Thursday, August 19, 2010

Curioso Notar

Fiquei quase 10 dias sem postar nada, mas ainda aparece gente por aqui, que bom. [don't flatter yourself *curioso notar que nem foram tantas pessoas assim, fale a verdade] Cansa ser such a Cassandra todo dia em mais de 140 caracteres, o twitter não é apenas um desabafo breve, é um treinamento intensivo na arte da síntese, um antídoto contra a embromação. [de novo esse papo contra a intelligentsia? não cansa não? *curioso notar como as pessoas não cansam de respirar, a não ser que tenham problemas respiratórios, claro] E não canso de apontar a responsabilidade da intelectualidade nos destinos do país, porque é ela quem dá o norte que a opinião pública vai seguir. [ela reflete ou potencializa os sentimentos que já existem? *curioso notar a riqueza de detalhes no suéter do modelo de cachimbo] Ok, talvez ela nem tenha esse poder todo, mas tem alguma importância numa eleição em que só há candidatos que se dizem de esquerda, sei disso porque já concordei com esse discurso. [de novo esse assunto? não cansa não? *curioso notar como as pessoas não cansam de se preocupar com quem vai governar, deve haver uma explicação racional pra isso, não é possível] Tenho pinimba com essa cultura anticapitalista, mas subestimar o poder de escolha das pessoas é desqualificar o próprio livre-arbítrio e não quero fazer isso de maneira alguma. [afinal de contas, você é o rei da razão, não é verdade? *curioso notar como a autodepreciação é popular] No horário eleitoral dá pra perceber que o poder tá muito bem representado por aquelas figuras, realmente é o povo no poder, alguma dúvida disso? [se divertindo com os candidatos? *curioso notar como uns e outros se colocam acima de uns e outros, missionários de um mundo pagão] Décadas de enaltecimento da sabedoria popular contra qualquer laivo acima da média, o coitadismo e o vitimismo transformados em imperativos categóricos contra azelites malvadas. [nem fale em kant que você não o compreende direito *curioso notar como o rebaixamento da elite não se traduz na emancipação dos oprimidos] Tome então o menor denominador comum. [don't flatter yourself *curioso notar essa mediocrização, "curioso" não é bem a palavra] A manutenção do Plano Real e o consumo das matérias primas brasileiras, principalmente pela China, facilitaram a consolidação do populismo governamental, 20 milhões de Bolsas-Família rendem mais de 100 milhões de votos e a Bolsa-BNDES rende muitas doações e parcerias na construção desse Brasil Grande. [sabe o cruzamento entre o getúlio e o geisel? *curioso notar como opera o nacionalismo, "curioso" não é bem a palavra] Não faço campanha porque não tem um candidato com quem eu me identifique e porque - num nível mais moral e ideológico - tá tudo dominado, o PT vai ficar mais uns anos no poder até que o sistema trave e o pêndulo político tenha que virar prum outro lado, mais liberal ou conservador, não sei ao certo. [dá um tempo nesse papo de liberalismo... *curioso notar que a turma que está hoje no poder deve ter ouvido "dá um tempo nesse papo de socialismo..." nos anos 60 e 70] A maioria das pessoas tem a impressão de que a economia vai bem e os formadores de opinião, com a chapa mais branca que nunca, repercutem o discurso oficial com louvor. [depois a gente vê o que vai acontecer *curioso notar como é curioso notar]

