Friday, July 30, 2010

O "direito" à cultura

Tento não escrever apenas por escrever, preciso sentir a necessidade de externar alguma coisa pra sentar e concatenar pensamentos. Foi o que aconteceu no momento em que vi a reportagem de capa do Segundo Caderno de hoje. Nem precisei ler a matéria toda, bastou ver a foto de 7 atores com um semblante compungido na frente de uma estilização da bandeira do Brasil com notas de dinheiro e o sub-título: "Apesar da projeção internacional, a Cia dos Atores anuncia falência e o iminente fechamento de sua sede." Mais do que as seções de política e economia, é na parte cultural de um jornal que se entende a mentalidade dominante que aponta pra onde estamos indo, e já faz tempo que a cultura nacional está amplamente estatizada com o apoio irrestrito dos jornalistas e intelectuais. A reportagem não estava meramente anunciando o fechamento de uma companhia de teatro, ela foi escrita com a intenção de sensibillizar as autoridades. A companhia tinha um patrocínio da Petrobras (o sonho dourado, quer dizer, negro dos artistas), mas por algum motivo o perdeu. "Não nos protegeram, não fomos contemplados e ficamos no limbo", reclamou um dos atores. Qual é a premissa desse mimimi? A de que o estado tem a obrigação de "proteger" a arte. Claro que a arte é um conceito muito amplo, não é verdade? "Não queremos nos vitimizar, mas nosso caso serve como exemplo de uma situação crítica. Uma política desfavorável à continuidade de um trabalho de duas décadas que valoriza o pensamento, a reflexão e a arte, em vez do sucesso comercial", lamentou outro ator. Eu também tenho um trabalho experimental que valoriza a reflexão e a arte, cadê o meu patrocínio estatal? "Entra nos editais." Ah tá, então não é toda arte que merece dinheiro público, apenas aquela escolhida pelos políticos, burocratas e repórteres do Segundo Caderno, entendi. Outro dia um diretor de teatro que não sai desse mesmo jornal disse que "as pessoas têm que entender que a cultura é um direito". Não é, e eu explico o motivo. Um "direito" exercido às custas dos demais não é um direito, é um privilégio. O "direito" que a Cia dos Atores tem de ter as suas contas pagas pelo governo corresponde ao dever dos contribuintes em pagar essa conta. Outra coisa que se nota, não por acaso, é a exaltação da arte "experimental" em contraponto à arte "comercial". Ora, o camarada tem todo o direito de fazer as experimentações que ele quiser fazer, não pode é esperar que as pessoas sejam obrigadas a pagar por isso. Quer ser cult e fazer teatro experimental longe das preocupações mundanas e comerciais? Seja então realmente independente e pare de mendigar por tutela estatal, eis um bom começo.

Thursday, July 29, 2010

Ainda o livre-arbítrio

Claro que nem todos têm condições de exercer o livre-arbítrio com plenitude. Crianças, malucos e psicopatas, por exemplo. As crianças e os malucos, por isso mesmo, têm responsáveis e os psicopatas, se representarem perigo aos outros, têm de ser afastados do convívio social. Livre-arbítrio não é ter a capacidade de decidir voar ou fazer coisas fora do alcance da sua natureza, ele só faz sentido por estar limitado pelas circunstâncias da realidade. É bom esclarecer esse ponto porque a confusão entre liberdade e poder é grande, você não deixa de ter livre-arbítrio porque a mulher com quem você quer ficar não quer ficar com você. O seu livre-arbítrio (e a sua liberdade e o seu direito) termina quando começa o do outro. Repare que são as mesmas pessoas que confundem liberdade com poder que questionam a existência do livre-arbítrio, retratando o ser humano como um ser sem escolha ou sem capacidade de escolha. Qual é o resultado desse raciocínio? Se as pessoas não são capazes de cuidar de si mesmas e tomar decisões por conta própria, então uma instância superior (formada curiosamente também por homens) tem que ter o poder de tomar as decisões "certas" por você. Deu pra entender onde essa desqualificação do livre-arbítrio vai dar?

