Tuesday, May 31, 2011

A maconha e as ideologias

Rolaram passeatas em favor da descriminalização da maconha com alguns confrontos com a polícia, o que motivou uma outra passeata chamada de Marcha da Liberdade, em que o governo deixou a galera se juntar com cartazes contanto que não usassem a liberdade de mencionar a maconha. Me tornei liberal depois de ficar encasquetado com algumas questões que a social-democracia padrão não era capaz de me responder de maneira satisfatória. Por que o governo me proíbe de consumir isso e aquilo? É pro meu próprio bem? Mas como é que os outros vão saber o que é bom ou ruim pra mim? Se eu quiser consumir algo por livre e espontânea vontade, sem iniciar violência, o que a lei tem a ver com isso? Não seria através do processo de tentativa e erro que a humanidade e a ciência avançam? Se a virtude vai ser imposta sob a mira de uma arma, ela continua sendo virtude? Então juntando dois princípios que sempre me fizeram sentido (1 - a liberdade de um termina quando começa a do outro e 2 - a liberdade tem que ser acompanhada da respectiva responsabilidade), me tornei um liberal favorável não só à legalização da maconha como de todas as substâncias e atos consensuais. Legalizar uma prática é uma coisa, apoiá-la é outra, por exemplo: Ron Paul, o libertário mais famoso dos EUA, é um senhor religioso de quase 80 anos casado há mais de 50 com a mesma mulher que não deve nem saber identificar direito o cheiro de maconha, mas apóia a sua legalização por entender que as pessoas devem ser livres pra cometer os seus erros e acertos, aprendendo no processo. Roubou ou matou pra manter um vício? Vai responder na justiça, liberdade e responsabilidade. Isso não é levado muito em consideração no debate atual, talvez porque esse individualismo diminua o poder político de se interferir na vida alheia, talvez porque se considere que as pessoas não sejam mesmo capazes de cuidar de si mesmas, talvez porque esse papo de liberalismo seja uma utopia maluca contra os pobres, tudo isso junto e misturado faz a discussão ficar polarizada entre os argumentos esquerdistas e conservadores. Conservadores como o Reinaldo Azevedo dizem que o usuário financia a violência do tráfico e esquerdistas como o FHC dizem que o consumo é uma questão de saúde pública. Ambos estão, sob o prisma liberal, errados. O usuário só financia a violência do tráfico porque a maconha é proibida in the first place e nem todo usuário é doente ou quer ser tratado pelo SUS. Entre o remédio e o veneno, a diferença é a dose e cada um deve ser livre pra decidir a própria dose, arcando com as conseqüências da sua escolha. Fora da responsabilidade individual não há salvação, apenas outras pessoas decidindo por você.