Tuesday, August 10, 2010

Eike, os subsídios e o loop do intervencionismo

Não é bem um loop, é mais uma espiral decrescente ou crescente, dependendo do seu ponto de vista, porque a lógica do intervencionismo não é um moto contínuo constante e redundante, as regulações chamam mais regulações que chamam mais regulações até o sistema travar. Vamos ser sinceros: o mundo é uma selva cuja única certeza é a morte. Tá bom, esse comentário bombástico foi desnecessário. E, ao contrário do que alguns falam, a natureza não é bondosa, até porque ela não exerce juízo de valor como o homem, que nasce e tem que se virar contra uma série de obstáculos pra permanecer vivo. Diante dessas dificuldades, as pessoas anseiam naturalmente por segurança, por estabilidade, de preferência com o menor esforço possível. Ou isso não é verdade? Mises dizia que as pessoas agem pra passar de um estado menos satisfatório pra um mais satisfatório, caso contrário não agiriam. Eu concordo, e isso vale como nunca numa democracia. O camarada que vota em Sicrano, na maioria das vezes, não está votando baseado em princípios filosóficos impessoais, mas no que espera que Sicrano faça diretamente por ele. O CANDIDATO DOS APOSENTADOS, O CANDIDATO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS, O CANDIDATO DA ZONA OESTE. Se ele valoriza a Bolsa que recebe do governo, ele não vai votar num candidato que promete acabar com essa Bolsa. Se o grupo de interesse X sente que vai perder poder e verbas se o candidato Beltrano ganhar, os seus integrantes vão fazer campanha contra Beltrano sem muitas preocupações com abstrações ideológicas. Quando o Getúlio Vargas se inspirou no Mussolini e criou a CLT, ele tava querendo agradar a maioria da população, claro, era um populista clássico. Sim, as pessoas querem um mínimo de segurança e estabilidade em seus empregos, então lá vão os políticos atender, através da lei, esse anseio da população. Só que a estrutura da realidade não se curva à vontade do político em agradar e ganhar votos, se o governo federal estabelecer que ninguém pode receber menos que 1.000 reais por mês, isso não vai se tornar realidade só porque um engravatado ou um tailleur de Brasília assinou um pedaço de papel. A riqueza tem que ser criada através da produção na interação entre o homem e a natureza. Se o homem quer comer, ele tem que plantar. Se quer ir de um lado pro outro, tem que usar um combustível. Se quer luz e televisão, tem que produzir energia e assim por diante. Pra que essa produção seja eficiente, os incentivos têm que estar corretos. Se uma agricultura baseada no "de cada um de acordo com as suas possibilidades, de cada um de acordo com as suas necessidades" traz fome e escassez, ela obviamente não é o melhor modo de produzir comida abundante e barata. Não importa se a sua sensibilidade se escandaliza com a propriedade privada e o lucro, cheque as suas premissas antes de propor maluquices que não funcionam. Mas do que eu tava falando mesmo...? Ah, sim, o Eike Batista disse que "sem subsídio não dá". Claro, o homem mais rico do Brasil é sócio do BNDES porque, você sabe, o estado tem que induzir o crescimento, não só isso, deve estimular a criação de grandes conglomerados nacionais capazes de competir lá fora. Então o PT escolhe lá os seus amigos e enche esses conglomerados de dinheiro público porque, sem ele, "não dá pra competir". Veja só o ciclo do intervencionismo: como os obstáculos criados pelo governo (CLT, por exemplo) tiram a competitividade dos produtos nacionais, mais uma intervenção é criada: o subsídio aos grandes empresários escolhidos pelo rei. Esse crédito fácil acaba aumentando a dívida pública do governo, que lança então os seus títulos pra financiar esse passivo. Pra que esses títulos sejam atraentes pros investidores, o governo aumenta os juros que encarecem ainda mais o Custo-Brasil que impede o Eike Batista de competir e o faz, de maneira absolutamente surpreendente, defender o dinheiro que recebe do BNDES. Tenho que aprender a mexer com gráficos e imagens pra criar uma visualização desse esquema, mas você entendeu.

Monday, August 09, 2010

Tentando entender os pais

Pode ser difícil pra você como filho, mas você já parou pra pensar como é pro seu pai? Você luta pra cuidar de si mesmo, só que ele não pode se dar esse luxo, tem que cuidar dele mesmo e manter ainda uma reserva de cuidado pra você também. Óbvio, a responsabilidade é muito maior. Seu pai não te entende? Me diga, você se entende? Muitas vezes os filhos não querem compreensão, querem carta branca pra fazer o que der na telha com os recursos do pai. Claro que a coisa também tem a ver com dinheiro, o pai quer essa autonomia nos filhos crescidos, como culpá-lo? Você também quer a própria autonomia, todos estão de acordo com esse fim, a questão é o meio de alcançá-lo. Ah pai, eu quero ser artista e viver transmitindo as minhas sensibilidades poéticas. Ok, meu filho, mas será que isso vai te trazer algum tipo de segurança financeira? Pense bem, aquela mesma tensão permanente entre o desejo de liberdade e de segurança, entre o liberalismo e o socialismo, entre o individualismo e o coletivismo. O pai pode olhar pro que você faz e não sentir firmeza ou mesmo discordar, por que não? Pode sentir um nó no coração pelas suas escolhas, ele se vê um pouco em você, como culpá-lo? Por ter dado o material genético e um lar pra você, pode se sentir no direito de te passar sermões sobre o que considera correto e ninguém gosta de ser questionado nos seus valores mais profundos, não é verdade? Então há um conflito inevitável entre a idealização e a realização que quase sempre frustra a idealização, vamos combinar. Por outro lado, o próprio processo pode fortalecer os laços e tornar civilizadas certas discordâncias que antes faziam o pau quebrar. Beijo grande, pai.

Wednesday, August 04, 2010

Discutir é inútil?

Claro que não, qual seria então a função dos livros, jornais, fóruns da internet, universidades e todo o blablablá que nos circunda? As idéias importam, mas nunca deixo de me surpreender com a quantidade de gente que desqualifica o debate a priori, como se a discussão de idéias fosse uma mera disputa de vaidades pra ver quem "ganha" a disputa, como se o questionamento de postulados éticos não tivesse nenhuma relação com a própria sobrevivência do homem, como se a história fosse um jogo de cartas marcadas com um resultado já determinado. Dificilmente um católico praticante vai deixar de acreditar em Deus por causa de argumentos ateístas ou um militante do PT vai se tornar um libertário depois de ler Rothbard, mas nem isso é impossível. Digo isso por experiência própria, porque foi acompanhando diversas discussões que deixei de ser um social-democrata padrão pra me transformar num liberal. Os argumentos liberais faziam sentido demais pra que eu os ignorasse, as pessoas mudam mesmo de opinião se mantiverem a cabeça aberta e forem honestas com a realidade. Essa busca pela verdade, no entanto, não é automática como o ato de respirar, tem que existir uma curiosidade e uma vontade de tentar compreender o mundo. Se o camarada considera que tanto faz como tanto fez, que essa compreensão não vai fazer diferença nenhuma pra ele ou pra ninguém, então ele pode seguir tratando a própria vida como uma série de eventos aleatórios e arbitrários sem nenhuma explicação, reagindo no calor do momento como um animal sem consciência. Se o debate de idéias fosse mesmo inútil, por que então o controle da informação nunca sai da pauta dos governantes e seus representantes?