Wednesday, July 28, 2010

Freud, Marx e o livre-arbítrio

Tava falando outro dia sobre a Escola de Frankfurt e me toquei que as suas maiores influências eram Marx e Freud. Não só influenciaram os alemães como boa parte da intelectualidade brasileira, o que não deixa de ser irônico, já que tanto Freud quanto Marx negam de alguma maneira o livre-arbítrio, submetendo-o a um determinismo do inconsciente (Freud) e a um determinismo de classe (Marx). Se há determinismo, não há escolha e sem escolha não há trabalho intelectual possível, mas ações e pensamentos previamente determinados por fatores fora do alcance da pessoa. Li algumas biografias de Freud e não vejo malícia nas suas teorias, era um cara predominantemente liberal e o seu objetivo não era controlar os outros, mas tentar explicar o que se passava na mente humana. Não posso dizer o mesmo de Marx, que criou uma teoria absurda cujo objetivo declarado era dividir as pessoas em "exploradas" e "exploradoras" no capitalismo que nascia e viria a melhorar a vida nos países que, em maior ou menos grau, o adotaram. São dois dos autores favoritos dos coletivistas, daqueles que querem desqualificar o individualismo, daqueles que querem esvaziar a responsabilidade individual em favor de uma ditadura iluminada que "saiba" que o homem não tem controle - ou controle suficiente - sobre as suas ações, que são determinadas por pulsões sexuais, pela posição social que a sua família ocupava quando você nasceu ou pela desculpa que estiver mais a mão pra evadir o fato de que o homem possui uma mente capaz de escolher entre as opções e circunstâncias que se apresentam. Depois tento aprofundar isso um pouco mais.

Wednesday, July 21, 2010

Discutindo, na boa, com o Quino

Tinha a impressão na infância de que Mafalda era muito cool, mas logo perdia o interesse quando tentava ler. Preferia os álbuns do Snoopy e do Garfield, com esses eu conseguia me identificar melhor, não sei explicar o motivo, não era nada ideologicamente consciente. Esbarrei agora no twitter com esse desenho do autor da Mafalda no site do Brizola Neto, que defende o legado do avô e apóia a Dilma, what a surprise. Dê uma olhada no desenho, por gentileza. Então, deu pra notar que o Quino desaprova a sociedade de consumo, mas não é preciso ir longe pra entender que é melhor a sociedade consumir do que não consumir, certo? Eu, você e a torcida do Flamengo queremos consumir, somos todos indivíduos com necessidades universais (comer, por exemplo) e particulares (ouvir post-rock, por exemplo). O pai da criança no desenho podia ir ao trabalho de bicicleta, mas ele tem um carro. É mais cômodo e rápido, o automóvel prosperou como meio de transporte porque facilita a vida de diversas maneiras a um custo relativamente baixo. O pai do menino podia ter ido andando até o hospital pra sua mulher dar à luz ao seu filho, mas ele usou o carro, carregar uma grávida pela rua não deve ser mole, vamos combinar. Depois o pai da criança aponta pro computador e diz "cérebro". Claro, foi o cérebro humano que construiu o computador, um instrumento que facilita o acesso à informação que, aí sim, é processada pelo cérebro. Não confunda as coisas, Quino. O pai então aponta o celular e diz "contato humano", mas - what the hell - ele não está ali tendo contato com outro humano? E o que o impede de sair de casa e bater um papo com o padeiro? Podem falar do tempo e do caso Bruno, o celular é só mais um meio de interagir com as pessoas. Ou não, basta deixá-lo desligado ou fingir que não o ouviu tocando, uma prática bem popular, aliás. Depois o pai da criança assiste a um programa de televisão entre o pornô e o Zorra Total, falando pro filho que aquilo é "cultura". Só que não há necessidade do pai da criança ver esse programa, ali mesmo no computador ("cérebro") ele pode ir no Youtube e mostrar pro filho tudo aquilo que ele considera como a cultura "verdadeira", ele tem a liberdade pra isso, não é verdade? Aí o pai mostra um espelho pro filho e diz que aquela imagem seria "o próximo a quem amar". Mensagem realmente importante essa da auto-estima. Se a pessoa não se amar em primeiro lugar, como vai desenvolver a capacidade de amar os outros? A pergunta fica pro Quino refletir. Depois o pai mostra um lixo cheio de moscas pra criança e diz "ideais, moral, honestidade". De qual "ideal" o Quino está falando? Tem vários por aí, por que ter uma televisão seria "imoral"? É importante definir os conceitos, minha gente. A grande apoteose do desenho acontece quando o pai mostra uma nota de dinheiro pro filho e diz "Deus". Não vou entrar no mérito da discussão sobre o sistema de reservas fracionárias versus o padrão-ouro, mas o Quino deve saber o esforço que é necessário pra conseguir o tal Deus de papel. O dinheiro é a representação da produção, da criação pelo homem de coisas demandadas pelo homem. Você ganha dinheiro quando faz algo de valor pra outra pessoa, isso é moral pra caramba, fala sério. Atentem pro fato de que o pai da criança - meio aterrorizado no último quadro - tem todas essas coisas que está criticando. Ou seja, a lição que o pai está dando à criança é a seguinte: "tenha essas coisas que vão te ajudar a ter uma vida melhor e mais confortável, mas trate-as como se fossem o próprio mal da civilização - isso mesmo, seja hipócrita and proud of it".