Friday, May 27, 2011

Green peace, war on mankind 3


"Sol, parece programa da Regina Casé, mas quando a gente está escrevendo estas poucas linhas você sabe quantos hectares estão sendo desmatados? Quinhentos por dia. Multiplica por dez mil metros..." O novo código preserva, pelo menos no papel, 70% dos chamados biomas, sobrando 30% do território pras atividades humanas. Se é essa a proposta que deixou os ambientalistas furiosos, quem é que não está sendo razoável? "Sol, pergunta pro pessoal de Itaunas, no Espírito Santo, o que eles acham dessa cascata de maré enchendo." Ninguém constrói as suas casas perto do mar esperando vê-las engolidas pela natureza, o que não é o mesmo que dizer que esse evento foi causado por X (ação do homem) ou Y (ação do homem). "Sol, o problema é que dá pra consorciar hortifrutis com floresta, mas e a ganância de derrubar aquela tralha toda e vender no mercado negro?" O mercado negro acontece, por definição, quando o governo lança restrições à atividade econômica. Foi assim com a Lei Seca nos EUA e é assim com a atual guerra contra as drogas. O Greenpeace, a WWF, a Fundação Ford e todas essas ONG's podiam deixar de fazer lobby em Brasília pra manter as florestas brasileiras virgens à força e podiam, com esse dinheiro economizado, comprar grandes extensões de terra, cercá-las e mantê-las intocadas do jeito que eles querem. "Dá pra criar boi estabulado, aproveitando esterco pra plantação ou biodigestor, mas dá trabalho. O que os pessoal não quer é trabalho." Se esse esquema não tem como competir com outros esquemas de maior escala, o que fazer? Proibir a criação extensiva de gado? O caminho pra essa produção mais "ecologicamente correta" passa mesmo por esses selos de consumo "verde" ou "consciente", em que as pessoas aceitam pagar um pouco mais por isso. É assim com o boi estabulado assim como com qualquer outro produto raro e diferenciado. "Jogar um cigarro no mato seco é sempre mais fácil, e sempre dá pra botar a culpa na combustão espontânea. Depois solta a boiada no capoeirão e não se fala mais nisso." Olha o que eu li por aí nas minhas pesquisas: "Quando uma floresta, primária ou secundária, é derrubada para o plantio de alimentos, caso o agricultor não tenha condições de utilizar um maquinário altamente caro, não há outra coisa a fazer a não ser colocar fogo na área. Além de ser uma forma muito prática de limpar uma área para plantio, o fogo traz outro benefício: as cinzas. Estas elevam a fertilidade de um solo ácido. As cinzas são um material alcalino, portanto diminuem a acidez dos solos e fazem com que seja eliminada a nocividade de certos elementos, como o alumínio, por exemplo." "Sol, eles desmatam para satisfazer as necessidades deles mesmos. Não tem ninguém que fica pedindo pra hortifruticultor desmatar para plantar roça de batatinha." Isso é muito bom pra ilustrar a metáfora do Adam Smith sobre a "mão invisível": ninguém pediu pro agricultor plantar roça de batatinha, ele o fez por interesse próprio, claro, mas esse interesse próprio acaba - como efeito colateral - beneficiando todas as outras pessoas por aumentar a oferta de alimentos e diminuir os seus preços. "Sol, se o governo não determina isso de cima para baixo não tinha mais floresta amazônica." Grande parte da floresta amazônica já pertence ao governo e é nas barbas dele que acontecem os desmatamentos. "Vai por mim, Sol, se não tem Lei Seca nego sai doidão do buteco dando porradão de carro e matando gente que tá chegando em casa de cara limpa." O abuso de uns não deveria tolher o uso de todos. O problema é de impunidade, que tem a ver com o esvaziamento da responsabilidade individual, que tem a ver com a tutela governamental. Ao invés de punir de antemão todas as pessoas que bebem uns chopps ou umas taças de vinho e continuam perfeitamente capazes de guiar os seus carros com segurança, podia-se começar a punir com agravante quem causa acidentes embriagado ou dirige de forma agressiva e ameaçadora, mas isso ia dar mais trabalho e ia render menos multas. "Caramba, se com o Governo enchendo o saco a realidade ambiental brasileira é essa pouca vergonha de gente fazendo o que quer na terra dele, imagina sem." O governo, do jeito que está configurado, é o problema e não a solução. "Sol, o homem chegou por último nesse vale de lágrimas e detonou o planeta." A vida não é só sofrimento, vamos combinar. "Não quero que matem todo ser humano mas que pro planeta seria melhor, isso não tem a menor dúvida." O planeta não tem consciência pra saber o que é ou não é melhor pra ele, esse é um julgamento humano. "Agora que a gente sabe após breves cinco milhões de anos como construir uma civilização (embora devamos considerar que em muitas regiões brasileiros isso está muito longe de acontecer) é hora de usar essa expertise (palavra que odeio) pra fazer as coisas bem feitas." Toda discussão construtiva vai nesse sentido de melhorar as coisas. "Eu também mato uma porrada de mosquito, parada e por mim tudo quanto é mico estrela poderia ir pro beleléu - sem falar nos pardais, maravilhosa contribuição lusitana à Terra Brasilis - mas não acho bacana ficar matando onça só por esporte." A tendência é que a própria pressão social diminua a prática desse tipo de "esporte". "Você conhece coisa mais grave na categoria perverter a ordem outrora pacífica e idílica do que jogar uma bomba atômica no atol de Mururoa, no paraíso do Pacífico Sul?" O homem não é um anjo, senão seria chamado de "anjo" e não de "homem". Anjos não existem, homens existem. Se a humanidade avançou a tecnologia a ponto de criar uma arma dessas, o que vai se fazer? Proibi-las - regra que criminosos, por definição, não respeitam muito - ou cuidar pra que não se criem situações de conflito em que exista a chance delas serem usadas? "Bicho come bicho por sobrevivência, mas só um bicho mata outro bicho para botar a cara empalhada na parede da sala, como peça de decoração. Não conheço nada mais perverso do que matar por esporte e expor a morte por ostentação." Adoro certos animais e considero desprezível quem maltrata ou mata os bichos por diversão, o caminho é mesmo o da denúncia, do boicote social. "O homem também não vive um dilema moral ao matar um bicho pra botar a pele no chão, como peça decorativa. E deveria viver." Antigamente, uma pele de animal tinha diversas utilidades práticas pro homem, como se aquecer, por exemplo. Hoje em dia com o surgimento de outros materiais isso não é mais necessário (pelo menos nas sociedades mais industrializadas), então a pressão social e o avanço da civilização cuidam pra que isso aconteça cada vez menos.

