Monday, June 27, 2011
David Mamet e os jornais
A imprensa progressista (socialista) dos EUA entrou em polvorosa ao ver que um dos seus heróis, o dramaturgo David Mamet, havia traído o movimento e virado um "conservador com tendências libertárias influenciado por Hayek" (http://youtu.be/T-CiR1boTw4). Foram então atrás dele pra saber como tinha se dado tal abominação e perguntaram o que ele havia feito - além de ter se transformado num FDP insensível - pra melhorar a própria vida. Ele respondeu que tinha deixado de beber e ler os jornais. Não sou um dramaturgo famoso, mas já se vão uns 10 anos desde que abandonei o esquerdismo padrão brasileiro. Bebo menos do que bebia há uma década e ainda leio o jornal, mais especificamente O Globo, uma versão brasileira do New York Times que o Mamet deixou de acompanhar com satisfação - um dia chego lá. Enquanto isso não acontece, a leitura matinal do jornal continua me dando uma idéia do buraco filosófico que a militância progressista (socialista) cava diariamente na opinião pública. Não que a orientação editorial de um grande jornal tenha como ser radicalmente de esquerda como um A hora do povo da vida, a coisa se dá de maneira mais suave e subliminar, com alguns poucos articulistas liberais ou conservadores contrabalançando o viés progressista (socialista) das notícias. Pode-se dizer que um esquerdista hardcore também consideraria O Globo um inimigo da justiça social, parte integrante do Partido da Imprensa Golpista (PIG), mas a Rede Globo sempre fez parte do grande esquema de poder e só vai se posicionar efetivamente contra a agenda progressista (socialista) do PT quando a situação sair do controle e ficar mais ou menos como está hoje na Grécia. É bom lembrar que o governo é o maior anunciante do país, além de ter a lei e a arma na mão. A social-democracia parece funcionar muito bem pros políticos, burocratas e pros que recebem verbas e privilégios em troca de apoios e votos, até o dia em que a realidade bate à porta e demonstra que esse esquema de corrupção mútua do welfare state é insustentável. (http://www.nytimes.com/2011/05/29/magazine/david-mamet-talks-about-his-shift-to-the-right.html)
Monday, June 20, 2011
A diferença da discussão política
Se eu sou Flamengo e você Botafogo, tudo bem, cada um com seu cada um. Se eu gosto de chillwave e você de death metal, beleza, good luck with that. Se eu assisto reality shows e você nem liga a TV, vida que segue. Agora, se eu acho que o governo tem que ser assim e assado e você considera que ele tem que ser assim, assado, cozido e grelhado, essa diferença vai ter uma outra natureza, porque vai envolver o uso da força. Não sou obrigado a torcer pelo Flamengo, a ouvir chillwave ou a assistir Keeping Up with the Kardashians, mas sou obrigado a obedecer as regras impostas pela mão visível do governo e pelo documento invisível chamado contrato social, quer eu queira ou não. Nenhum problema se você gosta da banda X, do cineasta Y ou do escritor Z, a coisa muda de figura se você acha que o governo deve patrociná-los. Não que não se possa discutir o mérito desses artistas, mas essa discussão vai ficar no terreno subjetivo e o seu gosto não vai interferir diretamente no meu. Se essa sua preferência, no entanto, vier acompanhada do subsídio do governo, ela vai interferir sim no exercício do meu gosto, porque eu vou ter menos meios de exercê-lo, já que uma parte foi desviada à força pra patrocinar X, Y ou Z. Ou se governa igualmente pra todos ou a política vira uma guerra entre grupos de pressão pelo controle da máquina capaz de tirar de um pra dar pra outro. Então a igualdade de todos perante a lei vira uma ficção substituída pela mobilização de pequenos grupos organizados atrás de privilégios às custas da grande massa desorganizada. Quando a religião andava misturada com o governo, ter uma crença diferente da oficial ou não ter uma religião at all podia te causar muitos problemas com o poder, mas quando a civilização finalmente separou a religião do governo, o camarada passou a poder ser espírita, protestante, macumbeiro ou o que quer que seja, a sua opção espiritual se transformou num assunto pessoal ao invés de ser um assunto estatal. Como as pessoas ainda assumem que é papel do estado (e dos políticos) conduzir a economia (e a cultura em geral), o que seriam diferenças estéticas ou éticas se transformam numa briga de foice e martelo pra ver quem vai (tentar) impor os seus valores aos outros.
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