Friday, November 13, 2009
A celulite da celebridade
Alguma surpresa com o fato de que as fotos mais valiosas das celebridades sejam aquelas que as mostrem na praia com quilos e celulites a mais? O povo vai ao delírio numa espécie de vingança. "Sim, nós as admiramos pelo seu sucesso na gincana social, mas veja só como elas são gente como a gente." Então ao mesmo tempo em que almejam aquela fama que não têm, respiram quase aliviadas quando os problemas dos que têm são expostos. Os famosos, por sua vez, vivem o dilema de usar a imprensa quando é do seu interesse e deplorar essa mesma imprensa quando ela divulga um lado que não lhes favoreça. "Uma coisa é a vida pessoal e a profissional". O lance é que essas coisas, obviamente, se misturam. As pessoas que idealizam um artista e o transformam num profissional (com todos os seus bônus) são também as pessoas curiosas com a sua vida pessoal (com todos os seus ônus).
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4 comments:
Celulites adoram celebridades. Povão adora celulite em celebridade. Celebridade adora povão, desde que longe. Os três, isto é, celebridades, celulite e povão, costumam andar juntos, para delírio do povão, delírio da celulite e pavor da celebridade.
Mas como celebridade é doença, a celebridade prefere que falem mal mas falem dela, e levam suas celulites para passear na praia. Naturalmente celulite adora praia.
E aí o post começa a ficar repetivivo.
Celebridade acha que pode tudo. Celebridade é deslumbrada e pode tudo mesmo, porque os demais seres são deslumbrados tal e qual celebridades, pero sem fama. Daí vermos celebridades septuagenárias
casando com quarentões fortões, eventualmente com passagem pela polícia, geralmente imbecis, que as velhinhas célebres levam a passear pelos campos tal e qual touros com argola no nariz. Daí são fotografadas e o povão fala: "Viu só o bofe que a fulanete arrumou? Tem idade pra ser o neto dela." Você pensa que a celebridade liga para tal julgamento? Nadica. Celebridade está acima do bem e do mal. Acho que deveria haver clínica de rehabilitação para celebridade. Onde ela aprendesse que também tem dor de barriga, celulite, andar amatronado, e compreender que suas tentativas de parecer dezenas de anos mais jovem são apenas ridículas e bizarras cortinas de fumaça; lá está ela,balouçante, com a matronidade a lhe pular das dobras do corpo como cachorros ensinados. Pensando bem, não são as celebridades que são ridículas.
É o povinho. É - naquela feliz expressão dantanho - a macaca de auditório que faz a celebridade ser ridícula. Não é que uma não viva sem a outra: uma não existe sem a outra. Isso cria a chamada interdependência neurótica, mas já é assunto para outra enfermaria.
Grande anônimo em oposição às notórias notoriedades.
Pegue a senhora Y e esqueça-se que ela é celebridade. Temo-la por detrás de um balcão vendendo tecidos a metro numa armarinho do interior do Paraná. Seu marido, contador, é aposentado e tem 73 anos. Porém ponhamos que a mesma senhora Y é celebridade. Temo-la em uma lua de mel patrocinada por uma alguma revista, a visitar um castelo do século 12 em Reims - e talvez ela declare ààà mesma revista que "estou emocionada por estar aqui neste castelo que foi construído no mesmo século em que o Brasil foi descoberto" enquanto enxuga com lecinho de cambraia duas furtivas lágrimas que descem-lhe as fauces. A revista publica não por maldade, mas por ignorância. Ao seu lado um fortão de trinta anos de idade,bronzeado, cego de amor. Provavelmente surdo.
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