Manchetes do jornal

Sindicatos impõem desconto ilegalmente a aposentados. Formar um sindicato ou associação, em si, não é nenhum problema. Acontece, minha gente, que os sindicatos se transformaram em monopólios garantidos pela lei e pelo grupo no poder, que fala toda hora em "trabalhadores", mas quer dizer na verdade "trabalhadores sindicalizados", aqueles dos fundos de pensão cheios de direitos no papel e bala na agulha no bolso. Vilão da dívida, BNDES é turbinado. Atenção, porque o governo usa o BNDES pra dar dinheiro subsidiado aos seus companheiros favoritos e esse "investimento" não constar da dívida pública, um truque contábil, um esqueleto que vai ter que ser assumido cedo ou tarde. O governo também estuda reduzir os compulsórios dos bancos, ou seja, aumentar o crédito sem lastro, tipo uma receita de bolo pra criar uma bolha financeira. O "capitalismo desregulado" já está de stand by pra levar a culpa quando a coisa estourar. Bombeiros de Alagoas roubam donativos. Realmente surpreendente. Gasto com terror só perde para 2a Guerra. O Obama não ia retirar as tropas do Iraque e Afeganistão assim que assumisse o poder? Já se passaram quase 2 anos e o homem só fez aumentar o contingente militar nesses lugares. O que aconteceu, senhor salvador da paz e da humanidade? Dilma leva a sexta multa. Uma multa de 5 mil reais não faz nem cosquinha no PT. A lei eleitoral é uma piada, então os candidatos fingem que seguem, os tribunais fingem que punem e fica tudo por isso mesmo. Vazamento na China avança mar adentro. Poxa, pensei que apenas as empresas privadas deixassem vazar óleo pra poluir a natureza, afinal de contas, é do interesse delas desperdiçar seus recursos e ainda levar multas bilionárias na cabeça, assim funcionam os incentivos na iniciativa privada, você não sabia? Apenas os governos se importam com o meio ambiente, já viu que o Brasil tem até um ministério disso? Então, na China deve ter também.

Monday, July 19, 2010

Jesus de Genésio remixado

a Muchacha Empírica caiu na real e abandonou o dogmatismo do partidão ao meio, o coração do seu namorado Guapo Loco culpou, como sempre, a "sociedade de consumo", mas a Muchacha Empírica desistiu desse discurso do Guapo Loco, que segundo ela "tiene las mejores intenciones, pero fue picado por la serpiente roja" não é o que os mais sacanas estão pensando
Guapo transforma
tudo numa batalha entre Davi e Golias diria: "ô cride,
fala pra mãe que os muçulma
nos não têm o
direito de
mutilar as
meninas e nem matar inocentes numa cr
uzada contra o ocidente" pratica a liberdade de e
xpressã
o ameaça as
teocracias vão
desaparecer com o tempo não afastou a
Muchacha Empírica da cabeça do Guapo
Loco militante quer mais uma chance,
sabe como é, esquecer Gramsci e reatar o romance
silêncio é um artigo apreciado pela Muchacha
Empírica, que tinha brigas homéricas
com o Guapo Loco por causa da mania dele de
imitar o som de um trompete com a b
oca "no paraba nunca", ela recorda, num misto de nostalgia e alívio pela ausência dos intermináveis solo
s imaginários acompanhados de perdigotos b
em reais, os relatos dos
fugitivos da ilha favorita do Guapo
estão disponíveis na internet
não se informa quem não quer ter a liberdade de ir e vir?
não vou lá, não vou lá, não vou lá
/ tenho medo de apanhar o Guapo Loco enxugando transtornado uma garrafa
de tequila pra apagar a dor da desilusão enlouqueceu de vez
el rojo borracho, que depois do oitavo shot já tava chamando-se Jesus de Genésio, auto-proclamado redentor das massas
espoliadas / das carnes defumadas /
das verduras flambadas / das farinhas desidratadas e das saias plissadas da Muchacha Empírica vão deixar saudade