Thursday, May 26, 2011

Green peace, war on mankind 2

"Qual o posicionamento na questão ambiental você considera plausível?" O direito de você usar a sua propriedade termina quando se inicia a propriedade do outro, ou seja, o dono da terra pode plantar, criar gado ou o que quiser dentro da sua propriedade desde que a sua ação não prejudique o outro, e isso serve na sua relação com o outro tanto na cidade quanto no campo. "Ou melhor, o que você considera ambientalismo não xiita?" Tudo o que eu disser aqui vai ser considerado "xiita" por quem imagina que a amazônia esteja acabando, que as marés estejam enchendo e que alguma catástrofe está prestes a acontecer caso o governo não multe ou prenda os agricultores e pecuaristas que não respeitam as regras e limitações impostas ao uso das suas propriedades. Se o homem quer frutas, verduras, legumes e cereais, ele tem que plantar; se quer carne, tem que criar animais. Ninguém desmata por sadismo, fazem isso pra satisfazer as necessidades e desejos das próprias pessoas. "Ou ainda, não há nada que preste no ambientalismo?" Eu também quero ar limpo, florestas frondosas e rios despoluídos, só não acho que o governo determinando isso de cima pra baixo sem levar em consideração as pessoas seja a solução. "E, se assim for, como você lida com as questões envolvendo o homem e o meio ambiente?" O homem também faz parte do meio ambiente, ele não é um forasteiro que veio perverter uma ordem outrora idílica e pacífica. Seres vivos se alimentam de outros seres vivos, um leão não vive um dilema moral ao atacar uma gazela, e essa é a diferença entre os animais irracionais e o homem, a sua consciência. Só que essa consciência - se quiser continuar operando, ou seja, viva - não o exime de lidar com a estrutura da realidade, pelo contrário, foi justamente ela quem permitiu à humanidade acumular conhecimento ao longo do tempo pra construir uma civilização em meio a um ambiente hostil.

Wednesday, May 25, 2011

Green peace, war on mankind

Depois que o sacrifício do indivíduo ao coletivo (socialismo) não deu os resultados esperados, outra forma de controle devia ser encontrada, então a onda agora é sacrificar o indivíduo à natureza (ambientalismo). É a inversão de sempre: o governo não deve satisfação aos seus cidadãos, os cidadãos devem satisfação ao seu governo; a natureza não deve ser usada em benefício do homem, o homem deve ser usado em benefício da natureza. O ambientalista parte do princípio de que se algo não for feito já, se o homem não repensar (restringir) o seu consumo, a natureza vai pro brejo. Claro que o brejo continua fazendo parte da natureza, assim como o homem e tudo o mais que existe. Esse ambientalismo xiita, como qualquer outra religião, também tem a sua escatologia e o seu profeta, Al Gore. "Olha aqui, humano ganancioso e desprezível, se você continuar desmatando pra plantar ou criar gado, a Terra vai acabar, pau nos ruralistas exploradores de Gaia!" Assim como os comunistas não gostam dos comerciantes, os ambientalistas também não gostam dos ruralistas, percebe o padrão? Acontece que nada indica o fim do planeta, o mar de Ipanema ainda não invadiu a Vieira Souto e mesmo a tese do aquecimento global já é desacreditada pela própria ONU, sendo chamada agora de "mudança climática". "O tempo mudou, culpa do desmatamento e do combustível fóssil!" Psicologizando o assunto, poderia-se especular que, da mesma maneira que os comunistas não gostam (ou dizem não gostar) do individualismo porque não apreciam muito o que vêem no espelho, os ambientalistas parecem não ter também uma opinião muito positiva sobre a própria espécie. Então o homem vira a última das prioridades do homem, pensamento que eu, membro da espécie, não tenho como apoiar.

Monday, May 23, 2011

Página 26 do Mundo

O que me chama a atenção nessa pendenga eterna entre israelenses e palestinos é o modo quase unânime como os brasileiros que se metem a falar de política se posicionam, tomando automaticamente as dores dos palestinos. Não que isso surpreenda, porque o padrão ideológico aqui é fácil de detectar: se é contra os EUA (o "imperialismo"), o capitalismo (o "instrumento de opressão imperialista") e Israel (os judeus aliados dos inimigos imperialistas), o brasileiro-médio-representante-do-zeitgeist-mental vai ser a favor. A pessoa não precisa nem ser uma comunista hardcore pra se encaixar nessa generalização, basta não querer destoar muito do que se diz por aí. Esse confronto na opinião pública segue o conceito de guerra assimétrica: cobra-se toda a retidão de um lado (Israel) e exime-se, de antemão, qualquer culpa do outro (Palestina). Então quando o Hamas prega a destruição da "entidade sionista" e joga foguetes a esmo em Israel, o estado judeu não pode nem reagir, justamente por ser mais forte, o que caracterizaria uma "reação desproporcional". Ficar ao lado do mais fraco por ser o mais fraco não é (ou não deveria ser) critério de justiça. Mas isso tem uma explicação que também passa pela ideologia: se a pessoa assume que A ficou forte e rico porque "explorou" B, então todo o contexto se torna secundário; B está certo e tem o direito de jogar bombas, enquanto A tem o direito de receber bombas na cabeça sem dar um pio até criar vergonha na cara e deixar o Oriente Médio totalmente dominado pelos iluministas muçulmanos.