente, porém Caetano não polemiza intrinsecamente. Na categoria explicação ele enrola. O ministro Gil aprendeu com ele e supera o mestre. Só nos resta o rótulo, a embalagem das palavras. Caetano disse isso. Aquilo. Aquilo outro. Caetano é inteligente, culto, compositor talentoso, intérprete talentoso e só. Fala um monte de bobagem, como o Chico, na sua insistente defesa da ditadura cubana, por exemplo - cuja leitura velhíssima é "ditadura a favor pode, contra não." Eles representam o que? Quem? Artistas?
Então representam também o pessoal que há séculos mama nas tetas da Embrafilme, não importa sob qual regime. Eu ira começar um raciocínio - porque até agora estava caetaneando, apenas - porém está muito, muito quente, e minha reunião começa daqui a 10 minutos.
(Gisele, o assunto é o mesmo!)
hehehe
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