Wednesday, September 22, 2010

Pra quem "não acredita" em ideais

"Não acredito em ideais, muito menos universais." Há todo tipo de ideal, mas alguns são prioritários se você valoriza a sua vida - e você a valoriza, por mais que racionalize esse fato. Sabe como é, a mente também tem o poder de "negar" o poder da mente. O ideal é ter saúde e não doença. O ideal é fazer parte de relações voluntárias e não compulsórias. O ideal é que ninguém te roube, engane, agrida ou mate, certo? Se a gente universalizar esses ideais, chegamos à conclusão de que ninguém quer ser roubado, enganado, agredido ou assassinado, de que todos preferem a saúde à doença, o entendimento à coerção. Se o ideal nem sempre é alcançado, isso não o invalida, ele continua ali servindo como um norte. Imagino que quem diz "não acreditar em ideais" esteja se referindo especificamente à ideologia política, como se a hegemonia desse ou daquele "ismo" não tivesse nenhuma relação com esse ideal de valorização e preservação da vida - o que me leva a um outro raciocínio muito comum. Alguém escreveu "estatização é o caralho" pra desqualificar um candidato à presidência e logo depois, pra mostrar que também não acredita nesse papo de ideologia, tascou um "e privatização é o meu ovo esquerdo." Temos aí claramente a contraposição entre o socialismo (estatização) e o capitalismo (privatização). Essa é a questão política fundamental e quem diz que "tanto faz" está ignorando as implicações práticas dessas visões, porque cada uma delas trata do modo como o poder deve ser exercido e existem diversos exemplos históricos de como essas ideologias contraditórias influenciaram e influenciam a qualidade de vida mundo afora. Ou você toma a decisão de usar a sua capacidade pra julgar esses resultados ou permanece preso num cinismo relativista que coloca tudo num mesmo saco, sem perceber as consequências que essa atitude pode causar sobre a sua própria sobrevivência e felicidade.

Tuesday, September 21, 2010

O welfare state e a xenofobia

Como previsto pela lógica econômica, o welfare state europeu está promovendo uma escalada da xenofobia. A reportagem do O Globo, um primor de desinformação, anuncia que o resultado das eleições na Suécia "abalou os pilares da tolerância e consolidou uma guinada à direita no maior ícone europeu da social-democracia." Isso quer dizer que, no dicionário político do repórter (a matéria não é assinada), a esquerda representa a "tolerância" e a direita representa a "intolerância". Sei. Primeiro a reportagem avisa que a EXTREMA-DIREITA-ULTRA-CONSERVADORA-RUN-TO-THE-HILLS ganhou da esquerda boazinha, mas logo depois esclarece que "a direita sueca parece ter caminhado para o centro em seu discurso". Tá confuso o repórter, mas a coisa não é complicada de entender. O que é o welfare state? É um sistema em que o governo tenta garantir um mínimo de "bem-estar" ao cidadão, mesmo que ele não trabalhe ou tenha uma fonte de renda. Essas garantias são bancadas pelos impostos sobre o setor produtivo e o arranjo funciona se esses gastos não excederem a receita. Acontece que essa alta carga tributária acaba tirando a competitividade das empresas ao mesmo tempo em que cresce o número de pessoas recebendo os benefícios. Essa encruzilhada contábil se complica ainda mais quando chega muita gente de fora atrás desse "bem-estar", quem não quer receber sem trabalhar? Se esses imigrantes (100 mil por ano) têm muitos filhos e se recusam a assimilar os costumes locais, a bomba está armada, a conta não fecha mais. Aí os benefícios diminuem - "temos que apertar os cintos" - e a frustração generalizada vai buscar bodes expiatórios. "Se eu for eleito, vou limitar a entrada dos muçulmanos pra que os filhos legítimos desta terra mantenham o seu estilo de vida." Voilá, o welfare state, que prometia almoço grátis, agora fecha as portas.

