"Alguém, talvez suspeitando que estivéssemos de caso com o humor, enviou-nos a seguinte passagem de Proudhon. Decidimos reproduzi-la em tradução livre com um misto de orgulho e vergonha - o tipo de sentimento contraditório que você sente quando está com uma bela garota e alguém assobia pra ela: A liberdade, como a razão, não existe e nem se manifesta, salvo pelo constante desdém de seus próprios mecanismos; ela definha tão logo se enche de autoaprovação. É por isso que o humor sempre foi uma característica dos gênios filosóficos e liberais, um selo do espírito humano, o instrumento irresistível do progresso. Pessoas estagnadas são sempre solenes: numa multidão, o homem que ri está 100 vezes mais próximo da razão e da liberdade do que o eremita que reza ou o filósofo que discute. Humor - a verdadeira liberdade! -, é você quem me liberta da ambição do poder, da servidão a um partido, do respeito à rotina, do pedantismo da ciência, da admiração às celebridades, da mistificação dos políticos, do fanatismo dos reformadores, do medo desse enorme universo e da vaidade. Venha, soberano, lance um raio de luz em meus colegas cidadãos; acenda em suas almas uma fagulha de seu espírito, para que minha confissão os reconcilie e para que essa inevitável revolução aconteça com alegria e serenidade. A palavra de Proudhon é l’ironie, que aqui traduzimos como “humor”, possivelmente de forma pobre, mas com certa alegria e serenidade. Depois de muitos verões e invernos tendo a musa do humor como amante e gerente de crédito, sentindo-a quente e fria, seguindo seus caminhos irracionais, tomando seus lábios, nossa afeição não enfraqueceu. A ligação se fortalece, mesmo que cada vez mais inoportuna. Venha, soberana, dê-nos um beijo. E nos livre, nesse exato instante, da vaidade. E.B. White" Sentimentos conflitantes. Que o humor é uma coisa maravilhosa, não resta dúvida. Que a luta contra a vaidade me parece perdida, também. O E.B. White pede que o humor o salve da vaidade, mas não deixa de assinar o texto, assim como qualquer humorista se envaidece a cada risada provocada. Ora, por que não? Há um motivo pro cara se orgulhar, ele usou a sua sagacidade pra dar prazer ao outro. That's a good thing, maaaan. É uma gratificação pessoal pelo reconhecimento de uma virtude. Vaidade e orgulho são palavras que carregam sentidos pejorativos mesmo sendo realidades inescapáveis do homem. Claro, não me refiro às suas caricaturas, falo do orgulho e da vaidade como resultados da ação propositada. Quando um jogador de futebol faz um golaço, ele se sente orgulhoso daquilo, por que não? Se é convocado pra seleção, fica envaidecido. O Proudhon, o anarco-comunista da "propriedade é um roubo", diz que nem a liberdade e a razão existem mas pede que o demos razão. Tenta desqualificar a filosofia e a discussão como coisas menores ao mesmo tempo em que tenta criar uma filosofia. Desdenha da ciência certamente respeitando a lei da gravidade. Fala do "fanatismo dos reformadores" ao mesmo tempo em que tenta reformar a sociedade. Qual a "revolução" que ele fala? A revolução do humor? Como seria isso? Não se explica. Então o camarada fica livre pra se colocar acima dessas questões pra enaltecer "l’ironie" como se uma coisa anulasse a outra.
Monday, October 19, 2009
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