Thursday, September 22, 2011

As guerras dos EUA

Rolou outro dia uma entrevista do Penn Jillette em que ele dizia que o ateísmo acontece normalmente de maneira gradual, através de muita leitura e introspecção. Não foi o meu caso, nunca dei muito crédito à conversa religiosa, como assim uma virgem ficou grávida do filho de Deus? Céu, inferno, esse papo todo me soava um grande caô místico e nem cogitei a existência de um ser onipotente-onisciente que criou tudo e ainda fiscaliza as nossas ações e pensamentos. Minha posição ao longo do tempo não mudou muito em relação aos homens invisíveis das religiões, mas mudou bastante em outros aspectos. Eu era um social-democrata que votava no PT, como a maioria das pessoas da minha convivência. Não tinha dúvida de que o governo devia fazer isso, aquilo e aquilo outro e que o socialismo era uma idéia boa que precisava apenas ser implementada pelas pessoas certas através da sanção da maioria. Depois, aí sim, de muitos anos de leitura e introspecção, é que fui chegar à conclusão de que o socialismo não é uma boa idéia e que a intervenção governamental não é a solução, é o problema. Me familiarizei então com teorias que confirmavam de maneira lógica e consistente a minha intuição de que cada um deve ter a liberdade de fazer o que quiser, desde que respeite o espaço do outro. A defesa do princípio de não-agressão e do indivíduo como um fim em si mesmo deu tratos à bola teórica, isso sim faz sentido se o ideal é a liberdade individual. Agora, se eu não tenho o direito de te impor nada, por que isso seria permitido na relação entre países? "The endless Wars to bring freedom, justice, democracy, peace, prosperity, blah, blah, blah to the Middle East must continue according to the neocons." Pois é, por mais que esses objetivos soem nobres à primeira vista, tentar impô-los à força parece ter o efeito inverso ao pretendido. A tal Primavera Árabe vai acabar colocando no poder gente ainda mais fanática pelo Islã e hostil aos EUA. "According to the 2008 official Pentagon inventory of our military bases around the world, our empire consists of 865 facilities in more than 40 countries and overseas U.S. territories. We deploy over 190,000 troops in 46 countries and territories." Se um país ocupa militarmente outro, é natural a reação dos que estão sendo ocupados. Ou não é? "President Obama told us on October 27, 2007, that the day he gets into power, he will bring the troops home. Then he added, 'You can take this promise to the bank.'" Isso mostra que toda aquela mobilização contra o W. Bush era disputa de poder, cadê a esquerda americana protestando agora contra as guerras e as ocupações? Se a galera do outro partido tá no poder, a guerra é um absurdo, se a minha galera tá lá, a violência é justificável? "Pentagon documents record 109,032 deaths broken down into "Civilian" (66,081 deaths), "Host Nation" (15,196 deaths),"Enemy" (23,984 deaths), and "Friendly" (3,771 deaths)." Na sua opinião, esses números mostram que a aventura americana no Oriente Médio ajuda ou prejudica o processo de paz? "After the first Gulf War we stationed 5000 troops in Saudi Arabia to keep order, to protect the Royal Family. 15 of the 19 9/11 terrorists were Saudis." Faz sentido, não? Não seria melhor deixar os muçulmanos em paz e atuar somente em casos de legítima defesa? "5000 foreign troops in the muslim holy land was an insult to many Saudis and other muslims." Pela carta que o Bin Laden escreveu após o 11 de setembro, fica claro que se trata de uma guerra santa e que a presença ali de maneira ostensiva dos EUA só faz piorar as coisas e dar uma justificativa pra essa jihad maluca. "We're $14 trillion dollars in debt. We're spending $6.7 BILLION dollars a MONTH on our "wars" in the Middle East -- the majority of that in Afghanistan." Mais um motivo pra desocupar esses países, os EUA tão atolados em dívidas e o dólar só resiste porque a concorrência (euro) tá ainda pior. (http://blog.nj.com/njv_paul_mulshine/2011/09/reaction_to_ron_paul_shows_som.html)

Tuesday, September 13, 2011

A corrupção

"A corrupção pode ser definida como a utilização do poder ou autoridade para conseguir obter vantagens, e fazer uso do dinheiro público para o seu próprio interesse, de um integrante da família ou amigo." Então uma parte da população se mobilizou de preto contra a corrupção, numa manifestação diferente das que o Brasil se acostumou a ver com as tradicionais bandeirinhas vermelhas da CUT, UNE, MST, PT e demais movimentos socialistas anunciando a sua verdadeira intenção. A moralização do uso do dinheiro público? Não, o objetivo sempre foi a conquista, a manutenção e a expansão do poder. Eles chegaram lá, se entregaram ao que antes criticavam e, como não estão acostumados a ser questionados, ficam tentando controlar ainda mais a imprensa, mas o meu ponto aqui é outro. Sem que se faça a ligação causal entre o controle do governo sobre a sociedade e a corrupção, nada feito, um mar de lama vai ser substituído por um outro mar de lama - num lodaçal sem fim - sem que se ataque a raiz do problema. Quando dois entes privados entram num acordo usando as suas respectivas propriedades, não há corrupção, há uma troca voluntária. A corrupção é um fenômeno estatal que envolve não só o desvio do dinheiro público, mas o poder de se usar a lei pra se conceder privilégios em troca de alguma vantagem. Isso acontece porque o governo tem o poder - exercido à força - de tirar de A pra dar pra B, de dizer como as pessoas podem se associar e o que elas podem comprar ou vender, além de ter o monopólio em diversos setores. Com esse poder todo, o governo se transforma num grande balcão de negócios, alguma surpresa? A corrupção começa na própria democracia: "Vote em mim que eu vou conseguir isso pra você." Se o político puder concentrar os benefícios em quem votou nele e espalhar os custos pela sociedade, melhor ainda (pra ele e pra quem recebeu o benefício, o resto paga a conta). Essa corrupção institucionalizada nas próprias eleições se espalha então pelas relações dentro do governo, no toma-lá-dá-cá com o dinheiro dos outros. É comum na política se trocar votos no plenário por cargos na máquina estatal e ver empresários retribuindo favores a governantes, é o modus operandi da coisa pública. Só que chega uma hora em que a malversação de recursos fica evidente demais e as pessoas saem do seu estado natural de conformismo ou cinismo e exigem que se tomem providências: "corrupção como crime hediondo!" Esse tipo de proposta não tem muita chance de ser aprovada pelos políticos (adivinhe o motivo), e se fosse, seria apenas mais uma entre as milhares de outras leis feitas pra não serem cumpridas. Um ou outro bode expiatório poderia até ser sacrificado de vez em quando, mas o esquema permaneceria. Ou você acha que sobraria muita coisa dentro ou fora da administração pública caso toda pequena ilegalidade ou corrupção do cotidiano diário do dia-a-dia fosse realmente punida com a prisão? Se honestidade significasse o cumprimento de todas as regrinhas da legislação brasileira, não sobraria uma pessoa honesta neste país. E é esse mesmo o objetivo, deixar todo mundo devendo alguma coisa pra se exercer o poder através do medo. Faz sentido, considerando que o estado funciona como uma espécie de Deus laico contemporâneo. Quer diminuir a corrupção? Diminua o controle que o governo exerce sobre você.