Thursday, December 09, 2010
Recessões (6)
Você ouve um amigo dizendo que investiu em imóveis porque os preços estão sempre subindo, não tem erro, você compra agora e vende depois, sem problema, vai dar lucro com certeza. Veja os gráficos e estatísticas recentes, os números não mentem, certo? Quando os imóveis disponíveis não derem mais conta da procura, você compra então empreendimentos na planta por um preço muito abaixo do que você imagina que terão quando estiverem prontos, um negócio da China, fala sério. Só que algo acontece no meio do caminho e aquilo que parecia lucro de repente se transforma em prejuízo, os bancos páram de emprestar, os financiamentos - que antes eram a perder de vista - secam e todo aquele investimento vira pó. É complicado, porque não foi um erro de cálculo de A ou B, todos parecem ter errado ao mesmo tempo e ao invés dos preços continuarem subindo como nos anos anteriores, eles de repente caem, a recessão chega. O que aconteceu? Como explicar a razão de todos terem errado ao mesmo tempo? Talvez algo em comum a todos tenha sido deliberadamente manipulado... Mas o quê (dinheiro) e por quem (governo)? A última recessão americana, por exemplo. Como se deu essa manipulação? Com o Banco Central americano praticamente zerando os juros por vários anos, os mesmos anos do boom dos imóveis. Não vou discutir agora os motivos do Fed fazer isso, mas o fato é que o crédito fácil inundou o mercado e fez parecerem viáveis - como miragens - empreendimentos que seriam inviáveis caso a taxa de juros não tivesse sido artificialmente zerada. E por que os juros são tão importantes? Porque eles transmitem o preço do dinheiro, o preço que informa a disponibilidade de recursos pra investimento numa economia. Se o nível de poupança é alto, os juros serão baixos e vice versa. Se essa taxa é manipulada pra baixo, as pessoas imaginam uma abundância de capital que não existe. Quando o clima de euforia passa e isso fica claro, o crédito se retrai e tem início a recessão, um período de ressaca em que os preços tentam se ajustar à realidade.
Wednesday, December 08, 2010
Monopólios (5)
Outra confusão espalhada por aí sobre o livre-mercado é a de que ele levaria inevitavelmente à formação de monopólios. Claro que, muitas vezes, isso vem da boca de quem deseja o governo monopolizando tudo, mas beleza, a bronca é livre, pelo menos no sistema que defendo. Quem, como eu, assiste o seriado 30 Rock, sabe que a GE controla diversas companhias que criam desde microondas até perucas, o que dá margem pra muitas piadas. Agora, por maior que seja essa corporação, ela não tem o monopólio de nenhum desses mercados, ninguém tem, a não ser que o governo interfira no processo beneficiando X e prejudicando o resto do alfabeto. Os anti-capitalistas argumentam que as empresas maiores comprariam as menores até terem o domínio completo do mercado pra então prejudicar os consumidores com preços altos e outras maldades. Um caso famoso foi a fusão entre Brahma e Antártica. "A Ambev é detentora de um grande número de marcas nos segmentos onde atua. Estas marcas são originárias das diversas empresas que foram incorporadas durante o crescimento da mesma." São, sei lá, umas 20 cervejas diferentes entre nacionais e importadas, todas sob o controle desse conglomerado. Há um monopólio no setor? Nem perto disso, dezenas de outras cervejas continuam competindo, porque - a não ser que o governo torne inviável a entrada de novos participantes com taxas e regulações proibitivas - vai sempre haver espaço pra novas marcas, sabores e estratégias de produção e venda. É irônico, porque logo depois da reclamação contra essa fusão, aconteceu uma explosão de cervejarias artesanais, cervejarias de restaurantes, cervejas disso ou daquilo, "a cerveja é o novo vinho", é o que dizem por aí, prefiro destilados. Se a concorrência nacional não estiver dando conta, basta facilitar a entrada de produtos estrangeiros baixando a tarifa de importação, coisa que não deveria nem existir in the first place, um dia a gente chega lá.
Tuesday, December 07, 2010
"Concorrência desleal" (4)
A melhor maneira de promover a "concorrência leal" é mantendo o mercado o mais livre possível de interferências e subsídios, longe da arbitrariedade dos agentes do governo, qualquer governo. Veja o mercado de sucos de açaí, por exemplo. Se essas lojas tipo Bibi, Big Polis e Pin Pin decidirem se unir e cartelizar o preço do copo de 300 ml (sem granola) a 5 reais - aumentando em, sei lá, 50% a sua margem de lucro - isso vai motivar o surgimento de novos empreendedores que vão enxergar aí a oportunidade de vender os mesmos 300 ml (sem granola) a 3 reais e ainda ter lucro. Isso, claro, se o governo não estabelecer que somente a galera Bibi-Big-Polis-Pin-Pin (BBPPP) tem o direito de comercializar suco de açaí. Se as empresas que quiserem concorrer forem de capital estrangeiro, pode-se alegar "defesa do interesse nacional", porque as pessoas que gostam de beber açaí podem muito bem pagar 2 reais a mais no copo de 300 ml (sem granola) pela glória da indústria tipicamente brasileira de açaí, não é verdade? Óbvio que os estrangeiros podem contratar então um testa de ferro tipicamente brasileiro pra escapar dessa regrinha e cometer o pecado de vender mais barato que a concorrência, mas o lobby da galera BBPPP é forte e pode argumentar que está sofrendo "concorrência desleal", que os estrangeiros estão praticando "dumping" e que "alguém tem que tomar uma providência pra salvar os nossos empregos". O governo, sensível ao sofrimento de um cartel tipicamente brasileiro, decide subsidiá-lo, pra que ele tenha condição de enfrentar a competição dos "inimigos", os estrangeiros. Então ao invés de baixar o Custo Brasil pra tornar as empresas nacionais competitivas, o governo obriga o fã de açaí a pagar duas vezes: no copo de 300 ml (sem granola) subsidiado e no subsídio em si. Quem realmente sofre "concorrência desleal" tem a língua colorida, só digo isso.
Monday, December 06, 2010
Uma minoria perseguida: os empreendedores (3)
Demora-se em média 152 dias pra se abrir uma empresa no Brasil, fora o baile dos impostos. "Na prática, pra abrir uma empresa no Brasil é necessário pagar de 12 a 16 taxas e obter 43 documentos." Pra fechar a empresa que não deu certo, o processo é 12 vezes ainda mais lento, o que faz com que 80% desses empreendimentos não dêem sequer baixa nos órgãos públicos, criando uma confusão burocrática de custos diretos e indiretos difíceis de calcular. Faz sentido, depois de zerar a sua poupança e ir à falência, o empresário não tem mais dinheiro ou energia pra enfrentar outra via crucis. Esses números apenas ilustram o modo como a livre-iniciativa é encarada no Brasil, com desconfiança e, muitas vezes, hostilidade. Isso acontece por diversos motivos, mas algumas incompreensões do processo econômico são cruciais pro estabelecimento dessa cultura anti-empreendedorismo. Pra começar, a noção de que o empregador "explora" o empregado. Cria-se então milhares de regrinhas de como as relações trabalhistas devem ser, o que encarece e atrasa um processo que deveria ser dinâmico. Na verdade, empregado e empregador "exploram-se" mutuamente, o empregador aumentando a produtividade com o empregado e o empregado beneficiando-se da acumulação prévia de capital do empregador. Só que esse benefício só acontece se o negócio prosperar e der lucro, o que a cultura anti-capitalista faz de tudo pra evitar. Depois de tentar proteger os empregados dos empregadores, a mentalidade pró-controle tenta proteger os consumidores dos produtos e serviços oferecidos pelos empresários. São criadas então mais milhares de outras regrinhas que o empreendedor vai ser obrigado a cumprir caso não queira receber uma visita ainda mais onerosa dos representantes do governo, os fiscais. Pense na margem que isso dá pra corrupção. É como se fosse do interesse de um dono de restaurante, por exemplo, servir comida estragada aos seus clientes. Não é, como pretendo demonstrar nesta série de textos.
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