Wednesday, May 15, 2013
Ainda a Virada Cultural
O Alex (Guarani-Kaiowá) Antunes descobriu o meu texto sobre o Napalm e a Virada Cultural e resolveu compartilhá-lo duas vezes na sua página do Facebook. Eu entendo, cada um é o assunto favorito de si mesmo. À minha pergunta "alguma dúvida de que ele (AA) vai privilegiar (na escalação do tal festival com dinheiro público) aqueles de acordo com a sua agenda 'contra o pensamento branco'?", ele respondeu: "nenhuma". Gostei da sinceridade, mostrou que o racismo contra o branco (o "branco" possível num país miscigenado como o Brasil) já está tão disseminado que intelectuais orgânicos como o Alex Antunes nem disfarçam mais as suas intenções. E quais seriam elas? Reparar injustiças históricas (como se elas acontecessem no vácuo, sem um contexto) usando o monopólio das leis e das armas (o governo) pra beneficiar uns (os herdeiros dos oprimidos) às custas dos outros (os herdeiros dos opressores). Ou seja, institucionaliza-se o racismo intergeracional como política pública. "Mas é pra acabar com o preconceito e a discriminação..." Não se acaba com o preconceito e a discriminação a não ser que se acabe também com a liberdade de escolha e pensamento; aliás, nem assim, mais capaz de se aumentar o ressentimento entre as, vá lá, "raças". Será que não passa pelo radar desses justiceiros sociais que - ao se recusar uma igualdade perante a lei que incentivaria o melhor de cada indivíduo único, pessoal e intransferível - está se estimulando um conflito que, aí sim, não vai ter fim? Agora são os "negros" e "índios" a reclamar do passado, no futuro serão os "brancos" a reclamar do presente. Quando isso vai parar e as pessoas vão poder se relacionar como seres humanos responsáveis pelas próprias vidas? Aparentemente nunca, se você acreditar - como esse pessoal acredita - em alguma espécie de determinismo social, racial, sexual ou histórico. No segundo compartilhamento do meu texto, o Alex (Guarani-Kaiowá) Antunes disse que "finalmente alguém enxergou a continuidade entre o underground de sp nos anos 80 e o momento político-cultural atual :D". Nem foi tão difícil assim, a esquerda universitária brasileira reverbera - com alguns anos de atraso e um tempero, digamos, antropofágico - o bumbo tocado pela esquerda universitária americana com as suas cotas e feminismos contra o homem branco heterossexual e ocidental, o Judas do PC contemporâneo.
Wednesday, May 08, 2013
J.F. dos Santos, Luana Piovani, Tyra Banks e Dr. Oz
Já se entende, a essa altura do campeonato, que a guerra cultural travada pela esquerda não se resume à velha luta de classes - burgueses X proletários - e engloba todo e qualquer potencial conflito capaz de gerar um controle maior sobre os grupos considerados opressores e exploradores. Um dos fronts usados nessa campanha é um tipo de feminismo em que a igualdade perante a lei não é o suficiente e enxerga a mulher como um ser oprimido e explorado pelo patriarcado. O homem (heterossexual e, de preferência, branco) é o vilão e a história nessa narrativa parece movida por grupos estanques com comportamentos uniformes ao invés de indivíduos com as suas próprias escolhas e circunstâncias. Uma das formas de expressão desse feminismo é o politicamente correto, um filtro ideológico em que certas verdades inconvenientes são substituídas por platitudes, eufemismos e inversões mais confortáveis pra sensibilidade contemporânea. Dois casos nos últimos dias me chamaram a atenção. 1: um texto do Joaquim Ferreira dos Santos em que ele - responsável pela coluna reduto do politicamente correto carioca - vinha com aquele papo cheio de lirismo de que as mulheres não deviam se preocupar com as suas celulites, que os homens não reparam nisso e tatatá. Esse texto foi fartamente compartilhado - onde já se viu, um homem preferir uma mulher magra a uma gorda, isso é opressão, mulher que se exercita pra ficar com menos celulite está se submetendo ao patriarcado, ao padrão de beleza imposto pelo capital etc e tal. A Luana Piovani - apresentadora do Superbonita que não é exatamente famosa por reprimir os pensamentos - respondeu o seguinte ao texto do JFS: “Sugestão declinada. Teremos sim programa para como se livrar delas. Precisamos de audiência e ninguém vai assistir a um pgm que incentive a inércia no duvidoso. Incentivamos a sua melhor versão. Todos temos!" Legal ler mais alguém do mainstream artístico questionando esse enaltecimento do menor denominador comum do pensamento PC. Ué, existe mesmo um certo padrão de beleza (que é menos imposto e mais natural do que esse feminismo imagina) e quem se interessa e se esforça - seja do grupo que for - pode aproximar-se dele ou mesmo alcançá-lo, por que não?, isso vale pra homens e mulheres. 2: mudando de canal, parei no programa do doutor Oz, um médico que ia sempre no programa da Oprah "You Go, Girl!" Winfrey. O doutor mostrava a história de um casal em que a mulher ganhou 30 quilos logo após o casamento. O marido tava insatisfeito (a esposa também, chegou a chorar) e eu imaginei que o objetivo da reportagem fosse encontrar uma maneira de fazê-la emagrecer. Aí volta pro estúdio com o casal, o doutor Oz e a Tyra Banks conversando e descubro que eu havia me enganado, o objetivo não era o emagrecimento da mulher, o objetivo era fazer com que o homem se envergonhasse de querer que a sua mulher perdesse peso. "Você quer que ela perca peso pro seu próprio prazer ou pra saúde dela?", o Oz perguntou, no que ele respondeu "não, doutor, só estou pensando na saúde dela", e a Banks então ameaçou: "você se dispõe a passar pelo detector de mentiras?".