Monday, September 20, 2010

Progressives, conservatives and libertarians

Uma das dificuldades de se debater política é a falta de uma conceituação clara das palavras, de se estabelecer de maneira objetiva o que se está dizendo. Sem isso, as discussões ficam vagando perdidas num espaço etéreo, contribuindo pro disse-me-disse emocional que inviabiliza de antemão um debate que não trate apenas dos fins pretendidos, mas dos meios utilizados pra alcançar esses fins. Claro que todo mundo diz querer um mundo melhor, mais feliz, cheio de paz e prosperidade, mas boas intenções e demonstrações ostensivas de bom mocismo não resolvem o problema. Nos EUA não é diferente, as duas principais forças políticas são chamadas de "progressives" e "conservatives", mas ora bolas, quem no Brasil vai querer ser identificado como um "conservador"? Quase todo mundo aqui é "progressista", mesmo não tendo muita idéia do que seja isso, queremos todos "progredir", não é verdade? Então os "progressives" ficam lá no Partido Democrata tentando estatizar o que puderem da economia americana enquanto apóiam legislações especiais pras minorias e toda aquela agenda que aqui no Brasil é identificada como sendo "de esquerda". O socialismo é "progressista", entenderam? Os "conservatives" ficam lá no Partido Republicano tentando, sem muita convicção, barrar a estatização da economia americana enquanto falam em Deus, em espalhar a democracia mundo afora e toda aquela agenda que aqui no Brasil é identificada como sendo "de direita". Só que há uma terceira força em expansão que advoga a separação do estado da economia e rejeita a noção de minorias e demais grupos de pressão em nome do individualismo, os "libertarians". Esse grupo é relativamente novo e ainda não é plenamente reconhecido ou compreendido pelo mainstream, porque a sua filosofia vai claramente contra diversos interesses estabelecidos. A revista New Yorker fez uma reportagem a respeito cheia de erros e o articulista Jeff Riggenbach, do think tank Mises Institute, condensou algumas das confusões conceituais mais comuns em relação aos "libertarians". Libertarianism is a variety of conservatism; libertarians are, you might say, the most extreme conservatives. São radicais por levarem a sério as suas convicções, mas são - de alguma maneira - aliados dos "progressives" em alguns temas, como a descriminalização das drogas, coisa que os "conservatives" nem querem ouvir falar. We live in what is still, essentially, a free-market society. A few trivial regulations have been placed on big corporations in this society, after great and usually futile struggles by well-meaning men and women who hoped to protect the poor and defenseless from these rapacious corporations, but in the main, the free market is what we see around us. Isso é tido como um dado da realidade, como o pôr do sol ou a mudança das estações, mas não há livre-mercado nos EUA, há um arranjo entre corporações e o governo mais parecido com o fascismo e também conhecido como crony capitalism. Os "progressives" fazem uma confusão danada aí, porque culpam as malvadas corporações ao mesmo tempo em que absolvem o seu amado governo, que comanda essa simbiose. O governo tem o monopólio da força, nunca esqueça disso. Conservatives, who include libertarians, are working through such institutions as Fox News, the Tea Party movement, and the Republican Party to change government policy in an even more free-market direction. Conservatives want to cut back the pitiful handful of regulations the well-meaning men and women have managed to impose on big corporations; they want to cut back the few pitiful programs well-meaning men and women have managed to set up to ameliorate the misery of the poor. Essas pessoas que querem restaurar o capitalismo nos EUA são identificadas por aqui como sendo "ULTRA-CONSERVADORAS-DA-EXTREMA-DIREITA", rótulo não apenas pejorativo como mentiroso. Que "ULTRA-CONSERVADORES" são esses que querem acabar com o FED, o cartel que controla os bancos e o dinheiro americano? Que "ULTRA-CONSERVADORES" são esses que querem acabar com a "guerra contra as drogas"? É justamente o contrário, o que não surpreende, dada a inversão nossa de cada dia. Libertarians want to end these regulations and programs altogether. They want to do these evil things because they want the rapacious big corporations to have complete freedom to grind everyone else under their evil heel. These rapacious big corporations want free-market policies because free-market policies will guarantee them bigger profits. Pense bem, quem é que se beneficia com todas essas regulações e impostos que os "progressives" tanto adoram? Uma grande corporação ou uma pequena empresa entrando agora no mercado? Todo esse intervencionismo é como uma reserva de mercado garantida pelo governo, porque uma grande empresa tem a capacidade de contratar contadores pra dar conta de toda essa burocracia e advogados pra encontrar brechas na legislação. Empresários estabelecidos não apóiam políticas laissez-faire, eis outra confusão comum, a de que empresários apreciam a concorrência estimulada por um capitalismo desregulado. Viram como o presidente da FIESP conclamou o governo a criar mais 2 BNDES's e a acabar com as importações? Minha gente, é preciso definir, entender e respeitar os conceitos, a confusão só interessa a quem quer misturar alhos com bugalhos pra que o status quo não seja ameaçado. Fight the power. (http://mises.org/daily/4717)

