Tuesday, February 14, 2012
+ pós-modernismo
O pós-modernismo não é bem uma doutrina clara e objetiva, é mais um *sentimento* que toma partido (e pede sempre a intervenção do governo) entre o que entende por oprimidos e opressores, fracos e fortes, dominados e dominadores. Se o marxismo identificava a história como um desenvolvimento da "luta de classes", o projeto pós-moderno dá um passo além e enxerga conflito não só entre classes sociais, mas entre religiões, raças, sexos, países, gases carbônicos e tudo o mais que puder render um antagonismo. Quer dizer, nem tudo, nunca se viu um pós-moderno denunciando, por exemplo, o conflito entre pagadores e consumidores de impostos, a indignação é - como não poderia deixar de ser - seletiva. Algumas descrições do livro do Stephen Hicks: "On the one hand, all truth is relative; on the other hand, postmodernism tells it like it really is." É aquela vibe que domina o debate político brasileiro: não existe certo ou errado - "não seja maniqueísta!" - mas o capitalismo é certamente errado, sem dúvida alguma. "On the one hand, all cultures are equally deserving of respect; on the other, Western culture is uniquely destructive and bad." Uma cultura que não aceita a ablação do clitóris de uma criança é certamente superior a uma que a promove - ou não é? "Values are subjective—but sexism and racism are really evil." Pois é, como sustentar denúncias contra o racismo e o sexismo se os valores morais são subjetivos? "Technology is bad and destructive—and it is unfair that some people have more technology than others." Certo igualitarismo preferiria que ninguém tivesse acesso a uma determinada tecnologia a ver alguns desfrutando dela e *oprimindo* os outros. A TV, por exemplo, não surgiu magicamente e simultaneamente nos lares do mundo, ela foi consumida antes por uns poucos e só depois se popularizou. "Tolerance is good and dominance is bad—but when postmodernists come to power, political correctness follows." Como eu disse, o pós-modernismo (ou o marxismo cultural ou o "politicamente correto") não é uma filosofia ou uma ciência, é um projeto de poder e os seus conceitos contraditórios servem a esse propósito. "Postmodernists say that the West is deeply racist, but they know very well that the West ended slavery for the first time ever, and that it is only in places where Western ideas have made inroads that racist ideas are on the defensive." A esquerda pós-moderna vê conflitos potenciais em qualquer relação, por isso é contra o livre mercado e deseja impor um igualitarismo de cima pra baixo. Só que pra se impor algo, quem impõe deve ter mais poder do que quem recebe a imposição, acabando então com o sonho igualitário. "They say that the West is deeply sexist, but they know very well that Western women were the first to get the vote, contractual rights, and the opportunities that most women in the world are still without." Não gostam do Ocidente (ou dizem não gostar), mas ignoram (ou fingem ignorar) que todos os movimentos de contracultura, inclusive o feminismo, tiveram origem nessa cultura ocidental. Os países islâmicos ainda nem separaram o estado da religião, mas não se ouve os brados retumbantes pós-modernos contra os muçulmanos que até hoje apedrejam mulheres por adultério."They say that Western capitalist countries are cruel to their poorer members, subjugating them and getting rich off them, but they know very well that the poor in the West are far richer than the poor anywhere else, both in terms of material assets and the opportunities to improve their condition." Uma lésbica, pobre e negra americana é rica em comparação a um líder tribal africano e isso tem uma explicação distante da narrativa pós-moderna do capitalismo-ocidental-opressor-e-malvadão.
Monday, February 13, 2012
Jean-Jacques Rousseau
"Being richer, more honored and powerful are privileges enjoyed by some at the expense of others." Rousseau era um pré-marxista que também imaginava a riqueza como um jogo de soma zero - se alguém tem, é porque outro não tem. Se alguém tem, é porque roubou - "explorou". "The sciences, letters, and arts, far from freeing and elevating mankind, spread garlands of flowers over the iron chains with which men are burdened, stifle in them the sense of that original liberty for which they seem to have been born." O "bom selvagem" corrompido pela civilização é a versão rousseauniana da maçã cristã do pecado. Tudo ia bem quando nada se sabia, foi o conhecimento que corrompeu os "bons selvagens". "One may very well argue with me about this, but I sense it, and this sentiment that speaks to me is stronger than the reason combating it." Não se faz ciência ou filosofia colocando-se os sentimentos como as premissas auto-evidentes do julgamento. O homem *sentia* que a Terra era o centro do universo, o homem *sentia* que a Terra era plana. "I believe therefore that the world is governed by a powerful and wise will. I see it or, rather, I sense it." O irracionalismo militante pode ser ateu ou não, mas certamente é carregado de misticismo. "The more I think about it, the more I am confused." Se está tão confuso, não seria melhor colocar a viola no saco e organizar os pensamentos antes de sair por aí distribuindo juízos de valor? "While the state can compel no one to believe, it can banish not for impiety, but as an antisocial being, incapable of truly loving the laws and justice, and of sacrificing, if needed, his life to his duty." Se as leis são realmente justas, não há "sacrifício" em obedecê-las. Se são injustas, desobedecê-las se torna um dever. "The requirements of the 'general will' absolutely override all other considerations, so a citizen should render to the state all the services he can as soon as the sovereign demands them." A "vontade geral" anunciando a ditadura da maioria - o indivíduo é nada, o coletivo é tudo. "The private will act constantly against the 'general will', so to counteract these socially destructive individualistic tendencies, the state is justified in using compulsion." Quando você avistar um bom samaritano com o dinheiro alheio gritando cheio de indignação seletiva contra o individualismo, saiba estar diante de um herdeiro de Rousseau. "Whoever refuses to obey the general will will be forced to do so by the entire body; this means merely that he will be forced to be free." Se há coerção, não há liberdade. A natureza não exerce coerção, humanos exercem coerção sobre outros humanos. "The state ought to have a universal compulsory force to move and arrange each part in the manner best suited to the whole." Ou seja, indivíduos são apenas meios pra satisfação dos fins coletivos. Agora, como definir o que quer o coletivo? Votação? 50% + 1? "And if the leaders of the state say to the citizen - 'it is expedient for the state that you should die' - he should die." É, o "contrato social" tem dessas coisas, se a galera no poder decidir, por exemplo, que você tem que se sacrificar numa guerra pelas glórias da pátria, da revolução ou do que quer que seja, não há o que fazer, your ass - Rousseau preaches - belongs to the "general will".