Tuesday, May 07, 2013
Napalm e a Virada Cultural
Não sei se notaram, mas existe, por trás de toda a discussão cultural brasileira, um embate ideológico - ou sendo menos pejorativo, filosófico - que acaba se sobrepondo às declaradas diferenças subjetivas (ou nem tão subjetivas assim) sobre beleza, estética, técnica, prazer ou diversão. Outro dia mesmo, eu tava assistindo a um documentário sobre o Napalm, casa de shows underground de São Paulo do início dos anos 80, em que isso ficou muito claro. Os punks dominavam o lugar por causa da sua revolta agressiva e sem muito foco - contra o "sistema" - no que eram insuflados pelos estudantes mais politizados da USP que, dava pra perceber pelos depoimentos, tinham claramente uma visão marxista da história. Um desses, Alex Antunes, disse que as bandas cariocas da época não eram bem-vindas por lá porque eram "comerciais" e "faziam o jogo das gravadoras". Essa rejeição ou cooptação baseada em afinidades ideológicas - ou sendo menos pejorativo, filosóficas - vem (pra pegar um gancho do livro novo do Lobão) desde antes da Semana de 22 e é determinante pro sucesso ou fracasso de um artista (pelo menos entre essa intelligentsia). Se o artista foge do cânone aprovado pela academia (no caso brasileiro = estatista, nacionalista, coletivista, anti-americanista e anti-cristianista), ele é rejeitado; se o abraça, é cooptado. Enquanto o esquerdismo cultural ficava somente na academia e longe do poder, essa agenda se restringia às críticas e teses abraçadas pelos jornalistas companheiros, mas essa hegemonia nas universidades (o lugar onde teoricamente se concentrariam as pessoas inteligentes) e o conseqüente domínio do discurso público acabariam por ter força o suficiente no imaginário coletivo pra que os seus representantes políticos (PT) finalmente chegassem completa e inapelavelmente ao poder. Então agora o Alex (Guarani-Kaiowá) Antunes não precisa mais pedir pra entrar de graça em boates alternativas e trabalha pra prefeitura petista de São Paulo decidindo quais artistas merecem receber o dinheiro dos "contribuintes" paulistanos na tal Virada Cultural. Alguma dúvida de que ele vai privilegiar aqueles de acordo com a sua agenda "contra o pensamento branco"? (http://viradacultural.org/alex-antunes-nao-ouvi-e-nao-gostei-nao-e-uma-atitude-rock/)
Friday, May 03, 2013
Lobão e a altinha nas praias do Rio
A última entrevista do Lobão e a sua inconsistente mas inegável guinada liberal (assinou inclusive a filiação ao projeto de partido Libertários) atraiu toda a reação esperada dos governistas do PT e simpatizantes tentando desqualificá-lo. Algumas reclamações eram sobre a forma um tanto dura com que ele tratou alguns medalhões da MPB, esquecendo-se do conteúdo: a crítica aos fartos subsídios estatais que esses artistas famosos recebem. Crítica justa, quem não é beneficiado diretamente é obrigado a arcar com essa *generosidade* do governo brasileiro. Isso não é simplesmente "incentivo à cultura", existe uma simbiose entre quem recebe os subsídios e quem os concede - em português claro: o estado compra (ou aluga) consciências. Ou algum edital se propondo a criticar o governo, seus aliados e suas políticas tem alguma chance de ser - na linguagem dos burocratas - CONTEMPLADO? As pessoas se reunirem com quem elas se identificam é uma coisa, panelinhas bancadas às custas dos outros é outra. Se não se consegue diferenciar uma associação voluntária (mercado) de uma exercida através da imposição (estado), fica difícil a discussão. Então o Lobão foi acusado de diversas coisas, mas uma acusação específica é um verdadeiro clássico da mentalidade submissa ao poder: a de que ele seria "contra o Brasil". Não, ele não me parece ser "contra o Brasil", me parece ser contra o que o Brasil se tornou, porque país e governo não são sinônimos - ou então toda oposição seria anti-patriótica e se esse