Thursday, September 16, 2010

Ou vendo Radiohead, certamente ouvindo

Eu devia escrever mais sobre futebol, falar do Flamengo e das particularidades de cada time, sei lá se cada time é tão particular assim, claro que é, se fossem iguais teriam o mesmo nome, veja então o Flamengo do Piauí e o Botafogo da Paraíba, você tem que aparar melhor as arestas do seu discurso, meu bom. Tinha uma outra parada muito maneira que eu ia falar, mas esqueci. Claro que tem patrulha pra tudo, cê acha que na época do Elvis não rolava patrulha, na época dos Beatles não rolava patrulha? P-A-T-R-U-L-H-A. Patrulha do Espaço, não vou me esquecer de você, com suas navezinhas meio Jetsons, porque a Patrulha do Espaço precisa de portabilidade e mobilidade, como um anúncio de celular. Claro que somos acidentes esperando pra acontecer, isso é genial, porra. Imagina a probabilidade daquele espermatozóide penetrar naquele óvulo? Estamos acontecendo. It's gonna be a glorious day. Não, só vou escrever aqui coisas que aperfeiçoem a sociedade brasileira, nada dessas veleidades pessoais, se controle, homem. "Na vida privada temos o direito à diferença. Na vida pública, o propósito da organização social é a igualdade de todos perante a lei." Isso é o que se vê? O que se vê e o que não se vê, mais um pouco e rola uma concretude poética. "A vida privada se constitui em torno do reconhecimento da diferença e da liberdade de cada um em construir seus próprios valores. Uma pessoa pode achar mais importante ganhar dinheiro, e outra estudar. O resultado é que elas certamente serão desiguais no estilo de vida e, naturalmente, na quantidade de bens que irão amealhar." Alguém digitou "compare fascismo com o liberalismo" no Google e foi parar no meu saite. Desista, amigo. Claro que a TV é um instrumento pra se chegar à verdade, ela não é a verdade, sei que todos aqui entendem essa diferença. Diminuiu, mas... Veja como é curioso o sobe e desce dessa palavra "Diminuiu". Como eu ia dizendo, rolava uma coisa meio "odeio TV" um tempo atrás, ainda rola mas diminuiu, porque - eis a minha teoria - os comunistas e simpatizantes associavam a TV à TV Globo, dona da maior audiência. Então os comunistas e simpatizantes chegaram ao poder e trataram de encher de dinheiro público a emissora do Edir Macedo pra tentar competir e quebrar o "monopólio" da TV Globo. Comunistas e simpatizantes, como se sabe, só aceitam um tipo de monopólio e não gostam de competição, aliando-se então aos evangélicos, o que só faz crescer em mim a crença de que nos encaminhamos pra uma nova Renascença. Putz, e aquele início de Exit Music (for a film) que fica só o Thom no violão e o cara no seu cangote tentando cantar junto no seu ouvido? E puxando palma fora do tempo? É a Patrulha da Platéia, se esforçando pra tornar melhor essa experiência, distribuindo shhs desde a Blitz no Canecão em 1984. Tá bom, né?, já escreveu demais. Não, o show não acabou. I do not / understand / what it is / I've done wrong. Pensa mais um pouquinho que você entende. This one is for Franz Kafka... He's dead, but, anyway... We love you!... Shhh! "Ator, para mim, tem que dar a bunda." Tratava com a mesma dureza as mulheres, mas era compreensiva com os travestis. "As pessoas têm de ter paciência com as ‘meninas', entender que elas querem ser femininas e por isso não é fácil bancar a ativa diante da câmera." É, amigo, num tá fácil pra ninguém.

