Wednesday, June 24, 2009
O pragmatismo petista
Quando estavam na oposição, Lula e o PT denunciavam ininterruptamente isso ou aquilo pela imprensa, que publicava o que dizia o "partido da ética" sem pensar duas vezes. Agora no poder, reclamam do "denuncismo" da imprensa que "atrapalha o país". Claro, a liberdade de imprensa servia maravilhosamente quando estavam na oposição, quando eram a pedra. Como viraram vidraça, tal liberdade não serve mais. Tentaram colocar o cabresto na imprensa no início do mandato com o Conselho Federal de Jornalismo. Não conseguiram. Fazem então o que podem, usando as jóias da coroa - as estatais - pra patrocinarem os seus representantes e porta-vozes na mídia. Privatizar essas coisas tiraria dos donos do poder um instrumento de propaganda monumental, além de moeda de troca no jogo político. O que importa é a manutenção do poder, o "pragmatismo" tão celebrado pelos cínicos; os princípios não valem nada, obviamente. Na oposição, Lula demonizava o Sarney. Na situação, Lula angeliza o Sarney. Os fins justificam os meios, é o que o maior demagogo que este país já conheceu nos ensina. O homem também tenta dar lições de economia nos jornais "burgueses". Segundo o ungido, impostos altos são bons pro povo, que pode receber dinheiro do governo e "ir na venda comprar arroz, feijão, cachaça e ativar a economia". Os jornais "burgueses" - aparentemente tão comprometidos em abalar a infinita popularidade do presidente - nem se dão ao trabalho de desmontar a falácia. Ora, ao comprar o arroz, o feijão e a cachaça, o pobre também está pagando muitos tributos. Então funciona assim: com uma mão, o governo tira 5 do pobre (impostos). Com a outra, devolve 1 (Bolsa-Famíla). Com tal prestidigitação, ele garante a sua permanência no poder, colocando no seu bolso e de seus companheiros os 4 restantes.
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8 comments:
Todo político é demagogo...
Isto explica-se economicamente...
Da mesma forma que um governo baseado na força vai ser dominado por militares, um goveno baseado na adesão de eleitores vai ser dominado pelo melhor mentiroso; pelo que tiver a melhor lábia.
Culpe o mercado, afinal, a democracia representativa onde os consumidores (eleitores) compram produtos (pacotes políticos) com suas moedas (votos). É só ler Schumpeter...
Sim, a demagogia é a doença crônica da democracia, não tenha dúvida.
É um concurso de popularidade, de altruísmo com o dinheiro alheio.
Agora, isso não é culpa do mercado, que seria a democracia dos consumidores. Se não houver limites impostos ao estado pela própria população através do seu esclarecimento, a democracia se degenera pra simples ditadura da maioria.
Aliás, já degenerou.
Quando disse mercado, não disse o mercado em si, mas que a lógica eleitoral segue a lógica de mercado, onde os políticos são vendedores e os eleitores, compradores.
Mas há uma "culpa" do mercado, porque o sistema foi moldado a sua semelhança. Assim como o sistema anterior foi moldado em uma lógica militar -- os reis e nobres eram guerreiros.
A classe dominante (aqui, não num sentido marxista, meramente dialética, mas do grupo social predominante) molda o sistema político.
O problema atual é que vemos as falhas, mas não temos uma alternatica concreta para substituir o sistema em que vivemos. E uma pregação kantiana de valores não ira adiantar, porque a economia e evolução natural acabam "assentando" o sistema em sua estrutura.
Qual seria então o "grupo dominante" na democracia? Na verdade, o que existe são vários grupos de interesse usando o estado pra conseguir privilégios às custas dos demais.
Se as pessoas deram legitimidade pro estado ficar do jeito que está, enorme e se metendo em tudo que é assunto que deveria ser da esfera individual, por que as próprias pessoas não podem também entender o que está acontecendo e racionalizá-lo?
Claro, isso não vai partir do povão, tem de partir antes dos formadores de opinião que, atualmente, parecem ter um temor reverencial (não seriam interesses diretos?) em questionar o estado.
Se eu acho que o estado é o problema, eles o consideram a solução (nem que seja pros seus próprios problemas).
Achar que nenhuma pregação de valores ou princípios é capaz de mudar isso é de um determinismo meio niilista que não sou capaz de subscrever.
Os capitalistas formam a classe dominante. Falo isso além do bem e do mal. Eles apenas venceram... O resto é gado... Mas é claro que há outros que se beneficiam -- oficiais militares, cientístas, técnicos, artistas, &c.. O resto é tudo proletário. Mas não estou dizendo que estes têm que se erguer e lutar contra a dominação capitalista... Só estou constatando que eles fazem parte da base da pirâmide social porque são os perdedores. Alguns mais, outros menos, porque a divisão de trabalho permite uma estratificação dentro do proletariado (definindo este como aquele que faz trabalhos repetitivos, com maior subordinação e menos confiança para que tomem decisões). A luta de classes não é entre os que dominam e o proletariado, mas entre os que dominam. O proletariado é apenas o depósito dos derrotados.
Eita!
Já eu penso diferente: a luta de classes se dá entre pagadores e consumidores de impostos. Aliás, cheira a um marxismo meio amalucado as suas teses. Tem algum autor que vc me indicaria pra eu entender melhor o que vc quer dizer?
O que são os "capitalistas"? Os empresários? Mas os empresários são assim com o governo, há uma troca. Os empresários contribuem com os partidos e suas campanhas e, no poder, esses partidos retribuem com "políticas industriais" que os protegem da concorrência, além de licitações públicas e outros conluios. A FIESP se dá muitíssimo bem com o Lula.
Sebastian, a gente se conhece?
Não acho que o Estado seja um problema. Acredito que o problema seja a maneira que ele está configurado e o fato de estar inchado de vícios.
Estou em falta com você pela elegancia do post anterior. Desculpe, não foi por falta de educação. Sophia
Não foi nada, Sophia. Melhoro o que escrevi então. Do jeito que está configurado, o estado é o problema.
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