Diplomamata remixado

famintas e um pouco acima do peso, as gêmeas Dadivosas Duvidosas entram pro circo e percorrem o Brasil de ponta a ponta, o diplomata Meparece Questionável ficou doidão e decidiu aproveitar a lombra indo ao maior espetáculo da terra que montou a lona em Brasí
lia, o Diplomata do diplomata enguiçou um pouco antes do estacionamento dos 3 Poderes onde ele teve
uma visão: as Dadivosas Duvidosas atravessando em slow-motion a lama
do Planalto Central solidificou
consumistas, as gêmeas circenses
aproveitam o
intervalo
pra uma volta no shopping center loca
l e se encantam pelo x-
tudo de uma multinacional malvada do imperialismo yankee,
o diplomata Meparece Questionável quer distância
e endossa a política externa do presidente é uma cagada maior que a dos
elefantes adestrados pelo menos vem de uma dieta vegan é sugerida às Dadivosas Duvidosas prometem considerar, e na volta pro circo ficam em dúvida entre o algodão doce rosa e a maçã do amor vermelha, a Dadivosa número 1 enrubesce com o olhar lascivo do diplomata do Diplomata enguiçado
treinado pelo Itamaraty na arte da sedução adulatória, o diplomata Meparece Questionável aborda a Dadivosa número 1 com uma láb
ia
digna de um Casanova e combina com a performer circense uma saída após a sua apresentação, a Dadivosa número 1 tenta despistar a sua irmã sente que algo ameaça a união das gêmeas contorcion
istas que, mesmo com os seus quilinhos a mais, conquistaram o mundo dos espetáculos com uma flexibilidade fora do comum
Meparece Questionável a conduta do diplomata, que se aproveitou da carência afetiva
da Dadivosa número 1 pra se aproximar do maior espetáculo da terra e realizar o
seu sonho de criança: ser um palhaço de nariz vermelho, peruca amarela e sapato grande no meio do picadeiro, as enroladas Dadivosas Duvidosas se perguntam se Meparece Ques
tionável - conhecido agora como o palhaço Diplomamata
- acredita realmente que o melhor caminho pra América Latina é esse Diplomamata merece mesmo uma torta na cara

Thursday, July 15, 2010

Paranóide Mulambóide remixado

um ardiloso plano foi bolado pra uniformização da opinião da população / um andrajoso pano foi bolado pra uniformização do Mulambão do Japão / que não estuda nada, mas é cheio de colocação / um "intelectual orgânico", tem agrotóxico não / dá de montão o cidadão, só precisa de estimulação na subliminação
uma distorção de percepção verdadeiramente fenomenal / o Mulambão vai junto, "num leio nem jornal" / um bom coração, não faz por mal / no fundo
no fundo, desejava mesmo era ser um industrial / fazer o bem e merecer um capital, "quero ajudar uma obra social" / que legal, o despertar de uma consciência individual / mas fica na moral, u
m banho de vez em quando nem faria mal
a poluição é uma grande
preocupação da indústria quí
mica que o Mulambo
adquiriu após
ganhar na loteria com os
números de
LOST
, o andrajoso-man realizou o seu sonho na caridade / a fortuidade exercendo a generosidade / e adivinhem: o Mulambóide se transformou em celebridade / nessa nova nação, repleta de liberdade e heróis japoneses salvando a humanidade