Wednesday, September 15, 2010

Sobre o Projeto Vênus 3

"Uma economia baseada em recursos é um sistema onde todos os bens e serviços estão disponíveis sem o uso de dinheiro, crédito, escambo ou qualquer outro sistema de débito ou servidão." Uma parada meio mágica - tudo está disponível pra todos - isso deve contrariar algumas leis da física, não é possível. "Todos os recursos tornam-se patrimônio comum de todos os habitantes, não de apenas uns poucos selecionados." Sei. E quando eu e o meu vizinho quisermos o mesmo recurso, como é que faz? Aliás, que mal lhe pergunte, quem produz esses recursos? "A premissa sobre a qual esse sistema é baseado é a de que a Terra seja abundante em recursos." Entendi, um apartamento vai se materializar - PUF! - na minha frente do nada, os recursos são abundantes. "A sociedade moderna tem acesso à tecnologias de ponta e pode disponibilizar comida, vestimenta, moradia e assistência médica." Qual "sociedade moderna" não disponibiliza essas coisas? O Afeganistão? O Gabão? "Através da provisão de uma economia projetada de forma eficiente, todos podem desfrutar de um elevadíssimo padrão de vida com todas as amenidades de uma sociedade altamente tecnológica." Economia projetada por quem? Por você, Jacque Fresco?

Sobre o Projeto Vênus 2

Meses atrás, dois amigos me falaram, no mesmo dia, do Projeto Vênus. Aquilo era coincidência demais e lá fui eu tentar entender do que se tratava. Selecionei algumas declarações do líder do movimento, Jacque Fresco, e tentei demonstrar que toda aquela retórica contra o dinheiro e a ganância era apenas uma reedição tecnologizada do velho e mau comunismo. Pra minha surpresa, esse texto tem sido muito acessado e alguns adeptos chegam a mandar mensagens reclamando que eu não posso dar um veredicto sobre o movimento baseado somente nessas declarações do seu líder, que eu tenho que me aprofundar no assunto coisa e tal. Discordo disso, se o camarada diz que o lucro é a raiz de todo mal, já sei que a coisa não presta, mas decidi pesquisar um pouco mais. Foi quando descobri que, não apenas o Projeto Vênus tem simpatia pelo comunismo, como tem no ambientalismo uma das suas principais bandeiras. What a fucking surprise... Repararam na quantidade de comunistas que se bandearam nos últimos tempos pro ambientalismo? Claro, controlar os outros no modo soviético pega mal hoje em dia, tem que se encontrar uma maneira melhor de castrar o ser humano, e o meio-ambiente é a bola da vez. É o comunismo sustentável, não basta mais você entregar a sua vida à comunidade, agora você tem que se sacrificar também pelo meio-ambiente, que não tem advogado e não pode se defender. "O Projeto Vênus foi fundado na ideia de que a pobreza, o crime, a corrupção e a guerra são causadas pelas neuroses e escassez criadas pelo sistema econômico vigente, que é orientado ao lucro e que reprime o progresso de tecnologias benéficas à sociedade." Dá vontade de chamar de "idiota" quem escreve um negócio desses, mas sou educado. A escassez não é criada "pelo sistema econômico vigente", a escassez é uma realidade da existência, independente de capitalismos ou comunismos. Estabelecer um sistema que crie os incentivos e mecanismos necessários pra lidar com esse fato deveria ser o objetivo de qualquer um que valorize a própria vida e a dos outros, mas pra isso é preciso estudar economia e compreender que todo mundo quer ter "lucro", quem quer ter "prejuízo" é um suicida em potencial. "Fresco teoriza que a progressão da tecnologia, se esta fosse continuada para além do limite do que é lucrativo, fará com que mais recursos estejam disponíveis para mais pessoas, produzindo uma abundância de produtos e materiais." Crazy talk, "para além do que é lucrativo", what the hell does that mean? Sem lucro, tecnologia nenhuma é continuada. É o lucro, ou a perspectiva de lucro, que faz avançar o progresso tecnológico. Como se produz abundância através do prejuízo, tem como me explicar isso, seu Fresco? Depois escrevo mais a respeito, a coisa é divertida.

Tuesday, September 14, 2010

Tapa na cara 3

Se consolidou ao longo da história uma grande confusão conceitual, a identificação automática da moral com a religião. ["ó deus-macaco, eu te reverencio com todo o meu louvor", diz o homem de fé] Então o camarada que não acredita em Deus faz, por associação, de tudo pra também desacreditar a moral, como se ela fosse algo arbitrário que servisse apenas pra submetê-lo a uma autoridade invisível capaz de castigá-lo por toda a eternidade. ["falaram que você era o divino e eu acreditei"] Não são necessários 10 mandamentos pra saber que matar, roubar e enganar são atos imorais e, portanto, errados. ["mas fiquei meio em dúvida, porque por aqui cultuam também os elefantes, as vacas e até os ratos... por que escolhi o macaco?"] Por quê? ["era o deus de preferência dos meus pais, deve ser isso... ou não, sei lá", o homem de fé raciocina] Porque você não quer ser morto, roubado ou enganado, não precisa de Deus nenhum pra chegar a essa conclusão. ["meu deus-macaco tem umas regras meio malucas, espero que ele não perceba essa dúvida no meu coração", o homem começa a questionar a sua fé] Se você só não faz essas coisas por medo de um eventual castigo divino, qual o valor então das suas ações? ["talvez o deus-elefante tenha mais a ver comigo, esse meu deus é parecido demais com os homens, tem alguma coisa errada..."] Você não está sendo correto porque quer que os outros também sejam corretos com você, mas porque teme a autoridade invisível. [o macaco tenta então intervir: "uh, uh, uh... ah, ah, ah..."] Se você não respeita a própria capacidade de entender o que é certo ou errado, por que respeitaria essa capacidade nos outros? [o homem reacende a sua fé: "finalmente um som divino do meu deus, mas não compreendo o que ele quer dizer..."] Eis uma raiz das guerras santas, a desqualificação da consciência individual e a consequente supremacia dos representantes terrenos das autoridades invisíveis. ["eu imploro, ó deus-macaco, me dê mais algum sinal..."]

Monday, September 13, 2010

Tapa na cara 2

Tava passeando pelo twitter e avisaram que um blogueiro progressista muito progressista tava respondendo umas perguntas no seu Formspring. [o boneco se arruma todo empertigado pra naitchi] Sou curioso, não tem jeito, e fui lá ver o que ele pensava da vida. [o boneco pode ser meio afrescalhado, mas gosta de bonecas] Uma pessoa então perguntou como o blogueiro se definia filosoficamente e lá pelas tantas ele respondeu que a política determinava a moral. ["vou pegar várias com a minha mão meio Playmobil"] Ou seja, pra esse comunista, quem quer que se aposse do poder tem o direito de impor a moral a ser seguida (menos quando são os adversários, aí essa receita perde a legitimidade, coisas da dialética). ["não sei se você notou, mas sou uma evolução mais realista dos Playmobis", ele esclarece] Não acreditam em princípios universais válidos pra todos, por isso usam de dois pesos e duas medidas, condicionando tudo ao jogo de poder. ["vários filés plastificados na área hein...", o boneco constata satisfeito ao chegar na buatchi] Levando isso ao extremo, se 50% + 1 dos eleitores decidirem que é moral (e nesse caso, legal) mulheres louras darem tapas, do nada, em homens com cabelo lilás, voilá, está justificada a agressão. [avistou então uma boneca loura de vestido rosa, ficou excitado e foi lá passar um lero] É a mentalidade do uso da força em ação, se a gangue X tiver o controle do aparato de coerção, os outros que aguentem, a política determina a moral (e nesse caso, a lei). ["minha deusa, o que você acha da gente se unir num só coração?"] Porque a moral pode ser um conjunto de princípios abstratos, mas é ela que, em última instância, deve orientar a lei e não o contrário. ["antigamente tinha mais mistério e romance, vou te contar...", a boneca lamenta, tentando afastar o boneco inconveniente] Se uma lei não encontra correspondência com a moral correta, ela vai ser constantemente desrespeitada, gerando um ciclo de culpa e corrupção. ["pára com esse doce que eu sei que você quer também...", o boneco insiste] A moral - como as relações - tem que ser voluntária, se for forçada não é mais moral, mas apenas uma simulação covarde e sem convicção. ["boneca, você acha que me engana com esse vestidinho rosa de piranhona? Romance, sei... Vem cá me dar um pouquinho desse mel..."]

