na insalubre masmorra do castelo medieval / com as mãos atadas aos grilhões do mal / ultra violeta maldiz o seu algoz / o terrível señor feroz / déspota do reino da fantasia autoritária / "não gostou? já pra solitária!" / onde delírios pessoais tomam formas de leis / e homens de collants se imaginam reis
pois qual foi o crime de ultra? ora, señor feroz dispõe do monopólio da força e acha que a pessoa não pode isso e não pode aquilo que a sociedade - ele - imagina ser o melhor pra sociedade - ele - tem-se em alta conta e diz que tanto controle é "pro bem da própria sociedade" - ele - vinha há tempos perseguindo ultra violeta - folclórica figura do condado com dons de druida que colore a vida dos vassalos com suas poções de efeitos mágicos
ah, mas não era apenas a poção que incomodava o carola feroz - ultra violeta, bon vivant inveterado, também promovia festanças regadas a comes, bebes e jogos - bingo! a legalização do jogo é pra ontem aqui a jogatina é outro monopólio estatal
questionado pela população do feudo desde o último arrocho de impostos, feroz pretende reafirmar seu reinado de terror oferecendo violeta como um exemplo do que acontece quando alguém sai da linha - ó, horror medieval - na realidade babando de inveja da popularidade de seu cativo no condado, que na surdina conspira uma insurreição
de fato, violeta é um totem na vila: alto astral, o druida boêmio anima o feudo fica sabendo da data de sua execução - ó, horror medieval - e servos e vassalos unem-se para resgatá-lo bebendo uma poção by violet e convocando o dragão de estimação da revolução vai invadir o castelo de señor feroz tem uma ponte elevadiça e um lago com jacarés não são páreos para dragões
enquanto isso, ultra esfomeado come o pão que o diabo feroz amassou com requintes de crueldade as suas bolas clamam piedade aos ceús! como señor é mau - ó, horror medieval - nos intervalos das torturas eles conversam e violeta tenta jogar uma luz à razão do déspota já se esvaneceu numa névoa de ressentimento e prazer sádico em breve nos cinemas: épico feudal estrelando o dragão da bondade contra o collant faceiro do déspota era a piada preferida do último bobo da corte já era
sim, o bom humor e a paciência totalitária têm limites, e o clero também reprovava enfaticamente o lifestyle de violeta, que tem mais uma culpa no cartório: um affair com señorita ferocita, fogosa espanhola insatisfeita com o semi-celibatário feroz - "sexo só pra procriação!" - ih, os carolas vão chiar - "ih, não vão nem espiar" - pois perderão isso: o fabuloso resgate de ultra violeta pelo dragão de estimação da revolução soltando fogo pelas ventas
é bom avisar pros corações se prepararem - as liberdades individuais dos servos inexistiam questionamentos e dúvidas sobre a bravura e coragem de ultra violeta, que suporta o castigo feroz estoicamente - até que, sangrando, vira-se de súbito para o seu feitor e lança: "já comi a sua mulher" equivalia naquele momento a uma antecipação de sua execução - ó, horror medieval - então señor feroz, exaurido pela surra violenta que aplicava em violeta, senta-se, coloca a mão na cabeça e chora, chora copiosamente como nunca se viu um déspota chorar é uma cena e tanto - "ultra, sou infeliz! toda essa vontade de controlar a vida dos outros é fachada, meu sonho é liberar o meu verdadeiro eu" já entendeu que o señor feroz precisa mesmo é de uma boa picardia medieval homossexual naquela época sofria pra caramba, o dragão tá se enroscando lascivamente com os jacarés nadam felizes na poção mágica de ultra violeta só não vai quem já morreu