Wednesday, July 14, 2010

Pollyanna e Barba Negra remixado

singrando pelos 7 mares, o navio corsário transporta um tesouro dourado pra receber a recompensa do império do Barba Grisalha, o irmão mais preocupado do Barba Negra, líder pirata que abre um barril de rum pra elevar a moral da tripulação entediada que só quer saber de beber e pilhar, além de "pilhar" o pobre marujo da perna-de-pau chamando-o de Pereba Gereba
baseados na Ilha da Caveira, os piratas entorpecidos tramam um arrojado plano pra recuperar o tesouro dourado da mã
o dos corsários, "aqueles traidores
do movimento, cooptados
pelo
establishment marítimo", ruge Barba Negra, recebendo o aparte de seu papagaio
Papagapira: "bambalalão,
senhor capitão, espada na cinta, ginete na mão" direita do
Barba Negra tem encrostado o mapa das verbas públicas: o xis do tesouro do pirata contemporâneo
zarpando em busca do tesouro dourado perdido, um pequeno motim entre a tripulação atrasa o objetivo de barba negra, que resolve a pendenga lançando da prancha alguns de seus homens: a higiene no navio não era das melhores, sendo o rum utilizado pra esterilizar a mente e os ferimentos de guerra amputaram o marujo Pereb
a Gereba dá um espetáculo no convés, girando várias vezes em
torno do eixo de sua perna-de-pau, sendo aplaudido e aclamado pela tripulação em uníssono num momento de descontração antes do sangrenta batalha que enfrentarão
com sua luneta, barba negra avista o na
vio corsário contendo o tesouro dourado tá no calabouço d
a embarcação: Pollyanna e sua positividade inabalável enxerga o lado bom de ser disputada por bárbaros-barbados-tarados-bêbados e fedorentos: "eles só precisam de amor...", sus
pira a loirinha de ouro, sentindo os estrondos causados pelas balas de canhão disparadas por Barba Negra e sua gangue, que invadem o navio corsário comandado pelo Bucaneiro do Tapa-
Olho foi arrancado pelo gancho do Capitão Gancho
em memorável duelo, Barba Negra suplanta a defesa em ferrolho dos corsários e recupera, com poucas baixas, Pollyanna,
bálsamo iluminado há muito ansiado
pela rude tripulação pirata,
que se senta ao redor da musa pra ouvir, embevecida, suas pílulas douradas de sabedoria e otimismo

Monday, July 12, 2010

Romantizar no sentido de idealizar

Tem que especificar, porque esses rótulos confundem o cidadão. Então um idealiza pro bem o pobre e idealiza pro mal o rico. O outro faz o contrário, o rico é o tal e o pobre é o mal. Condição social não diz sobre a moral, que é aquilo que a pessoa tem um mínimo de controle. Se a gente acha que não tem nenhum controle sobre os nossos atos e escolhas, fica difícil. Se for assim, eu não estou aqui escrevendo porque quero e nem você está aí lendo porque quer. Não sou eu digitando essas palavras, são reações químicas absolutamente fora do meu alcance. Negativo, o respeito pelo outro - pela propriedade do outro - tem que ser cobrado do rico e do pobre. As penas, agravantes e atenuantes dependem de cada caso, mas a justiça deve ser igual pra todos. Circulou uma tese aí que dizia que o caso Bruno foi resultado da "sociedade patriarcal" que oprime as mulheres há mais de 500 anos neste país. Calma, a culpa não é da sociedade, a culpa é do Bruno e dos seus cúmplices. Foram eles que torturaram e mataram aquela mulher. Se as pessoas praticassem o respeito pelo outro - pela propriedade do outro - e entendessem que esse respeito as beneficiam por criar um ambiente favorável à civilização que é a sociedade da privacidade eu estaria escrevendo uma frase enorme e quase perdendo o fio da meada.

Friday, July 09, 2010

It's like... crazy talk, dude

Então beleza, tá resolvido, não quero ter nada a ver com o progressismo socialista ou com o conservadorismo imperialista, eu sou um libertário, caramba. Mas veja só que surpresa, mesmo os libertários não concordam totalmente entre si. Também, o que eu tava querendo, saber todas as respostas e não ter nem um pingo de dúvida sobre os temas mais candentes da atualidade? Que carajo de arrogância é essa? Como se posicionar diante da jihad islâmica? Cruzar os braços e retirar todas as tropas do Oriente Médio? Pode ser, assim os muçulmanos vão deixar de ter ódio dos invasores... Será? Porque o inimigo não é mais um país, são organizações apoiadas por alguns países mas espalhadas por todo canto. Como lidar com isso? Lavando as mãos? E se o objetivo dos terroristas não tiver exatamente relação com Israel ou com as bases americanas, mas com o fato do resto do mundo não ser muçulmano? Muitas dúvidas, bicho. Aí aparecem uns libertários radicais que levam o princípio de não iniciação de agressão até as últimas consequências e bradam: o problema é a própria existência do estado! Acabe com o estado que as trocas serão todas voluntárias e sem uso da força. Ah, tentador... Mas complicado de engolir, porque, pense bem, mesmo em condomínios privados há uma espécie de governo, com regras e decisões votadas pelos moradores. Como esse condomínio tem ligação com a rua onde ele se encontra, vai haver uma associação pra cuidar das partes em comum entre o condomínio e a rua, e assim por diante. "Agências concorrentes disputariam os clientes pra cuidar dessas coisas e da justiça, não precisa ter um estado monopolizando isso." Pode ser, não estou completamente fechado a essa teoria, mesmo que ela pareça - no estágio atual do Brasil e do mundo - meio papo de maluco.

