Thursday, August 23, 2012

Freixo e as ideologias

As eleições se aproximam e chega o momento em que se ouve a pergunta: "Em quem você vai votar?" Em ninguém, não quero mais dar sanção a esse sistema político. "Mas e o Freixo?" Sou contra qualquer candidato socialista. "Mas ninguém liga mais pra ideologia, já ouviu as propostas dele?" Nem precisa, o cara ainda considera o socialismo uma boa idéia, já é o suficiente. "Mas o capitalismo também é uma porcaria..." Me diga então uma coisa, onde você preferiria viver, na antiga Alemanha Ocidental ou na Oriental? Na Coréia do Sul ou do Norte? "Não se trata disso..." Se trata sim, a Coréia do Norte e a Alemanha Oriental são a conseqüência do socialismo que você - em maior ou menor grau - defende. "Ninguém liga mais pra ideologia..." Dizer que "ninguém liga mais pra ideologia" é o mesmo que dizer que ninguém liga mais pra idéias, e as "propostas do Freixo" são justamente as suas idéias. Quem se imagina *pragmático* e acima das ideologias talvez nem perceba, mas o Pragmatismo também é uma ideologia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Pragmatismo). A coisa vai além disso, claro. Quando você testemunha o horário eleitoral nada gratuito e vê praticamente todos os candidatos prometendo as mesmas coisas, você percebe que existe uma certa homogeneidade ideológica, uma doutrina implícita que alguns podem confundir com o bom senso. A social-democracia dominante (essa mistura de socialismo fabiano, marxismo e nacionalismo) não é uma inevitabilidade da natureza como o movimento das marés, é uma construção ideológica com propagandistas (bem pagos ou não) que cuidam pra que certos interesses estabelecidos não sejam ameaçados por uma ideologia contrária. Por isso que qualquer idéia fora do espectro social-democrata (o liberalismo, por exemplo) é imediatamente desqualificada por esses ideólogos do status quo como coisa de gente ingênua, maluca, paranóica, babaca ou FDP mesmo. Não, o governo não tem a obrigação cósmico-divina de existir e muito menos de controlar a saúde, educação, segurança, transporte, lazer, alimentação, cultura, comércio, emprego, crédito, telecomunicação, meio ambiente, petróleo, minério de ferro, carnaval, entrega de cartas e o escambau, isso é o que as pessoas no poder (e as que querem chegar no poder como o Freixo) querem que você defenda, e não é tão difícil assim de entender o motivo. 

Wednesday, August 15, 2012

O "mundo real"

Sempre que se tenta discutir princípios que questionem o status quo, aparece alguém dizendo que "isso não funciona no mundo real". Algumas mudanças realmente não têm chance de acontecer, coisas imutáveis que fazem parte da estrutura da realidade, leis naturais que não se curvam à vontade humana. Por mais que eu tente, balançar os braços não vai me fazer voar. Por mais avançada que a medicina se torne, continuaremos morrendo. O modo como as pessoas se relacionam, no entanto, pode ser mudado, assim como o modo como o poder é exercido. Construções humanas são possíveis de mudar justamente por serem construções humanas, mas se um deputado chegar e propor - por emenda constitucional - a abolição do pôr do sol, esse parlamentar vai estar realmente ignorando o mundo real. Agora, se ele propor a descriminalização das drogas, por exemplo, ele não vai estar ignorando o mundo real, mas simplesmente indo contra a opinião de algumas pessoas, não há nada impossível nessa proposta. Pra usar um caso clássico, um abolicionista em 1700 também seria acusado de "ignorar o mundo real" ao defender algo tão distante dos costumes da época, mas o tempo passou, as percepções se alteraram e finalmente se tornou uma abominação alguém pertencer a alguém. Quer dizer, nem tanto, porque hoje em dia essa escravidão tomou outra forma e as pessoas continuam - de uma maneira certamente mais suave - sendo propriedades umas das outras, a diferença é que agora elas são obrigadas a servir ao que quer que seja determinado pela maioria através do estado e seus representantes, os políticos. Tem que ser assim? Não necessariamente, não existe nenhum contrato social assinado em pedra, esse é apenas o modo como a sociedade é atualmente organizada (ou desorganizada) e isso pode mudar, basta as pessoas - ou uma boa parte delas - chegarem a essa conclusão.