Thursday, February 09, 2012
Modernidade > Pós-modernidade
Ouvia muito falar que a pós-modernidade isso ou aquilo e não entendia bem o que queriam dizer, sentia que era algo que soava meio rebelde, artístico e intelectual - que legal, também quero ser meio rebelde, artístico e intelectual, do que se trata afinal? "Pós-modernidade pode significar uma resposta pessoal para uma sociedade pós-moderna, as condições na sociedade que fazem-na pós-moderna ou o estado de ser que é associado a uma sociedade pós-moderna." Explicação bem pós-moderna - e a modernidade? "A modernidade é definida como um período ou condição largamente identificada como Era Progressiva, a Revolução Industrial, ou o Iluminismo." GRANDE Iluminismo, o indivíduo como um fim em si mesmo e a razão como meio válido pra apreensão da situação, idéias que acabaram com a escravidão e resultaram na separação do estado da religião. A ciência decolou, o que faz sentido: se se quiser ter ciência, ou seja, tomar conhecimento, há que se usar o raciocínio lógico apoiado nas evidências pra se compreender e descrever a realidade. Não se constrói ignorando-se as leis naturais e não se investiga o mundo apoiando-se em superstições, a realidade existe - eu estou escrevendo e você está lendo. Claro que a pilha pós-moderna não pretende substituir a ciência, a lógica, a razão e o individualismo - essas coisas não são realmente substituíveis - mas faz o possível pra desacreditá-las. O ponto do livro "Explaining Postmodernism: Skepticism and Socialism from Rousseau to Foucault: A Discussion" de Stephen Hicks é que os pós-modernos não usam a razão pra relativizar a razão por motivos meramente estéticos ou especulativos, existe um projeto de poder, uma certa unidade de ação que tenta salvar a luta anticapitalista do fracasso do socialismo real. Mais detalhes nos próximos textos. (http://www.stephenhicks.org/publications/explaining-postmodernism/)
Tuesday, February 07, 2012
Dois pesos e duas medidas
Um dos símbolos da justiça é uma mulher de olhos vendados que não quer saber quem praticou o ato porque - pelo menos na teoria - todos são iguais perante a lei. Acontece que, nos julgamentos cotidianos diários do dia-a-dia, dificilmente se vê a pessoa usando esse princípio isonômico e o mais comum mesmo é o juízo obedecer o seguinte critério: isso vai me beneficiar ou prejudicar? Um exemplo: na hora de comprar, as pessoas gostam da competição - quem não quer ter mais opções a preços baixos? Agora, na hora de vender, a competição já não é tão atraente assim - quem quer ser pressionado pela concorrência a trabalhar mais por menos? Esse conflito acaba gerando uma pressão pela liberalização do que se compra e cartelização do que se vende, na forma de regulações, exigências de diplomas e outros protecionismos pra restringir a competição. A tendência vai ser então a formação de grupos de interesse pra reivindicar privilégios de quem tem o privilégio de outorgar privilégios. Essa "guerra de todos contra todos" é ótima pro governo - quanto mais normas, taxas, exceções, burocratizações e dependência, mais poder ele vai ter, mais "legitimidade" ele vai adquirir aos olhos desses grupos que se imaginam particularmente beneficiados. Essa impressão - consciente ou inconsciente - é crucial pra que as pessoas não se toquem da hipocrisia fundamental do sistema: o governo que tem o monopólio da justiça supostamente isonômica é ele mesmo o principal violador da isonomia, o maior propagador do dois pesos e duas medidas. As pessoas não podem roubar, o governo pode e chama isso de "taxação". Os agentes estatais têm foro especial e são julgados por outros agentes estatais. Quem trabalha pro governo tem estabilidade no emprego, quem paga essa conta, não. Ou seja, uns são - por lei - mais "iguais" que outros. Se quem tem o dever de aplicar a justiça é ele mesmo incapaz de ser justo, não devia ser surpresa o predomínio entre as pessoas dessa moral de conveniência.
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