Libertarians are neither liberals nor conservatives

Se o camarada sabe que o socialismo é uma loucura inviável, isso não o torna automaticamente fã do Bush. Grosso modo, o mainstream político americano se divide entre os liberals Democratas e os conservatives Republicanos. Distante deles, estão os libertarians. Acompanhe esta emocionante aventura: "Here is a very interesting (too clever by half) letter from a conservative now making the rounds, asking for a divorce from liberals; it is addressed as follows: “Dear American liberals, leftists, social progressives, socialists, Marxists and Obama supporters, et al:” It is well worth reading, in that it does indeed make some good points against the self styled “progressives.” Here is my open letter response to this author: “Who is this ignorant young man? He doesn’t seem to realize that there are not only two political economic philosophies in play in the world today, but three: left-liberal-pinko-socialist-progressive-Marxists, right-conservative-patriotic-warmongering-imperialist-fascists, but, ALSO, libertarians, who are members of NEITHER of these first two groups. It is my considered opinion that we libertarians are equi-distant from both socialist Democrats on the left, and fascist Republicans on the right.” - Walter Block (http://www.lewrockwell.com/blog/) (http://forums.timesdaily.com/eve/forums/a/tpc/f/6501027316/m/8801047378).

Marxismo cultural e a desqualificação da razão 2

Através do blog do Mister X, cheguei ao seguinte texto: "Right after World War One, in Frankfurt, Germany, the Institute for Social Research – they wanted to call themselves the “Institute for Marxism” but that was too on the nose – was left wondering why the world communist revolution — predicted as a certainty by Marxist social science – was not leading to the international revolution of the proletariat, the actual common working man. And they figured out that capitalism – damn it! – was providing enough comfort and material gain, enough of an increase in the working man’s standard of living – that it just simply wasn’t going to happen. Ever. Now, one kind of person might look at this and say, hooray! People’s lives are getting better – guess we weren’t needed after all. But not these guys. These guys felt they had to bring heaven to earth." O Instituto Para o Marxismo fazia algo comum: comparar a realidade com um paraíso imaginário pra condenar a realidade. Ora, quem pode competir com um mundo de anjos, unicórnios coloridos e abundância eterna oriunda do éter? Isso sim é concorrência desleal. "The Neo-Marxist revolution would not attack the capitalist economy – that was too successful. The target of the new Marxist revolution would be the Culture." Já se perguntou o motivo de existirem tantos socialistas com o dinheiro alheio entre o pessoal da cultura? Pois é. "Nonetheless, many black Americans today have been taught that all of this belongs to them and not the truth, which is that that they were, and are, an integral and essential part of the group effort that built this country together. Likewise, women are told that we live in an evil patriarchy, where all men are tyrants and potential rapists, determined to keep them in a form of domestic slavery, instead of being their partners and helpmates and husbands and protectors. Gays are told not that this is one of the most inclusive and forgiving societies in the history of the world, but rather home to knuckle-dragging, murdering Neanderthals – when in plain sight, across the seas, one and a half billion Muslims routinely hang or stone or crush to death innocent people merely because of their sexual practices." Isso mesmo, senhores de Frankfurt, insuflem o conflito, dividir para conquistar. "And when you try to argue against this social weapon of theirs, this Narrative, this lie that they tell again and again, well then, prepare for their counter-attack, which is called Political Correctness – the attempt to put the argument out of bounds before it can be had. They use terms like Hate Speech and Racism. They want to put our arguments and rebuttals out of bounds so that they don’t have to hear them or deal with them. They have to exclude those arguments because if they don’t, those arguments are going to kick their asses and they know it." Por isso as tentativas eternas dos socialistas em cercear a imprensa e a liberdade de expressão, esses caras não dão ponto sem nó. Dando um exemplo pessoal, alguns amigos da esquerda indie tavam outro dia no Facebook especulando como é que um cara como eu podia se meter a escrever sobre política e economia. Eles não questionavam o conteúdo do que eu escrevia, questionavam a minha autoridade pra escrever o que eu escrevia. Queridos, deixem de lado essa tentação de calar quem discorda de vocês e confiem nas suas capacidades pra explicar por quê o que eu escrevo está errado. Assim que é feito o debate e é assim que avança a civilização. Abs (http://pajamasmedia.com/ejectejecteject/2010/07/02/the-iceberg/).

