Wednesday, December 30, 2009
"O Globo" e a mentalidade dominante
Cada vez menos pessoas lêem jornais, mas eles continuam sendo uma boa amostra do que se pensa por aí. Uma pessoa que lê jornal é considerada, em relação à média, alguém com uma boa formação intelectual, alguém capaz de influenciar a visão de mundo dos outros. Então vou comentar aqui algumas notícias e opiniões dos principais jornais brasileiros, começando pelo "O Globo" de hoje, 30 de dezembro de 2009. A parte de Ciência tem se dedicado há alguns anos a propagandear a tese do aquecimento global antropogênico. Quem lê apenas o "O Globo" fica com a impressão de que os únicos a questionar essa tese são pessoas egoístas com interesses econômicos inconfessáveis, ao contrário dos seus proponentes, altruístas que não têm interesse pessoal algum a não ser salvar o planeta enquanto é tempo. (http://www.midiaamais.com.br/ambientalismo/1917-climategate-siga-a-trilha-do-dinheiro) (http://www.midiaamais.com.br/ambientalismo/1965-outra-fraude-ambientalista) Chegando à seção de Negócios, há uma entrevista muito laudatória com o presidente do Banco do Brasil. A repórter trata o banco público como se a concorrência com os privados fosse igual e diz que "o Banco do Brasil se destacou no pós-crise pela oferta de crédito num período de completa escassez. Ganhou 2% de participação no mercado". Claro, é fácil subsidiar o crédito quando você controla a oferta monetária, não é verdade? Todo o sistema bancário é um cartel controlado pelo governo, mas isso a repórter não diz. "Porra Sol, o 'O Globo' não é um veículo libertário!". Eu sei, estou aqui justamente pra apontar que ele está ali defendendo os seus interesses, inclusive o de não comprar briga com quem manda no dinheiro. Um jornal libertário diria que não deveria existir banco público de espécie alguma, seja um que cartelize a atividade bancária e controle a emissão monetária (Banco Central), um que dê crédito subsidiado aos amigos do rei (BNDES) ou um que faça populismo demagógico com o dinheiro dos outros (Banco do Brasil). Esses instrumentos dão um poder imenso aos políticos e burocratas e, a não ser que você assuma total honestidade e conhecimento desses agentes, isso é arbitrário e perigoso. Depois a Míriam Leitão comenta a eleição do Ben Bernanke, atual presidente do FED, como "homem do ano" pela revista Time. Alan Greenspan também foi eleito várias vezes "o homem do ano", até que a sua política de juros artificialmente baixos causou a atual crise. Mas essas revistas fizeram um mea culpa? Not even close, elegeram como "homem do ano" o sucessor que está fazendo exatamente o mesmo que Greenspan, praticamente zerando os juros e preparando o terreno pra próxima bolha, que - quando estourar - será debitada naturalmente na conta da "desregulação do mercado" pelos estatistas que comandam essas publicações. A Míriam termina dizendo que "o ano termina sem o medo de uma depressão, mas com a sensação de que os dilemas da crise foram apenas adiados e que o resgate à moda Bernanke confirmou a ideia de que no mercado financeiro os lucros são privados, os prejuízos públicos". Sim, os lucros são privados, mas a articulista se esquece de dizer que esses "privados" são aqueles que vivem em simbiose com os representantes públicos, os políticos e os seus bailouts de trilhões de dólares. Por que não se questiona a raiz disso tudo? Não parece razoável inferir que - havendo os instrumentos pra isso - os políticos teriam todos os incentivos pra beneficiar aqueles nobres patriotas que bancaram as suas eleições? Se concentram num sintoma e esquecem de apontar a causa. No Segundo Caderno, o Artur Xexéo publicou uma carta inacreditável mandada pela Fernanda Young, muito irritada por ter sido uma das eleitas como "mala do ano". Sempre que alguém metia o pau nela, eu tendia a defendê-la, pelo menos mentalmente. Mas a prepotência joselita da sua carta ao Xexéo era tão grande, mas tão grande, que faço aqui o mea culpa, ela é mesmo uma "mala". Bonitinha, mas "mala". O jornal pode ser um grande instrumento na manutenção do status quo, mas pode ser divertido também. Como estamos num caderno brasileiro de cultura, a relação com o estado é onipresente. Lá está a manchete: "Lula sanciona Simples da Cultura". Acho ótimo que o governo diminua impostos e burocracia, acho terrível que ele tenha o poder de agradar esse grupo ou aquele, dependendo do seu interesse. Todos ficam reféns do estado e o iluminado da vez ainda sai na foto como um benfeitor das artes. O Lula, aliás, deve ter um índice de aprovação entre a "classe artística" maior do que o que tem no nordeste, ou seja, beirando os 95%. Quem vai falar mal do governo se depende da aprovação dele pra viabilizar os seus