Friday, September 10, 2010

Tapa na cara

"Ah, essa moral fica aí me castrando, não há nada que prove a necessidade de uma moral, seu moralistinha de meia tigela reacionária." [o homem já passou por poucas e boas, se aproximando dos seus 60 anos um tanto desiludido com as mulheres] O que é a moral? "Moral deriva do latim mores, que significa 'relativo aos costumes'" ou então "conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, éticas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupos ou pessoa determinada." [tinha decidido nunca mais dar trela pra elas, não quer mais se sentir fragilizado, "já passei dessa fase", diz pra si mesmo] Então a moral fala de como a gente deve agir em determinada circunstância, em relação a nós mesmos e em relação aos outros. [mas a solidão de vez em quando aperta, "eu me basto", diz sem muita convicção] A moral não pode ser algo arbitrário ou sem sentido, porque dela depende a própria sobrevivência da humanidade, sua prosperidade ou decadência. [o homem está estabilizado financeiramente, mas sente - lá no fundo - que falta alguma coisa] Sei que soa meio apocalíptico, mas é isso mesmo. [então num desses momentos de vazio existencial, ele encontra uma mulher jovem e bonita (pelo menos essa é a sua primeira impressão)] Porque a moral existe pra promover a convivência civilizada entre as pessoas, pelo menos este é o ideal de quem valoriza a vida. [então o homem vence a sua resistência interna alimentada por algumas experiências traumáticas e começa a se encontrar com essa mulher] Quem não valoriza a vida (da boca pra fora) e quer instalar o caos e a confusão vai desqualificar esse esforço, mas essas pessoas estão em desvantagem porque o sangue quer viver, todos os nossos instintos clamam pela sobrevivência. ["por que você não vem morar comigo?", ele pergunta depois de algumas semanas quentes com a mulher] O lance é estabelecer que princípios são esses que vão reger a moral e como chegar até eles. [a convivência e a rotina revelam um outro lado da mulher, "ela tem que tomar tarja preta, tadinha..."] Através da religião (revelação divina)? [deus do céu, por essa o homem não esperava, aquela mulher doce de outrora fica agora controlando os seus horários, logo os dele, orgulhoso lobo solitário] Ou através da razão (consciência individual)? ["tive uma reunião que foi até mais tarde, querida...", mas ela não acredita e, num acesso de fúria depois de esquecer a medicação, retalha todos os ternos do homem] Há um motivo que faz ser errado eu chegar e dar, do nada, um tapa na sua cara e ele não serve apenas pra te proteger, serve pra proteger todos nós. ["me bate se tu é homem!", ela provoca]