Thursday, July 08, 2010

Marxismo cultural e a desqualificação da razão

É fascinante (ou interessante) perceber certas coisas com alguma clareza depois de passar anos meio bolado com esses assuntos. Por exemplo, filosofia e teoria do conhecimento. Frequentei 5 anos uma faculdade sem entender what the hell os professores tavam falando. Quer dizer, até entendia, mas as discussões pareciam tão vazias de significado e sentido que eu simplesmente me desinteressava e ia pra biblioteca ler coisas que tinham alguma relação com a realidade ao invés das herméticas e arrastadas explanações de discursos e autores que basicamente - era a minha impressão - colocavam em dúvida o livre-arbítrio e a razão. Só que eu pensava, caramba, esses caras não tão questionando a razão usando a razão e não tão fazendo isso usando o livre-arbítrio? Ao invés de estimularem a capacidade de julgamento individual, os professores a condicionavam à sua classe, raça, gênero ou sei lá mais o quê. Ou seja, os mestres ensinavam que não existe um conhecimento objetivo e universal verificado pelos fatos e pela lógica, existem apenas construções sem nenhuma conclusão possível que se sobrepõem de acordo com a condição de quem a emite. Claro, a maioria dos professores era marxista, e hoje me divirto lendo textos deles nos vermelho.org da vida. Só que o materialismo dialético não foi o único marxismo que influenciou o debate de idéias. A luta de classes não explica tudo, é apenas a consequência de algo ainda mais profundo, a cultura.

Tuesday, July 06, 2010

Lendo o jornal

Gosto de ler o jornal porque ele dá uma idéia das notícias e opiniões dominantes, o clima da época que deixa um rastro na sua mente e nos seus dedos. Atraso nas prestações de classes C e D já preocupa. O aumento da taxa de juros, combinado com a expansão do crédito, está provocando crescimento da inadimplência. Eu sei que as pessoas, e os jovens em particular, não estão muito interessadas em política e economia, mas é óbvio que essas áreas afetam o mundo da música pop e dos ídolos adolescentes. O governo, através dos seus instrumentos monetários, tenta estimular o consumo, porque isso dá votos e popularidade, então os bancos estatais expandem artificialmente o crédito. Só que esse crédito não está lastreado em poupança real, essa prosperidade é ilusória e o camarada não vai conseguir honrar os seus compromissos quando o governo tiver que aumentar os juros pra segurar a inflação que ele mesmo provocou. Congresso + Lula = 37 mil cargos este ano, impacto de 1,94 bilhão. Essa notícia, que não chega a ser exatamente uma novidade, pode ser complementada por outra, logo acima. Em 3 dias, meio bilhão em emendas parlamentares. Claro que essas emendas são, em sua maioria, dos aliados do governo. Entendeu como funciona o jogo do poder? O toma-lá-dá-cá com o dinheiro alheio é a essência da política, potencializada pelas inúmeras vias de troca do nosso estado forte = sociedade fraca. Os insiders ficam amarradões, os outsiders pagam a conta.