projetos? Pra fechar o caixão da cultura, uma entrevista muito favorável à comunista do Brasil Jandira Feghali, secretária municipal da cultura. Na editoria Rio: "4 mil máquinas caça-níqueis são destruídas no Rio". Não encontrei uma palavra melhor que "estupidez" pra qualificar a guerra contra o jogo empreendida pelas autoridades. Guerra contra o jogo que não seja estatal, bem entendido, porque o governo não admite concorrência. Tá lá a escavadeira esmagando as máquinas e ilustrando toda a imbecilidade (vou controlar a minha adjetivação) que norteia a política que tenta nos proteger de nós mesmos. É o contrário, meu povo, a gente é que tem que se proteger contra o governo, é contra ele que a nossa desconfiança deve estar voltada. Ou vocês não têm ainda exemplos o suficiente de mau trato da coisa pública? Por que o jogo do bicho é proibido? Por que os cassinos são proibidos? Por que os bingos são proibidos? Eu queria proibir o estado de dizer onde eu posso gastar o meu dinheiro, mas tá difícil. Como o Réveillon se aproxima, já estão sendo montados os palcos oferecendo o circo pro povo em Copacabana. Claro que as pessoas que moram por ali e não estão interessadas em confraternizar com milhões de desconhecidos de branco não gostam tanto assim da idéia, mas se a maioria gosta, o que há de se fazer? Tapem os ouvidos e os narizes, porque aquilo ali vai virar um banheirão. "Fiscalização da Lei Seca será reforçada nas festas de fim de ano" Por que seria diferente? Os agentes da lei também são filhos de deus e merecem fazer uma caixinha, tudo pelo bem comum, obviamente. Outra coisa que me alegrou sobremaneira foi a decisão da prefeitura em proibir o churrasquinho no Piscinão de Ramos. O poder público gosta tanto de pobre que o proíbe de comer o seu tira gosto favorito. Se não fosse pelo poder público, os pobres sairiam por aí se intoxicando, porque é isso o que os dementes e os incapazes fazem, não é verdade? Obrigado mais uma vez por me proteger de mim mesmo, senhor prefeito. Sim, sou pobre também, quer ver a minha conta? O Réveillon da Barra também suscita polêmicas. A questão é: rave ou pagode? Nem passou pela cabeça da reportagem dar uma outra opção: música alguma, silêncio. Que tal? Por que o pessoal que mora na orla tem que aturar música alta, qualquer que seja o gênero? Esse bundalelê carioca que vai do Natal até o Carnaval deperta em mim os instintos mais primitivos, tenho que admitir. Tentando ignorar - com todo o respeito - a coluna e o mulato do Gois, chego à notícia que pra mim simboliza a administração municipal: "Prefeitura convoca o Cacique Cobra Coral". Querem evitar a chuva na virada do ano através de uma médium. É pra essas e outras que vai o dinheiro do seu imposto, nobre "contribuinte". Une-se o poder da força (estado) com o poder do misticismo (Cacique Cobra Coral) pra dar um pouco mais de racionalidade numa festa que sempre se notabilizou pelo seu apelo científico, como diria Iemanjá. Nas páginas de opinião, o Elio Gaspari segue cometendo os seus artigos. No último, ele dá uma forcinha pra que o Obama consiga transformar o sistema de saúde americano numa espécie de SUS estadunidense. "Saúde de graça para todos", é o que o SUS promete. O que ele entrega não interessa aos bem intencionados dizer, porque saúde, educação, lazer, moradia são direitos de todos e ai de quem questionar o conto de fadas em que esses paladinos da justiça social vivem. É, tomara que os EUA imitem o SUS, talvez assim eles saiam da estagnação tecnológica em que se encontram e sigam os gloriosos passos do Brasil nessa área. A humanidade e o Elio Gaspari agradecem. Sobre o ataque a brasileiros no Suriname, um antropólogo diz que o fato tem a ver com o "tráfico de brasileiros". Como é que se "trafica" um ser humano? Se a pessoa está indo contra a sua vontade, não é "tráfico", é sequestro. Se está indo voluntariamente, não há "tráfico" algum - como se a pessoa fosse um objeto sem vontade própria - há apenas a imigração ilegal. E pra completar, a treta da época da ditadura militar entre as forças armadas e os comunistas. Como um companheiro dos comunistas conseguiu ascender ao poder, eles trataram de colocar as manguinhas de fora e conseguiram indenizações milionárias por terem tentado transformar o Brasil numa ditadura do proletariado. Como dinheiro não é o bastante, agora instituíram uma Comissão da Verdade (http://pt.wikipedia.org/wiki/Minist%C3%A9rio_da_Verdade_%281984%29) pra se vingarem de vez dos militares que frustraram os seus planos totalitários. Uma ditadura militar desastrada, como não poderia deixar de ser, mas menos nefasta do que seria com a vitória dos guerrilheiros. Alguma dúvida?
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment