Monday, November 29, 2010
Olinda
Na praça que fica no início do centro histórico, o carro de som com todos os seus 15 megafones anunciava a realização na cidade da Fliporto, evento literário em que artistas e intelectuais provavelmente cantariam as glórias desta terra abençoada, salve salve o dinheiro público que viabilizou o evento - you better put me on a good spot, brother - uma mão lava a outra, sabe como é. Bom mesmo ficar atento, porque aquela área é onde mais se mata no Brasil e os noticiários locais não me deixavam mentir, o bicho pega mesmo quando os amigos do povo estão no poder. Incrível a quantidade de adesivos da Dilma, dava pra fazer um tumblr maneiro com o tema. A cidade tava vazia, mas a música não podia parar. Não descobrimos de onde vinha aquele som que tocava todas as tardes, mas desconfiamos que era obra do G.R.E.S. Preto Velho, que fica no alto do centro histórico. Ao contrário dos guias locais que ficavam perturbando os poucos turistas em busca de algum caraminguá, a música não nos incomodou em nada, numa vaibe meio fanfarra hipnótica, trilha sonora que embalava os descansos pós-caminhadas pelo sobe e desce de Olinda. Se existe algo universal em qualquer cidade, são os seus cachorros de rua. Não, existem muitas outras coisas em comum, mas não resisti ao clichê. Esse aí - a coleira indica - tem dono e parecia muito orgulhoso do seu quarteirão, mas fazia tanto sol que foi se refugiar na sombra da entrada de uma das casas. O céu parecia estar sempre azul e os restaurantes pareciam estar sempre fechados ou vazios, padrões constantes em nossa passagem pela cidade. Sol na moleira e dificuldade em achar um lugar pra comer. Agora uma explicação: o que essa reclamação tem a ver com a imagem do simpaticão? Eis a questão. A vista do mar no alto do centro histórico era bem bonita, essa é a visão desde a sede da prefeitura, que parecia, de dia, ser o ponto mais movimentado da cidade. Ouvia-se as pessoas falando que tinham que resolver isso ou aquilo com o prefeito - "eu conheço o homem, vai dar tudo certo" - até que, de repente, o tempo virou e veio uma daquelas chuvas que eu agradeceria aos céus se isso fizesse alguma diferença. O vapor subiu e a temperatura baixou. Uma exibição dos bonecos de mamulengo ficava exatamente na sede da prefeitura e o funcionário do lugar explicava que aqueles bonecos é que eram "tipicamente brasileiros, porque influenciados por X ou Y", ao contrário dos bonecos mais ao sul do país, "influenciados por W ou Z". De onde vem essa ânsia em delimitar e subsidiar o que é ou não é "tipicamente brasileiro"? O museu dos bonecos "tipicamente brasileiros" ficava mesmo no lugar certo, porque não há nada que paralise mais a cultura de um lugar que o seu governo decidindo o que é ou não é cultura. A cultura é dinâmica e não obedece fronteiras ou autoridades, gente, ou melhor, ôxente, ou melhor, ôxe.
Thursday, November 25, 2010
O que é o capitalismo? (2)
Não sei se foi Marx quem inventou esse termo, mas foi ele quem certamente o popularizou. Falo em "capitalismo", mas poderia falar em liberalismo, livre-mercadismo, laissez-faire ou libertarianismo, que não são exatamente sinônimos, mas representam mais ou menos a mesma idéia. Segundo Marx, a história do capitalismo se desenvolve através da "luta de classes" entre opressores (burgueses) e oprimidos (proletários), com os burgueses "explorando" os proletários através da "mais-valia" (lucro). Esse esquema mental é muito popular, sendo adotado por aí de maneira consciente ou não, mas não resiste a uma análise lógica simples, por exemplo: uma diarista, dizem os marxistas, é "explorada" pelos seus patrões, que contratam os seus serviços por X reais por dia. Ela concorda em ser "explorada" por esse valor, faz o serviço e recebe então o dinheiro resultado dessa "exploração". Com ele, ela decide comprar mantimentos na quitanda do seu bairro depois de ter feito as unhas numa manicure. Pergunta aos marxistas: a diarista também "explorou" o dono da quitanda e a manicure ao contratar os seus serviços? Não, ninguém "explorou" ninguém no processo, as pessoas trocaram bens e serviços de maneira voluntária baseadas em seus próprios interesses e necessidades. A dona da casa onde a diarista trabalha não tem poder algum sobre ela a não ser nos termos acordados. A diarista presta um serviço e em troca recebe um valor. Não há coerção entre as partes, há uma troca. Quando compra pão, requeijão e refrigerante na quitanda, ela não está "oprimindo" o quitandeiro, eles estão realizando uma troca voluntária em que ambos saem satisfeitos, caso contrário não a realizariam. Não há conflito entre ela e a manicure, há cooperação. Não respondi exatamente o que é o capitalismo, mas esse último raciocínio dá uma boa pista a respeito.
Wednesday, November 24, 2010
Capitalismo: o ideal desconhecido (1)
Uma pessoa fala uma coisa, a outra entende outra e um monte de diferenças de percepção e preconceitos interditam a discussão. Ok, vamos celebrar as diferenças, mas se a nossa diferença envolver o uso da força de um sobre o outro, vai acontecer um impasse que tenta-se resolver através da política, do jogo de poder que determina como se deve e quem deve exercer esse uso da força. A paz não se impõe com uma arma, mas a paz impõe o uso da arma em legítima defesa. Ou seja, você não pode iniciar agressão, essa é a lei. Caso inicie, uma agressão proporcional contra você é justificada. Há um intenso debate sobre as culpas disso ou daquilo, a origem da propriedade de X ou Y, a escravidão, as capitanias hereditárias, a guerra contra as drogas, a legitimidade do estado e etc. Beleza. O que estou dizendo é que há uma lei acima das ações e papéis dos governos de todas as épocas e lugares que pode-se chamar de "natural", que estabelece que você não pode matar, roubar ou enganar o outro. "Natural" porque não se pode fazer com os outros o que não se quer que façam com você. Ou você quer ser morto, roubado ou enganado? As particularidades e circunstâncias podem justificar algum positivismo nas regras, mas a essência da lei deve seguir esse princípio de não agressão, que "é um princípio ético e jurídico, paralelo ao da propriedade de si mesmo, que sustenta que deve ser legal para qualquer indivíduo fazer o que deseje, sempre que não inicie (nem ameace) violência contra a pessoa ou a propriedade de outro indivíduo. Afirma que a coação - definida como o início de força física, a ameaça de tal, ou a fraude às pessoas ou seus bens pacificamente adquiridos - é intrinsecamente ilegítima e deve ser recusada. O princípio não se opõe à defesa contra a agressão, ao invés, a respalda e legitima." Ou seja, a liberdade de um termina quando começa a do outro. Pretendo demonstrar nos próximos posts, usando como gancho os capítulos do livro da Ayn Rand, que o capitalismo - corretamente compreendido - é o único sistema compatível com o princípio de não agressão.
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