Friday, May 03, 2013
Lobão e a altinha nas praias do Rio
A última entrevista do Lobão e a sua inconsistente mas inegável guinada liberal (assinou inclusive a filiação ao projeto de partido Libertários) atraiu toda a reação esperada dos governistas do PT e simpatizantes tentando desqualificá-lo. Algumas reclamações eram sobre a forma um tanto dura com que ele tratou alguns medalhões da MPB, esquecendo-se do conteúdo: a crítica aos fartos subsídios estatais que esses artistas famosos recebem. Crítica justa, quem não é beneficiado diretamente é obrigado a arcar com essa *generosidade* do governo brasileiro. Isso não é simplesmente "incentivo à cultura", existe uma simbiose entre quem recebe os subsídios e quem os concede - em português claro: o estado compra (ou aluga) consciências. Ou algum edital se propondo a criticar o governo, seus aliados e suas políticas tem alguma chance de ser - na linguagem dos burocratas - CONTEMPLADO? As pessoas se reunirem com quem elas se identificam é uma coisa, panelinhas bancadas às custas dos outros é outra. Se não se consegue diferenciar uma associação voluntária (mercado) de uma exercida através da imposição (estado), fica difícil a discussão. Então o Lobão foi acusado de diversas coisas, mas uma acusação específica é um verdadeiro clássico da mentalidade submissa ao poder: a de que ele seria "contra o Brasil". Não, ele não me parece ser "contra o Brasil", me parece ser contra o que o Brasil se tornou, porque país e governo não são sinônimos - ou então toda oposição seria anti-patriótica e se esse raciocínio não for tirânico, não sei mais o que é. Eu mesmo acabei de passar umas semanas na Europa e a volta foi meio traumática, porque alguns contrastes ficaram muito claros. As pessoas no Brasil - em geral - são barulhentas e não têm muita noção do espaço alheio. Isso se reflete não só no excesso de intromissão estatal (essa confusão infernal entre público e privado), mas nas coisas mais comezinhas do dia-a-dia. Por exemplo, meio cansados do frio europeu, chegamos e fomos direto à praia. Como a praia é pública, ela é teoricamente de todos, o que corresponde a dizer que ela não é de ninguém ou é de quem se impõe mais joselitisticamente. Nos sentamos perto da beira do mar e do nada surgiram várias rodas de altinha em nossa volta. Dois caras simplesmente se afastaram 20 metros um do outro e brincaram de cruzar a bola sobre alguns - na linguagem do RJTV - BANHISTAS pra testar as suas miras. Mesmo que tivessem a precisão de um canhotinha de ouro circa 1970 (não tinham), a mera possibilidade de receber uma bolada em alta velocidade na cara já era o suficiente pra deixar as pessoas próximas meio tensas e arruinar aquela vibe contemplativa praiana. Seria então anti-patriótico da minha parte sugerir que talvez esse modelo de praia *pública, gratuita e de qualidade* não é lá o melhor possível? Que as leis que regulam a ocupação daquele espaço não são cumpridas e dão margem pra corrupção dos agentes públicos? Que mesmo quem não vai à praia já paga pela sua manutenção com impostos e que uma privatização poderia dar os incentivos necessários pro uso daquele lugar ser mais justo, eficiente e econômico? "Nesse trecho pode ter altinha, naquele outro pode ter cachorro, ali pode-se fumar, aqui não e etc?" Existem várias praias particulares pelo mundo, mas já posso ouvir os protestos de quem imagina essa proposta como uma abominável forma de segregação social, como se os mais pobres precisassem de uma estatal de telefonia pra adquirir celulares ou de uma estatal de comida pra comer. Eu e (imagino que) o Lobão não somos "contra o Brasil", apenas desconfiamos que as coisas podem (e devem) melhorar e que a concentração de poder no governo não é o modo mais indicado de alcançar isso.
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1 comment:
per-fei-to. não há nada mais ditatorial que o famoso 'brasil, ame-o ou deixe-o'. reclamam taaaaanto da ditadura militar, só que fazem exatamente o mesmo. com a diferença citada pelo lobão: nenhum presidente militar ficou milionário. o mesmo já não pode ser dito pela maravilhosa esquerda festivo-leblonesca do nosso maravilhoso país...
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