Monday, July 05, 2010

O welfare state e o egoísmo

Poucos conceitos são alvo de tanta confusão e incompreensão quanto o "egoísmo". Ninguém quer ser enxergado como um "egoísta" e a ironia é que isso acontece por motivos egoístas. A pessoa quer ser bem vista pelos outros porque isso pode beneficiá-la de diversas maneiras. Então você pensa primeiro em si e naqueles que você valoriza (ou não?) ao mesmo tempo em que o meio social condena o egoísmo e enaltece a altruísmo, nem que seja o compulsório. Essa esquizofrenia entre teoria e prática se materializou politicamente na terceira via, no welfare state, nem capitalismo e nem socialismo, na economia mista que vive pendendo de um lado pro outro, dependendo das circunstâncias eleitorais do momento. É bom esclarecer que esse estado-do-bem-estar-social não é a causa da prosperidade dos países que o adotaram, esses países se deram esse luxo por causa de uma riqueza previamente acumulada. O que a recente crise européia mostrou foi a insustentabilidade - pra usar uma palavra da moda - desse modelo, porque ele paga aos beneficiários de hoje contando com os recursos de amanhã. Como a tendência do homem egoísta (isto é, todos nós) é valorizar o hoje mais do que o amanhã, a conta acaba não fechando. Então as pessoas que condenam o "egoísmo" da boca pra fora acabam apoiando a hipoteca do futuro pra que elas e os seus grupos de interesse favoritos aproveitem o presente. "No longo prazo, estaremos mortos", não por acaso, é o lema de Keynes, o economista símbolo dessa postura. Reparem como os manifestantes que tomam as ruas da Europa cheios de indignação são justamente aqueles que não aceitam perder qualquer privilégio pra que o sistema seja sustentável - pra usar uma palavra da moda - no longo prazo. Sindicatos de funcionários públicos e partidos socialistas são os primeiros a condenar o "egoísmo" e também os primeiros a se recusar a fazer qualquer sacrifício em nome dos seus descendentes.

Friday, July 02, 2010

Sobre os libertários 5

Se a luta ideológica é ainda mais importante que a luta política, resta saber que idéias são essas. Beleza, mais liberdade individual e menos intervenção estatal, mas como e em que grau? Atacar o estado por ser um instrumento de coerção ou tentar racionalizá-lo na medida do possível? Pureza ou pragmatismo? Essas posturas, na verdade, se complementam, porque ao mesmo tempo que o ideal é importante pra apontar o norte, é preciso também saber jogar com as circunstâncias, com o que se conhece como "realidade". Realmente, qual seria o sentido de compreender a estrutura de poder sem a vontade de aprimorá-la? As coisas podem, aos poucos, melhorar, como melhoram, mas esse progresso não é um dado da natureza como as marés, ele tem que ser conquistado. Se os libertários dão crédito aos princípios que regem o capitalismo pelos avanços conquistados pela humanidade nos últimos dois séculos, é preciso saber identificar que princípios são esses e lutar por eles dentro das atuais circunstâncias políticas. Antes de bater o pé e exigir uma pureza que funciona na teoria, mas que talvez esteja longe do alcance da imperfeição humana, os liberais e seus colegas mais radicais devem ter mais humildade e não se comportar como se a compreensão do princípio da não-agressão por alguns fosse o suficiente pra esfacelar o status quo como um castelo de areia. Essa luta é uma maratona e não uma corrida de 100 metros.

Thursday, July 01, 2010

Sobre os libertários 4

Claro que a "luta de classes" entre pagadores e consumidores de impostos não é tão preto no branco assim. Os funcionários públicos podem ser consumidores líquidos de impostos, mas o empresário que recebe crédito subsidiado consome e paga. Quem trabalha na iniciativa privada paga, mas também consome quando usa algum serviço público, nem que seja a rua. Não se trata de cair num maniqueísmo apontando o dedo pra X ou Y, buscando um bode expiatório pra aliviar a culpa. Trata-se de tentar compreender como o poder é exercido, se é justo usar os recursos de uns pra beneficiar outros. Se a maioria se torna o critério de justiça, os políticos vão usar esse poder pra se manter no poder, distribuindo benesses de acordo com critérios eleitorais. Então o Brasil se torna o país das bolsas - Bolsa-Família pro pobre e Bolsa-BNDES pro rico. Quem fica no meio dessa equação acaba se vendo numa intrincada rede de perdas e ganhos sem saber ao certo se está ganhando ou perdendo. Não basta separar o estado da economia, como querem os libertários, porque se a maioria não concorda com isso, a mudança seria insustentável. Por isso que, mais do que a luta política em si, interessa aos libertários a luta das idéias, porque são elas que acabam determinando o curso da história. Se o estado paternalista e assistencialista é hoje consagrado como uma espécie de deus laico - esperança e refúgio dos cidadãos - é porque as pessoas foram levadas a acreditar que ele, de modo geral, as beneficia. Isso, no entanto, não está escrito na pedra e pode mudar. Mais posts a respeito.