raciocínio não for tirânico, não sei mais o que é. Eu mesmo acabei de passar umas semanas na Europa e a volta foi meio traumática, porque alguns contrastes ficaram muito claros. As pessoas no Brasil - em geral - são barulhentas e não têm muita noção do espaço alheio. Isso se reflete não só no excesso de intromissão estatal (essa confusão infernal entre público e privado), mas nas coisas mais comezinhas do dia-a-dia. Por exemplo, meio cansados do frio europeu, chegamos e fomos direto à praia. Como a praia é pública, ela é teoricamente de todos, o que corresponde a dizer que ela não é de ninguém ou é de quem se impõe mais joselitisticamente. Nos sentamos perto da beira do mar e do nada surgiram várias rodas de altinha em nossa volta. Dois caras simplesmente se afastaram 20 metros um do outro e brincaram de cruzar a bola sobre alguns - na linguagem do RJTV - BANHISTAS pra testar as suas miras. Mesmo que tivessem a precisão de um canhotinha de ouro circa 1970 (não tinham), a mera possibilidade de receber uma bolada em alta velocidade na cara já era o suficiente pra deixar as pessoas próximas meio tensas e arruinar aquela vibe contemplativa praiana. Seria então anti-patriótico da minha parte sugerir que talvez esse modelo de praia *pública, gratuita e de qualidade* não é lá o melhor possível? Que as leis que regulam a ocupação daquele espaço não são cumpridas e dão margem pra corrupção dos agentes públicos? Que mesmo quem não vai à praia já paga pela sua manutenção com impostos e que uma privatização poderia dar os incentivos necessários pro uso daquele lugar ser mais justo, eficiente e econômico? "Nesse trecho pode ter altinha, naquele outro pode ter cachorro, ali pode-se fumar, aqui não e etc?" Existem várias praias particulares pelo mundo, mas já posso ouvir os protestos de quem imagina essa proposta como uma abominável forma de segregação social, como se os mais pobres precisassem de uma estatal de telefonia pra adquirir celulares ou de uma estatal de comida pra comer. Eu e (imagino que) o Lobão não somos "contra o Brasil", apenas desconfiamos que as coisas podem (e devem) melhorar e que a concentração de poder no governo não é o modo mais indicado de alcançar isso.
Thursday, May 02, 2013
O "grande salto pra frente" do PT
Semanas atrás, rolou uma série de mensagens do Olavo de Carvalho no Facebook metendo o pau nos libertários, e apesar de não recordar exatamente o que ia nos textos, lembro de ter dado boas risadas. O que ficou na minha cabeça não foram nem as críticas do Olavo aos libertários (deve ter sido algo na linha "vocês são uns iludidos que abraçam toda a agenda cultural esquerdista"), mas o desprezo sarcástico com que certos libertários trataram alguns dos seus alertas que considero pertinentes. Por exemplo, as denúncias sobre o Foro de São Paulo. Não é claramente óbvio e obviamente claro que os países membros do Foro realmente se apóiam mutuamente no matter what? Que qualquer coisa que aconteça na região e não vá contra o tal socialismo do século XXI conta com o suporte amigo e mesmo financeiro do governo brasileiro? Ué, existe um esforço concentrado e combinado entre as esquerdas latino-americanas e isso não é paranóia ou teoria da conspiração, é só ligar lé com cré. Como o "mundo melhor" dos socialistas do PT e simpatizantes não se materializa por aqui de um dia pro outro com a tomada do Palácio de Inverno pelos bolches numa revolução abrupta e violenta, mas gradualmente e através do processo democrático (50% + 1 virou critério de justiça), poucos se dão conta do que está acontecendo. Pra quem ainda não entendeu, a última peça de propaganda petista tirou a dúvida: o "progresso" (aspas hiperativas e imperativas) do Brasil num grande salto pra frente (alô, Mao) com uma bandeira vermelha sinalizando o futuro da nação (http://youtu.be/qcE_u1oXy0s).
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