Monday, September 06, 2010

Sobre o PT e o poder

Os fatos estão gritando, mas as pessoas parecem satisfeitas com o rumo das coisas. O PT foi fundado por intelectuais da USP, pela galera católica da Teologia da Libertação e pelos sindicalistas como um partido socialista que, mesmo assim - defendendo um sistema de concentração de poder que naquela época já havia fracassado miseravelmente (fora o baile genocida) - conquistou a esperança das pessoas. A coisa estava errada desde o início, porque o socialismo não funciona e nunca funcionou, mas o apelo "pelos pobres" e "contra as desigualdades" encontrou terreno fértil nas mentalidades coletivistas e altruístas (da boca pra fora) dos formadores de opinião que, com algumas exceções, não iriam fazer um mea culpa e admitir que defendiam há décadas um modelo inerentemente autoritário. Claro que, seguindo o duplipensar orwelliano (impossível não citá-lo diante das circunstâncias), "ditadura" pra essa gente é "liberdade" e assim por diante, num processo de inversão e esvaziamento do significado das palavras como nunca se viu antes na história deste país (obrigado, Escola de Frankfurt, desconstrucionistas e pós-modernistas). Numa sociedade já extremamente estatizada, a tendência é que a solução dos problemas (reais e imaginários) passe pela mão visível do estado e a arenga da "vontade política" petista acabou encontrando bastante eco. Não apenas isso, mas a filosofia católico-altruísta dominante (da boca pra fora) deu ao PT um senso de superioridade moral que permitiu ao partido (e mais ainda, ao seu líder, um sindicalista carismático) certas liberdades éticas, afinal de contas, se houveram desvios eles aconteceram "em nome da causa" (socialismo?). Sim, o socialismo, como está fartamente documentado nas atas do Foro de São Paulo ("recuperar na América Latina o que se perdeu no Leste Europeu") e em vídeos institucionais do próprio partido ("O socialismo petista" http://www.youtube.com/watch?v=RnCU7dbFL_8), caso as tentativas reiteradas de controle da imprensa e suas alianças diplomáticas (Cuba, Venezuela e Irã) não tivessem dado pistas suficientes. Óbvio que o socialismo contemporâneo não acontece de uma vez só, como a Revolução Bolchevique, a sua instauração deve muito às formulações de Gramsci e acontece aos poucos, com o domínio da cultura (coincidência os artistas, jornalistas e professores universitários serem majoritariamente "de esquerda"?) assentando as bases pro domínio do partido sobre os instrumentos de poder. A coisa se dá quase de maneira anestésica (pelo menos pros que não se dão conta do que está acontecendo), como algo inevitável pelo próprio consentimento dos "cidadãos conscientes" e o aparelhamento do estado já paquidérmico pelo partido e pelos seus aliados no sindicalismo. Se a "justiça social" (um eufemismo pro socialismo) é um imperativo categórico e o PT encarna esse ideal, não vão ser alguns desvios e corrupções que impedirão esse objetivo, essas falhas serão desculpadas por algo maior, o estabelecimento da "justiça social". Ou seja, esse processo circular de servidão da sociedade ao partido foi e está sendo voluntário, porque ainda há algum espaço pro mercado numa variação fascista ("não estatize as empresas, estatize as cabeças") e o sistema está conseguindo funcionar, pelo menos por enquanto. Com uma vitória no primeiro turno, as tentativas de controle esboçadas pelo "Plano Nacional dos Direitos Humanos" (mais duplipensar) terão mais legitimidade e força pra sair do papel, minando ainda mais as liberdades e a economia. O plano do PT é avançar a estatização o quanto puder com Dilma, pra que Lula volte e tente completar o serviço a partir de 2015. Serão anos interessantes de acompanhar, trágicos, mas interessantes.

Friday, September 03, 2010

A diferença entre poder político e poder econômico

O governo anuncia o aporte de 100 bilhões de reais na Petrobras, certamente pra aumentar a sua participação na empresa que abriu o seu capital anos atrás. Os sindicalistas e políticos ainda não se conformaram que o petróleo não é mais 100% deles e o governo usa de manobras contábeis pra retomar o controle completo dessa Jóia da Coroa, notaram como "privatização" virou um palavrão? Sob o ponto de vista da eficiência econômica, isso não tem razão de ser. Veja a Vale do Rio Doce, que rende mais em impostos hoje do que jamais rendeu quando era estatal. Só que "eficiência econômica" não é bem a prioridade do poder, a prioridade do poder é ter o máximo de instrumentos pra se manter no poder, e as estatais são ótimas pra isso porque servem como moeda de troca no toma-lá-dá-cá do jogo político. Essa mão-lava-a-outra, claro, não se limita à política, veja o prestígio que as estatais têm entre o pessoal da cultura com seus patrocínios e editais, eficiência econômica my ass, verba a fundo perdido yes. Mas qual é a diferença entre poder econômico e poder político? Você provavelmente já ouviu alguém jogar as duas coisas num mesmo saco, igualando desiguais pra beneficiar um dos lados. Uma empresa privada oferece produtos no mercado e precisa agradar os consumidores pra ter lucro e não ir à falência. Uma empresa estatal não segue essa mesma lógica, porque tem por lei diversos privilégios de mercado. Se, mesmo assim, der prejuízo, ela sempre pode contar com a capitalização do governo. Uma empresa privada pode ser milionária, mas se deixar de oferecer produtos com a qualidade e o preço demandados pelos consumidores, a concorrência vai tomar uma parte do seu mercado e ela pode falir. Ou seja, a sobrevivência de uma está relacionada à sua capacidade de agradar os consumidores, a sobrevivência da outra está relacionada à sua capacidade de usar a força da lei pra garantir um privilégio.

Thursday, September 02, 2010

Fluxo livre de especulações

A tentativa de explicar o motivo das coisas serem como elas são é uma tarefa complicada que não pode se esgotar na primeira argumentação que se encontra pela frente. Por exemplo, a tese de que o Brasil é do jeito que é porque aqui faz calor o ano inteiro e isso torna os nativos preguiçosos, avessos ao trabalho. Realmente, se o trabalho fosse diversão, ele se chamaria diversão e não trabalho. As pessoas trabalham como um meio de se atingir um fim, o trabalho não é um fim em si mesmo, a não ser talvez o trabalho com arte, mas aí não é mais trabalho, a não ser que as pessoas paguem por ele, o que é raro, a não ser que você tenha bons contatos no Ministério da Cultura ou na Petrobras, o que dá mais ou menos no mesmo. Mas voltando, li uma crônica hoje que falava de como tudo era organizado na Noruega, não havia favelas ou pichações, buracos ou meninos de rua nas calçadas, a grande e celebrada qualidade de vida dos escandinavos. Por que a diplomacia sul-sul nunca funcionou, refém dos primitivismos tribais, religiosos e ideológicos de árabes, africanos, asiáticos e cucarachas, enquanto os irmãos do norte foram capazes de se desenvolver? Primeiro que os amigos do norte (puxa-saco!) têm uma civilização mais antiga que a nossa. Será? Os EUA foram descobertos na mesma época que o Brasil, o que os diferenciou? Lá faz calor e neva também, cobrem todo o espectro do clima e se tornaram a grande potência mundial, o que aconteceu meu Deus do céu? Não, Deus não é a explicação, a ética protestante chega mais perto disso. A Declaração de Independência dos Founding Fathers me parece o documento crucial nesse desenvolvimento, porque garantiu a soberania do indivíduo frente ao poder central. Inverteu-se a lógica: não eram mais os indivíduos que se submetiam a um soberano, era o soberano que se submetia aos indivíduos. Isso só aconteceu porque havia uma sede por liberdade, um leave me the hell alone cuja independência não era da boca pra fora, os americanos não queriam mais se submeter e não se submeteram. O Brasil, por outro lado, teve uma Declaração de Independência proclamada por um membro da própria família real, não sei se isso foi inédito, mas certamente é uma informação curiosa. A Proclamação da República também foi estranha, um relutante Deodoro foi com seu cavalinho no Campo de Santana impedir que o poder fosse parar nas mãos do Conde D'Eu, figura detestada na época. Jesus, onde eu fui parar?! Ali perto da Praça Tirandentes, com seus fliperamas e prostitutas... Não, isso foi nos anos 1990, os fliperamas não existem mais.